Thiago Herdy e Dimitrius Dantas
Juntas há 15 meses, Anaflávia e Carina se conheceram pelas redes sociais. Nos últimos dias O GLOBO refez a trajetória do casal, para conhecer histórias e lances que antecederam o trágico triplo assassinato da família do ABC. No seu quarto depoimento sobre o caso, as duas confessaram a participação no roubo, mas negaram envolvimento na decisão de matar as vítimas — Romuyuki, de 43 anos, Flaviana, de 40, e Juan Victor, de 15. Elas atribuíram a decisão a Juliano Oliveira, de 22, primo de Carina, que faz a mesma acusação às jovens.
No sábado, a avó de Anaflávia e mãe de Flaviana, Vera Conceição, de 57 anos, afirmou que perdoava a neta e que irá até o fim das investigações para saber o que realmente aconteceu. Ela não endossou a versão do casal e disse esperar as conclusões da polícia. — Eu perdoo a minha neta. Tenho que perdoar, para que meus três (filha, neto e genro) fiquem bem onde quer que eles estejam — disse Vera. — Mas perdoar não é aceitar. Não aceito o que ela fez.
Sonho realizado
Até
o mês passado, a garagem de um sobrado de dois andares próximo a uma
das áreas mais movimentadas do bairro Jardim Santo André, no extremo da
cidade de mesmo nome, abrigava uma pequena lanchonete que vendia açaí,
sucos, bolos, doces e porções de batata frita. Era realização de um
sonho e a aposta de Carina para viabilizar economicamente uma vida ao
lado da nova mulher, Anaflávia. Batizada de “Delícias da Cah”, a
lanchonete incluía investimentos na estrutura de uma pequena cozinha,
freezeres e gastos com insumos para levar o negócio adiante. Foi
justamente a capacidade de investir e manter o negócio de pé que chamou a
atenção de parentes e pessoas próximas a Carina, interessados em saber
de onde vinha o dinheiro do casal, mais especificamente como eram as
condições financeiras da família da nova moradora do bairro, Anaflávia. Registros do Judiciário e de boletins de ocorrência ajudam a entender a reserva dos vizinhos. Mãe de Carina, Josiana Ramos tinha passagem pela polícia por furto e envolvimento com tráfico de drogas. Há alguns anos, foi encontrada morta no apartamento de um conjunto habitacional da comunidade. Meses antes, o padrasto de Carina fora assassinado a tiros, em frente ao mesmo endereço. Irmãos e primos da mulher de Anaflávia também têm passagens registradas pela polícia. Cozinheira no principal supermercado do bairro, uma das tias da menina prefere não falar sobre o caso. — Ninguém consegue explicar, a polícia que resolva. A história da minha família é difícil, mas segui meu caminho — afirma.
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Virada financeira
O
novo relacionamento coincidiu com uma virada na vida financeira da
família Gonçalves. Depois de 21 anos de dedicação à multinacional Basf —
onde começou como analista de crédito e chegou a líder de uma equipe
com 30 funcionários—, Romuyuki desligou-se da empresa e investiu em duas
franquias de perfumes em shoppings de São Bernardo e Mauá (SP). Uma
terceira unidade estava a caminho. Anaflávia trabalhava com a mãe em um
desses quiosques.Vendedores de lojas próximas citam a jovem como pessoa de hábitos simples, que pouco falava e trabalhava até tarde. Alguns observaram que o comportamento de Anaflávia era diferente quando Carina aparecia. Com personalidade forte, eram frequentes as demonstrações de ciúmes da parte dela. O sucesso dos quiosques chamou a atenção da família de Carina, em especial Juliano. Por conta de dívidas ainda não esclarecidas, as duas combinaram com os parentes de Carina a realização de um roubo simulado, sem uso de violência, de acordo com o depoimento delas à polícia.
Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA
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