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quinta-feira, 26 de outubro de 2023
Lula e PT ressuscitam nomeações políticas na Petrobras com aval do STF - O Estado de S. Paulo
J. R. Guzzo
sexta-feira, 24 de março de 2023
Investigação traz provas que desmentem Lula e mostram que ameaça do PCC a Moro não era “armação” - República
Gazeta do Povo - Rodolfo Costa
A investigação da Polícia Federal (PF) que embasou uma operação para desarticular o plano de um núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra autoridades públicas mostra que a ameaça da organização criminosa ao senador Sergio Moro (União Brasil-PR) não era uma "armação", como sugeriu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quinta-feira (23).
Provas entregues pela PF à Justiça do Paraná apontam que não apenas Moro se encontra na mira do PCC, mas também seus filhos e sua mulher, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP). Segundo a juíza da 9ª Vara Federal de Curitiba Gabriela Hardt, que autorizou as prisões e buscas e apreensões, as provas indicam que "atos criminosos estão efetivamente em andamento" em Curitiba.
O processo que se originou na investigação aponta a "presença física" dos investigados, a compra de veículos, o aluguel de imóveis e o monitoramento de endereços e atividades de Moro "há pelo menos seis meses", atestou a juíza. As ações para a concretização do ataque iniciaram-se, efetivamente, em setembro do ano passado, justamente no período eleitoral. Elas surgiram da apuração sobre constantes ameaças de morte feitas pelo PCC contra o promotor Lincoln Gakyia, de São Paulo, mas foram assumidas posteriormente pela Polícia Federal.
De acordo com o processo, a quadrilha continua ativa até esta semana e, portanto, ainda era uma ameaça a Moro. Os criminosos chegaram muito perto de atacá-lo durante as eleições de 2022, mas não se sabe por que o plano não foi levado a cabo. Em fevereiro, quando um delator passou a colaborar com a polícia e deu detalhes do plano, Moro e sua família passaram a ser escoltados.
Os investigadores constataram que a célula do PCC monitorou mais ativamente o hoje senador durante o período eleitoral. Trocas de mensagens interceptadas pela polícia mostram que a quadrilha tinha informações detalhadas sobre o local de votação de Moro e de endereços residenciais. A investigação mostra que a organização criminosa conseguiu, inclusive, obter informações que "deveriam ser sigilosas", como placas de carro usando sistema público, e, assim, identificar veículos das forças de segurança.
A investigação indica que os suspeitos integram um núcleo do PCC chamado "Restrita 5", que teria Janeferson Aparecido Mariano, vulgo "Nefo", "NF" e "Dodge", como a principal liderança da célula criminosa.
A Gazeta do Povo tentou entrar em contato com os advogados do suspeito, mas não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. O investigado seria o responsável pela organização, financiamento, planejamento e execução do sequestro contra Moro e sua família. O núcleo chefiado por ele tem, segundo a polícia, a participação de outras 15 pessoas que estão sob a investigação policial.
Provas obtidas por quebra de sigilo telemático e telefônico apontam que o grupo tem "capacidade bélica notória", segundo a PF e a juíza Gabriela Hardt. Registros fotográficos apontam "armas variadas" dentro de casas, sob móveis, que indicam que "efetivamente estão prontas para uso da organização criminal".
A polícia diz ter identificado ainda um veículo blindado, que se encontra no Paraná, juntamente com uma anotação que fala em "três carros pretos", além de outros dois veículos com referência a "cofre". Esses últimos seriam os veículos usados para transportar bandidos armados com fuzis. "Os criminosos já adquiriram veículos para serem pintados de preto, imitando viaturas policiais, a fim de conseguirem facilitar seu abominável intento", aponta a investigação.
O que é a "restrita" do PCC e como se iniciou a investigação da PF
A investigação da PF teve início com a delação de um ex-membro do PCC que, agora, se encontra sob o programa de proteção de testemunha. Ele disse que se encontra "jurado de morte" pela quadrilha e apontou que uma pessoa de alcunha "NF", Janeferson Aparecido Mariano, liderança do "Restrita 5", estaria incumbido de "tirar sua vida".
Segundo a testemunha, que depôs em oitiva à PF em 2 de fevereiro deste ano, o "Restrita 5" é um setor dentro do PCC responsável por matar ex-integrantes da facção e também por cometer atos criminosos contra autoridades e agentes públicos.
O setor da "Restrita" chefiado por Janeferson é acusado pela testemunha de coordenar atos não somente em São Paulo, mas no Brasil inteiro. O delator disse que "recentemente" ficou sabendo que o líder da Restrita 5 estaria planejando atentados contra autoridades, e citou Moro como alvo.
Indagado sobre o que tipo de atentado seria, a testemunha disse que um informante falou que Janeferson estaria encarregado da tarefa de "levantar informações e sequestrar", mas não soube especificar quais atos criminosos seriam realizados posteriormente. O homem sugeriu, ainda, ser uma testemunha valiosa para as investigações. Ele afirmou à polícia que, para um "faccionado qualquer", não haveria atuação da Restrita, mas, do "Tribunal do Crime".
Em outras palavras, a "Restrita" seria uma espécie de unidade de operações especiais do PCC. As punições para membros da facção menos importantes seriam realizadas por "soldados" ordinários do PCC em execuções extra-judiciais que ficaram conhecidas como "Tribunal do Crime".
Diálogo entre líder e mulher deu à PF as diretrizes da investigaçãoO delator forneceu quatro números de telefone que seriam de contatos de pessoas próximas a Janeferson Aparecido Mariano e, em posse dos contatos e também de e-mails, a polícia solicitou e obteve a quebra dos sigilos telemático e telefônico dos investigados. Ao longo da investigação, os policiais observaram "elementos que comprovaram as informações indicadas pela testemunha". De um dos e-mails que teve o sigilo quebrado, a PF identificou uma mulher com quem ele teria "relação amorosa", aponta a investigação. Uma conversa entre os dois pelo WhatsApp levou os policiais a "descortinar" o plano articulado para o sequestro de Moro e família.
Em uma conversa afetuosa entre ambos, onde se chamam mutuamente de "amor", Janeferson pede que a mulher guarde alguns códigos enviados por mensagens sob o argumento de que poderia esquecê-los. O código definido para "Moro" foi "Tokio". A palavra "Flamengo" foi escolhida como código para sequestro.
Uma das palavras é "MS", abreviatura do estado do Mato Grosso do Sul, e seu código era "México". Outra palavra enviada por Janeferson à mulher é "ação", que teve "Fluminense" como o código. As palavras Flamengo e Tokio foram encontradas em anotações que, para os investigadores, seriam controle de gastos.
Quão organizado é o núcleo que ameaça Moro e sua famíliaA investigação sugere que a Restrita, mais especificamente o núcleo Restrita 5, é bem organizado, dispondo de coordenação financeira e logística para o planejamento e o cometimento de possíveis crimes. Além de Janeferson Aparecido Mariano, a célula criminosa contava com outras quatro lideranças. Eram criminosos conhecidos como "Forjado", "Guinho", "Rê", e "El Cid". Os quatro são apontados pela investigação como responsáveis pela organização, financiamento e planejamento do sequestro de Moro e família.
"Forjado" ocuparia o cargo de "Sintonia Final", que é o principal líder da facção em uma determinada área, que atua em liberdade. Isso porque a cúpula do PCC opera de dentro de penitenciárias. Janeferson seria o responsável pela execução do sequestro de Moro ou de um de seus familiares, aponta o inquérito policial. A "principal mulher" do criminoso é apontada como responsável por auxiliar na contabilidade das atividades ilícitas.
A investigação aponta que um grupo de mulheres atuava como operadoras financeiras e auxiliares operacionais do esquema criminoso. Entre elas, são investigadas outras cinco mulheres, sendo outras duas apontadas como companheiras de Janeferson. Esse grupo seria responsável pelo controle da parte financeira no principal núcleo operacional, por atuar como "laranjas" e serem responsáveis pela logística e inteligência da quadrilha.
Outros investigados são "Nei", "Carro sem Moto Léguas", e um terceiro homem. Eles atuariam na parte operacional do bando, sendo ligados diretamente a Janeferson. Já "Frank" participaria na área operacional ligado à parte financeira do núcleo.
A investigação também mira outros dois participantes ainda não identificados: "Milco", que atua na parte operacional do núcleo e é dito como o responsável por realizar as cobranças de prestação de contas dos integrantes que realizam a maior parte das atividades de campo; e "Dierre", suspeito de intermediar a locação dos imóveis junto às imobiliárias para a logística do sequestro.
Qual é o nível de influência do núcleo investigado no PCCO núcleo investigado pela PF sugere ter um patamar elevado no PCC. Janeferson Aparecido Mariano, por exemplo, tem sua liderança “percebida” pelo desfrute de “bens de alto poder aquisitivo”. “O que só ocorre com os integrantes do topo da pirâmide do PCC, pois, em regra, todos os demais cometem crimes para sustentar os líderes, sem aumento de volume patrimonial [mão de obra barata]”, aponta a PF. “Vale destacar que esse patrimônio encontra-se em nome de terceiros, inclusive alguns com passagens criminais”, complementa.
A PF aponta também que Janeferson e sua “principal companheira” usam “constantemente” nomes de outras pessoas para registrarem seus bens, em um “claro intuito” de não serem descobertos nas práticas ilícitas. Os investigadores citam ainda que Janeferson usa laranjas em imóveis vinculados a ele.
Outra liderança da célula criminosa é “conhecido assaltante de bancos, com vasta ficha criminal” e, assim como “El Cid”, é “conhecido por ações violentas”, apontam os investigadores. "A participação dele em videoconferência com Janeferson e demais comparsas reforça ainda mais a participação de lideranças do PCC nas referidas ações”, aponta a PF.
Subordinado a Janeferson, um dos investigados é mencionado como o responsável pelas vigilâncias e levantamentos sobre Moro, incluindo uma prestação de contas que ele apresentou “desde a metade do ano passado”. Tamanha é a confiança dele junto à organização criminosa que “Milco”, ainda não qualificado, mas hierarquicamente superior a ele, demonstrou “extrema confiança” ao cobrar a prestação de contas, “pois ambos verificaram problemas e atrasos na prestação de contas de outros integrantes”, diz a PF em outro trecho do relatório da investigação apresentado à Justiça Federal.
Rodolfo Costa - Gazeta do Povo - República
sábado, 11 de março de 2023
É permitido roubar - J.R. Guzzo
J. R. Guzzo
Se o ministro das Comunicações faz o que fez e sai de uma audiência com o presidente rindo e dizendo que eles nunca se entenderam tão bem, o que se pode esperar do conjunto da obra? [o óbvio: a solidariedade entre pares]
Pois bem: e o que aconteceu com o ministro? Não aconteceu nada, e é aí, bem aí, que está o ovo da cobra: o homem teve um encontro “altamente positivo” com o presidente Lula, explicou a ele as “acusações infundadas” e continua belo e formoso no seu emprego
Passa pela cabeça de alguém que a atual justiça brasileira ou o Supremo Tribunal Federal venham a incomodar qualquer figura do governo Lula por prática de corrupção? [incomodar?quem é louco? ser preso pela prática de ato antidemocrático? a tática de intimidar possíveis acusadores funcionou e todos temem ser presos.]
O recado de Lula ao ministro é muito claro: “Fica frio. Não vai acontecer nada com você; não vai acontecer nada com ninguém, no meu governo. Pode continuar tocando a sua vida, do seu jeito, de boa. Vão ficar saindo umas notícias aí, mas é tudo bobagem. Daqui a pouco esquecem do seu caso e a coisa volta ao normal. Vai em frente”.
Ele disse, ali, que o menor erro de conduta seria castigado na hora; o ministro, ou um outro alto comissário qualquer, flagrado em alguma lambança, seria “gentilmente convidado a sair”. Foi apenas uma palhaçada a mais. Qual a moral de Lula para punir alguém — ele que foi condenado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ficou 20 meses na cadeia e só está solto porque foi salvo pela maior aberração jurídica já praticada na história do país? Mais que isso, ou muito mais que isso: passa pela cabeça de alguém que a atual justiça brasileira ou o Supremo Tribunal Federal venham a incomodar qualquer figura do governo Lula por prática de corrupção?
É uma impossibilidade; não vai acontecer, e todo mundo sabe disso. Os donos do governo têm carta branca do STF para fazerem o que bem entendem, sem qualquer risco de serem processados por alguma coisa algum dia — e, se por acaso forem, o punido vai ser o juiz.
Viram com a Operação Lava Jato, anos atrás, o que é uma sociedade onde os poderosos têm de responder por seus atos perante a lei; viram, detestaram e decidiram não permitir nunca mais que essa situação se repita.
São políticos da esquerda, da direita e do centro, empreiteiros de obras públicas, ministros dos tribunais superiores de justiça, a mídia em geral, empresários piratas, assaltantes do Erário, parasitas da máquina estatal, bilionários que dão golpes contábeis na praça e arruínam seus acionistas etc. etc. etc. Lula é o seu herói. Estão a seu favor em tudo — até quando aumenta o preço da gasolina para socar em cima do consumidor impostos que haviam sido cortados.
É claro que acham o ministro das Comunicações um bom moço. É claro que só batem palma.
Está assim, com dois meses. Onde vai estar mais à frente?
Leia também “Uma proposta safada”
J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste
terça-feira, 10 de maio de 2022
Não olhe agora - Guilherme Fiuza
O Primeiro de Maio mostrou que o Brasil está dividido: de um lado, o povo; do outro, as manchetes. Dito isso, é preciso admitir: o transformismo jornalístico está chegando à perfeição. Ele não depende mais da realidade.
Isso sim é autonomia. Isso sim é liberdade. Isso sim é modernidade. Um jornalismo que não precisa de fatos é insuperável. Enquanto a velha escola obrigava o noticiário a carregar aquela âncora pesada de gentes, lugares, causas e consequências, as novas tecnologias substituíram isso tudo por um sutil espasmo digital. Com essa combinação avançada de leveza e inteligência dá até para fazer as manchetes na véspera dos acontecimentos.
É ou não é uma revolução?
Apesar de você — quer dizer, apesar daquele impedimento de última hora que estragou seus planos de gritar a céu aberto pela volta de Lula —, correu tudo bem. Estava lá no noticiário que, mesmo com a sua ausência, o pessoal fez bonito na exaltação ao bom ladrão — ou melhor, para não dar trabalho à milícia checadora: ex-ladrão. Que alegria percorrer as manchetes e constatar que o cidadão consciente devotado ao office boy da Odebrecht não teve os mesmos imprevistos que você — e tomou as ruas fazendo frente aos robôs verde-amarelos.
Brasil dividido! Ufa. Às vezes os nossos olhos nos traem. É normal
É bem verdade que alguns dos que saíram para se manifestar em apoio a Lula tiveram uma sensação de vazio. Mas se recuperaram imediatamente desse sentimento desagradável ao voltarem para casa e mergulharem no noticiário: Brasil dividido! Ufa. Às vezes os nossos olhos nos traem. É normal. As lágrimas de emoção num comício da CUT embotam a visão e podem mesmo dificultar a percepção da multidão colossal que foi às ruas no Primeiro de Maio pedir a devolução da chave do cofre ao Lula. Nada como meia dúzia de manchetes para te contar o que você não viu. Nem você, nem ninguém.
Esse negócio de ver para crer já era. O olhar humano é superestimado. Para que gastar tempo e perna se você pode obter a mesmíssima sensação de forma muito mais cômoda, segura e limpa? Não faz sentido.
O fato é que fora das telinhas luminosas a verdade se tornou algo muito relativo. Tenha cuidado com o que os seus olhos veem e os seus ouvidos ouvem. Eles são traiçoeiros. Nunca acredite neles sem consultar no seu iPhone alguma dessas agências modernas que combatem a desinformação. Não deixe seus olhos desinformarem você. Não deixe seus ouvidos te enganarem com fake news. Liberte-se dos seus sentidos naturais — eles são primitivos, como aquela multidão de verde e amarelo que tomou as ruas no Primeiro de Maio.
Se os seus olhos te disserem que foram manifestações caudalosas, pacíficas e livres de cabrestos, feche-os sumariamente, como um João Doria fechando São Paulo. Só reabra diante da manchete com o senador Rodrigo Pacheco declarando que foram atos antidemocráticos.
Leia também “A democracia do bilhão”
Guilherme Fiuza, colunista - VOZES - Gazeta do Povo
sexta-feira, 11 de março de 2022
O resultado está aí - Alon Feuerwerker
Análise Política
O Brasil está em plena “janela partidária”, em que o político pode
trocar de agremiação sem perder o mandato. Há desta vez uma
peculiaridade: o prazo para formar as federações partidárias,
nacionalmente verticalizadas e vinculantes, ultrapassa a data-limite
para as filiações com vista à próxima eleição. O político se filia ao
partido e está sujeito a, mais na frente, descobrir que entrou numa
coalizão estável de quatro anos e com a qual não concorda.
É apenas mais um detalhe estranho nos mecanismos de uma fidelidade
partidária já meio fantasmagórica. Pois vale para mandatos proporcionais
(vereadores, deputados) mas não para cargos decorrentes de escolha
majoritária (prefeito, governador, senador, presidente). O “argumento” é
que neste segundo lote o político não depende dos demais para se
eleger. Argumentos úteis são o que não falta na folclórica política
brasileira. Principalmente quando o Judiciário precisa, ou quer, abrir exceções. Pois ninguém é de ferro.
Por falar em tribunais, a recente decisão do Supremo ao homologar a
frondosa anabolização do fundo eleitoral sugere uma reacomodação do
“sistema”. De repente, a explosão das verbas públicas para partidos e
candidatos deixou de provocar indignação, e no novo clima os ministros
sentiram-se confortáveis para declarar alto e bom som que seria um
absurdo o Judiciário meter-se excessivamente nos assuntos da alçada do
Legislativo.
Sim, é isso mesmo que você acabou de ler.
Se conectarmos os dois pontos abordados acima, notar-se-á que o cofre
cheio para campanhas eleitorais não deixa de ser, ao menos na teoria, um
belo fator de atração de quadros na janela de trocas. O financiamento
empresarial está proibido, o privado só rende uns caraminguás, então
quem tem mais dinheiro público para investir na eleição tem mais
argumentos para atrair gente boa de voto. Também aqui funcionam as leis
de mercado.
Na política, a pergunta-chave sempre é “quem detém o poder?”. Os anos
recentes assistiram à profusão de leis e decisões judiciais supostamente
inspiradas pela vontade de aperfeiçoar a democracia. E qual é a
resultante? Uma estrutura orgânico-monetária controlada de modo
absolutista pelos presidentes de partido, figuras abarrotadas de
dinheiro proveniente dos impostos, mas que não precisam prestar contas
políticas a ninguém.
Pois a montanha de recursos para as legendas não vem acompanhada de
exigências relacionadas à democracia interna. Não precisam fazer prévias
para escolher candidatos. Podem ficar a vida inteira no cargo. Podem ir
tocando o partido só com base em comissões provisórias, sem diretórios.
Podem manter a estrutura partidária na coleira indicando apaniguados
para os cargos-chave. E podem decidir que candidatos recebem mais
dinheiro.
Eu dizia que cada escândalo dos últimos anos foi uma janela de
oportunidade para todo tipo de gênio propor mais uma fornada de leis e
regimentos para “aperfeiçoar o modelo”. Foi também a deixa para juízes
legislarem, “devido à omissão do Legislativo”. O resultado está aí.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
====================
Publicado na revista Veja de 16 de março de 2022, edição nº 2.780
domingo, 7 de março de 2021
Flávio Bolsonaro desconsiderou Tancredo - Elio Gaspari
Folha de S. Paulo - O Globo
Flávio Bolsonaro desconsiderou Tancredo - Senador descumpriu uma norma, explicitada por Neves em 1963: “É norma ética consabida que o governante não compra nem vende nada”
Filho do presidente comprou mansão de quase R$ 6 milhões com financiamento do Banco de Brasília
Flávio Bolsonaro comprou uma casa de R$ 5,9 milhões, com R$ 3,1 milhões financiados pelo Banco de Brasília, cujo maior acionista é o governo do Distrito Federal. Com uma renda familiar declarada de R$ 37 mil mensais brutos, deverá aguentar uma mensalidade de R$ 18 mil. Poderá viver sem pedir auxílio emergencial.
O doutor ganhou fama de empreendedor com uma casa de chocolates da Kopenhagen e, em 16 anos, fez 20 transações imobiliárias, muitas delas quitando parte dos pagamentos em dinheiro vivo. Filho do capitão Jair Bolsonaro, elegeu-se deputado estadual no Rio em 2002, aos 21 anos, e senador em 2018. Flávio Bolsonaro descumpriu uma norma, explicitada por Tancredo Neves em 1963: “É norma ética consabida que o governante não compra nem vende nada.” Era pura sabedoria. Lula deu-se mal porque usufruiu o sítio de Atibaia e discutiu a compra de um apartamento no Guarujá. Juscelino Kubitschek foi muito mais longe, adquirindo um apartamento na avenida Vieira Souto.
Na “nova política” dos Bolsonaro, faltam os pilares da cultura histórica de Tancredo. Nela, abunda aquilo que o presidente americano Joe Biden acaba de chamar de “pensamento de Neandertal”. Rachadinhas podem ser coisas da Idade da Pedra.
(.....)
A poderosa máquina da ditadura identificou quinze pessoas envolvidas no assalto. Quatro foram mortos e sete foram presos nos meses seguintes. Um deles morreu sob tortura num quartel. Sua autópsia, feita no Hospital Central do Exército, apontou dez costelas quebradas e pelo menos 53 marcas de pancadas.[a 'vítima' era um dos assaltantes; naqueles tempos a profissão de assaltante era perigosa... já hoje.... tem áreas em algumas cidades, sob controle dos criminosos, que a polícia é proibida por decisão judicial, de ingressar ........ o ingresso só é possível, após atender um demorado protocolo, que demanda tempo suficiente para o sigilo da operação ir para o espaço.] '
Imenso foi o esforço para se descobrir o que foi feito com o dinheiro. Nula foi a curiosidade para saber como ele foi parar no cofre. Adhemar era conhecido por ter uma “caixinha” e apreciava o slogan “rouba, mas faz”. [claro que o slogan não era um modelo a ser seguido - só que nos tempos atuais continua valendo, com ligeira adaptação = roubam e nada fazem.]
Com a ajuda de um amigo militar, a dona da casa sustentou que o cofre estava vazio. Nem em pizza o cofre do Adhemar deu. Deu em nada. A ditadura negava que torturasse presos e orgulhava-se de ter uma Comissão Geral de Investigações para caçar corruptos. À época, era presidida por generais.
domingo, 9 de fevereiro de 2020
Crime no ABC: Das redes sociais aos gritos nas celas, a trajetória do casal Anaflávia e Carina - O Globo
Thiago Herdy e Dimitrius Dantas
Juntas há 15 meses, Anaflávia e Carina se conheceram pelas redes sociais. Nos últimos dias O GLOBO refez a trajetória do casal, para conhecer histórias e lances que antecederam o trágico triplo assassinato da família do ABC. No seu quarto depoimento sobre o caso, as duas confessaram a participação no roubo, mas negaram envolvimento na decisão de matar as vítimas — Romuyuki, de 43 anos, Flaviana, de 40, e Juan Victor, de 15. Elas atribuíram a decisão a Juliano Oliveira, de 22, primo de Carina, que faz a mesma acusação às jovens.
No sábado, a avó de Anaflávia e mãe de Flaviana, Vera Conceição, de 57 anos, afirmou que perdoava a neta e que irá até o fim das investigações para saber o que realmente aconteceu. Ela não endossou a versão do casal e disse esperar as conclusões da polícia. — Eu perdoo a minha neta. Tenho que perdoar, para que meus três (filha, neto e genro) fiquem bem onde quer que eles estejam — disse Vera. — Mas perdoar não é aceitar. Não aceito o que ela fez.
Registros do Judiciário e de boletins de ocorrência ajudam a entender a reserva dos vizinhos. Mãe de Carina, Josiana Ramos tinha passagem pela polícia por furto e envolvimento com tráfico de drogas. Há alguns anos, foi encontrada morta no apartamento de um conjunto habitacional da comunidade. Meses antes, o padrasto de Carina fora assassinado a tiros, em frente ao mesmo endereço. Irmãos e primos da mulher de Anaflávia também têm passagens registradas pela polícia. Cozinheira no principal supermercado do bairro, uma das tias da menina prefere não falar sobre o caso. — Ninguém consegue explicar, a polícia que resolva. A história da minha família é difícil, mas segui meu caminho — afirma.
Vendedores de lojas próximas citam a jovem como pessoa de hábitos simples, que pouco falava e trabalhava até tarde. Alguns observaram que o comportamento de Anaflávia era diferente quando Carina aparecia. Com personalidade forte, eram frequentes as demonstrações de ciúmes da parte dela. O sucesso dos quiosques chamou a atenção da família de Carina, em especial Juliano. Por conta de dívidas ainda não esclarecidas, as duas combinaram com os parentes de Carina a realização de um roubo simulado, sem uso de violência, de acordo com o depoimento delas à polícia.
Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Elize pede para sair ao ver imagens de partes do corpo de Matsunaga
Uma jurada, que tem diabete, sentiu-se mal durante a exibição de partes do corpo de Marcos e foi advertida pelo juiz Adilson Paukoski Simoni. "Eu falei com senhora antes, se conseguia participar do júri que trata de esquartejamento", disse
O júri de Elize Matsunaga, acusada de matar e esquartejar o ex-marido em 2012, foi interrompido por alguns minutos, na manhã desta terça-feira (29/11) após imagens das partes do corpo da vítima, o empresário Marcos Kitano Matsunaga, herdeiro da Yoki, ser expostas no plenário. Uma jurada passou mal e foi advertido pelo juiz. Elize começou a chorar e pediu para ser retirada do local.No segundo dia de julgamento, é ouvido o delegado Mauro Gomes Dias, testemunha comum do Ministério Público Estadual (MPE) e da defesa no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Ele presidiu o inquérito do caso, investigado pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Foi ao delegado que Elize confessou ter assassinado e depois retalhado do corpo de Marcos. A confissão foi filmada. O crime aconteceu na noite do dia 19 de maio de 2012, um sábado. "Ela conseguiu enganar a família inteira", disse.
Uma jurada, que tem diabete, sentiu-se mal durante a exibição de partes do corpo de Marcos e foi advertida pelo juiz Adilson Paukoski Simoni. "Eu falei com senhora antes, se conseguia participar do júri que trata de esquartejamento", disse. Depois, Elize começou a chorar e, através dos advogados, pediu para sair da sala. Elize havia acabado de voltar de uma viagem ao Paraná, quando cometeu o crime. Marcos foi buscar ela, a babá e a filha no aeroporto, depois todos foram para o apartamento do casal. Há duas versões para o que aconteceu na sequência.
À época, Elize narrou que Marcos desceu para buscar uma pizza. Na volta, ela teria contado que contratou um detetive para filmar a traição do marido e os dois teriam iniciado uma discussão. A ré contou que foi agredida com um tapa e alvo de xingamentos. Ela teria tentado fugir do marido e alcançado a arma, uma pistola calibre 380 que havia recebido de presente de Marcos. "Você não tem coragem de atirar", teria dito a vítima, antes de ser alvejada no lado esquerdo do crânio. O delegado, no entanto, não acredita nessa versão.
"Quando chegou com a pizza, a vítima não teve tempo nem de dizer 'ai'", afirmou Gomes Dias. Segundo demonstração do policial, o disparo foi feito à curta distância, de cima para baixo. Elize também já estaria com a arma engatilhada. Para a promotoria, um indício de crime premeditado. "Ele não teve chance de se defender", disse o delegado. Gravações de câmeras de segurança mostram as quatro pessoas chegando ao apartamento. Depois, Marcos desce sozinho e, demonstrando irritação, chuta a porta do elevador. As imagens seguintes mostram Elize saindo do prédio com três malas, onde estava o corpo do marido, e voltando sem elas.
Segundo as investigações, Marcos era lutador de artes marciais, mais alto e mais forte do que Elize. Por sua vez, a ré é descrita como uma "exímia atiradora". "Na época dos fatos, ela estava carregada de ódio", afirmou o delegado. Os laudos médicos apontam que Marcos começou a ser degolado quando ainda estava vivo, segundo o policial. Já as partes do corpo foram jogadas à beira de uma estrada em Cotia, na Grande São Paulo. "Os animais se alimentam da carne. Era uma forma de sumir com o corpo", disse.
Quebra do sigilo telefônico da ré mostrou que Elize esteve no local em que as partes foram achadas. Após o crime, ela também trocou o cano da arma e jogou a cápsula da bala no vaso sanitário. "Ela eliminou as possibilidades de perícia. Tinha conhecimento de tiro", disse.
Em depoimento, o delegado também contou que o reverendo Renè Henrique Gotz Licht, que era próximo ao casal, notou o comportamento estranho de Elize antes do crime. "Ele já havia alertado Marcos a quebrar a chave dentro do cofre onde guardavam as armas", afirmou Gomes Dias. "Marcos, ela pode te matar", teria dito.
Então casado e com uma filha, Marcos conheceu Elize por meio de um site de acompanhantes. Saíram juntos, trocaram telefone, viraram amantes. Marcos se separou. A cerimônia de casamento dos dois foi feita por Licht. Depois, o empresário começou a sair com outra mulher, do mesmo site de Elize. "Ela provou do próprio veneno", disse o delegado.
Fonte: Agência Estado