Com um inimigo como Lula, Bolsonaro não precisa de amigos. Tomado pelas
palavras, o astro petista parece decidido a repetir em 2022 o papel de cabo
eleitoral do capitão. Ao discursar no aniversário de 40 anos do PT, Lula mirou
no seu desafeto. Mas acertou na sua criatura: Dilma Rousseff. "A pessoa
que me pede autocrítica é porque não tem crítica a fazer para mim",
declarou Lula a alturas tantas. Para ele, quem deve fazer uma boa autoanálise
são os responsáveis por mazelas como os "12 milhões de
desempregados". Ou a "matança da nossa juventude na periferia."
Chama-se Dilma Rousseff a grande responsável pelo super-desemprego. Foi graças
à economia pedalante e criativa do governo empregocida de madame que o Brasil
meteu-se na maior recessão de sua história.
Os brasileiros já conheciam o caos.
Sob Dilma, foram apresentados ao pântano.
Assim
como o desemprego, que se recupera lenta e penosamente, os índices de mortes
violentas são declinantes no país. Começaram a cair sob Michel Temer, depois
que Dilma foi deposta. Hoje, a queda bate em 22%. O mérito é mais dos Estados
do que de Brasília. Mas Lula ajeita a bola para Bolsonaro chutar. Lula instou
sua tropa a ganhar o asfalto. "Se não formos para a rua lutar e resistir,
estaremos perdidos", afirmou, antes de atirar contra seus pés barro.
"Acusam todos de corrupção e enfiam na nossa cara esse governo que
enfiaram agora. Esse é um desafio para nós. Como organizamos os movimentos
sindicais de novo?".
Nem todos carregam a pecha de corrupto, só os que se lambuzaram. Contra
Lula, correm no Judiciário uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete, oito,
nove processos. Adornam sua biografia duas condenações em segunda instância
—uma delas já ratificada na terceira instância. Infelizmente, a cadeia não
ensinou nada ao orador. No trecho em que declarou "enfiam na nossa cara
esse governo que enfiaram agora", Lula injetou um ardil de gramática e um
erro de história. Se aplicasse corretamente a gramática, Lula teria evitado o
sujeito oculto. Diria algo assim: "O eleitorado enfia Bolsonaro na nossa
cara."
Eis o
erro de história: Lula deixa de mencionar sua contribuição à ascensão de
Bolsonaro. Transformou o PT numa máquina coletora de fundos, levou estatais
como a Petrobras ao balcão, avalizou a nomeação de gatunos... E vendeu como
supergerente uma sucessora inepta. Com tudo isso, Lula conseguiu transformar o
antipetismo na maior força eleitoral da sucessão de 2018. Forte o bastante para
impulsionar o voo de um obscuro deputado do baixíssimo clero para o Planalto. O
pronunciamento de Lula reforçou a sensação de que o PT, 40, enfrenta um
processo de envelhecimento precoce. Nem Lula, famoso pela intuição política,
consegue enxergar a realidade. Diz ter um "tesão de 20 anos". Mas, exibe
a vista cansada ao pregar a ocupação das ruas e a reorganização do aparato
sindical.
Desde
2014, quando explodiu a Lava Jato, Lula promete "percorrer o Brasil".
Renovou a promessa ao deixar a cadeia. Mas não foi. Fala para plateias
companheiras, em ambientes domesticados. Sem verbas públicas, o "exército
do Stédile" sumiu. Sem imposto sindical, a máquina de agitação da CUT
enferrujou. Lula ainda não notou. Mas tornou-se o opositor dos sonhos de
Bolsonaro. Está sujo demais para criticar os mal lavados que rodeiam o capitão
-do filho com a biografia rachadinha aos ministros encrencados com a lei. Com
as digitais gravadas nos grandes problemas nacionais —a ruína econômica e a
roubalheira—, Lula já não consegue fazer pose de solução.
Restou a
Lula apenas a raiva. O diabo é que, com tantos problemas por resolver, é
improvável que na sucessão de 2022 o brasileiro se anime a enviar à Presidência
um poste indicado por Lula para passar quatro anos falando mal de Bolsonaro. A
língua do capitão produz crises em série, conspirando contra o governo do dono.
Mas para sorte de Bolsonaro a única novidade no PT é a namorada de Lula, 72, a
socióloga Rosângela Silva. Chamada na intimidade de Janja, ela nasceu na mesma
época em que o PT veio à luz, há 40 anos. "Eu consegui a proeza de, preso,
arrumar uma namorada", costuma jactar-se Lula. A cadeia não inspirou uma
autocrítica. Mas não foi de todo inútil.
[quando o multicondenado petista foi beneficiado com a liberdade provisória, decidimos evitar menção ao seu nome ou a suas atividades.
Só que esperávamos pouca movimentação do presidiário, em liberdade temporária, e fomos surpreendidos: o cara sumiu, nada se escreve sobre ele, nada de caravana, e levou o 'mst' junto.
Aí, hoje, decidimos sujar os olhos de nossos dois leitores - postar alguma coisa sobre o naufrágio, o desastre, do petista e do pt = perda total.
Sugerimos ler: Aos40, PT sente as dores de uma velhice precoce.]
Aos 40, PT sente as
dores de uma velhice precoce... - Veja mais em
https://noticias.uol.com.br/colunas/josias-de-souza/2020/02/08/aos-40-pt-sente-as-dores-de-uma-velhice-precoce.htm?cmpid=copiaecola
Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL/Folha
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