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segunda-feira, 19 de junho de 2023

O maior inimigo da Pátria - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Nenhuma ditadura consegue se impor sem a cumplicidade de parte relevante da elite. E tem sido exatamente assim no Brasil

 Ilustração: Shutterstock

“Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa”, alertou o filósofo Schopenhauer. Quando um marginal aparece como tal, temos ao menos a chance de reagir. Mas, quando vem disfarçado de amigo, de bom-moço, e consegue ser convidado para a sua casa antes de roubá-la, aí ele representa um perigo muito maior.

O PT, para a imensa maioria dos brasileiros decentes, é o marginal trombadinha, o bandido tosco que já chega gritando “perdeu, mané”. Já os “moderados” que “até criticam” o governo Lula, mas repetem que tudo está dentro da normalidade em nosso país, são os maiores inimigos da Pátria neste momento. Afinal, não há nada de normalidade no funcionamento de nossas instituições.

Nenhuma ditadura consegue se impor sem a cumplicidade de parte relevante da elite. E tem sido exatamente assim no Brasil. Por ojeriza, nojo ou revolta por motivos obscuros e nada nobres contra Bolsonaro, houve uma aliança nefasta para retirá-lo do poder e permitir que “o ladrão voltasse à cena do crime”. Para atingir esse objetivo, a imprensa se corrompeu, o TSE agiu como partido político e a censura voltou com força sem precedentes ao Brasil.

Há jornalistas censurados e intimidados, parlamentares presos, todo um aparato de perseguição para calar os “inconvenientes” que denunciam todo o esquema podre
A cada dia temos um novo capítulo de descalabros nesse abuso de poder. É puro arbítrio inconstitucional, mas o medo já se espalhou, e praticamente nenhum jurista tem coragem de peitar o STF em público. E assim a tirania vai avançando.
 
O mais recente alvo do ministro Alexandre foi Monark. Moraes ordenou novo bloqueio das contas de Monark nas redes sociais, sob multa de R$ 100 mil por dia se não acatar. 
O comentarista libertário desabafou constatando que já é ditadura quando não se pode sequer emitir uma opinião, a menos que seja aprovada pelo ditador, que só permite robozinhos.

Monark

Monark, ex-apresentador do Flow Podcast - Foto: Divulgação

Glenn Greenwald, jornalista norte-americano de esquerda, tem sido um crítico veemente do abuso de poder de Alexandre, mas somente após a vitória de Lula. Ele escreveu: “Que fundamento jurídico tem Moraes para continuar a mandar silenciar comentadores nas redes sociais? Essa lei deveria expirar no dia em que a eleição terminasse. Alguém se importa se ele tem uma base legal para isso, ou apenas reverenciamos nosso monarca benevolente?”.

Ora, não havia nenhum fundamento jurídico para tal censura durante as eleições também, mas ali o arbítrio não incomodou tanto o jornalista, pois ajudou seu candidato de esquerda. Glenn voltou a atacar a decisão de Moraes em seguida: “Segundo Cármen Lúcia, a Lei das Fake News que Moraes está usando para mandar censurar quem quer que seja expirou no dia seguinte às eleições de 2022. Mas, quando se venera líderes autoritários, ninguém se importa se eles têm base legal para suas ordens”.

Até mesmo Cármen Lúcia reconheceu que era censura, mas acabou aprovando uma censura temporária, mostrando que o cala-boca, na prática, não morreu coisa alguma. 
Eis o que claramente está em jogo aqui: o sistema se uniu ao petismo para eliminar Bolsonaro, e agora os rachas internos começam a ficar aparentes. A esquerda petista tem medo de que o poder concentrado em Moraes seja usado eventualmente para derrubar Lula também, para dar uma espécie de golpe dentro do golpe.
 
Eis a única explicação plausível para jornais tucanos que “fizeram o ‘L’” ou passaram a eleição inteira demonizando Bolsonaro mudarem de postura, finalmente apontando os abusos supremos que antes ignoravam ou até elogiavam
Eles sempre quiseram se livrar da direita bolsonarista, mas Lula não era sua escolha nem de perto. 
O petista foi o remédio amargo que tiveram de engolir após várias tentativas de parir uma “terceira via”. Essa “frente democrática” nunca passou de uma união instável e oportunista por esquerdistas e corruptos sem nenhum apreço pela democracia.
 
Volto ao começo: o grande perigo não é aquele que se apresenta mostrando suas garras, segurando a foice e o martelo, elogiando os modelos venezuelano, cubano e chinês. 
A ameaça petista assusta muita gente, com toda a razão. 
Ameaça até mais sombria é aquela que vem sob o manto de legitimidade, um Poder Judiciário que finge ser o guardião da Constituição, enquanto persegue conservadores pelo crime de opinião e protege traficantes.
 
Quando alguém como Rodrigo Pacheco, presidente do Congresso, vem falar para as câmeras com aquela pose de estadista, todo engomadinho, com tom de seriedade como se o Brasil fosse uma república de verdade, e os jornalistas e muitos empresários fingem acreditar que estão diante de algo muito respeitável, é aí que mora o maior perigo.  

Coluna Rodrigo Constantino - Revista Oeste

 


terça-feira, 17 de janeiro de 2023

O que esperar do embate entre Glenn Greenwald e Alexandre de Moraes - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr.

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.




Glenn Greenwald chamaAlexandre de Moraes de ditador. E agora?

Glenn Greenwald, o jornalista da Vaza Jato e dos sopapos de e em Augusto Nunes, tem como alvo agora o poder praticamente ilimitado de Alexandre de Moraes. 
Sem medir palavras, como convém a alguém que acredita na liberdade de expressão, Greenwald diz que Alexandre de Moraes é um dos ditadores mais poderosos do planeta, capaz de calar dissidentes com uma mera canetada, sem se preocupar com essa coisa de lei. Só porque ele quer. Por causa disso, Greenwald atraiu a ira da esquerda e, nos últimos dias, foi vítima de ataques homofóbicos. Por outro lado, Elon Musk, o dono do Twitter, se mostrou interessado no caso. 
Será que Alexandre de Moraes vai censurar Greenwald? Será que Musk comprará essa briga?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Decisões de Moraes - Glenn Greenwald percebeu o que acontece no Brasil e está mostrando para o mundo

Vozes - Alexandre Garcia

Eu condenei o jornalista americano Glenn Greenwald quando houve aquele ataque de hackers que revelou conversas entre o pessoal da Lava Jato. Foi um crime, previsto inclusive na Constituição, porque invadiu a privacidade dos promotores, mas foi usado para desmoralizar a Procuradoria da Lava Jato e o juiz Sergio Moro.

Mas agora, o jornalista Greenwald, não é que mudou de lado, ele percebeu que um outro lado exagerou e está fazendo eco a reportagens do New York Times que dizem que o Brasil está em um momento muito perigoso de arbítrio, de totalitarismo, de desrespeito à Constituição e as liberdades e de censura.

Ele está botando a boca no mundo. Interessante que é a forma de sair do Brasil e ir para os Estados Unidos e para o mundo o que tá realmente acontecendo aqui no Brasil. Fica aqui esse registro.

Eu não sou seguidor dele, mas estou vendo que ele percebeu o que está acontecendo aqui no país. Eu passo o dia inteiro falando que a Constituição tem que ser respeitada e vocês sabem, como eu sei, que ela não está, principalmente no Artigo 5º e no Artigo 220, que falam sobre as liberdades, o direito à liberdade de expressão e sobre a vedação à censura, essas coisas.

Começa o Fórum de Davos
Hoje começa o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. O Brasil tem uma comitiva que é chefiada pelo vice-presidente da República, que também é Ministro da Indústria, Comércio e Desenvolvimento, Geraldo Alckmin. Ele chefia uma comitiva que tem a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Certamente, Marina Silva vai se enquadrar no politicamente correto das questões ambientais, que são muito bonitas, etc, mas que, pelo menos na Europa, não estão resultando muita coisa.

Isso porque eles são obrigados a produzir energia de carvão e energia nuclear, por exemplo. O Partido Verde da Alemanha até já afundou. Mas, enfim, Marina está lá. Não sei o que Fernando Haddad vai falar. Tomara que não fale muito. Mas o Mauro Vieira certamente vai explicar a posição do Brasil.

Logo depois, terminado o Fórum Mundial, dia 20, outra missão de Mauro Vieira será acompanhar o presidente da República à Argentina porque vai ter a reunião de cúpula dos chefes de governo da América Latina e do Caribe. O anfitrião é o presidente Alberto Fernandéz.

A maioria desses países agora é de esquerda, então vai ser um caminho indo para a esquerda.

Aqui no Brasil isso já está sendo posto em prática,
com a reabertura das embaixadas do Brasil em Havana e em Caracas e a retirada de um general como embaixador do Brasil em Israel.

Vem aí a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado
Está faltando só 15 dias para a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado.

As pessoas falam em reeleição. O Artigo 57, no parágrafo 2º, diz que não tem reeleição. Mas ninguém mais obedece a Constituição, né?  
O que é um perigo muito grande, porque aí o que manda é quem tem mais força, não é a lei. É um perigo.

Quem desobedece a Constituição está armando alguma coisa que pode vir contra si próprio. Mas, enfim.

O grande perigo é reeleger Rodrigo Pacheco no Senado, porque ele foi omisso completamente com todos esses desrespeitos à Constituição.
Eu estou torcendo para que ele não seja reeleito, para que o Senado tenha um papel realmente de câmara revisora, inclusive dos atos do Supremo, como diz a Constituição. Temos que respeitá-la. [a declarada torcida do douto articulista, nos deixou preocupado: será que torcer contra alguém que atuou, por omissão, favoravelmente ao Supremo, não é ato antidemocrático?] 

Economia no governo novo
Quinze dias de governo novo e já a economia completamente entregue ao acaso.
A insegurança jurídica no país hoje é muito grande, o que faz com que os investidores, aqueles que estão investindo no país, em emprego, em produção, estejam todos com o pé atrás.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 1 de maio de 2020

SÉRGIO MORO, O ENXAME E O PAR DE DOIS - Percival Puggina

Você, cujo idealismo perdeu a virgindade, não chore não. Debatemo-nos durante tanto tempo contra o poder instalado no país! O Brasil fora tomado por um enxame composto por corrupção, esquerdismo, Foro de São Paulo, corporativismo, patrimonialismo, globalismo e revolução cultural! Não havia dúvida sobre a necessidade de combater esse enxame.

 Bolsonaro vestiu o elmo dos templários, abraçou com dedicação algumas das pautas conservadoras e liberais, encontrou milhões de brasileiros à espera de alguém para guiá-los e foi seguido, esperado, aclamado. Era líder tosco, mas de refinamento fora suficiente a rápida dose de Michel Temer.  

A eleição do novo presidente suscitou iras cósmicas. Aglutinaram-se contra ele macabras potências encasteladas nos poderes de Estado. Os mais altos torreões da República passaram a dardejar sortilégios e quebrantos sobre o novo mandatário. Com apoio da mídia militante, que o combateu antes, durante e depois da campanha eleitoral, submeteram-no à mais orquestrada desqualificação. E encontraram pela frente um osso duro de roer, com fortíssimo apoio popular.

 Qualquer assunto que pudesse ser usado em desfavor do presidente servia para uma pancadaria midiática que a tudo amplificava e repercutia sem cessar até o surgimento de assunto novo, ou melhor. Surpresa? Não. Imagino que, com alguma experiência da cena nacional e seus atores, isso era de esperar. Inusitada, para todos, foi a persistência com que milhões de brasileiros, ao verem o que acontecia, passaram a sair às ruas em apoio ao presidente. Nenhum dos ataques a ele, porém, teve o impacto da fala de Sérgio Moro enquanto se demitia do cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública. Ali rufaram os tambores para o combate final. Bolsonaro não estava sendo acusado por um editorialista ou por um parlamentar oposicionista, mas por uma personalidade mundial, magistrado que só não tinha o respeito de bandidos e de seus defensores.

Quando ele terminou de falar, percebi uma debandada entre os apoiadores do presidente. O idealismo perdera a virgindade. Trincara-se o cristal. Para muitos, a vida nunca mais seria a mesma...
Quando o presidente falou, expondo o indispensável outro lado da história, quando as “provas” vieram a público para serem examinadas sem a lente de aumento da mídia militante, tudo começou a voltar ao seu lugar. Foi lastimável ver uma figura pública como o ex-ministro usando contra o presidente o mesmo truque de printar conversa de whatsapp aplicado contra ele Moro.

Aliás, acho que nem Glenn Greenwald faria a uma amiga e afilhada a baixaria que Moro fez a Carla Zambelli. E apresentou à TV Globo como “prova”. 

Escrevo, então, àqueles para os quais o cristal trincou. Não há cristal na política. Como tantas vezes tenho escrito, a política é um jogo que se joga. Não é um jogo que se assiste de camarote, com ar condicionado ligado e garçom na porta. A política põe na mesa o bem comum, e os adversários são conhecidos. Durante décadas impuseram ao país os seus padrões e seus patrões. Nós os vimos envolvidos numa guerra sem trégua contra a escolha do eleitorado em 2018. Será necessário apresentar bem mais do que um par de dois para que minhas palavras os favoreçam na volta ao poder.
 
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Glenn não é jornalista, e pronto! - José Nêumanne Pinto

A ministra do STF e presidente do TSE, Rosa Weber, decretou a extinção da interpelação do americano Glenn Greenwald contra o presidente Jair Bolsonaro por causa de sua declaração em julho de 2019 de que o gringo, que, atenção, não é nem nunca foi jornalista, nunca seria alvo da portaria do ministro da Justiça, Sergio Moro, de deportação de criminosos estrangeiros no País.




Verdevaldo, como é conhecido o autor da interpelação, é acusado de ter cometido crime de pornografia e de haver sonegado impostos em seu condado de Nova York, mas é assim definido nos meios de comunicação e também tratado pela cúpula da Justiça brasileira como vítima de atentado contra a liberdade de expressão em bizarra liminar do ministro Gilmar Mendes, que impediu o juiz Ricardo Leite de denunciá-lo no processo aberto contra seus cúmplices estelionatários que furtaram mensagens de cerca de mil autoridades do combate à corrupção na Operação Spoofing, divulgadas pelo Intercept Brasil. Direto ao assunto. Inté. E só a verdade nos salvará.

[Lembrete:  o indigitado corre risco de logo que a liminar seja revogada e a denúncia aceita pela Justiça Federal de puxar uma cadeia no Brasil - não é jornalista, o que retira o manto protetor da 'liberdade de imprensa'.

Nada impede que seja extraditado para os Estados Unidos e lá puxe uma cadeia - o Brsil não extradita seus nacionais natos, só que o citado tem nacionalidade brasileira em função de uma adoção de crianças, algo do tipo.
Sendo revogada a adoção, cai a nacionalidade brasileira.]


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Ninguém foi censurado - Carlos Alberto Sardenberg

Polícia Federal não indiciou Glenn. Mas o MP não tem a obrigação de seguir exatamente o caminho da PF

O que ameaça a liberdade de imprensa é a censura, sobretudo a censura prévia. Jornalistas apuram suas notícias de diversas formas – pesquisando, vendo os fatos (numa guerra, por exemplo, numa manifestação de rua) ou consultando fontes que consideram confiáveis. E devem ter a liberdade plena de publicar o que apuraram sem pedir autorização a qualquer autoridade. Tem mais. Nas democracias, a lei garante o sigilo da fonte da informação e não apenas para o jornalista. Médicos, advogados, psicanalistas têm o mesmo direito.
  Logo, o jornalista não pode ser punido quando se recusar a revelar sua fonte. Mas o que acontece se a informação publicada for um tremendo erro, uma mentira, uma ofensa aos direitos de terceiros?
Fica por isso mesmo?
É claro que não pode ficar. O jornalista é responsável pelo que publica e pode ser processado pela parte atingida. Isso não é incomum por aqui. Há inclusive vários casos de jornalistas que processaram jornalistas e obtiveram condenações exemplares.  O jornalista processado sempre diz que é vítima de um ataque à liberdade de imprensa. Errado. Ele teve a plena liberdade de publicar – e o que foi publicado lá permaneceu. Mas tem que ser responsável pelo que publicou. Um engenheiro é responsável se a barreira se desmancha e mata centenas de pessoas. Por que o jornalista não seria responsável por destruir a reputação de uma pessoa que seja?

Essa responsabilidade não desaparece quando o jornalista alega o sigilo da fonte. Um exemplo clássico: a jornalista Judith Miller, que já tinha um Pulitzer, publicou no N.Y.Times que Valerie Plame, esposa de um ex-embaixador, era agente secreta da CIA. Obviamente, colocou em risco a vida e  destruiu a carreira de Valerie. A jornalista foi processada, recusou-se a revelar a fonte, foi condenada e presa. Um outro caso clássico também vem dos Estados Unidos. O N.Y.Times publicou documentos do Pentágono (sobre a guerra do Vietnã) que haviam sido subtraídos por um funcionário do órgão. Atenção, o jornal não havia participado do roubo – e isso foi um ponto importante do processo. Apenas recebera os documentos de um funcionário que julgou necessário divulgar aqueles fatos.
O jornal pode seguir publicando os documentos. Ou seja, o jornalista precisa checar a informação recebida de sua fonte e, sobretudo, não pode participar de nenhum  modo na produção da notícia. E muito menos não pode participar do roubo de uma informação, quer a financiando, quer ajudando a fonte de algum modo. [os diálogos comprovam que o verdevaldo ajudou os criminosos a ocultr informações diversas, entre elas as que poderiam identificar o receptador;
a turma do verdevaldo é tão sem noção que usa o argumento que O MP não poderia investigar o jornalista, tendo em conta que a PF não o havia investigado - teoria tão estúpida, digna dos que a elaboraram e produziram o 'escândalo que encolheu';
A ser acatado tão estapafúrdia tese, a PF passou a ter poderes que são exclusivos do Poder Judiciário = julgar;
Se a PF não investigou é sinal que decidiu, julgou, ser o não investigado inocente = sentença transitada em julgado, que nem a lei pode mudar.]

Tudo considerado, o jornalista Glenn Greenwald não foi censurado. Publicou e continua publicando suas histórias. Não houve censura nem quando ficou claro que as informações, as conversas entre promotores e juízes da Lava Jato, haviam sido obtidas criminosamente por hackers.  A Polícia Federal encontrou e prendeu os suspeitos. Não investigou, nem indiciou o jornalista americano, que estava protegido por uma decisão do ministro Gilmar Mendes. Discutível. Jornalistas são imunes? Não devem ser.  Mas o Ministério Público resolveu denunciar Greenwald por entender que, investigando outras pessoas, os hackers, encontrara indícios de que o jornalista havia sido cúmplice ou tinha participado de algum modo da operação de roubo das informações.

A denúncia é o começo do processo. Pode ser desclassificada pelo juiz logo de cara.  Sim, é verdade que a Polícia Federal não indiciou o jornalista. Mas o Ministério Público não tem a obrigação de seguir exatamente o caminho da PF. Se não fosse assim, os casos já sairiam direto da PF para o juiz.  Muita gente diz que está claro que Greenwald não participou do processo. Pode ser, mas é o juiz que vai dizer isso. E pode ser assim porque o caso é grave. Se houve conluio entre jornalista e fontes, que cometeram crime, foi o jornalista que colocou em risco a liberdade e a independência da imprensa.
Enquanto isso, ninguém foi censurado. Glenn Greenwald continua publicando seu site e continua livremente se defendendo das acusações e, de sua parte, fazendo suas próprias acusações. E a imprensa continua contando e opinando de um lado e de outro.
A ver o que dizem os tribunais.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 



 Coluna publicada em O Globo - Economia 23 de janeiro de 2020



Denúncia temerária - Merval Pereira

O Globo

Denúncia temerária

Ministério Público é tão autônomo que está investigando o senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente

Não creio que os diálogos entre o jornalista americano Glenn Greenwald e Luiz Henrique Molição, um dos hackeadores das mensagens dos procuradores de Curitiba e de diversas autoridades, revelem indiscutivelmente a ação direta do jornalista no crime, a ponto de provocar uma denúncia. Mas isso não quer dizer que a liberdade de imprensa esteja em perigo no país, nem que haja uma “vingança” do governo contra ele devido à divulgação de tais conversas.

O Ministério Público Federal é um órgão autônomo, não pertence a governos, como fazem crer comentários no exterior e da oposição. Um bom exemplo é a atitude da Polícia Federal, subordinada formalmente ao Ministério da Justiça, mas com autonomia de atuação garantida pela Constituição, que não precisa de autorização para investigar. Pois a Policia Federal, com base nos mesmos áudios, considerou que não havia indícios de que o jornalista Glen Greenwald tivesse participação moral ou material no caso. Se fosse o caso de “vingança”, não seria mais óbvio que a Polícia Federal acusasse o jornalista, que provocou uma crise política nacional com as revelações do relacionamento considerado por muitos abusivo do então juiz Sergio Moro com os procuradores de Curitiba? [tentou provocar uma crise política nacional, mas, fracassou de tal forma que o escândalo passou a ser conhecido, até mesmo na grande imprensa, como o 'escândalo que encolheu' - Eliane Cantanhêde - O Estado de S Paulo]

Não houve nenhuma especulação a esse respeito quando o resultado da investigação da Polícia Federal foi divulgado. Pelo raciocínio da “vingança governamental”, o ministro Sérgio Moro deveria ser elogiado. Mas nada disso é real. Não houve atuação do governo, já que o Ministério Público também tão autônomo que está investigando o senador Flavio Bolsonaro, filho do presidente. Acredito que tenha havido um procedimento temerário do procurador de Brasília, pois o Ministério Público do Distrito Federal deveria ter pedido autorização para investigar Glenn Greenwald, já que uma decisão do ministro Gilmar Mendes o blindava para proteger a liberdade de imprensa.

A decisão do ministro do Supremo é correta, porque do contrário todos os jornalistas que divulgassem documentos secretos ou revelassem mensagens entre autoridades poderiam ser investigados. Mas, se o Ministério Público do Distrito Federal descobriu, no decorrer das investigações, indícios que levavam ao jornalista, esse fato deveria ser comunicado ao Supremo. Não esqueçamos que esse mesmo Molição que aparece pedindo conselhos a Glenn Greenwald nos áudios é o mesmo que fez uma delação premiada aceita pela Justiça. Por isso foi solto. Se ele deu alguma informação que ligue o jornalista americano ao crime de intercepção ilegal, esse fato precisaria ser investigado.

A atitude do Ministério Público do DF foi temerária porque denunciou Glenn Greenwald sem sequer investigá-lo oficialmente, embora seja um procedimento aceitável legalmente. A orientação de Greenwald para que os hackeadores apagassem as mensagens foi interpretada pela Polícia Federal como favorável a Greenwald, enquanto o Ministério Público viu nela a indicação de que o jornalista estava envolvido na ação criminosa e queria apagar as evidências. [convenhamos que se alguém orienta um criminoso para praticar determinado ato buscando destruir elementos que poder ser usados como prova, a intenção do 'orientador' é, no mínimo, a de obstruir a Justiça.]
São indícios muito frágeis para denunciar uma pessoa, ainda mais em tema tão delicado quanto a liberdade de imprensa. Mas se houver delação fazendo essa relação, será preciso investigar.
 


quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

OAB diz que não existe crime na conduta de Glenn Greenwald - CB

Entidade afirma que não existe indícios de que o jornalista tenha atuado diretamente na invasão de mensagens trocadas por autoridades e que ele atuava no exercício da profissão

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), afirmou, por meio de nota, que a denúncia apresentada nesta terça-feira (21) pelo Ministério Público Federal (MPF) contra o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, não descreve a prática de crime. O órgão pede que ele seja condenado por suposto envolvimento com um grupo hacker suspeito de invadir o celular de diversas autoridades, entre elas o ministro da Justiça, Sergio Moro.

O procurador da República Wellington Divino de Oliveira afirma, no documento enviado à Justiça Federal de Brasília que "ficou comprovado que ele (Glenn) auxiliou, incentivou e orientou o grupo durante o período das invasões". No entanto, para a OAB, a acusação representa um risco para a liberdade de imprensa, e não descreve ilegalidades. [a partir da página 47  da denúncia do MPF(íntegra aqui)  apresentada à Justiça, consta elementos que comprovam a participação do jornalista (autor da matéria que de tão insignificante se tornou conhecida como o escândalo que encolheu ou usando um  lugar comum da 'montanha pariu um rato'), mantendo conversa com os hackers, alguns permanecem presos, usando um e-mail específico: brasil_baronil@riseup.net
A partir das fls 55 tem ampla jurisprudência que sustenta a denúncia contra o jornalista.]

 

[CONSTITUIÇÃO FEDERAL

".......... 

CAPÍTULO III
DO PODER JUDICIÁRIO
Seção I
DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
I - o Supremo Tribunal Federal;
I-A o Conselho Nacional de Justiça;             (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

II - o Superior Tribunal de Justiça;
II-A - o Tribunal Superior do Trabalho;                 (Incluído pela Emenda Constitucional nº 92, de 2016)

III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI - os Tribunais e Juízes Militares;
VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
§ 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal.             (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. ......"   

Das duas uma: 
- ou ocorreu uma radical reforma na Constituição Federal na noite de ontem para hoje, com a inserção de  mais um inciso no artigo 92 da CF - Inciso VIII incluindo entre os órgãos do Poder Judiciário a Ordem dos Advogados do Brasil - OAB;

- ou não ocorreu nenhuma mudança na CF e  a Ordem continua sem competência para julgar.
Assim, a dedução da Ordem de que o verdevaldo não cometeu crime, é um comentário sem fundamentação, portanto, sem nenhum valor legal.

Se prosperar o entendimento de que é necessário a existência de indícios da participação no crime para que a conduta se torne criminosa, fica fácil para o mandante de um homicídio - crime de pistolagem - ser considerado inocente.]

Em nota, emitida pelo Observatório da Liberdade de Imprensa, a OAB informa que "acompanha com grande preocupação a denúncia". A entidade declara que existe a criminalização da divulgação de informações. "A denúncia descreve fato que não pode ser considerado crime. A participação em qualquer delito exige instigação ou colaboração efetiva para sua prática, e nenhuma das mensagens do jornalista incluídas no expediente do MPF indica qualquer desses comportamentos. A denúncia, portanto, criminaliza a mera divulgação de informações, o que significa claro risco para a liberdade de imprensa", descreveu a OAB.

O caso será avaliado pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. Ele decide se aceita ou não a denúncia. O relatório do MPF já está no gabinete do magistrado. O procurador Wellington Divino de Oliveira é o mesmo que apresentou denuncia contra o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, por críticas que ele fez a Sergio Moro. A denuncia contra Santa Cruz foi rejeitada pela Justiça posteriormente.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se manifestou sobre o caso pelo Twitter e destacou que a imprensa livre é essencial para a democracia, "A denúncia contra o jornalista Glenn Greenwald é uma ameaça à liberdade de imprensa. Jornalismo não é crime. Sem jornalismo livre não há democracia", disse. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou nota contra a decisão do MPF.  "A Fenaj alerta para o perigo das restrições à liberdade de imprensa, principalmente quando elas partem de autoridades constituídas. No caso do Ministério Público Federal, uma instituição criada para zelar pela legalidade e pelos interesses da sociedade, é incompreensível a decisão de denunciar um jornalista que nada mais fez do que exercer o seu ofício. A denúncia do MPF é, portanto, uma forma de intimidação ao jornalista e uma ameaça à atividade jornalística", descreveu a entidade.

Correio Braziliense - Matéria em 22 janeiro 2020