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sábado, 29 de julho de 2023

Estragar o IBGE, não vai. Mas pegou mal. - Carlos Alberto Sardenberg

Numa boa: se era para colocar o economista Marcio Pochmann no governo, a presidência do IBGE foi uma saída de pouco dano. Lá, o potencial de estragos é menor, quase nada.[além do mais, o IBGE - com HISTORIA, REPUTAÇÃO e TRADIÇÃO ilibadas e que esperamos não sejam  manchadas pela sua administração petista -  integra um ministério fraco , no qual está uma ministra fraquíssima - tanto que o atual presidente a chama de 'estepe' e usa um órgão do seu ministério como 'estepe']

Com todo o respeito que o IBGE merece, o fato é que lá não se formula nem se pratica política econômica. Trata-se de um órgão que pesquisa e elabora dados. Mede e calcula população, inflação, emprego, desemprego e renda, o Produto Interno Bruto, contas nacionais.

Mais: o IBGE tem tradição e estruturas consolidadas, além de um corpo técnico profissional e gabaritado.

Algumas pessoas levantaram hipóteses de manipulação dos dados, de modo a criar uma imagem mais favorável do país, beneficiando a propaganda do governo.

Por exemplo: martelar os índices de inflação, “produzir” números bem baixinhos, circunstância que favorece o governo de diversas maneiras. Ajudaria a pressionar o Banco Central para uma redução mais acentuada da taxa básica de juros.

Cristina Kirchner fez isso na Argentina. Maduro ainda faz na Venezuela. Aqui mesmo, já houve pressões sobre o IBGE; isso nos anos 80, governo Sarney, para mudar os métodos de cálculo da inflação. Não deu certo. Houve reações políticas e sociais, permitidas pelo ambiente democrático.

Mas, no tempo da ditadura, houve manipulação. Ao final do governo Médici, em 1974, o então todo-poderoso ministro da Fazenda, Delfim Netto, exibia crescimento econômico de milagre, com inflação moderada para a época, 12% ao ano, isso para 1973.

Muita gente desconfiava, mas como reclamar na ditadura?

Só de dentro do regime. Foi o que aconteceu no governo Geisel. Nomeado ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, entre suas primeiras medidas, providenciou uma revisão da inflação de 1973: não havia sido de 12%, mas de 26,6%, um salto e tanto.

Não foi propriamente uma falsificação, mas um truque. Para conter as óbvias pressões inflacionárias, Delfim havia imposto um controle de preços. A Fazenda fixava os preços, digamos, oficiais, dos principais produtos.

E como sempre acontece nessas circunstâncias, o mercado continua funcionando. Ou seja, havia o preço da tabela e o real, maior, claro. O truque: considerar, na medida da inflação, os preços oficiais. [o truque ainda existe e está sendo aplicado; quem vai aos supermercados comprova que os preços estão sempre crescendo e bem mais do que os percentuais apregoados pelo DESgoverno do petista.]

Ocorre que se mediam também os preços reais, que ficavam no armário. Simonsen mandou abrir, e a inflação de verdade era mais que o dobro da oficial.Seguiu-se um debate entre os dois economistas, mas ficou claro, especialmente para a população, que 26% era o número. O Banco Mundial também fez uma revisão dos dados brasileiros e chegou a uma inflação de 22,5% para 1973. Era por aí.

Qual a chance de acontecer de novo? Zero.[respeitosamente discordamos, está acontecendo e os números e os fatos COMPROVAM,]

Imagine que o presidente do IBGE tente interferir na coleta de preços e cálculo do índice. Em menos de um dia o caso estará na imprensa. Será vazado por funcionários do instituto, zelosos de seu trabalho e sua moral.

Além disso, os índices do IBGE são acompanhados com lupa por centenas de analistas. Há economistas de banco cujo trabalho é adivinhar os números.

Nas consultorias, equipes especializadas até fazem coleta de preços essenciais, além de seguir o detalhe das pesquisas do IBGE, de modo a antecipar cenários para seus clientes.

Basta acompanhar o noticiário. Na véspera da divulgação de qualquer indicador importante, jornais e sites trazem as estimativas do mercado. E sempre bate, não na mosca, mas no alvo.

Tudo considerado, o mercado, os analistas, os jornalistas perceberão qualquer tentativa de manipulação.

Quer dizer, então, que a escolha de Pochmann para o IBGE não tem importância alguma?

Tem. Trata-se de um mau sinal. Indica que a ideia foi colocar um companheiro numa boa posição, mesmo ele não tendo o currículo e a expertise para o cargo.

Ele não interferirá na gestão da política econômica, como sugeriram pessoas ligadas à ministra Simone Tebet e ao ministro Fernando Haddad. Algo do tipo, deixa pra lá, mal não fará.

Mas pode fazer algum estrago administrativo ou técnico num órgão tão importante.

Mede-se um governo pelo que faz e pelo que não faz. Não mexer no IBGE seria melhor.

Sobretudo porque a mexida sugere que podem existir coisas piores em andamento.

Coluna publicada em O Globo - 29 julho 2023

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista  

 

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Pão torrado auditável - O incrível caso de um país que pode implodir por causa de… torradeiras - Gazeta do Povo

Paulo Polzonoff Jr. 

A confiabilidade das torradeiras está sendo novamente questionada pelo presidente Jair Bolsonaro. E está sendo mais uma vez reafirmada enfaticamente pelo Judiciário. 

De um lado, uma dúvida que, independentemente de ser ou não paranoica na origem, está por aí
No ar, no éter. De outro, a arrogância inexplicável e teimosia idem de todo um grupo que existe justamente para garantir que sobre as eleições e suas torradeiras maravilhosas não paire qualquer dúvida - por mais infundada que ela pareça.

 

Torradeiras.| Foto: Abdias Pinheiro/TSE

 Numa conversa recente com amigos bem mais velhos do que eu, fui levado a lembrar que as torradeiras, ao contrário do que diz a campanha do TSE, nunca foram exatamente uma unanimidade. Se temos essa impressão, é porque aqueles eram outros tempos
Tempos de calmaria política, de estabilidade econômica e de tranquilidade com a queda razoavelmente recente do Muro de Berlim. "A gente achava que era impossível alguém continuar comunista depois de ver as torneiras de ouro dos governantes da Alemanha Oriental", disse um deles. 
Apesar do clima geral de alienação, sempre houve quem olhasse com desconfiança para as torradeiras. Nem que essa desconfiança nascesse de um espírito que misturava nostalgia, tradição e uma pitadinha de ludismo.
 
Hoje a gente gosta de rir dos luditas porque eles eram basicamente contra as máquinas que permitiram a Revolução Industrial e, à la Boulos, invadiam as fábricas destruindo tudo. E por “tudo” leia-se “principalmente teares”, que eram o ápice da tecnologia da época. É muito fácil, com o olhar contemporâneo, ridicularizar essas pessoas. Mas a gente não pode esquecer que o sustento e o estilo de vida delas estavam sendo ameaçados por uma geringonça sem alma
E nem chegava a ser uma torradeira dessas que o TSE jura por tudo o que é mais sagrado que são seguras.
 
Avançando um pouco no tempo, do começo à metade do século XX temos a “era de ouro da ficção científica”, gênero que consagrou muitos escritores de imaginação exuberante e estilo sofrível. 
E, em essência, do que fala a ficção científica? 
Da relação sempre complicada entre o homem e a tecnologia criada pelo homem. 
E nem por isso filmes e livros com máquinas malvadas são considerados luditas. 
É natural, pois, que muita gente se sinta profundamente ameaçada quando se trata de confiar o destino de um país a máquinas tão simples quanto torradeiras.

Em relação às nossas torradeiras, a dúvida é natural. Naturalíssima. De uma naturalidade tão grande que há não mais de uma década os próprios parlamentares, representantes democraticamente eleitos da população, aprovaram uma norma que determinava que o pãozinho torrado eletrônico viesse acompanhado por um paõzinho torrado físico, verificável. Em 2015, porém, os ministros do STF, talvez deslumbrados com o potencial ideológico da manipulação sutil das torradeiras, deram início à teimosa iniciativa de garantir a legitimidade das eleições na marra.

Inatural é a teimosia nascida da soberba tecnocrata. Uma arrogância que ignora um desejo que você pode considerar “retrógrado”, irracional, equivocado, mas que é autêntico dentro da ordem democrática: o desejo de ver suas ideias devidamente representadas por meio do voto
O quanto esse desejo é ilusório não está em questão aqui. 
O que está em questão é a recusa inexplicável das autoridades competentes. 
Uma recusa que tem potencial para jogar o país num abismo maior ainda.
 
Afinal, se as torradeiras derem a vitória ao ex-presidiário Lula (toc, toc, toc), a legitimidade de uma eleição que tem por base apenas a canetada do ministro Edson Fachin e a fé na tecnologia das torradeiras será, evidentemente, questionada. 
Ou melhor, negada e rejeitada por uma parcela nada desprezível da população. 
Nesse ambiente, não se pode esperar de um presidente eleito legalmente, mas ilegitimamente, que ele governe o país em paz. 
Porque não haverá paz. E, na falta de paz, os governos tendem a usar o que lhes resta: a força.

A crer na honestidade dos ministros & suas torradeiras infalíveis, resta a hipótese não menos absurda de que STF e TSE agem movidos pela empáfia, pelo desprezo aos sentimentos insisto: legítimos – de parte da sociedade, e pela certeza (essa, sim, infundada) de que a história reserva aos ministros um lugar de honra pela defesa arrogante que eles fazem dessa democracia com contornos muito particulares.

Paulo Polzonoff Jr. , - colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

A criação da direita religiosa - O Globo

Opinião - O Globo

Origem na década de 1960 - Direita religiosa arquiteta há anos o extremismo dos tempos atuais 

A provável assunção de André Mendonça como ministro do STF faz parte de uma sedição urdida ainda na década de 1960. Por trás da indicação de alguém “terrivelmente evangélico”, esconde-se a reação de alguns bispos católicos à modernização pregada pelo Concílio Vaticano II. Enxergaram ali uma guinada intolerável na Igreja. [os valores da Igreja Católica Apostólica Romana, são eternos, são perenes e não podem ser solapados por mudanças profanas. 
Como disse conhecido e respeitado colunista "o fogo do inferno continua sendo alimentado com enxofre". Para DEUS não existe essa de os tempos mudaram, de estamos no século XXI = a covid-19 está aí para provar que os decretos de DEUS são sempre válidos e atuais. Quando os que defendem tudo que não presta, tentam mostrar ao mundo que tais valores nada valem, estão sendo adaptados vem uma 'gripe espanhola', uma covid-19.]

Em oposição às ideias saídas do encontro convocado pelo Papa João XXIII, houve uma união inédita entre bispos conservadores, teólogos e ativistas moralistas. E ainda políticos oportunistas. Por rejeitar uma sintonia da religião com uma postura em defesa da justiça social, menos vetusta (o abandono do latim nas missas…), os descontentes iniciaram um processo reacionário de tomada do poder em todos os níveis da sociedade. Touché: décadas depois, vemos a ocupação de espaço político no Congresso, na mídia e na Justiça.

O recém-lançado livro do professor Benjamin Cowan, “Moral majorities across the Americas: Brazil, the United States, and the creation of the religious right”, traz toda a história da reação conservadora, com nomes aos bois e documentos, além de seguir as relações dos sediciosos brasileiros com os americanos. Sim, as vitórias do Bozo e de Trump seguem um roteiro ideológico traçado pelos militantes moralistas ali nos sessentas do século passado. É de fato um troço transnacional. Bem sabe o Mourão ao suar pela Universal em terras africanas.

[o aqui chamado extremismo nada mais é do que o esforço, do que a luta, pela VALORIZAÇÃO da FAMÍLIA,  dos VALORES MORAIS E RELIGIOSOS, BONS COSTUMES e outros princípios que a maldita esquerda tenta solapar.
O esforço, a luta precisam ser intensificados, já que os inimigos nunca dormem, queimaram a estátua do Borba Gato, querem  modificar o Monumento às Bandeiras, tudo na luta para apagar o passado = a pretexto de apagar o passado  sepultam outros valores.
Homenagear os BANDEIRANTES, se depender deles, passará a ser um crime hediondo. Paulistas e paulistanos, brasileiros em geral, preparem-se: logo será realizado um plebiscito, ou algo do tipo, para retirar do estado de São Paulo e do Brasil qualquer referência a extraordinária importância para o Brasil dos BANDEIRANTES. 
Conhecida emissora de TV, aquela que se especializou em contar cadáveres e ouvir especialistas em nada, já começa a soltar balões de ensaio para tornar os heróis Bandeirantes criminosos, genocidas. 
Felizmente, dessa vez a JUSTIÇA agiu em maiúsculas manteve preso o 'ativista' que incendiou a estátua. O individuo alegou ter cometido um ato político - só que não colou = continua preso - pelo menos até que o assunto, ínfimo, chegue ao Supremo. A companheira dele foi liberada. Os únicos símbolos, as únicas referências aceitas no Brasil de hoje são a foice e o martelo símbolos nojentos repugnantes do comunismo = que matou mais de 100.000.000 de seres humanos.]
 
Os nomes dos principais bois: os bispos Geraldo de Proença Sigaud e Antônio de Castro Mayer, depois aliados (financiados também) por Plínio Corrêa de Oliveira, fundador da TFP (Tradição, Família e Propriedade). [a gloriosa TFP precisa ser revitalizada;questões profanas a enfraqueceram mas o que ainda resta pode voltar a crescer e marcar presença.] Em documentos levantados por Cowan, observa-se a construção de um discurso político-religioso capaz de juntar católicos tradicionalistas, evangélicos conservadores, protestantes e militares brasileiros.
Cada um dos grupos tem suas idiossincrasias e interesses, porém a junção resulta numa salada à base de fake news, hipocrisia e desejo autocrático. De um lado, há o ódio à modernidade, representada pelo "ecumenismo" , [o ideário do ecumenismo desejado por Sua Santidade o Papa João XXIII, foi deturpado = nos dias atuais qualquer um, invocando principios absurdos, bizarros, pode fundar uma  religião; crenças outras foram alçadas à classificação de religião. 
Nos tempos atuais, qualquer individuo ler e memoriza alguns trechos da Bíblia, os interpreta da forma mais conveniente - por mais absurdo que seja o resultado -  vai para uma esquina e mais uma 'religião' está criada.]  absurdo pela liberdade de escolhas e de costumes; de outro, a tentativa de manter o controle sobre a vida e a consciência alheias. Vale lembrar que o mercado acabara de inventar o jovem com suas vontades e contestações (o sexo livre e a minissaia são problemões…).

A melhor arma, portanto, é o medo. Instaurá-lo em meio à ingenuidade da população menos instruída. Inspiram-se no passado, quando a tática deu resultados: a figura do demônio consumindo os pecadores no inferno; o Deus onisciente capaz de vigiar até seus pensamentos. [DEUS onisciente, onipotente e onipresente; DEUS e os valores religiosos são eternos e o eterno é o infinito e este não tem inicio, nem meio, nem fim = passado, presente e futuro se fundem na ETERNIDADE.]

E houve então a criação do bode. No caso, o comunismo. Inicia-se a retórica do perigo vermelho como ameaça à família, aos valores cristãos (discurso compartilhado pela direita americana). Da destruição do lar papai e mamãe pela esquerda, passa-se para a guerra cultural, outro campo visto como arena da modernidade. [encerramos a transcrição por aqui; não considerar o comunismo como uma ameaça à família, à religião, aos valores cristãos, alegar que a onisciência de DEUS é algo do passado, vale com reconhecimento da derrota e tentar até o ateísmo para combater Bolsonaro e os brasileiros do BEM = serão derrotados, mais uma vez.]

 Ponha a culpa nos malditos comunistas. 




terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Na janelinha - Merval Pereira

O Globo

Mal chegou ao STF, ministro Nunes Marques 'já quer sentar na janelinha'

Nos Estados Unidos, um “Júnior justice” da Suprema Corte - ministro novato - tem, por tradição, a tarefa de fechar a porta da sala de reuniões depois que o último ministro chega. Uma demonstração de humildade diante dos mais antigos. Há até mesmo filmes que mostram essa cena, com o presidente da Corte advertindo um novato: “Você esqueceu de fechar a porta. É a tradição”. [aproveitamos o gancho e citamos uma outra tradição da Suprema Corte dos Estados Unidos, ao nosso ver, até mais importante do que a citada: os ministros da  Corte Suprema norte americana, cultivam o hábito de não legislar - interpretam a Constituição, sem adaptar a interpretação aos interesses do momento = hábito que deveria ser seguido pelo STF, a começar  pelo ministro Nunes Marques.]

Aqui, nosso ministro junior Nunes Marques mal chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) e, como diria o sábio popular senador Romário, “já está querendo sentar na janelinha”. Em sua primeira atuação, ele deu aquele voto pseudamente salomônico que aprovou a reeleição de seu amigo senador David Alcolumbre, e proibiu o deputado Rodrigo Maia, inimigo do Planalto, de fazer o mesmo. [o voto aqui criticado só ocorre devido o RISTF apresentar uma falha absurda: não proíbe que decisões adotadas pelo plenário do STF possam ser alteradas por decisão monocrática = deveria constar claramente o óbvio: decisões colegiadas não devem, não podem, ser alteradas pela suprema vontade de um ministro.

Quanto ao alegado favorecimento do senador Alcolumbre, Nunes Marques optou por um gesto de solidariedade aos seus colegas alvo de pedidos de impeachment que estão na gaveta do ainda presidente do Senado - evitando criar eventual má vontade por parte do senador. Sem esquecer que o ex-primeiro-ministro Maia já tentava a REreeleição, o senador tentava apenas a reeleição.]

Sua decisão monocrática de reduzir o prazo de inelegibilidade dos atingidos pela Lei de Ficha Limpa, fazendo com que ele seja descontado da pena cumprida, está causando séria perturbação dos tribunais eleitorais pelo país, e alimentando a percepção de que o novo ministro, nomeado ao acaso pelo presidente Bolsonaro, cumpre mais uma etapa do plano governamental de desmontar o aparato jurídico de combate à corrupção nos meios políticos, depois da aliança com o Centrão.

A atitude do ministro Nunes Marques foi tomada um dia antes do recesso do Judiciário, e em pleno período eleitoral. Isso quer dizer que centenas de candidatos que concorreram sub judice agora exigirão da Justiça Eleitoral suas posses, o que pode até mesmo alterar a composição das Câmaras de Vereadores. Ou até mesmo eleger algum prefeito.

O mais espantoso é que a Lei da Ficha Limpa foi colocada sob o escrutínio do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012, e considerada constitucional pela maioria. O ponto específico agora alterado liminarmente pelo novo ministro foi analisado e considerado compatível com a Constituição e com a vontade do legislador, o Congresso Nacional.

O atual presidente do Supremo, Luis Fux, que era o relator do processo, tinha na ocasião a mesma opinião de Nunes Marques agora. Achava que a inelegibilidade, passando a contar somente a partir do fim da pena, era exagerada. O ministro Cezar Peluso, já aposentado, teve a mesma opinião, mas o ministro Marco Aurélio Mello rebateu o argumento lembrando que a utilização de recursos sobre recursos fazia com que a inelegibilidade não tivesse efeito prático, rejeitando a proposta de subtração do tempo decorrido entre a condenação e o julgamento dos recursos.

Sendo assim, a decisão monocrática do juiz novato foi contra um ponto da Lei da Ficha Limpa que já foi debatido pelo plenário, o que agrava a percepção de que, no Supremo, cada ministro é uma ilha que não se comunica com os outros, nem com as decisões já tomadas, sem que haja razão para um novo julgamento, mas apenas uma opinião pessoal

O caso, de todo modo, será avaliado pelo plenário depois do recesso, mas há uma movimentação no Supremo para que Nunes Marques altere sua decisão, para evitar o caos na justiça eleitoral. Ele pode definir que a medida só vale para a próxima eleição, para evitar que os tribunais eleitorais fiquem abarrotados de recurso durante o período de diplomação dos novos prefeitos e vereadores, ou, no limite, o presidente do Supremo, ministro Luis Fux, pode suspender essa liminar, com base exatamente em que essa lei já foi considerada constitucional pelo próprio STF.

Embora essa medida radical seja defendida por setores do judiciário, Fux parece inclinado a resolver o impasse pelo diálogo. A atuação do Supremo durante o recesso, que começou dia 20 de dezembro e vai até o dia 6 de janeiro, também está em discussão, pois quatro ministros já comunicaram que continuarão trabalhando nesse período.

Os ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Alexandre de Moraes e Marco Aurélio Mello, com isso, reduzem o poder do presidente Luis Fux, que fica de plantão durante o recesso com poder de decisão. Aliados de Luis Fux garantem que o Regimento do Supremo não autoriza essa atitude, e o presidente parece decidido a exercer seu poder integralmente. Sendo assim, qualquer decisão a ser tomada no recesso dependerá apenas do ministro Luis Fux, que poderá cassar liminares que considere injustificáveis.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


terça-feira, 18 de agosto de 2020

O integralismo no poder - Carlos Andreazza

Movimento nunca deixou de estar entre nós

Culto à personalidade. Estímulo à compreensão messiânica da liderança. Forja de inimigos artificiais. Discurso autocrático, antiliberal e anticomunista, de fé nacionalista, embocadura cristã e musculatura miliciana para o confronto. Fetiche com a projeção fálica de uma intervenção militar. Constituição de uma máquina panfletária para difundir teorias conspiratórias. Críticas doutrinárias à democracia, propositalmente confundida com o (criminalizado) establishment e entendida mesmo como empecilho; sendo necessário — em nome de uma nova política — destruir os padrões viciados da atividade político-partidária.

A que me refiro? Estarei incorrendo em repetição, mais uma vez esmiuçando o caráter da revolução reacionária bolsonarista? Sim e não.
Sim; porque esses elementos compõem o sistema de crenças do bolsonarismo, com sua pulsão de morte e a incapacidade de lidar com a liberdade senão como condição para impor os próprios modos. E não; porque me dediquei a listar somente estandartes do “Estado integral” segundo a doutrina do integralismo — o maior movimento de extrema-direita da História do Brasil até hoje, cuja influência tem assento no governo Bolsonaro e integra o pensamento do dito grupo ideológico, que prefiro chamar de sectário, aquele, poderoso, olavista, que toca a tal guerra contra o tal marxismo cultural.

Integralismo em 1932: algo novo — atraente para a juventude — numa sociedade intolerante (pautada pelo autoritarismo de Vargas) e amedrontada; o clima de medo (o perigo vermelho) impulsionando a adesão e o financiamento ao movimento. O ideal “Deus, pátria e família” encarnado no chefe nacional Plínio Salgado; o líder para o exercício do que seria uma democracia orgânica — que prescindiria das intermediações da democracia representativa.

Bolsonarismo em 2018: algo novo — sedutor para os jovens — numa sociedade intolerante (condicionada pelo espírito do tempo lavajatista) e amedrontada; o clima de medo (o Foro de São Paulo à espreita) impulsionando a adesão e o financiamento ao fenômeno. O slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” encarnado no mito Bolsonaro; aquele que fala diretamente ao povo, líder para o exercício do que seria uma democracia plebiscitária — que tornaria desnecessária qualquer mediação político-institucional.

Em 1969, o integralismo obcecado pelo controle das formações individuais — seria o agente político que implementaria a disciplina de Educação Moral e Cívica no país. Em 2020, o integralismo domina — não à toa, como base estratégica para a reconstituição de uma fantasiosa civilização brasileira —o Ministério da Educação; e também a pasta dos Direitos Humanos.
[Urge, para o BEM da juventude,que as disciplinas Educação Moral e Cívica - EMC e Organização Social e Política Brasileira - OSPB, retornem aos currículos do Ensino Médio.]
O mais antigo alerta ao menos para este escriba — sobre as semelhanças entre o bolsonarismo e a tradição integralista foi do publicitário Alexandre Borges, notável conhecedor da dinâmica política dos anos 1930, cuja natureza autoritária desaguaria na ditadura do Estado Novo. Ele me chamava a atenção para o caráter militarista do integralismo aliás, muito aderente entre militares — e para a importância, no esquema do movimento, da milícia integralista, que conjugava serviço de informações e planejamento para operações policiais; que, na prática, resultaram em ações armadas tanto quanto nos fundamentos do que seria a Lei de Segurança Nacional.

Ainda no final de 2017, diante do fosso de oportunidades aberto pela depressão política que nutria discursos que costuravam elogio à autoridade e desprezo à atividade político-partidária, Borges informava que estudar apenas a emergência do nacional-populismo nos EUA e na Europa, embora necessário, não bastaria; e que seria mesmo preciso olhar para dentro, para a história do integralismo, a experiência fascista brasileira, com seu ímpeto para o golpismo, se quiséssemos compreender o conjunto de valores reacionários — cultura enraizada em quase século — que anima e lastreia o bolsonarismo. (E que não nos enganemos sobre a guinada circunstancial — com objetivo em 2022 —que leva Bolsonaro a uma quadra mais populista que autoritária.)

Há dois livros novos a respeito na praça. “O fascismo em camisas verdes”, de Leandro Pereira Gonçalves e Odilon Caldeira Neto, publicado pela FGV Editora. E, pela Planeta, “Fascismo à brasileira”, de Pedro Doria. São trabalhos fundamentais, muito bem pesquisados (o de Doria, ademais, um thriller), que tiram da estante do exotismo, como se passagem irrelevante de nossa história, um movimento que — desde a década de 1930 — nunca deixou de estar entre nós; muito articulado, por exemplo, tanto à TFP [Tradição, Família e Propriedade.]  quanto aos skinheads brasileiros, cujo tripé misoginia, racismo e homofobia é facilmente identificado no DNA do que se convencionou chamar de nova direita no Brasil.

Duas obras que retratam o integralista como uma espécie de soldado de Deus e da pátria, responsável pela construção de uma grande nação; o que seria destino indesviável deste país. Não é uma fotografia de época.

 Carlos Andreazza, colunista - O Globo


segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A fraude eleita - Folha de S. Paulo

Janio de Freitas 

Legitimidade da posse de Bolsonaro é no mínimo questionável

[Causa  espanto a forma teimosa, sem fundamentação, com que parte da imprensa insiste em não aceitar o presidente Bolsonaro;

lamentamos, mas tal insistência, autoriza o presidente JAIR BOLSONARO a proferir a famosa frase do Zagallo, proferida em 1997: ‘Vocês vão ter que me engolir’.

Gostem ou não:

- NÃO EXISTE TERCEIRO TURNO; 

- O presidente Bolsonaro, com as bençãos de DEUS, fará um ótimo governo, reduzirá de forma apreciável,  ou mesmo eliminará, o desemprego, promoverá reformas e ajustes necessários, será reeleito 2022,

Aceitem, colaborem e dói menos.]

A campanha que resultou na eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência foi beneficiada por fraude das normas eleitorais. A legitimidade da posse de Bolsonaro e do seu cargo presidencial é, portanto, no mínimo questionável e pode mesmo ser insustentável.
Este é o significado objetivo da admissão do WhatsApp de que foi usado, em “violação aos seus termos de uso”, em “envios maciços” de mensagens “para atingir um grande número de pessoas”. A afirmação é do gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, Ben Supple, em palestra no Festival Gabo (Colômbia). Foi publicada na pág. A8 da Folha da última quarta-feira (9).
O representante do WhatsApp não mencionou Bolsonaro. Nem precisava, para expor o comprometimento dessa campanha com indução automatizada, como são os softwares de mensagens enviadas a milhares e milhões —prática vedada pelas normas eleitorais brasileiras. [a afirmação não cita Bolsonaro; 
foi feita, caso tenha sido, em território estrangeiro; 
às vésperas das eleições uma matéria veiculada em jornal de grande circulação levantou tal possibilidade - cuja única fundamentação foi uma ilação feita pela autora da matéria;
caso fosse verdadeira a declaração - se é que houve -  estava noticiando uma uma prática sem causa: para que perder tempo enviando mensagens para eleitores recomendando Bolsonaro, se quase 60.000.000 de brasileiros votaram no nosso presidente?
Se grande parte desse número além de querer Bolsonaro na presidência, queria se livrar do PT, da esquerda e da corja lulopetista, e quantidade apreciável dos eleitores que não aceitaram Bolsonaro, optou por votar em branco, nulo, por não aceitar o poste petista ou qualquer outro lulopetista.]
Já em 18 de outubro de 2018, no mês da eleição, a repórter Patrícia Campos Mello revelou na Folha que as agências Quickmobile, CrocServices e Yacows, entre possíveis outras, foram contratadas por empresários pró-Bolsonaro para disparo de mensagens em massa. Eram de propaganda do candidato ou, sobretudo, de ataque a adversários.

Àquela revelação seguiu-se uma série de outras, desvendando parte do que Patrícia Campos Mello chamou de “submundo dos disparos em massa” na eleição brasileira. Não eram, mesmo, só crimes eleitorais. Para cometê-los em maior abundância, foram utilizados falsamente CPFs, sem conhecimento dos seus detentores, e até empresas fantasmas. Crimes comuns, próprios de estelionatários. Cometidos por alguns empresários já conhecidos e outros identificáveis sem dificuldade. Com gastos não declarados ao Imposto de Renda nem à Justiça Eleitoral. Logo, crimes de caixa dois e de outras adulterações contábeis.
Já às revelações preliminares, por sua gravidade, o Tribunal Superior Eleitoral abriu procedimento para a praxe de “apurar os fatos”. Mas punida (com multa) foi, como se poderia esperar, a campanha de Fernando Haddad, acusada de ativar um site contra Bolsonaro. O ministro Edson Fachin considerou que tal prática desequilibrou a disputa. A balança da Justiça tem sensibilidades exclusivas. [punição baseada em provas abundantes.] 
 
A candidatura Bolsonaro não limitou seu benefício, entre as transgressões suscitadas, a ações eleitoreiras por meios automatizados e em massa. Essas mensagens estavam repletas de fake news caluniosas, com Haddad como alvo preferencial. Outra exigência legal descumprida é da inclusão de empréstimos de aviões, carros, escritórios e apoios materiais em geral no custo declarado da campanha. Nas contas eleitorais de Bolsonaro, que se gaba do “gasto de só R$ 2 milhões na campanha”, não foi incluído o alto custo das contribuições empresariais com a contratação de mensagens em massa. Burla que se repetiu como fraude na prestação de contas à Justiça Eleitoral.
Nada disso despertou a atenção dos que conduzem as instituições ditas democráticas.
TRADIÇÃO
Nem a medieval Tradição, Família e Propriedade resistiu aos tempos bolsonaros: a TFP rachou. O grupo no poder interno, encabeçado por Sérgio Diniz na linha do precursor Plínio Correia de Oliveira, acha que um outro, adversário, sabe como saiu do patrimônio, e para onde foi, uma dinheirama sumida. A família já não está unida, vê-se que a propriedade já não é garantida, mas uma certa tradição está viva e ativa. [certas qualificações feitas à TFP soam como música.

Alguns VALORES defendidos pela TFP, entre eles A VOLTA da GARANTIA DE PROPRIEDADE, estão entre os valores que precisam ser reintegrados ao cotidiano dos brasileiros.] 

 
(...)

Janio de Freitas, jornalista - Folha de S. Paulo