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domingo, 18 de dezembro de 2022

Puxado pelos EUA, movimento ameaça direitos da comunidade LGBT

A onda conservadora contra conquistas de lésbicas, gays e pessoas trans se espalha pelo planeta e periga engolfar até o Brasil [Em nossa opinião, aqui no Brasil ela é bem-vinda e até necessária - as preferências de alguns não podem ser impostas. Aqui no Brasil, querem impor certas regras, quando o certo é tentar, democraticamente, convencer.] 

PERIGO - Manifestação em Washington: a Suprema Corte deve aceitar discriminação em nome da liberdade de expressão -

PERIGO - Manifestação em Washington: a Suprema Corte deve aceitar discriminação em nome da liberdade de expressão - Kent Nishimura/Los Angeles Times/Getty Images

Quando a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu, em junho, reverter a decisão de 1973 que legalizou o direito ao aborto no país, o juiz Clarence Thomas, porta-estandarte da ala conservadora que hoje detém folgada maioria de 6 a 3 no tribunal, avisou que outros precedentes seriam reavaliados e citou especificamente a sentença de 2015 que legalizou o casamento gay — segundo ele, uma “ficção legal”. Dito e feito: a Suprema Corte acaba de iniciar o julgamento de um caso que tem tudo para reabrir a comporta das discriminações generalizadas contra a comunidade LGBTQIA+ e nem a Lei de Respeito pelo Casamento recém-aprovada pelo Congresso e sancionada por Joe Biden é garantia certa de que os notáveis [e nem sempre convenientes] avanços nessa área não estarão comprometidos.  
O retrocesso nos Estados Unidos é mais retumbante, pela posição que o país ocupa, mas a onda conservadora contra os direitos de lésbicas, gays e pessoas trans se espalha pelo planeta e ameaça engolfar até o Brasil.
 
O caso em análise na Suprema Corte começou pequeno, no Colorado, quando a designer de sites Lorie Smith, antes mesmo de abrir sua empresa 303 Creative, entrou na Justiça para garantir preventivamente o direito de rejeitar clientes LGBTQIA+ porque, se o fizesse, teria de contrariar sua fé evangélica
O pleito foi rejeitado em todas as instâncias inferiores, mas tudo indica que será acatado no tribunal máximo a decisão é esperada para junho — com base na célebre Primeira Emenda da Constituição, que trata da liberdade de expressão. “Isso imediatamente abrirá o leque para que outros negócios se recusem a atender pessoas LGBTQIA+”, explica Paul Collins, professor de direito da Universidade de Massachusetts. O efeito cascata do retrocesso, no entanto, tem potencial de muito maior amplitude. “Um juiz de primeira instância, analisando a abordagem do Supremo, pode rejeitar o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, criando a janela para o caso chegar à última instância e também ser revogado”, diz.

Pesquisa recente mostra que 71% dos americanos aprovam o casamento gay, aceitação que colaborou para que o Congresso, rachado ao meio em todos os assuntos, aprovasse a lei bipartidária de reforço do acesso à união civil entre pessoas do mesmo sexo. Ela provavelmente vai ser contestada na Justiça nos estados conservadores. “A resistência de tanta gente às mudanças vertiginosas no mundo revela que as pessoas estão hoje mais vulneráveis ao apelo sedutor de demagogos que dizem defender valores tradicionais”, afirma Michael Klarman, historiador da Universidade Harvard.

CASAMENTO APRESSADO - A festa sonhada por Larissa Teixeira e Isabelle Souza foi trocada por uma cerimônia rápida no cartório. “Nunca foi fácil ser homossexual no Brasil, mas os discursos preconceituosos nos aterrorizaram”, diz Isabelle. -
CASAMENTO APRESSADO – A festa sonhada por Larissa Teixeira e Isabelle Souza foi trocada por uma cerimônia rápida no cartório. “Nunca foi fácil ser homossexual no Brasil, mas os discursos preconceituosos nos aterrorizaram”, diz Isabelle. – ./Arquivo pessoal

O sermão é replicado em todas as nações impactadas pela nova direita que se disseminou nos últimos quinze anos. No comando da Hungria desde 2010, Viktor Orbán, sob a bandeira de “valores da família”, proibiu a adoção de crianças por casais do mesmo sexo e aprovou uma lei que equipara a homossexualidade à pedofilia.  

Na Polônia, o governo nacionalista cristão classificou os direitos LGBTQIA+ de “ideologia subversiva” e criou mais de 100 zonas onde é proibido ser abertamente gay. Na Rússia, o Parlamento ampliou uma lei de 2013 contra o que chama de “propaganda LGBT” para autorizar voz de prisão a quem quer que afirme que ser gay é “normal”. Eleitos em votações recentes, a neofascista italiana Giorgia Meloni nomeou como líder da Câmara seu guru ideológico, anti-homossexuais e antiaborto, enquanto em Israel o líder de um dos partidos da coalizão vencedora se declara “orgulhosamente homofóbico”. O tom de discriminação permeia o debate de questões efetivamente delicadas, como a inclusão da temática gay em livros infantis e o papel dos atletas trans nos esportes.

No Brasil, a pauta de valores tradicionais defendida sobretudo pela bancada evangélica mira aprovar o Estatuto da Família, projeto de lei que pretende estabelecer que o núcleo familiar é formado necessariamente por um homem e uma mulher — reação à histórica decisão de 2011 do Supremo Tribunal Federal que garantiu direitos a casais do mesmo sexo. Preocupadas com as ameaças, a fisioterapeuta Larissa Teixeira, 27 anos, e a estudante de direito Isabelle Souza, 28, optaram por ir a um cartório oficializar sua união civil. “Deixamos os planos românticos de lado e fomos garantir nossos direitos”, desabafa Isabelle. Após anos de avanços, a comunidade LGBTQIA+ convive, em boa parte do mundo, com a nuvem sombria do retrocesso pairando sobre seu futuro.

[Comentando: O artigo 226 da Constituição Federal, vigente, apresenta a seguinte redação em 'caput:

  "...Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. 

...§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. ..."

Como se percebe a norma constitucional apresenta exatamente o que pretendem fazer constar do Estatuto da Família - acima destacado  em itálico  verde sobre fundo amarelo.

Apesar do texto constitucional recomendar que a lei deve facilitar a conversão em casamento da união estável - formada segundo a norma constitucional  pela união entre homem e mulher - o Supremo quando julgou o assunto alegou que se o constituinte quisesse limitar somente para homem e mulher teria incluído o advérbio apenas. Acredite quem quiser mas não é fake.]

Publicado em VEJA,  edição nº 2820 de 21 de dezembro de 2022

 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Rejeição à agenda progressista explica popularidade de Orbán - Luciano Trigo

Gazeta do Povo


Apesar da inédita frente ampla que uniu a oposição do país,
juntando partidos de esquerda e direita, o primeiro-ministro da Hungria Viktor Orbán, contrariando as pesquisas, que previam uma disputa acirrada, foi reeleito com folga neste domingo, conquistando seu quinto mandato (o quarto seguido: ele ocupou o cargo entre 1998 e 2002, voltou em 2010 e não saiu mais).

Seu partido, o Fidesz, considerado nacionalista e ultraconservador, deve conquistar mais de dois terços das 199 cadeiras do Parlamento, o que garantirá vida fácil ao premiê nos próximos quatro anos.

Orbán é frequentemente acusado de violar a democracia, enfraquecer as instituições, sequestrar o poder Judiciário, controlar a imprensa e perseguir a oposição.

A mídia ocidental o pinta como uma figura execrável, um fascista reacionário genocida heteronormativo antidemocrático etc. Uma figura execrável em todos os aspectos. E, no entanto, ele mantém altos índices de popularidade em seu país, vencendo eleição após eleição. Como pode?

A primeira explicação é econômica: a população da Hungria prefere estabilidade a mudanças - ainda mais no contexto de insegurança e risco nos países europeus provocado pela guerra na Ucrânia. Combinando uma política econômica liberal com medidas populares, como leis que beneficiam os aposentados, a Hungria vem apresentando indicadores econômicos satisfatórios e um contexto de crise.

Outra explicação é histórica: o apego da sociedade a governos de direita tem raízes na opressão soviética nos tempos do comunismo - bastando lembrar o massacre de 1956, quando tanques russos invadiram o país e milhares de civis foram executados ou presos. Ali ficou claro que qualquer dissidência seria esmagada.

(Reparem: todos os países do Primeiro Mundo que experimentaram o comunismo real valorizam mais as liberdades individuais que a narrativa coletivista socializante. As teorias da esquerda são lindas e muito atraentes para os jovens de coração puro, mas a História demonstra que a prática é bem diferente.

A teoria na práxis é outra: jamais haverá justiça social sem uma economia próspera, e jamais haverá prosperidade econômica com planejamento central do Estado. O máximo a que se pode almejar em um país socialista é a redução das desigualdades por meio da socialização da miséria. Basta olhar para a Venezuela. Simples assim.)

Em ano eleitoral, famílias relatam preocupação com aumento da doutrinação ideológica em sala de aula

Professor que constrangeu aluno em escola de SP não tem diploma por Harvard  

No embate entre progressistas e conservadores pela mudança de valores e costumes, o respeito à infância ainda é um limite que a sociedade não admite que seja ultrapassado.  Sem conhecer em profundidade as nuances da política húngara, eu me arrisco a acrescentar uma terceira explicação para o sucesso de Orbán, que está associada a outra votação que aconteceu esta semana na Hungria: ele encarna hoje em seu país a resistência a um projeto global muito sofisticado de destruição de valores associados à família.

(É um processo ao qual se assiste diariamente também no Brasil, diga-se de passagem. A eleição de Bolsonaro em 2018 também deveu muito à adesão da esquerda a uma agenda de costumes que é claramente rejeitada pela maioria da população.)

Dias antes da eleição que garantiu um novo mandato a Orbán, os húngaros também votaram maciçamente em um referendo sobre o direito dos pais de decidir como educar seus filhos
O referendo foi decorrência de uma lei de proteção das crianças aprovada pelo Parlamento húngaro em julho de 2021.

A sociedade húngara rejeitou de formal cabal, com mais de 92% dos votos, a introdução da ideologia de gênero no currículo e aulas de educação sexual compulsória nas escolas públicas do país, entre outras coisas.

O referendo também incluía perguntas sobre promoção ou divulgação de tratamentos de mudança de sexo e transição de gênero para menores de idade, incluindo a veiculação de reportagens sobre o tema nos canais de televisão. A rejeição à pauta progressista foi ainda mais acachapante: mais de 95% dos eleitores votaram “Não”.

Como era de se esperar, a militância do ódio do bem classificou o referendo como sendo prejudicial à comunidade gay. Orbán respondeu que a intenção da lei é combater a pedofilia e defender os direitos dos pais contra o que ele identifica como um poderoso lobby LGBTQIA+: “É a defesa dos direitos das crianças e dos pais, só isso”, declarou. “O futuro de nossos filhos está em jogo, então não podemos ceder nessa questão”.

Evidentemente, qualquer discriminação ou manifestação de intolerância contra minorias de gênero deve ser rejeitada e combatida. Mas o texto do referendo e a campanha em torno dele deixaram claro que não se tratava de incentivar o preconceito contra homossexuais, nem de promover a homofobia nas escolas públicas, e a sociedade húngara compreendeu issocomo demonstra o resultado do referendo. Ou será que mais de 90% dos húngaros são pessoas más, que defendem a perseguição a homossexuais?

O dever da tolerância e a luta pela igualdade de direitos são algo muito diferente de uma campanha orquestrada para implementar um experimento social nas escolas, cujas consequências só aparecerão lá na frente. No embate entre progressistas e conservadores pela mudança de valores e costumes, o respeito à infância ainda é um limite que a sociedade não admite que seja ultrapassado, na Hungria como no Brasil. 

Luciano Trigo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 4 de abril de 2022

Orbán derrota oposição unida e conquista quarto mandato consecutivo na Hungria [ = Brasil a partir de outubro/22]

[Substituam Orbán por Bolsonaro, quarto por segundo e Hungria por Brasil]

O Globo

Partido do primeiro-ministro que mudou Constituição para concentrar poder deve manter maioria absoluta no Parlamento, segundo projeções 
 
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, venceu as eleições legislativas deste domingo, com os resultados preliminares mostrando uma grande vantagem de seu partido, o Fidesz, apesar de a oposição ter se unido e lançado um candidato único pela primeira vez nos 12 anos em que o expoente da ultradireita nacionalista europeia está no poder. Os opositores reconheceram a derrota logo depois de o premier declarar uma "vitória excepcional", que lhe garante o quarto mandato consecutivo.

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vota em seção eleitoral de Budapeste Foto: FERENC ISZA / AFP
Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vota em seção eleitoral de Budapeste Foto: FERENC ISZA / AFP

BUDAPESTE — Segundo projeções parciais, o Fidesz e seu parceiro de coalizão, o Partido Popular Democrata Cristão, devem conquistar 135 cadeiras no Parlamento, duas a mais do que as atuais 133, mantendo a maioria absoluta, enquanto a oposição deve ficar com apenas 56. Um partido de extrema direita, Nossa Pátria, conseguiu superar a cláusula de barreira de 5% dos votos e terá sete assentos no Legislativo. Pelos números parciais, o Fidesz obteve 53,1% dos votos em listas partidárias, e lidera em 88 das 106 disputas distritais.

— Caros amigos, obtivemos uma vitória excepcional, uma vitória tão grande que provavelmente pode ser vista da Lua, e certamente de Bruxelas — declarou Orbán, referindo-se à sede da Comissão Europeia, que abriu processos contra o seu governo por violações do Estado de direito.

Bolsonaro com o premier Orbán em Budapeste; brasileiro disse que ambos defendem 'Deus, pátria, família e liberdade' Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS
Bolsonaro com o premier Orbán em Budapeste; brasileiro disse que ambos defendem 'Deus, pátria, família e liberdade' Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS

O direitista Orbán é admirado por Jair Bolsinaro e aliado do presidente brasileiro, que chamou o líder húngaro de "irmão"  em recente visita ao país.  

A participação na eleição ficou em torno de 67%, na média das eleições anteriores. Segundo o atual sistema eleitoral húngaro —  definido pelo Fidesz ao mudar a Constituição do país em 2012 e que favorece o partido governista   das 199 cadeiras do Legislativo, 106 são decididas por maioria simples em distritos eleitorais e as demais 93 são definidas de forma proporcional pelo voto em listas nacionais.

Ao contrário das votações anteriores, quando Orbán enfrentou uma oposição dividida, este ano os principais partidos opositores se uniram em torno do nome de Peter Marki-Zay, um político que, em 2018, surpreendeu ao se eleger prefeito da cidade de Hódmezovásárhely, considerada um bastião do Fidesz.

Ali, concorrendo como independente, Marki-Zay recebeu o apoio de todas as forças de oposição, uma estratégia replicada nas atuais eleições, mas sem obter o resultado esperado. A aliança incluiu siglas como a Coalizão Democrática, de esquerda, o Momento, liberal, e o Jobbik, um partido de extrema direita que moderou suas posições nos últimos anos.

'São pessoas educadas': Europa vive outra onda de refugiados. Desta vez, a recepção é diferente

Para Marki-Zay, essa era uma escolha entre "o Ocidente e o Oriente", e as políticas do atual governo minaram a democracia no país. Ao votar, ele apontou o controle do governo sobre os meios de comunicação e o sistema eleitoral desenhado pelo Fidesz como obstáculos à oposição.

Segundo os resultados preliminares, o oposicionista foi derrotado até em seu distrito eleitoral. No discurso em que admitiu a derrota, ele se disse chocado com os resultados,afirmou que as pessoas "sofreram lavagem cerebral" e que recebem apenas propaganda pelos meios oficiais. Marki-Zay também não poupou adjetivos negativos ao se referir a Órban e ao modelo eleitoral.

Não quero esconder minha decepção e minha tristeza. Sabíamos que essa seria uma disputa desigual — disse o oposicionista. — Admitimos que o Fidesz obteve a ampla maioria dos votos. Mas ainda questionamos se essa disputa foi democrática ou livre.

Orbán, por sua vez, votou em Budapeste, e declarou que a eleição era uma escolha entre "a paz ou a guerra", apontando para o apoio de seu adversário a uma posição mais dura em relação a Moscou no conflito na Ucrânia. O premier, que tem laços próximos com o presidente russo, Vladimir Putin, é hoje a principal voz dentro da União Europeia contra a adoção de sanções mais duras ao petróleo e ao gás vindos da Rússia. 

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Recentemente, o premier húngaro foi alvo de críticas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e respondeu dizendo que os interesses da Hungria "vêm em primeiro lugar". Ao ser questionado sobre sua relação com o governo russo, repetiu esse argumento. — Vladimir Putin não está concorrendo nas eleições húngaras, então não preciso lidar com essa questão hoje, felizmente — disse Orbán. — Eu sigo os interesses nacionais húngaros, sou pró-Hungria.

Durante seus discursos, o premier afirmou que um voto na oposição seria o mesmo que arrastar a Hungria para a guerra.

Outra preocupação dos eleitores neste domingo foi o estado da economia, com a inflação acima de 8%, mesmo com um sistema de controle de preços dos combustíveis e itens básicos de alimentação. O aumento de gastos sociais e limites a aumentos nas hipotecas também ajudou a impulsionar os números do partido de Orbán na reta final da disputa.

Referendo

Apesar de não ter sido um dos grandes temas da campanha, a chamada "pauta conservadora", uma das marcas dos 12 anos de Orbán à frente do governo, esteve presente no dia da eleição: os eleitores também participaram neste domingo de um referendo sobre uma nova lei que proíbe a divulgação de conteúdos que incluam qualquer orientação sexual com exceção da heterossexual, bem como informações sobre redesignação de gênero, nas escolas ou em filmes e publicidade dirigidos a menores de 18 anos.

'Contra os ataques da esquerda ocidental':   Orbán reúne direita nacionalista em cúpula na Hungria para defender os 'valores da família' e a 'nação'



Neste domingo, as cédulas traziam quatro perguntas aos eleitores:
- "você apoia o ensino de orientação sexual para crianças menores de idade em instituições de educação pública sem o consentimento dos pais?"; [NÃO]
 
- "você apoia a promoção de terapia de redesignação de gênero para crianças menores de idade?"; [NÃO]
 
- "você apoia a exposição irrestrita de crianças menores de idade a conteúdo sexual explícito que possa afetar seu desenvolvimento?"; [NÃO] - "você apoia mostrar conteúdo sobre mudança de sexo para menores de idade?".[NÃO]
 
 
O resultado do referendo ainda não foi divulgado.
[Quando for será uma  sequência de QUATRO 'NÃOs' é a única resposta natural e que engrandece a Família.]

O mundo - O Globo


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O TCU e os reajuste dos seus servidores - Bolsonaro vai encontrar Orbán, o líder ultradireitista da Hungria, numa viagem incomum - O Globo

Bolsonaro vai encontrar Orbán, o líder ultradireitista da Hungria, numa viagem incomum

Bolsonaro e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán

Jair Bolsonaro resolveu fazer uma dupla jornada no Leste Europeu em fevereiro. Depois da viagem a Moscou, onde irá a convite de Vladimir Putin, desembarca em Budapeste para um encontro de almas: se reunirá com o primeiro-ministro Viktor Orbán, líder da ultradireita húngara.

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Bolsonaro se encontrará com Orbán faltando dois meses para as eleições na Hungria. É um gesto incomum em política externa uma visita oficial como essa de um chefe de estado num momento tão perto de uma eleição num outro país.

O motivo é o óbvio: pode passar a mensagem de que o visitante está apoiando o candidato. No caso, é exatamente essa mensagem, nem tão subliminar assim, que Bolsonaro parece querer transmitir. Diplomatas avaliam que a visita a Orbán não ajuda em nada a relação de Bolsonaro com a Europa. 

TCU

TCU

A possibilidade de reajuste dos salários dos policiais federais, como quer Jair Bolsonaro, está inflamando os espíritos dos servidores do TCU.

A presidente da Corte, Ana Arraes, marcou para quinta-feira uma reunião com o sindicato da categoria, o Sindilegis, para discutir o adicional de qualificação dos servidores do tribunal — pleito que ela apoia.

Só que Ana está de férias. E criou-se um vácuo, embora os três secretários-gerais do TCU tenham confirmado presença.

Como os ministros da Corte resistem em discutir esse aumento, ao menos até ficar claro se o reajuste dos policiais será mesmo dado, o vice do tribunal, Bruno Dantas decidiu não participar da reunião.

Lauro Jardim, colunista - O Globo


quinta-feira, 24 de junho de 2021

Batalha da Hungria contra bandeira gay vai além de jogo da Eurocopa - VEJA - Blog Mundialista

Vilma Gryzinski 

O governo de Viktor Orbán tem o maior atrito com a direção da União Europeia por causa de lei que proíbe falar em homossexualidade nas escolas

Não teve bandeira do arco-íris na iluminação do estádio Allianz Arena, embora as cores do movimento LBGTI tenham pipocado por toda a Alemanha. Também não teve vitória da Hungria, com grande torcida contra o time por causa da decisão da Uefa de não acatar o pedido do prefeito de Munique, Dieter Reiter, de iluminar o estádio com as listas multicoloridas. [Agiu certo o prefeito de Munique: futebol é futebol, não pode,nem deve se envolver em discussões políticas.] Como explicação, a Uefa disse que não poderia agir movida por “uma decisão política”.

Apesar das antipatias despertadas, teve uma dose de razão: a iniciativa do prefeito foi feita em resposta a uma lei aprovada esmagadoramente  – 157 votos a um pelo Parlamento da Hungria na semana passada que proíbe falar sobre homossexualidade e questões de gênero nas escolas frequentadas por menores de 18 anos e em programas infantis de televisão. [também agiu corretamente o Parlamento húngaro: não é aceitável que questões como homossexualidade e de gênero sejam tratadas em escolas para menores de 18 anos e em programas infantis; são assuntos que devem ser discutidos entre adultos. São assuntos complexos e que só devem ser tratados por pessoas com um grau de amadurecimento não encontrado no público infantil,nem adolescência.]

O tema é, obviamente, incendiário, pois não existe consenso entre as diferentes camadas da sociedade sobre como deve ser tratado. Simplesmente ignorá-lo, abordá-lo de maneira neutra ou usar a influência da escola para promover a aceitação de diferentes comportamentos sexuais? 
Qual o limite entre combater o preconceito, atitude tão desejável e necessária, e o incentivo com selo oficial à experimentação sexual heterodoxa?

Os extratos mais conservadores ou apenas não antenados com comportamentos alternativos têm grande repúdio a que isso seja tratado na escola, por receio justamente de que a terceira opção seja a mais influente. É uma atitude refletida, inclusive, na última eleição no Brasil. E é um debate no qual Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro que encarna como nenhum outro político em atividade o conservadorismo mais assumido e articulado, se jogou de cabeça, sabendo muito bem que criaria mais um – talvez o maior de todos – ponto de atrito com a União Europeia.

“Esta lei húngara é uma vergonha”, fulminou Ursula von der Leyen, a alemã que preside a União Europeia, acusando a Hungria de “violar os valores fundamentais da União Europeia: a dignidade humana, a igualdade e o respeito pelos direitos humanos”. Ela também desencadeou o burocrático processo da instituição para tentar cancelar a lei, com apelos ao governo húngaro.  As duas partes têm pleno conhecimento de que isso não vai acontecer. A próxima etapa, como pediram 14 dos 27 países europeus, pode ser levar a Hungria ao Tribunal de Justiça da UE. Parecer um guerreiro solitário que enfrenta potestades superiores para defender os valores tradicionais é um dos motivos da popularidade de Orbán. Na Assembleia Nacional, seu partido, o Fidesz, e um partido aliado têm 133 deputados do total de 199.

Orbán é primeiro-ministro desde 2010 e não parece minimamente ameaçado, apesar – ou por causa das antipatias que acirra entre progressistas, dentro e fora da Hungria, e dos muitos atritos com a União Europeia, inclusive por interferir na composição do judiciário. [os mandatos sucessivo a serem cumpridos pelo presidente Bolsonaro o levará, com as bênçãos de DEUS,  a superar a longevidade de Viktor Órban.] Os adversários mais inflamados do político húngaro dizem que ele gostaria de instaurar uma “ditadura putinesca”. Ele realmente cultiva uma relação especial com Vladimir Putin, embora muitos de seus discursos formidáveis se ancorem do espírito de resistência dos húngaros ao comunismo soviético.

Ao contrário de Putin, ele tem estofo intelectual  sólido e conhece melhor a Europa Ocidental. Chegou a ganhar uma bolsa para estudar ciências políticas em Oxford – ironicamente, a bolsa foi dada pela Fundação Soros.  George Soros, o multibilionário nascido na Hungria e radicado nos Estados Unidos, se tornou o mais conhecido inimigo ideológico de Orbán.

A batalha da bandeira gay torna o político húngaro mais conhecido, talvez pelos motivos errados. Orbán iria assistir o jogo com a Alemanha, mas cancelou a viagem. Poupou-se de ver o empate que desclassificou a Hungria – e talvez de ser vaiado, dependendo dos humores da plebe. A Hungria e a Polônia são hoje os dois países da União Europeia que mais assumem um papel combativo em relação às chamadas batalhas identitárias ou pautas sociais, insurgindo-se contra o casamento gay, a mudança oficial de gênero, o aborto, o progressivismo que grassa no mundo acadêmico e nas ONGs e a abertura de fronteiras para imigrantes de fora da Europa.

Ganharam a denominação de “democracias iliberais” O nacionalismo sem nenhuma atenuante, fortemente alimentado pelos períodos de perda de autonomia no passado distante ou recente, é a coluna de sustentação dessa linha. É claro que isso entra diretamente em confronto com as tendências dominantes. “A maior ameaça para a Europa não está nos que querem vir viver aqui, mas nas nossas próprias elites políticas, econômicas e intelectuais, obcecadas por transformar a Europa contra o próprio desejo dos povos europeus”, já disse Orbán. “Os partidos no governo na Polônia e na Hungria buscam o que consideram uma ruptura mais autêntica com a miragem da transição de 1989”, escreveu no Guardian o historiador americano Nicholas Mulder, referindo-se ao período atribulado do pós-comunismo.  “O nacionalismo antiliberal na Europa oriental é mais do que uma explosão de paixões incontroláveis. Têm em comum a crença de que receberam uma missão histórica e que o fim do comunismo foi apenas o começo do trajeto para a libertação nacional. O fato de que estas ideias tenham sido moldadas durante a década de transição também sugere que a democracia liberal é um projeto propositivo – não apenas algo reativo, mas sim dotado de seus próprios objetivos ideológicos”.

Dá para perceber que o assunto vai muito além da iluminação com a bandeira gay num estádio. E que o conflito com a direção da União Europeia vai esquentar.

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski, jornalista -  VEJA

 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Papelão - O papelão do instituto Butantan - Folha de S. Paulo

Hélio Schwartsman

A patacoada do instituto é um desserviço à ciência

O que a onda populista que varre o mundo ensina é que é possível sabotar o sistema sem violar formalmente nenhuma de suas regras. Hugo Chávez não cometeu crime quando reduziu limites às reeleições; Viktor Orbán seguiu os trâmites legais quando redesenhou o Judiciário húngaro para servi-lo. O corolário disso é que, se o cidadão pode ter seu campo de ação limitado só pelas leis, figuras que desempenham papel-chave no sistema precisam cumprir as regras na forma e no espírito.

A necessidade do "fair play" não está restrita à política. Ela é ainda mais vital na ciência. Se pesquisadores fraudam ou embelezam os dados de seus trabalhos, minam a confiança na própria comunicação da ciência, que é o que a viabiliza como atividade colaborativa e cumulativa. Se cada cientista tivesse de refazer pessoalmente todos os passos de seus antecessores, nós ainda estaríamos discutindo se a Terra é redonda, não só nas redes sociais, onde todos os delírios são permitidos, mas também na academia.

Faço essas reflexões como um lamento. Foi patética a participação do Instituto Butantan na entrevista coletiva da semana passada, em que se anunciou uma eficácia de 78% para a Coronavac. Na mais honesta entrevista desta semana, quando mais dados foram revelados, ficamos sabendo que a eficácia apurada no estudo foi de 50,4%. Os 78% representavam o recorte de casos que demandaram alguma assistência médica, não o total de sintomáticos. [Matéria do J.R. Guzzo, em post Gazeta do Povo - Vozes, informa que a eficácia real é “49,69%”.]

Até acho que os 78% são um número mais relevante que os 50,4%, mas o "fair play" científico não tolera que se propagandeie o primeiro sem nem mencionar o segundo, como se fez na primeira coletiva. Que um político medíocre e marqueteiro como João Doria tenha aprontado essa é esperado.  
Que o Butantan, que conhecia os dados, tenha chancelado a patacoada é um desserviço à ciência. Penitencio-me diante do leitor por ter reproduzido os 78% sem questionamento.

Hélio Schwartsman, jornalista - Folha de S. Paulo

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A tempestade perfeita que poderá custar o mandato de Bolsonaro - Ricardo Noblat

Blog do Noblat

Ele é uma ameaça à vida alheia 

Se for o que resta para mostrar a que ponto chegou Bolsonaro, compare-se o seu comportamento com relação à vacinação em massa contra o vírus com o comportamento dos governantes mais autoritários do mundo, todos, como ele, de extrema-direita.  O ditador da República da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, anunciou que não se vacinará porque a Covid-19 já o pegou faz algum tempo – como se não pudesse pegá-lo outra vez. Mas a imunização no seu país começou uma semana antes do previsto.

Até abril serão vacinadas 1,2 milhão de pessoas. Numa segunda etapa, mais 5,5 milhões. Na Hungria do primeiro-ministro Viktor Orbán, um dos poucos chefes de Estado a comparecer à posse de Bolsonaro, a vacinação começou no último sábado. A Polônia tem um governo nacionalista conservador admirado pelo presidente brasileiro. Pois bem: ali, ontem, os dois líderes dos partidos rivais Plataforma Cívica (liberal) e Lei e Justiça (conservador) foram filmados vacinando-se juntos.

Ontem também, os países da Comunidade Econômica Europeia compraram mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. Em colapso desde a explosão do seu porto em Beirute, o Líbano comprou à Pfizer duas milhões de doses de vacina. Aqui, onde nas últimas 24 horas o vírus matou 1.075 pessoas e infectou mais de 57 mil, a Pfizer indicou em nota que no momento não irá pedir autorização de uso emergencial do seu imunizante porque as exigências do governo demandam tempo.

Como uma das muitas vacinas que já foram aprovadas em outros países e que estão sendo aplicadas por toda parte não pode estar rapidamente disponível para os brasileiros? É a pergunta que Bolsonaro e seus cúmplices se recusam a responder.

Na melhor das hipóteses, segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra o vírus está prevista para começar em 20 de janeiro, e na pior até o final da primeira quinzena de fevereiro. Quantas vezes você não leu previsões furadas? [especialmente quando apresentadas pelo Joãozinho Doria e diretores do Instituto Butantan - diretores que estão apequenando, retirando a credibilidade, de uma instituição centenária e mundialmente reconhecida pela seriedade e competência.]

Por outra parte, por que o espanto com a incompetência do governo Bolsonaro em dar início à vacinação? Quando foi que o governo dele revelou-se competente para tentar resolver um só grande problema do país nos últimos 2 anos? O prefeito Alexandre Kalil, de Belo Horizonte, reeleito com uma votação recorde, estoca há meses seringas de sobra para vacinar os habitantes de sua cidade e de cidades próximas. O que impediu o governo federal de fazer a mesma coisa?

Fracassou o pregão eletrônico realizado ontem pelo Ministério da Saúde para a compra de seringas e agulhas. De um total de 331 milhões unidades previstas para serem adquiridas, o ministério conseguiu fornecedor para apenas 7,9 milhões. Uma titica.

Não se brinca impunemente com vidas alheias, mas Bolsonaro insiste em brincar. Gosta de viver em perigo. Por que não brinca com a própria vida, quando nada para relembrar os antigos e bons tempos de paraquedista do Exército?  
Só a vacinação em massa já, e bem-sucedida, salvará o sonho de Bolsonaro de se reeleger daqui a dois anos, e mesmo assim não será tão fácil como parecia. O contrário disso será com toda certeza a abertura de um processo de impeachment. Crime de responsabilidade é razão para a abertura de um processo de impeachment do presidente. [crime de responsabilidade cometido; a quase totalidade da mídia acusa o presidente Bolsonaro da prática de  crime de responsabilidade, só que tudo não passa de relatos de supostas ocorrências = denúncia com tipificação fundamentada, juridicamente correta, do crime de responsabilidade não é apresentada. 
As vezes chamam de denúncia um emaranhado de narrativas que além de não comprovadas, não constituem crime, seja de responsabilidade ou qualquer outro.  
Além da necessidade do denunciado ser provado,  o presidente da Câmara dos Deputados tem competência para receber o pedido e pautar sua apreciação pelo plenário da Câmara. 
São os deputados que apreciam o pedido encaminhado que só se transforma em processo se receber, no mínimo,  342 votos favoráveis à transformação. 341 votos ou menos não são suficientes para sequer abrir a sessão. Decidido pelos deputados a abertura do processo o presidente da Câmara passa a ser apenas um espectador privilegiado.]
Falhar gravemente em garantir a vida das pessoas é o maior crime de responsabilidade que um presidente pode cometer. E daí? Daí que é por isso que Bolsonaro precisa tanto eleger Arthur Lira (PP-AL) presidente da Câmara dos Deputados. A abertura de um processo de impeachment depende exclusivamente do presidente da Câmara. Por lá, mais de 50 pedidos repousam numa gaveta. [Alguém em sã consciência, é capaz de achar que o deputado Maia,  contrário ao capitão quanto é, iria desperdiçar a oportunidade encaminhar um pedido de impeachment contra Bolsonaro? 
Claro que não. 
Não faz, nem fez, por saber que receberá atenção de alguns holofotes, mas o arquivamento do pedido causará mais prejuízos a ele e a outros inimigos do presidente, do que a tentativa de abertura.]

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
 
 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Cruzadas antiaborto - Folha de S. Paulo

Opinião

Bolsonaro usa tom ativista em documento; TJ-SP toma decisão absurda contra ONG

A ministra Damares Alves (esq.) e o presidente Jair Bolsonaro - Reprodução

Em trecho de um documento oficial intitulado Estratégia Federal de Desenvolvimento para o Brasil, que traça diretrizes para o período 2020-2031, o governo Jair Bolsonaro achou por bem encampar a retórica de movimentos conservadores contrários ao abortoDentre as medidas voltadas a “efetivar os direitos humanos fundamentais e a cidadania”, o texto do Planalto define como meta “promover o direito à vida, desde a concepção até a morte natural, observando os direitos do nascituro, por meio de políticas de paternidade responsável, planejamento familiar e atenção às gestantes”.

É legítimo, obviamente, que um presidente ou qualquer outro político defenda suas convicções e busque levá-las, pelos meios democráticos, às políticas públicas. Isso dito, cumpre apontar que a associação entre desenvolvimento e restrição a direitos de interrupção da gravidez destoa da experiência das sociedades mais avançadas.[sociedades mais avançadas não tem o direito de decidir por políticas que estimulem as assassinas de seres humanos inocentes e indefesos = aborteiras = a cometerem impunemente seus crimes.

Cabe ao presidente da República propor medidas que impeçam, e punam, com severidade exemplar, o assassinato de crianças que estão abrigadas no local que deveria lhes propiciar segurança total.

O Brasil é uma NAÇÃO SOBERANA e não deve nenhuma satisfação, nem explicações,  do trato de seus assunto internos a nenhum país, sociedade ou o que seja.]

Como advoga esta Folha, trata-se de tema a ser encarado sob a ótica da saúde pública, [assassinar inocentes indefesos agora é política de saúde pública?]  de modo a preservar a vida e a segurança das mulheres. Assim tem entendido um número crescente de países. O governo brasileiro esteve em má companhia ao assinar, neste mês, certa Declaração de Consenso de Genebra —do suposto consenso antiaborto participavam outras 30 nações, entre elas os EUA de Donald Trump, a Hungria de Viktor Orbán, Indonésia, Egito e Uganda.

A gestão Bolsonaro, ademais, atenta até contra as possibilidades previstas na lei e na jurisprudência — os casos de estupro, risco à vida da mãe e feto anencefálico. [a Consituição Federal protege a vida que é um direito reconhecido - tanto que proíbe a pena de morte. 

Frise-se bem que proíbe para bandidos, para seres humanos indefesos e inocentes não proíbe que façam apologia ao assassinato dos mesmos, com requintes de crueldade, e praticado pelas próprias mães ou com a conivência delas e de outros assassinos.

A proibição da pena de morte para bandidos apresenta uma redação que permite interpretação abrangente, já a proteção dedicada seres humanos ainda não nascidos permite interpretações restritivas e infundadas.

Felizmente, aos poucos o Brasil volta a assumir postura de combater, eliminar definitivamente o aborto em nosso território soberano. ]

Portaria do Ministério da Saúde criou constrangimentos para os médicos que realizam procedimentos; revelou-se que a pasta de Mulher, da Família e dos Direitos Humanos tentou intervir na interrupção da gravidez de uma menina estuprada de apenas dez anos. O cerco, infelizmente, não se dá apenas por parte do Executivo federal —como se viu na recente decisão do Tribunal de Justiça paulista de impedir que a ONG Católicas pelo Direito de Decidir, favorável à legalização do aborto, utilize a referência religiosa em seu nome. [decisão justa, correta; se a IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA É CONTRA O ABORTO, é inconcebível que uma organização aborteira, criminosa, assassina, use a palavra CATÓLICOS em sua denominação = deixando a impressão de ser formada por católicos, condição impossível já que no momento em que 'católico' pensar em cometer, participar, estimular um aborto,  já está se afastando dos princípios católicos.

Tal uso tem o objetivo de enganar incautos e isto é ESTELIONATO.

Crime de estelionato, falsidade ideológica para promover o crime de assassinato.

Recomendamos ler na Folha: Voltamos à Inquisição? 

O autor da matéria acima linkada  chega ao absurdo, ao requinte diabólico, de defender o entendimento, por vias transversais,  de que a Igreja Católica não pode excomungar.
Excomungar é expulsar os católicos indignos de serem católicos. O expulso pode ter o direito de continuar se considerando católico, nada além disso. No caso da  ONG é evidente que ela usa o adjetivo 'católicas' para confundir, enganar.]

Opinião - Folha de S. Paulo 


sábado, 11 de abril de 2020

A democracia em quarentena - Revista Época

Guilherme Amado

Há justificativa neste momento para vetar aglomerações, fechar igrejas e limitar o direito de ir e vir. Mas a vigilância é fundamental

Direito de livre assembleia proibido, ir e vir restrito, liberdade de culto com limitações. O coronavírus parece também ter obrigado a democracia a entrar em quarentena, com o mundo afundado em um misto de medidas necessárias para vencer a pandemia, mas também tentativas de líderes autoritários de se aproveitarem dela para ganhar mais poder e populistas que, usando a recorrente tática de vender soluções fáceis para problemas complexos, mais atrapalham do que ajudam seus países no combate à doença.

Scholars especializados no tema têm acompanhado com preocupação o impacto que o enfrentamento ao vírus pode ter na democracia de diversos países, muitos já convivendo com retrocessos nos últimos anos. Desde 2006, mais países veem suas democracias erodindo do que outros as têm fortalecido. De acordo com a Freedom House, organização sem fins lucrativos baseada nos Estados Unidos e que monitora os avanços e recuos das democracias de todo o mundo, 64 países se tornaram menos democráticos e somente 37 se fortaleceram em 2019. A perspectiva para este ano é que esse número seja ainda maior, por causa da pandemia.

Mas, onde muitos só veem janelas para o autoritarismo ganhar espaço, há quem aposte também na oportunidade que a Covid-19 está dando para as populações perceberem quão perigoso é entregar o comando do país a um populista.  Na Hungria, o primeiro-ministro Viktor Orbán agora pode governar por decretos
Em Israel, o Parlamento e tribunais foram fechados, e Benjamin Netanyahu conseguiu adiar seu julgamento por corrupção por dois meses. 
Na Sérvia e na Turquia, veículos pró-regime deram voz a falsos especialistas que defenderam que suas populações são geneticamente protegidas do vírus. 
No México, López Obrador abriu mão da máscara e do álcool em gel e se apegou a imagens religiosas, sugerindo que os governados fizessem o mesmo, e demorou a admitir a gravidade do problema. No vizinho Estados Unidos, enquanto a governista Fox News culpava o Partido Democrata por espalhar medo, Donald Trump também passou por diversas fases, da banalização da doença à tentativa de criar o rótulo de “vírus chinês”, desaguando agora numa guerra à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Por aqui, Jair Bolsonaro embarcou forte na onda negacionista. Perdeu três semanas batendo na tecla da “gripezinha”, pregando contra o isolamento, enquanto um de seus filhos e sua tropa digital escolhiam a China como bode expiatório. Não deu certo. O Datafolha apontou que 76% da população concorda com a quarentena como está sendo feita hoje, e houve um esforço diplomático de diferentes instituições para apaziguar as relações com a China. Diante do fracasso das duas tentativas iniciais, Bolsonaro apostou em badalar a cloroquina e a hidroxicloroquina como as soluções para a Covid-19, novamente à revelia da comunidade científica mundial e de seu próprio ministro da Saúde. E, ao menos para sua popularidade, deu certo.

Depois de dias enfraquecido nas redes sociais, começou uma reação. Segundo medição da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas, antes de o presidente e seus apoiadores concentrarem esforços na promoção da cloroquina e na associação da imagem de Bolsonaro a ela, a base bolsonarista representava apenas 12,3% das interações em torno do coronavírus no Twitter. A oposição tinha 59,6%. Ainda que possa ser uma vantagem momentânea, colou o discurso do “remédio de Bolsonaro”, maneira pela qual a militância passou a chamar os dois medicamentos. De acordo com medição da consultoria Bites, também na análise do sentimento dos internautas nas redes sociais, até às 21 horas da quarta-feira 8, eram 249 mil menções associando a cloroquina a Bolsonaro, pouco menos da metade de todos os tuítes de brasileiros sobre o coronavírus naquele dia. Os bolsonaristas saíram-se bem na ação para criar a percepção de que o presidente estava certo desde o começo, quando defendeu a cloroquina no combate à Covid-19 — o que, ressalte-se, ainda não é comprovado pela ciência.

Medidas severas para combater a pandemia, ainda que infrinjam temporariamente liberdades e direitos, não são por si só antidemocráticas. Na Áustria, o ministro da Saúde tentou editar um decreto de Páscoa que autorizaria a polícia a entrar nas casas para checar se as famílias estavam se reunindo em almoços do feriado religioso. Uma medida como essa, um recurso extremo, não faria sentido sem o consentimento do Parlamento. Não à toa, o Ministério da Saúde austríaco desistiu após protestos da oposição e da sociedade civil.

No Brasil, algo desse tipo foi a tentativa de Bolsonaro de mudar a Lei de Acesso à Informação, praticamente suspendendo-a durante a pandemia, o que não só dificultaria a capacidade da sociedade de fiscalizar o poder público, como restringiria o direito à informação, fundamental para que a população esteja preparada para se prevenir e enfrentar a doença. O contrapeso dos outros Poderes se fez necessário. O Supremo Tribunal Federal suspendeu o efeito imediato da Medida Provisória que mudara a lei e o Congresso provavelmente alterará seu teor nas próximas semanas.

Autor de O povo contra a democracia, uma das bíblias para entender a ascensão do populismo autocrata, o alemão Yascha Mounk, professor em Harvard, é o âncora semanal de um dos mais interessantes podcasts para quem gosta de debates aprofundados sobre política. Em The good fight, disponível gratuitamente no site de Mounk, ele conversa com professores, jornalistas, diplomatas e outros profissionais envolvidos no debate sobre os rumos da democracia mundo afora. No último episódio, Mounk recebeu Daniel Ziblatt, também professor de Harvard, coautor de outro livro essencial para entender o populismo de direita atual, Como as democracias morrem. Os dois avaliam na conversa que a pandemia poderá atrapalhar os autocratas populistas que já estão no poder, quando táticas de usar bodes expiatórios falharem e os cidadãos perceberem a falta que fazem instituições fortes e sérias funcionando. “Essa situação (a pandemia) favorecerá a oposição aos governos. Vai prejudicar os populistas que já estão no cargo. Acho que na verdade reduz as chances de reeleição. Pode enfraquecer alguém como Jair Bolsonaro, no Brasil”, analisa Mounk.

Blatt lembra que a crise econômica poderá enfraquecer quem já está no poder. “Essa crise de saúde torna-se uma crise econômica. Isso é bem provável. Isso vai enfraquecer dramaticamente tanto Bolsonaro quanto Trump”, afirma, lembrando que os populistas que estão na oposição, a exemplo da França, podem sair fortalecidos, se forem enxergados como alternativa.  As próximas semanas mostrarão quanto tempo vai durar o sucesso do discurso salvacionista da cloroquina. E se saberá se o Brasil está no grupo de países em que a pandemia fortaleceu o populismo ou naquele em que mais pessoas perceberam que não existem remédios milagrosos para problemas complexos.

Guilherme Amado, jornalista - Época


sábado, 7 de março de 2020

Nacional-populismo - O Estado de S.Paulo

Miguel Reale Júnior


Bolsonaro pulou fora da dignidade e dos limites constitucionais impostos pelo cargo

[Sugestão ao ilustre articulista:
o senhor foi um dos autores do pedido de impeachment da 'engarrafadora de vento', Dilma Rousseff.
Tal ato tornam o senhor e os dois que estavam ao seu lado (deputada Janaína Paschoal e o ex-petista Hélio Bicudo)  heróis,  pelo BEM bem que fizeram ao Brasil e aos brasileiros pela expulsão da petista - ato indispensável ao BEM do Brasil e dos brasileiros.
Assim, o senhor possui o conhecimento necessário - notório e amplo, de fato e de direito - para analisar a conduta do presidente Bolsonaro e, se houver fundamentação, pedir o seu 'impeachment'.
O único inconveniente é que o senhor não poderá contar com o apoio da ilustre deputada, visto que a mesma já manifestou o entendimento que o nosso presidente não cometeu nenhum crime.]

A eleição de Bolsonaro insere-se no fenômeno do surgimento da direita nacional-populista que levou ao poder: 
Trump nos Estados Unidos, Viktor Orbán na Hungria, Salvini e Beppe Grillo na Itália, ao Brexit e a Johnson na Inglaterra.  Líderes vencem não pela consistência de suas convicções, mas porque, orientados por especialistas em opinião pública, lançam mão de técnicas e algoritmos na internet. 

Conhecem, então, a receita do bolo a ser servido a cada tribo de consumidores/eleitores, por via do estudo científico dos medos, aspirações, alegrias e ódios desvelados no uso das redes sociais, das quais surge perfeita tomografia de corpo e alma dos usuários. As frustrações e a raiva que produzem são fonte de energia e formam o cardápio político. Conforme Moura e Corbellini (A Eleição Disruptiva – por que Bolsonaro venceu, Record, 2019),“a vitória de Bolsonaro foi a manifestação da ira contra tudo o que está aí, foi a eleição dos indignados”.

Os magos por trás da máquina de controle daqueles que se pensam, enganadamente, fautores do próprio destino por integrarem as redes sociais são os técnicos como Gianroberto Casaleggio, na Itália, Dominic Cummings, que conduziu a campanha em favor do Brexit, o ex-chefe de campanha de Trump e próximo de Olavo de Carvalho, Steve Bannon, o articulador de Orbán, Arthur Finkelstein e o controvertido jornalista Milo Yiannopoulos.  É Giuliano Da Empoli, no livro Os Engenheiros do Caos (Vestígio, 2019, tradução de Arnaldo Bloch), que revela a nova política tecnicamente administrada, gerida sem nenhum limite ético.

As manobras antes utilizadas em face do consumidor passaram a ser aplicadas ao eleitor, objeto de cooptação para levar ao poder ambiciosos sem pudor, falsos moralistas que prometem expulsar os maus do “templo” valendo-se do ressentimento e da raiva fáceis de ser explorados, sempre sob a ótica conspiratória contra bodes expiatórios denunciados com fake news nas redes sociais. Adotam esses chefes autoritários posições diversas a cada passo. Dizem um dia o necessário para contentar parcela Y da sociedade, para no seguinte, sem preocupação com a coerência, aderirem ao inverso, se preciso, para satisfazer a parcela X. [convenhamos que a conduta acima é típica de 99,999% dos políticos - se é que existe algum que não a pratique???]


No caso brasileiro, o desencanto com a corrupção após a ditadura, a desesperança de dias melhores após a nova Constituição, bem como a crise de segurança pública facilitaram um discurso raso de direita e a indicação dos culpados: a classe política, acusada de só ver o próprio interesse, as elites traidoras, o aparelhamento do Estado. [a origem de todo o mal está exatamente no fim do Governo Militar e a instituição da chamada Nova República que deu o 'start' para o soerguimento de toda a estrutura corrupta que voltou a dominar o Brasil;
e, a 'constituição cidadã' facilitou a ação nefasta da Nova República.]

A eventual frustração de cada qual nos planos profissional, econômico, sexual, familiar se soma à indignação dos eleitores contra o PT, a corrupção, o Congresso, o STF, muitos sem perceber que ir contra os dois últimos lesa direitos fundamentais e instaura o arbítrio. A tática é sempre a mesma: populistas, ao se nutrirem do ódio dos outros, fazem da humilhação dos poderosos a sua promessa, como diz Da Empoli. Ser vulgar e grosseiro, mormente com a imprensa, e afrontar o politicamente correto passa por exprimir autenticidade, atendendo ao gosto popular, ao contrário dos hábitos das elites e da velha política. [o simples fato de ser politicamente já exclui ser correto.]

Buscam-se os cantos, e não o centro, ou um denominador comum. Não há união, mas adjunção. Somam-se desconhecidos, cada qual carregando sua revolta em direção aos extremos e a ser explorada pelos líderes populistas manobrados pelos técnicos em algoritmos e internet. 
Da Empoli ressalta:No mundo de Trump, Johnson e Bolsonaro cada novo dia nasce com uma gafe, uma polêmica, a eclosão de um escândalo e, mal se está comentando um evento, esse já é eclipsado por outro, numa espiral infinita que catalisa a atenção e satura a cena midiática”.

No carnaval houve reiterada conduta agressiva [apenas defensiva e/ou neutra]  de Bolsonaro: ofendeu a jornalista da Folha; divulgou conversa do general Heleno chamando congressistas de chantagistas e sugerindo ida às ruas; postou no WhatsApp dois vídeos convocando para ato em 15 de março: num conclama patriotas a resgatar o Brasil e defender o presidente cristão e incorruptível; no outro põe os nomes Gen. Heleno/Cap. Bolsonaro e se faz de mártir ante os inimigos do Brasil; na quinta-feira 27/2 acusou mendazmente a jornalista Vera Magalhães de mentir.

Se Bolsonaro nunca teve apreço pela democracia representativa e pelos partidos políticos, sabe, todavia, o valor de um gabinete do ódio no terceiro andar do palácio a calibrar a relação direta entre o “líder” e o povo a ser emocionalmente explorado. Basta assistir ao vídeo compartilhado no qual sem pudor é endeusado: “Foi chamado a lutar por nós”, “quase morreu por nós”, “única esperança de dias cada vez melhores”, “presidente trabalhador, patriota”, “precisa de nosso apoio nas ruas”. Apoio por quê? Ora, apenas em favor da ambição do poder populista, sem intermediação.

O que parece desatino em muito é planejado. Na convocação para o dia 15 Bolsonaro exagerou e pulou no carnaval fora da dignidade e dos limites constitucionais impostos pelo cargo. O mesmo na triste comédia do PIB.

Miguel Reale Júnior, advogado, ex-ministro da Justiça - um dos signatários do pedido de impeachment da petista Dilma - O Estado de S. Paulo