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sábado, 10 de janeiro de 2015

Dilma, a ignorante e as primeiras trombadas do segundo mandato

As primeiras trombadas

Primeiros dias do segundo governo de Dilma Rousseff são marcados pela falta de sintonia entre integrantes do primeiro escalão

Os sorrisos e as gentilezas entre a equipe ministerial do segundo mandato de Dilma Rousseff só duraram o tempo da foto oficial do dia 1º de janeiro. Na primeira semana de trabalho, os ministros chamaram mais a atenção por brigas e divergências internas do que pela pauta de ações do novo governo. A falta de sintonia expôs o novo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, a um episódio constrangedor. No dia seguinte à posse, Barbosa havia convocado uma coletiva de imprensa para relatar temas próprios de sua área, entre eles, a definição da regra de correção do salário mínimo. É o Planejamento que elabora o Orçamento da União e o envia ao Congresso. Portanto, qualquer nova norma de reajuste do mínimo, em tese, deveria ser definida pelo ministro. Respondendo a um questionamento sobre a possibilidade de o governo alterar, em 2016, a lei que rege a atualização do salário, o ministro adiantou: “Nós vamos propor uma nova regra para 2016 a 2019 ao Congresso Nacional nos próximos meses.”

DISSONÂNCIA - O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi desmentido
por Dilma depois de antecipar a nova regra para correção do salário mínimo
Barbosa, é sabido que a presidente prefere usar o dedo médio

A resposta foi interpretada como uma ameaça à conjuntura política. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, interrompeu as férias da presidente na Base Naval de Aratu, na Bahia, e a alertou do incidente. Interpelado pela presidente, Barbosa teve que se desmentir. “A regra atual ainda vale para 2015, acabou de ser editado decreto com base na regra atual.” A desautorização obedeceu a uma leitura política. Dilma e Mercadante entendem que Nelson Barbosa antecipou um debate polêmico de maneira desnecessária. O tema espinhoso, no entanto, não poderá ser ignorado em 2015. A lei do reajuste do salário mínimo só vale até dezembro e o governo terá que enviar, até agosto, um projeto para o Congresso propondo a nova regra que valerá em janeiro de 2016. A intervenção de Dilma aliviou possível mobilização das centrais sindicais contra o governo logo no início do ano, mas a imagem de Barbosa junto às entidades ficou enfraquecida. “Ele é gestor de política pública, quem manda é a presidente”, afirmou Canindé Pegado, secretário da União Geral dos Trabalhadores (UGT).


O episódio parece ter insuflado o resto da equipe. Os novos ministros da Agricultura, Kátia Abreu, e do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, resolveram imprimir um tom ideológico ao discorrerem sobre as políticas e os objetivos de suas áreas e acabaram invadindo as atribuições da pasta coirmã. Estabeleceu-se a confusão. Os ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário são órgãos com objetivos distintos. Um representa o setor produtivo. O outro trata da função social da terra. Em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”, Kátia afirmou que o País não precisaria aprimorar políticas de distribuição de terras, ação que caberia ao Desenvolvimento Agrário de Patrus. “A reforma agrária tem de ser pontual, para os vocacionados. Latifúndio não existe mais.” A declaração despertou a fúria de representantes dos movimentos dos trabalhadores sem terra e, claro, de Patrus. O ministro não se esquivou do embate. Retrucou que o País usa os módulos rurais como unidade de medida para verificar o tamanho das propriedades. Em seguida, apoiou-se no conceito de função social da terra para defender a importância da reforma agrária. “Não basta derrubar a cerca do latifúndio, é preciso derrubar as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social.”

A colisão frontal entre Kátia e Patrus se assemelha aos entrechoques verificados entre a Frente Parlamentar da Agricultura e os defensores da reforma agrária no Congresso. Mas os ministros, em tese, deveriam fazer parte de um mesmo projeto. Afinal, integram o mesmo governo. A reação desafinada indica que os próximos quatro anos de administração terão que passar pelo divã antes de os administradores construírem, juntos ou não, soluções para avançar na resolução dos problemas.

O loteamento de cargos entre partidos muitas vezes dotados de ideais distintos é uma das explicações para a composição de uma equipe de governo em permanente dissonância. Mas não é a única. Logo ao assumir o Turismo, Juca Ferreira, do PT, teve de justificar a aliados o motivo de sua antecessora, a senadora Marta Suplicy, do mesmo partido que o seu, ter feito críticas tão agressivas à sua indicação. Marta havia usado as redes sociais para censurar a escolha de Juca para o ministério que comandou de setembro de 2012 a novembro de 2014. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, também foi alvo de fogo amigo. A setorial de Direitos Humanos do PT rejeitou a recondução de Ideli ao cargo. As críticas foram feitas em carta aberta. “O governo Dilma está sendo atacado por colocar ministros completamente estranhos às suas pastas. Manter a atual ministra na pasta de Direitos Humanos é corroborar com isso. Colocar alguém não caracterizado com a militância em Direitos Humanos fez com que nenhuma política específica da pasta avançasse”, criticou a nota. Após tirar cinco dias de descanso na Base Naval de Aratu (BA), a presidente Dilma Rousseff retornou na terça-feira 6 irritada com os desencontros dos primeiros dias de governo. Aos ministros, transmitiu a ordem: as discussões entre integrantes do primeiro escalão devem ser travadas no âmbito do governo, de forma alguma publicamente. Tem razão, a presidente. Só que o exemplo precisa vir de cima.

Montagem sobre fotos de: Adriano Machado/Ag.Istoé; Sergio Lima/folhapress Fotos: Adrano Kakazu/Ag.Senado; Moacyr Lopes Junior/Folhapress 

Fonte: Revista IstoÉ 
 

 

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