A despeito de alguns artigos publicados na imprensa, da reação do Presidente do Clube Militar e da representação protocolada pelo deputado Jair Bolsonaro na Procuradoria Regional da República no Distrito Federal, até agora nada aconteceu ao sr. Luís Inácio Lula da Silva por suas irresponsáveis palavras lançadas no último dia 24 de fevereiro na sede da ABI no Rio de Janeiro, quando anunciou o alinhamento do “exército do Stédile “à “briga” que os militantes do PT, segundo ele, sabem brigar.
Em qualquer país democrático com instituições sólidas, tal desatino seria repudiado por manifestações oficiais e enfrentado com providências legais, cobrando-se a retratação e a explicação que o sr. Luís Inácio já deve à sociedade brasileira. Mas a julgar pelo silêncio das maiores autoridades da República, o sr. Luís Inácio pensa que pode continuar fazendo o que quer e bem entende, sem responder por tanto, restando evidente que isso produzirá consequências. Não se pretende aqui cansar o leitor, lembrando a impressionante coincidência da prática em que o sr. Luís Inácio é useiro e vezeiro com o que um certo cabo na Alemanha dos anos 20 e 30 fazia nos seus discursos de cervejaria, depois consolidados no bric-à-brac de uma pseudocultura de cadeia que o tornou rico (Minha Luta).
O que acontece aqui no Brasil tem causas e características próprias, decorrentes, em particular, de uma tradição de leniência com a transgressão, e não se precisa recorrer a exemplos históricos distantes para concluir que há algo de muito errado acontecendo nesta República, onde agora se apela a uma retórica militarista para abordar a crise política que se instalou no País, também, pela omissão dos responsáveis pela coisa pública.
E antes que o delírio persecutório petista tente fazer de seu líder vítima de preconceito, discriminação ou prevenção, reitere-se que foi ele próprio, deliberada e espontaneamente, quem apelou a uma inoportuna e inconveniente metáfora que agora faz escola, tal a recorrência verbal a exércitos, tropas, comandantes e guerras, em peças apócrifas ou não, como se não houvesse na sociedade brasileira constituição, política, democracia, deveres e direitos pelos quais se devam encaminhar as soluções para os grandes problemas e questões nacionais.
É totalmente despropositada qualquer previsão de uma intervenção militar na atual crise política brasileira, e, para que isto fique bem entendido, é necessário reiterar alguns pontos. Em primeiro lugar, que há poucas coisas mais ridículas no mundo do que forças armadas indisciplinadas, o que positivamente está longe de ser o caso no Brasil, onde os militares constituem a mais antiga e sólida carreira de Estado e se atêm rigorosamente ao cumprimento de suas missões constitucionais.
Em segundo lugar, que não existem militares de esquerda no Brasil, nem na ativa e nem na reserva, sendo os pouquíssimos a serviço do PT inexpressivos, não havendo, portanto, risco de guerra civil no país, algo que só acontece quando as forças armadas se dividem.
Em terceiro, que não existe poder militar dentro do país e no seu entorno regional que se atreva a intervir na normalidade institucional brasileira. Por essas e muitas outras razões, que não cabem neste espaço, está mais do que em tempo de cessarem as metáforas militares e a apelação golpista, voltando a predominar o discurso da lei e do direito que a História já nos ensinou.
Fonte: Diário do Comércio – Sérgio Muniz Costa – Doutor em ciências militares e historiador
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