O novo chefe da Polícia Federal entrou em campo fazendo perguntas, quando deveria anunciar que trará respostas
O doutor
Fernando Segovia começou seu mandarinato com dois pés esquerdos. Depois
de ser empossado numa cerimônia que contou com a presença inédita do
presidente da República, ele criticou a ação da Procuradoria-Geral da
República e da própria PF no caso da investigação e das negociações que
beneficiaram os irmãos Batista e a JBS.
Produziu duas pérolas. Na primeira, disse que alguns aspectos do caso se tornaram “um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro”. Na segunda, foi preciso: “Uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”.
Devagar, doutor. A pergunta que está no ar é o destino final da mala recebida pelo deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor e pessoa da confiança de Michel Temer. Ela não faz parte do imaginário popular, como o saci-pererê, mas da dura realidade nacional. [que Janot e Fachin não conseguiram provar que chegou as mãos de Temer ou que o presidente era o destinatário.
Que a mala não chegou ao destino, não chegou, o Brasil inteiro presenciou.
A quem se destinava é algo que permanece envolto em mistério.] Ainda assim, a mala que Loures recebeu de um emissário da JBS numa pizzaria de São Paulo é prova bastante da corrupção dele. Segovia tem razão quando argumenta que uma investigação mais calma levaria aos destinatários finais dos R$ 500 mil, mas daí a dizer que uma mala não basta para provar a corrupção, vai enorme distância.
O delegado Segovia apresentou-se fazendo perguntas. É o que menos se espera de um chefe da Polícia Federal. O grande detetive Hercule Poirot fazia suas perguntas para estruturar um raciocínio que desembocava numa surpreendente revelação. Segovia não deu respostas. Apenas distribuiu insinuantes indagações. Em vez de deixar o problema na floresta do “imaginário popular” onde mora o saci-pererê, Segovia deveria anunciar que vai correr atrás das respostas. É assombroso ouvir do chefe da Polícia Federal que há muito a ser explicado e que “talvez seria bom, para que o Brasil inteiro soubesse, que houvesse uma transparência maior sobre como foi conduzida aquela investigação”. Ótima ideia. Sem “talvez”, Segovia poderia ter anunciado que, a partir de hoje, fará isso.
O grampo de Joesley Batista e a mala de Loures paralisaram o país e levaram Michel Temer à lona. Passados cinco meses, sabe-se que no lance havia um doutor com um pé na PGR e outro num escritório que defendia interesses da JBS. Aquilo que Segovia classificou como pressa do procurador-geral Rodrigo Janot seria melhor entendido se fosse chamado de interesse. Essa pelo menos é a opinião de um procurador, que acusa Janot de ter tramado a queda de Temer da Presidência da República para impedir a nomeação de Raquel Dodge. Quase conseguiu.
A exposição da trama faria bem ao país, mas não eliminaria dois fatos: O interlocutor de Joesley Batista no grampo do Jaburu é o presidente Michel Temer.
A mala entregue a Rodrigo Rocha Loures tinha R$ 500 mil e veio da JBS.
Segovia poderia vir a expor a maneira como esses dois fatos foram manipulados. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. À maneira de Hercule Poirot, pode-se fazer uma pergunta a Segovia: “Por que Michel Temer foi à sua posse?”
O velho policial ensinava que “se você não é bom de palpites, não seja detetive”.
Por: Elio Gaspari, jornalista - O Globo
Produziu duas pérolas. Na primeira, disse que alguns aspectos do caso se tornaram “um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro”. Na segunda, foi preciso: “Uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção”.
Devagar, doutor. A pergunta que está no ar é o destino final da mala recebida pelo deputado Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor e pessoa da confiança de Michel Temer. Ela não faz parte do imaginário popular, como o saci-pererê, mas da dura realidade nacional. [que Janot e Fachin não conseguiram provar que chegou as mãos de Temer ou que o presidente era o destinatário.
Que a mala não chegou ao destino, não chegou, o Brasil inteiro presenciou.
A quem se destinava é algo que permanece envolto em mistério.] Ainda assim, a mala que Loures recebeu de um emissário da JBS numa pizzaria de São Paulo é prova bastante da corrupção dele. Segovia tem razão quando argumenta que uma investigação mais calma levaria aos destinatários finais dos R$ 500 mil, mas daí a dizer que uma mala não basta para provar a corrupção, vai enorme distância.
O delegado Segovia apresentou-se fazendo perguntas. É o que menos se espera de um chefe da Polícia Federal. O grande detetive Hercule Poirot fazia suas perguntas para estruturar um raciocínio que desembocava numa surpreendente revelação. Segovia não deu respostas. Apenas distribuiu insinuantes indagações. Em vez de deixar o problema na floresta do “imaginário popular” onde mora o saci-pererê, Segovia deveria anunciar que vai correr atrás das respostas. É assombroso ouvir do chefe da Polícia Federal que há muito a ser explicado e que “talvez seria bom, para que o Brasil inteiro soubesse, que houvesse uma transparência maior sobre como foi conduzida aquela investigação”. Ótima ideia. Sem “talvez”, Segovia poderia ter anunciado que, a partir de hoje, fará isso.
O grampo de Joesley Batista e a mala de Loures paralisaram o país e levaram Michel Temer à lona. Passados cinco meses, sabe-se que no lance havia um doutor com um pé na PGR e outro num escritório que defendia interesses da JBS. Aquilo que Segovia classificou como pressa do procurador-geral Rodrigo Janot seria melhor entendido se fosse chamado de interesse. Essa pelo menos é a opinião de um procurador, que acusa Janot de ter tramado a queda de Temer da Presidência da República para impedir a nomeação de Raquel Dodge. Quase conseguiu.
A exposição da trama faria bem ao país, mas não eliminaria dois fatos: O interlocutor de Joesley Batista no grampo do Jaburu é o presidente Michel Temer.
A mala entregue a Rodrigo Rocha Loures tinha R$ 500 mil e veio da JBS.
Segovia poderia vir a expor a maneira como esses dois fatos foram manipulados. Uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. À maneira de Hercule Poirot, pode-se fazer uma pergunta a Segovia: “Por que Michel Temer foi à sua posse?”
O velho policial ensinava que “se você não é bom de palpites, não seja detetive”.
Por: Elio Gaspari, jornalista - O Globo
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