A conduta do professor e da hierarquia da escola empulhou o público
A juíza
Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude do Rio, ouviu o professor
Bernardino Matos, diretor de uma unidade do sacrossanto Colégio Pedro II, dizer
que nunca ouvira falar de um caso de abuso sexual de uma estudante de 12 anos,
ocorrido em 2015. Vapt-Vupt, deu-lhe voz de prisão por falso testemunho e
remeteu-o à 15ª Delegacia de Polícia. Ele se retratou, e a juíza informou que o
doutor mentiu para tentar preservar a instituição.
Se ele
disse isso, foi um delírio irresponsável e megalomaníaco. A conduta do
professor e da hierarquia do colégio empulhou o público ao longo de dois anos e
atentou contra o bom nome do Imperial Colégio Pedro II, fundado em 1837. Ele é
tão especial que a Constituição garante sua permanência na órbita do governo
federal. (Art. 242 § 2º.) Lá lecionaram Gonçalves Dias e Heitor Villa-Lobos e estudaram
o Barão do Rio Branco e Rodrigues Alves. Como ninguém pode saber o que a vida
fará da garotada, estudou também o deputado Jorge Picciani.
Desde
2015 a hierarquia do colégio varreu para baixo do tapete o caso da menina
abusada sexualmente em três ocasiões, com a existência de um vídeo colocado na
internet e com ameaças às colegas cujas famílias denunciavam o episódio. Em
nota oficial, chegaram a acusar os pais por afirmações “difamatórias e
inconsequentes". A direção da escola limitou-se a determinar que os três
delinquentes juvenis, de 15 a 17 anos, concluíssem o ano letivo e fossem
embora. Afirmar que eles foram expulsos é uma falsidade. Apesar dos pedidos de
oito mães, os çábios não encaminharam o caso ao Conselho Tutelar. As mães o
fizeram.
Segundo
os doutores, tratava-se de preservar os menores. É difícil entender. Fica mais
fácil louvar a juíza, que pôs um fim a uma conduta insensível, autoritária e de
legalidade discutível dos hierarcas, todos adultos que provavelmente já tiveram
filhas de doze anos.
DOIS
MESES DE MISTÉRIO NA MORTE DO REITOR
No
próximo sábado completam-se dois meses da manhã em que matou-se o reitor da
Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. Desde
então, sabe-se que Robert Mugabe perdeu o trono do Zimbábue e que a Justiça
devolveu Jorge Picciani à cadeia. Só não se conhecem os resultados das
investigações que permitiriam “maior aprofundamento na análise” das denúncias
que levaram a Polícia Federal a pedir e a conseguir que a Justiça mandasse
prendê-lo. Levado para a carceragem, ele foi solto com a proibição de pisar na
UFSC. Seu corpo voltou à universidade para o velório.
A
operação “Ouvidos Moucos” mobilizou 105 policiais e foram presas outras seis
pessoas.
A PF
anunciou que haviam desviado R$ 80 milhões de um programa de ensino à
distância. Falso, esse era o montante do programa. O desvio teria sido, no
máximo, de R$ 500 mil. Sabe-se
que Cancellier não era acusado de ter desviado um só tostão. O corregedor
Rodolfo Hickel do Prado denunciava-o por tentar obstruir investigações. Ele
pediu licença médica e daqui a pouco voltará ao serviço.
Não se
trata apenas de saber o que o reitor fez de errado. Trata-se de saber em que
resultou a investigação da “Ouvidos Moucos”. Até agora, nada. Sabe-se,
contudo, que o matemático Acioli Antônio de Olivo pediu, em nome da família,
que o Ministério da Justiça abra um “procedimento de responsabilidade
administrativa, civil e penal” para apurar a conduta da delegada Érika Mialik
Marena, que solicitou as prisões. (Criadora da expressão Lava-Jato, ela é
interpretada pela atriz Flavia Alessandra no filme “A lei é para todos”). O
pedido começou a tramitar.
TRÊS
BRASILEIRAS
Em 2015,
o Brasil soube da existência das trigêmeas Loterio, jovens estudantes de Santa
Leopoldina, da zona rural de Vitória. Vivendo a 21 quilômetros da escola, numa
propriedade sem acesso à internet, tiveram a ajuda dos pais e de uma professora
abnegada. Fábia, Fabiele e Fabíola Loterio, de 15 anos, conquistaram três
medalhas de ouro na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. O Brasil era
presidido por Dilma Rousseff, e a Câmara dos Deputados, por Eduardo Cunha.
Sérgio Cabral reinava no Rio de Janeiro, governado por seu candidato.
Passaram-se
três anos, Cabral e Cunha estão na cadeia, Michel Temer está no Planalto, e o
país está com a sensação de que tudo deu errado. Tudo, menos as trigêmeas
Loterio. Em 2016,
elas voltaram à Olimpíada e ganharam uma medalha de prata e duas de bronze.
Estavam matriculadas no Instituto Federal do Espírito Santo, em regime de tempo
integral.
Acabam de
ser divulgados os resultados da Olimpíada de 2017. Fabíola ganhou uma medalha
de ouro, Fábia e Fabiele ficaram com pratas. As três prestaram a prova do Enem
e pretendem cursar matemática na Federal do Espírito Santo. Em três
anos, muita coisa que poderia ter dado certo deu errado, mas as trigêmeas
Loterio mostram que as coisas boas também acontecem. (Por
pouco, as modestas bolsas do Programa de Iniciação Científica, que pagavam
aulas aos medalhistas das Olimpíadas, não morreram na mão dos educatecas de
Brasília).
VALOROSO
PMDB
Por
unanimidade, o Conselho de Ética do PMDB decidiu expulsar do partido a senadora
Kátia Abreu (TO) porque ela votou contra a deposição de Dilma Rousseff e a
reforma trabalhista de Michel Temer. [a expulsão da senadora Kátia Abreu foi uma das poucas decisões corretas do PMDB e tem preferência sobre eventual punição a qualquer outro membro do partido.
O caso da senadora é de ALTA TRAIÇÃO e sua expulsão foi uma pena insuficiente para o grave crime cometido - o voto contra a reforma trabalhista não prejudicou ao Brasil mas, votar contra a expulsão da ex-presidente é TRAIR a Pátria.
Crimes de ALTA TRAIÇÃO costumam, ou costumavam, sofrer punições mais rigorosas.]
O senador
Romero Jucá, presidente do partido, saudou a decisão, dizendo que “a medida
demonstra nova fase de posicionamento do partido”.
Entre
outros, continuam no PMDB: Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e Jorge Picciani. Todos
em Benfica, e Cunha na carceragem de Curitiba.
O partido
criou um slogan para alguns candidatos nas próximas eleições: “Estou solto e
fui expulso do PMDB”.
(...)
CUECAS
O
deputado Celso Jacob (PMDB-RJ) foi apanhado com biscoitos e queijo escondidos
na cueca quando retornou à penitenciária da Papuda, onde cumpre pena em regime
semiaberto. Foi mandado à tranca por sete dias. [citado deputado recebe auxílio-moradia da Câmara dos Deputatos, apesar de sua moradia ser a Papuda.]
Em 2005,
o chefe de gabinete do deputado José Guimarães (PT-CE) foi preso no aeroporto
de Congonhas com 100 mil dólares na cueca.
Mudou o
Brasil. As cuecas hoje servem para esconder comidinhas de presos.
Elio Gaspari, jornalista - O Globo
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