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domingo, 26 de novembro de 2017

A direção do Pedro II ofendeu o colégio



A conduta do professor e da hierarquia da escola empulhou o público

A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude do Rio, ouviu o professor Bernardino Matos, diretor de uma unidade do sacrossanto Colégio Pedro II, dizer que nunca ouvira falar de um caso de abuso sexual de uma estudante de 12 anos, ocorrido em 2015. Vapt-Vupt, deu-lhe voz de prisão por falso testemunho e remeteu-o à 15ª Delegacia de Polícia. Ele se retratou, e a juíza informou que o doutor mentiu para tentar preservar a instituição.

Se ele disse isso, foi um delírio irresponsável e megalomaníaco. A conduta do professor e da hierarquia do colégio empulhou o público ao longo de dois anos e atentou contra o bom nome do Imperial Colégio Pedro II, fundado em 1837. Ele é tão especial que a Constituição garante sua permanência na órbita do governo federal. (Art. 242 § 2º.) Lá lecionaram Gonçalves Dias e Heitor Villa-Lobos e estudaram o Barão do Rio Branco e Rodrigues Alves. Como ninguém pode saber o que a vida fará da garotada, estudou também o deputado Jorge Picciani.

Desde 2015 a hierarquia do colégio varreu para baixo do tapete o caso da menina abusada sexualmente em três ocasiões, com a existência de um vídeo colocado na internet e com ameaças às colegas cujas famílias denunciavam o episódio. Em nota oficial, chegaram a acusar os pais por afirmações “difamatórias e inconsequentes". A direção da escola limitou-se a determinar que os três delinquentes juvenis, de 15 a 17 anos, concluíssem o ano letivo e fossem embora. Afirmar que eles foram expulsos é uma falsidade. Apesar dos pedidos de oito mães, os çábios não encaminharam o caso ao Conselho Tutelar. As mães o fizeram.
Segundo os doutores, tratava-se de preservar os menores. É difícil entender. Fica mais fácil louvar a juíza, que pôs um fim a uma conduta insensível, autoritária e de legalidade discutível dos hierarcas, todos adultos que provavelmente já tiveram filhas de doze anos.

DOIS MESES DE MISTÉRIO NA MORTE DO REITOR
No próximo sábado completam-se dois meses da manhã em que matou-se o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. Desde então, sabe-se que Robert Mugabe perdeu o trono do Zimbábue e que a Justiça devolveu Jorge Picciani à cadeia. Só não se conhecem os resultados das investigações que permitiriam “maior aprofundamento na análise” das denúncias que levaram a Polícia Federal a pedir e a conseguir que a Justiça mandasse prendê-lo. Levado para a carceragem, ele foi solto com a proibição de pisar na UFSC. Seu corpo voltou à universidade para o velório.

A operação “Ouvidos Moucos” mobilizou 105 policiais e foram presas outras seis pessoas.
A PF anunciou que haviam desviado R$ 80 milhões de um programa de ensino à distância. Falso, esse era o montante do programa. O desvio teria sido, no máximo, de R$ 500 mil.  Sabe-se que Cancellier não era acusado de ter desviado um só tostão. O corregedor Rodolfo Hickel do Prado denunciava-o por tentar obstruir investigações. Ele pediu licença médica e daqui a pouco voltará ao serviço.

Não se trata apenas de saber o que o reitor fez de errado. Trata-se de saber em que resultou a investigação da “Ouvidos Moucos”. Até agora, nada.  Sabe-se, contudo, que o matemático Acioli Antônio de Olivo pediu, em nome da família, que o Ministério da Justiça abra um “procedimento de responsabilidade administrativa, civil e penal” para apurar a conduta da delegada Érika Mialik Marena, que solicitou as prisões. (Criadora da expressão Lava-Jato, ela é interpretada pela atriz Flavia Alessandra no filme “A lei é para todos”). O pedido começou a tramitar.

TRÊS BRASILEIRAS
Em 2015, o Brasil soube da existência das trigêmeas Loterio, jovens estudantes de Santa Leopoldina, da zona rural de Vitória. Vivendo a 21 quilômetros da escola, numa propriedade sem acesso à internet, tiveram a ajuda dos pais e de uma professora abnegada. Fábia, Fabiele e Fabíola Loterio, de 15 anos, conquistaram três medalhas de ouro na Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas. O Brasil era presidido por Dilma Rousseff, e a Câmara dos Deputados, por Eduardo Cunha. Sérgio Cabral reinava no Rio de Janeiro, governado por seu candidato.

Passaram-se três anos, Cabral e Cunha estão na cadeia, Michel Temer está no Planalto, e o país está com a sensação de que tudo deu errado. Tudo, menos as trigêmeas Loterio.  Em 2016, elas voltaram à Olimpíada e ganharam uma medalha de prata e duas de bronze. Estavam matriculadas no Instituto Federal do Espírito Santo, em regime de tempo integral.

Acabam de ser divulgados os resultados da Olimpíada de 2017. Fabíola ganhou uma medalha de ouro, Fábia e Fabiele ficaram com pratas. As três prestaram a prova do Enem e pretendem cursar matemática na Federal do Espírito Santo. Em três anos, muita coisa que poderia ter dado certo deu errado, mas as trigêmeas Loterio mostram que as coisas boas também acontecem.  (Por pouco, as modestas bolsas do Programa de Iniciação Científica, que pagavam aulas aos medalhistas das Olimpíadas, não morreram na mão dos educatecas de Brasília).

VALOROSO PMDB
Por unanimidade, o Conselho de Ética do PMDB decidiu expulsar do partido a senadora Kátia Abreu (TO) porque ela votou contra a deposição de Dilma Rousseff e a reforma trabalhista de Michel Temer. [a expulsão da senadora Kátia Abreu foi uma das poucas decisões corretas do PMDB e tem preferência sobre eventual punição a qualquer outro membro do partido.
O caso da senadora é de ALTA TRAIÇÃO e sua expulsão foi uma pena insuficiente para o grave crime cometido - o voto contra a reforma trabalhista não prejudicou ao Brasil mas, votar contra a expulsão da ex-presidente é TRAIR a Pátria.
Crimes de ALTA TRAIÇÃO costumam, ou costumavam, sofrer punições mais rigorosas.]
O senador Romero Jucá, presidente do partido, saudou a decisão, dizendo que “a medida demonstra nova fase de posicionamento do partido”.
Entre outros, continuam no PMDB: Sérgio Cabral, Eduardo Cunha e Jorge Picciani. Todos em Benfica, e Cunha na carceragem de Curitiba.
O partido criou um slogan para alguns candidatos nas próximas eleições: “Estou solto e fui expulso do PMDB”.

(...)

CUECAS
O deputado Celso Jacob (PMDB-RJ) foi apanhado com biscoitos e queijo escondidos na cueca quando retornou à penitenciária da Papuda, onde cumpre pena em regime semiaberto. Foi mandado à tranca por sete dias. [citado deputado recebe auxílio-moradia da Câmara dos Deputatos, apesar de sua moradia ser a Papuda.]
Em 2005, o chefe de gabinete do deputado José Guimarães (PT-CE) foi preso no aeroporto de Congonhas com 100 mil dólares na cueca.
Mudou o Brasil. As cuecas hoje servem para esconder comidinhas de presos.


Elio Gaspari, jornalista - O Globo
 

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