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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Ministério Público vai investigar 20 policiais militares envolvidos em mais de 350 mortes



Agentes foram identificados em reportagem publicada no GLOBO

[qual a razão do Ministério Público não demonstrar interesse em apurar o assassinato de 120 PMs, no Estado do Rio, só este ano?

Um bandido morre imediatamente é investigado, a turma dos direitos humanos acusa a polícia; já quando um policial morre o assunto é tratado com  desprezo e antes de qualquer investigação o policial assassinado é considerado bandido enquanto o bandido é uma vítima inocente.

Saiba mais sobre a proteção que dão a bandidos, lendo Onda Retrógrada.]



O Ministério Público estadual fará um pente-fino em todos os casos de mortes em confronto que envolvem os 20 policiais militares identificados numa reportagem publicada neste domingo no GLOBO. O trabalho ficará a cargo do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp), coordenado pela promotora Andrea Amin. De 2010 a 2015, esses PMs tiveram participação em 273 autos de resistência, nas quais 356 pessoas foram mortas, o que representa mais de 10% do total de vítimas de policiais no período. Os promotores vão solicitar e analisar todos os inquéritos e os processos em que os agentes foram citados, para verificar se houve irregularidades.
 

A fachada do 39º BPM (Belford Roxo), na Baixada Fluminense, região onde aconteceu a maior parte dos autos de resistência em que estão envolvidos os 20 policiais listados pelo GLOBO - Hermes de Paula / Agência O Globo



Se levada a cabo, a medida vai obrigar uma mudança no foco do Gaesp. A maior parte dos casos em que os 20 PMs estão envolvidos ocorreu em municípios da Baixada Fluminense, principalmente na área do 39º BPM (Belford Roxo). O Gaesp, porém, até hoje elencou como prioridade a investigação de mortes nas áreas do 41º BPM (Irajá), do 7º BPM (São Gonçalo) e do 12º BPM (Niterói), onde os índices eram mais altos. Por questões legais, o grupo do MP não pode assumir um caso sem autorização do promotor da vara onde a ação tramita. Ele pode, no entanto, oferecer ajuda. A unidade também já fez o acompanhamento de processos a pedido de parentes de vítimas da violência policial, por exemplo.  — Nós fazemos esse trabalho de ir até os promotores e oferecer a ajuda do Gaesp. E também é bom que exista o compartilhamento desses dados (entre a imprensa e o MP) — disse a promotora. 


Segundo Andrea Amin, alguns policiais citados pelo GLOBO já tiveram inquéritos no Gaesp. É o caso do cabo Fabio de Barros Dias, hoje lotado em atividades burocráticas no 31º BPM (Recreio). Em 30 de março deste ano, o PM foi filmado executando um criminoso ferido, já caído no chão. Na mesma operação, um de seus disparos matou a adolescente Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, dentro de uma escola municipal em Acari.
O Fabio, por exemplo, eu já denunciei duas vezes. Acabei arquivando outros casos, mas pedi a prisão dele, e o juiz negou. Depois, ele matou aquele homem em Acari e acabou atirando na Maria Eduarda. Se tivesse sido preso antes, ele não teria matado aquela menina — criticou a promotora.

EM SEIS ANOS, 16 AUTOS DE RESISTÊNCIA
No período do levantamento feito pelo GLOBO, de 2010 a 2015, o cabo Fabio se envolveu em 16 autos de resistência (mortes em confrontos). Procurado pelo GLOBO, o advogado que defende o policial pediu que perguntas fossem enviadas para ele por e-mail, mas nenhuma delas foi respondida. [o policial está em uma ação contra bandidos, com troca de tiros, sendo esperado (apesar de não desejado) que hajam mortes;
Deus protegeu o policial fazendo com que este tenha sobrevivido - é crime, não ser assassinado por um bandido em tiroteio?]
A promotora Andrea Amin ressalta a dificuldade de apurar as mortes em confronto devido a falhas cometidas por policiais civis e militares. Segundo ela, a cena do crime sempre deve ser preservada. A reportagem do GLOBO mostrou que, em 69,9% dos autos de resistência, os corpos das vítimas foram removidos do local sem a realização de perícia:
Todo caso de letalidade policial deveria ir para a Divisão de Homicídios. Com a expertise e os peritos da especializada, talvez tivéssemos um resultado melhor do que temos hoje, porque as delegacias distritais não têm condições de fazer as perícias. O local do crime ser desfeito é uma dificuldade que sempre encontramos. Se a vítima morreu, e o policial a leva para algum lugar, é fraude processual. A preservação da cena do crime é extremamente importante. [a perícia não é feita por delegacia de bairro e sim por peritos do Instituto de Criminalística.]

O relatório final da CPI dos Autos de Resistência, realizada ano passado na Assembleia Legislativa, aponta que há falhas em todos os órgãos de controle da área de segurança pública do Rio. O Ministério Público “tem se mostrado historicamente um grande arquivador de casos, colaborando para a impunidade dos policiais criminosos”, diz um trecho do documento. Também não faltam críticas para as polícias Civil e Militar. O relatório foi aprovado por unanimidade na comissão, mas aguarda desde julho de 2016 a votação em plenário.

Em nota, o Ministério Público informou que arquiva mais que denuncia, “pois são baixos os índices de elucidação dos fatos pela polícia judiciária a quem cabe finalizar o inquérito”. Por isso, o órgão criou em 2015 o Gaesp para tratar os autos de resistência como prioridade. Em dois anos, promotores do grupo já ofereceram 40 denúncias contra agentes públicos. Pesquisador da Human Right Watch, César Muñoz afirma que policiais são constrangidos a manter silêncio a respeito de crimes cometidos por colegas de farda. Muñoz é autor do relatório “O bom policial tem medo”, sobre o recorrente acobertamento de execuções na PM:  — Os códigos disciplinares das PMs estão muito defasados. Tem um conteúdo incompatível com uma polícia que atua numa democracia.

O levantamento do GLOBO foi feito nos 3.442 autos de resistência ocorridos de 2010 a 2015. Durante mais de 20 dias, a Polícia Civil foi procurada para comentar os fatos apurados, mas não houve resposta. Já a Secretaria de Segurança afirmou que os posicionamentos sobre a reportagem ficariam a cargo das polícias Civil e Militar. Em nota, a PM informou que em 2015 foram excluídos da corporação 156 policias. O texto ressalta ainda que “um número muito pequeno do efetivo” envolvido em autos de resistência “revela que não há na corporação uma política de segurança voltada para o confronto”.

PM PODE REABRIR CASOS CITADOS NA REPORTAGEM
A Polícia Militar também pretende apurar a atuação desse grupo de policiais nas mortes citadas na reportagem. De acordo com o major Ivan Blaz, porta-voz da corporação, todo homicídio decorrente de oposição à intervenção policial — chamado de auto de resistência gera hoje um inquérito policial-militar (IPM) para que a conduta dos policiais seja investigada. Segundo Blaz, caso sejam identificados novos fatos não apurados durante esses procedimentos, a PM irá reabri-los. Como a reportagem mostrou, em pelo menos dez casos foram encontrados indícios claros de execução ou fraude processual.  — Existem inúmeras apurações na corregedoria sobre mortes em confronto — disse o major. — Se houver algum fato novo, vamos investigar.

Um dos episódios novos apresentados pela reportagem ao comando da PM envolve o caso do jovem Wagner Nunes, morto em 26 de janeiro de 2014. Aos 24 anos, ele já trabalhava havia três anos como técnico em telecomunicações e tinha sido aprovado no concurso para a Escola de Sargentos de Armas (EsSA) do Exército. No dia da morte, dirigia o carro do tio.
Um dos PMs envolvidos na morte de Wagner é Flávio Pereira Morais, que de 2010 a 2015 se envolveu em 22 mortes em confronto. No relato oficial, o carro de Wagner trafegava em alta velocidade pela Estrada do Quitungo, em Cordovil, e homens em seu interior teriam disparado contra a viatura, dirigida por Flávio. No revide, Wagner teria sido atingido na cabeça e batido o carro. O jovem que ia no banco de trás, Josiel Gomes de Souza, foi morto com um disparo à queima-roupa. O terceiro ocupante do veículo foi preso e processado por porte ilegal de arma e resistência, mas foi absolvido.

No processo, o sobrevivente contraria a versão dada pelos policiais. Ele contou que estava com Wagner no carro quando Josiel, que era traficante, pediu carona, garantindo que não portava armas ou drogas. Mesmo com certo receio, Wagner teria cedido. Em seguida, contou a testemunha, o carro foi alvo de tiros. O jovem afirma que sobreviveu porque se fingiu de morto após a batida. Ele afirmou ainda que nenhum dos três estava armado. Por medo, parentes de Wagner decidiram não levar o caso adiante. — Ele tinha sonhos como todo mundo, mas tudo foi interrompido. Tenho que viver com esse vazio. Por que matam um inocente assim? — lamentou uma parente.

No fim de 2015, um sistema de controle interno da PM fez um alerta para um possível uso excessivo da força por parte de Flávio Morais. Naquele ano, o sargento fez 606 disparos, tornando-se o policial que mais atirou no estado, segundo o Sistema Informatizado de Material Bélico. Procurado, o PM não quis comentar o caso.
— Não tenho a intenção de divulgar nada para vocês — limitou-se a dizer antes de desligar o telefone.

O Globo
 


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