Talvez seja mesmo isso que Lula quer, tentar fixar para a história que a
eleição deste ano não foi legítima porque não o deixaram participar. Sem ele,
não existe o PT, parece querer dizer para seu público interno.
Essa estratégia, aliás, já foi cogitada pela direção nacional do PT, que
passaria a ter um mote nas campanhas para as outras escolhas – governador,
senadores, deputado estadual e deputado federal. Trata-se, no entanto, de uma
jogada de alto risco, pois o que interessa ao partido é fazer uma boa bancada
na Câmara e no Senado. Sem disputar a presidência, perderá o ponto de
referência nacional.
Os partidos que não disputam normalmente a presidência da República, como,
entre tantos, o DEM e o MDB, perdem substância política e se sustentam com as
bancadas nacionais. Mas sempre estão coligados, coisa que o PT não pretende
fazer para a presidência.
O candidato a senador pelo PT da Bahia, Jaques Wagner, que era cotado para ser
o substituto de Lula, defende a tese de que o PT deveria apoiar um candidato de
outro partido, referindo-se indiretamente a Ciro Gomes do PDT. E aceitaria até
ser o vice dele.
Ao contrário, o PT ofereceu a vice na chapa de Lula a Ciro. Ofereceu também a
Manuela DÁvila do PC do B, mas foram impugnados no único tribunal que vale no
PT, a opinião de Lula.
A relutância de Lula em indicar um candidato a vice para assumir seu
lugar na urna eletrônica deve-se a que se transferiria para o escolhido a
expectativa de poder que move as energias políticas, e isso Lula quer adiar até
quando puder, ou impossibilitar, pela impugnação da chapa petista, que se
concretize o aparecimento de um líder político que passe a ser o centro das
negociações.
O ex-presidente deve ter em mente a escolha de Dilma Rousseff em 2010,
que não largou o osso em 2014 para que ele voltasse, como era o plano original.
A figura do presidente da República é tão forte no Brasil que Dilma recusou-se
a deixar de disputar a reeleição e o todo poderoso Lula não teve instrumentos
para impedi-la.
O chefe do Gabinete Civil de Geisel, o bruxo Golbery do Couto e Silva,
dizia a respeito de Figueiredo, a quem ajudou ser escolhido presidente e depois
forçou sua demissão do Gabinete Civil que continuava a ocupar: "quando o sujeito
sobe aquela rampa (do Palácio do Planalto) com aquele toque de corneta e vê
aqueles soldados todos batendo continência para ele, chega lá em cima
convencido de que está ali por méritos próprios”.
Os especialistas em legislação eleitoral lembram que até 2016 a escolha do vice
podia ser feita depois da convenção, até a data do registro, desde que a
convenção assim deliberasse. Mas as regras da eleição de 2018 do TSE
estabeleceram um prazo de 24 horas a partir do fim do período de convenções,
que aconteceu ontem, para o registro da ata na Justiça Eleitoral.
Portanto, pela legislação atual, o PT teria que amanhã, até o fim do dia,
indicar a chapa completa à presidência da República. Como, no entanto, existem
juristas que entendem que não há problema em definir o vice até 15 de agosto,
desde que a ata deixe claro que a convenção assim decidiu, Lula, num primeiro
momento, resolveu ir para o tudo ou nada.
Pode ser que hoje, durante o dia, seja convencido de que não vale a pena
arriscar tanto, e indique seu vice, que, no entanto, pode não ser o substituto
definitivo. Até 20 dias antes da eleição o partido pode mudar a chapa.
Portanto, Lula tem condições de não colocar na roda o futuro candidato do PT a
presidente, mas mesmo assim prefere não arriscar sua hegemonia dentro do
partido.
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