Vinicius Mota
Quem tem mais poder: Super-Homem ou um ministro do STF do Brasil?
Quem tem mais poder: Super-Homem, Thor, Mulher Maravillha, Aquaman ou um ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil? A presidente da República nomeia um político para o ministério, mas um
juiz da corte desfaz o ato numa canetada. O Congresso aprova um projeto
nas duas Casas, arregimentando maiorias, e o chefe de Estado o sanciona, mas o super-herói da capa preta é capaz de suspender a norma numa
fração de segundo. Sozinho. E que tal impedir jornalistas de entrevistar um político preso? Ele
pode. Sentar sobre um processo o quanto quiser, até que o clima esteja
bom para o resultado que deseja? Pode. Inventar o impeachment sem perda
de direitos? Sim, senhor.
O herói plenipotenciário também excele na conversa e tentará nos
convencer de que nunca age por iniciativa própria. Só quando provocado.
Não tem faltado provocador sobre tudo quanto é assunto, no entanto. De uns tempos para cá, apareceu um novo superpoder, o da autoprovocação.
O presidente da Casa quis investigar fake news contra os membros da
corte, mas não confiava na via normal de acionar o Ministério Público.
Então designou ele mesmo um colega para tocar o inquérito.
Raios, trovões, tornados e terremotos começam a jorrar do dispositivo,
que está para as prerrogativas judiciais quase como as joias do infinito
estão para Thanos na série dos Vingadores. Ai de quem publique algo
desabonador sobre nossos heróis. Corre o risco de ser censurado. Outra tendência na Liga da Justiça do cerrado é o supremo ministro
requisitar informações sensíveis da República que circulem por aí. Foi
assim com os arquivos dos hackers da Lava Jato e, agora, com os dados
sigilosos de transações financeiras de 600 mil pessoas do antigo Coaf.
É a capacidade de enxergar o que ocorre em outras dimensões, invisíveis
ao mortal comum, que se agrega às habilidades do campeão togado. Antigamente meninos sonhavam em ter os poderes do Batman ou do Ultraman.
Hoje, data vênia, devem ter outras aspirações de supremacia.
Vinicius Mota, colunista - Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário