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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Congresso e transição Petrobras, armas, até a Bíblia: o Estado se mete em tudo - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

A Câmara dos Deputados, como se não tivesse mais nada com que se preocupar, como se não houvesse esse problema da eleição, da contagem de votos, das urnas antigas, aprovou um projeto de lei que proíbe fazer mudanças na Bíblia, no Novo e no Antigo Testamento.  
Esse é um assunto para cada religião, cada igreja tem a sua versão da Bíblia. 
Um dos deputados disse que isso não se mexe. 
Parecia que estava tratando do Corão, lá no Afeganistão.
 
Mas nós não somos uma teocracia. Esse não é um assunto de Estado, é um assunto das religiões. 
Se agora estão colocando a lei acima das religiões, daqui a pouco a lei vai querer alterar também o ritual das celebrações religiosas. Ainda bem que isso ainda vai para o Senado, e os senadores podem corrigir esse engano.
 
Isso é coisa de gente que acha que o Estado pode tudo. Querem outro exemplo? Na equipe de transição, o ex-governador do Maranhão Flavio Dino, que era do PCdoB e agora foi eleito senador pelo Partido Socialista Brasileiro, diz que o Estado pode, que tem o poder de revogar todos os portes e registros de arma. 
Todo mundo passaria a ter arma ilegalmente, assim como os bandidos têm – bandido, aliás, não vai ser afetado, porque não tem nem porte e nem registro. Mas em 2005 o Estado perguntou aos brasileiros em referendo, e 64% disseram “sim” às armas
É desejo da população ter um meio para defender sua vida e seu patrimônio.

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O brasileiro vai para a frente do quartel porque não confia mais nos seus representantes
Supremo desarmamentista toma lugar do Congresso

Flavio Dino disse mais: que o Estado tem poder também de revogar uma decisão da Anvisa, por exemplo, que é uma agência autônoma que dá licença para certos medicamentos. [alguém checou a escolaridade do comunista Flávio Dino?] 
Quer dizer que o Estado está entrando até na área médica – aliás, a autonomia deveria ser do médico, nem da Anvisa. É o Estado se metendo cada vez mais em tudo. E o que é o Estado? É uma burocracia que não está produzindo, não está plantando, não está empregando, mas está lá, botando regra. [no caso do Maranhão é o estado e os políticos que o governam, entre eles o tal Dino, que confere àquele estado o pior IDH do Brasil.]
 
Senador já adianta que governo vai interferir cada vez mais na Petrobras  
O senador Jean-Paul Prates, cotado para ser ou presidente da Petrobras ou ministro de Minas e Energia, disse que vão ter de mudar a política de dividendos da Petrobras. Ele está dizendo para o mercado que esse país não é do mercado. E mais, disse ele: a política de preços não é da Petrobras, é do governo. Já percebemos, não?  
Será que essa foi a vontade de 60 milhões de eleitores, tornar o sistema brasileiro estatizante?
Isso é um regime totalitário, quando o Estado é que manda; porque democracia é quando o povo manda, o povo é a origem do poder. Quando o Estado baixa decretos e decisões, alterando liberdades básicas, aí o sistema é outro, não pode ser chamado de democrático.[perguntar não ofende: e quando o Estado adota medidas que violam à democracia, a pretexto de combater atos antidemocráticos?] 
 
Presidente da Câmara vai ao Catar, como se estivesse tudo tranquilo no Brasil
Em plena efervescência desse assunto de urnas, o presidente da Câmara viajou para o Catar, para ver um jogo do Brasil, e volta logo depois. Contando ida e volta, são 25 horas de avião
Pelo jeito está com tempo de sobra, não há problemas na Câmara Federal, não há problemas dos seus representados. [para Arthur  Lira as coisas podem até melhorar. 
Exemplo: seu mandato de presidente da Câmara dos Deputados - condição que o torna o primeiro na linha sucessória, após o vice-presidente, vai até o inicio de FEVEREIRO/2023. 
Tem o quiproquó das urnas, que no limite pode adiar a posse do 'eleito'  e com Bolsonaro e Mourão sem mandato a partir de 1º jan 2023, adivinhem  quem assume interinamente a Presidência da República?]
São os representantes que não estão fazendo jus ao voto dos representados, isso é terrível para a democracia. 
Aliás, esqueci de comentar que a equipe de transição anda falando em criar mecanismos de Estado para defender o Estado. A desculpa é defender a democracia – a mesma desculpa de Stalin, de Hitler, de Mussolini, sempre “defender o Estado”
É a força do Estado se sobrepondo à democracia, à força que emana do cidadão. É bom ficarmos atentos a isso.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


segunda-feira, 24 de outubro de 2022

O ‘pintou um clima’ de Jair Bolsonaro expõe contradição - Fernando Gabeira

In Blog
Gostaria de discutir as mudanças climáticas. No entanto tenho de analisar a frase de Bolsonaro segundo a qual pintou um clima entre ele, sexagenário, e refugiadas venezuelanas de 14/15 anos.[Comentário: temos que iniciar desmontando os argumentos desse senhor, octogenário, um guerrilheiro fracassado (juntou-se àquela turma que na década de 60 tentou (e fracassaram mais uma vez) entregar o Brasil, nossa PÁTRIA, aos comunistas = se conseguem seríamos uma Cuba, umas 50 vezes mais miserável. 
Esse senhor na realidade foi um aprendiz de guerrilheiro,  começando já fracassado, pois no melhor estilo Zelenski arrumou uma guerra, no caso dele uma guerrilha,  para os outros guerrearem por ele.
Agora tenta atribuir ao presidente Bolsonaro praticas que além de repudiadas pelo 'capitão do povo' - um homem defensor da Religião, Família e dos Valores Tradicionais, principios e valores  que a maldita esquerda, no Brasil capitaneada pela perda total = PT, tenta destruir. 
Ainda que por instantes Bolsonaro tivesse uma 'tentação' de tão asqueroso comportamento - o que não ocorreu, já que seu caráter o impediria - como iria ter comportamento inadequado junto a adolescentes, diante de no mínimo 50 pessoas - além da sua segurança, estavam presentes dezenas de apoiadores, jornalistas, alcaguetes, etc.
Ainda que estivesse a sós não se permitiria tão repugnante ato - Bolsonaro não é, nunca foi e jamais será um adepto do comportamento de Mao - que esteve entre os admirados pelo  autor do post sob comento e que pode ser lido na íntegra, clicando aqui.
Só na cabeça de pessoas que abriram mão, ou perderam, da prática do pensamento sério, responsável, é que podem pensar em tamanho absurdo.]

(...)

Bolsonaro, segundo Alexandre de Moraes, não pode ser incriminado por pedofilia. Tudo bem. Mas pode ser acusado de hipocrisia, porque, embora não tenha realizado um ato, confessou emoções de um pedófilo.[estamos ferrados! há menos de uma semana foi 'criado' o crime de conclusão errada = ler alguma coisa e chegar a uma conclusão que não seja aprovada pelos responsáveis por decretar o que é verdade e o que é mentira; agora querem criar o crime de hipocrisia = aguentem a eleição passar, ou Bolsonaro vai ganhar com 100% dos votos, já que seu adversário - o petista descondenado, não inocentado - , hipocrisia passando a ser crime, poderá ser preso em flagrante, já que vive em permanente cometimento do novo crime.]

(...)

Fernando Gabeira

Artigo publicado no jornal O Globo em 24/10/2022


terça-feira, 6 de setembro de 2022

POR QUE LADRÃO DETESTA O AI-5? - Sérgio Alves de Oliveira

Todos já ouviram em alguma ocasião a famosa frase contida na Bíblia (Mateus 19;24):"Então disse Jesus aos seus discípulos:Com toda a certeza vos afirmo que dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus.E lhes digo mais:É MAIS FÁCIL PASSAR UM CAMELO PELO FUNDO DE UMA AGULHA DO QUE O RICO ENTRAR NO REINO DOS CÉUS".

"Parodiando" Mateus, e considerando que provavelmente o Apóstolo de Cristo estaria se referindo exclusivamente à riqueza ilícita obtida por alguém, sem dúvida a mesma frase poderia ser aplicada no Brasil, apenas substituindo as palavras REINO DOS CÉUS por CADEIA/PRISÃO. Ficaria assim: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um ladrão/corrupto ir para a cadeia".

@KayoEurich

Isso significa que a sabedoria dos brasileiros já consagrou há muito tempo que "rico não vai para a cadeia".Só vai mesmo "ladrão de galinha".

E se já era assim antes, imagine-se agora com a recente decisão do "Guardião da Constituição", do Supremo Tribunal Federal, sobre a presunção da inocência de réus por crimes cometidos até o "trânsito em julgado" da decisão,ou seja,até que não haja mais recursos previstos na legislação processual penal, o que pode levar o tempo do "resto"da vida, ou mais, do "paciente", não importa quanto seja, desde que ele tenha dinheiro suficiente para "sustentar" seus advogados para todos os recursos possíveis (e impossíveis),e "chicanas" processuais de toda espécie. Resumindo:no Brasil,rico corrupto não vai mais para a cadeia.Tem garantia da "Justiça".

Ora, sabe-se que durante os governos da esquerda no Brasil foi roubado do erário quantia estimada em 10 trilhões de reais, e que, portanto, alguém que esteja sendo processado criminalmente,com ameaça de prisão, "sócio" dessa montanha de dinheiro, dos dez trilhões, com poderes para comprar batalhões de advogados das mais conceituadas bancas ,evidentemente jamais será preso. Poderá ir para o "inferno". Jamais para a cadeia.

À luz do "abominável" Ato Institucional Nº.5- AI-5,  de 13.12.1968,não haveria a possibilidade dos ladrões do erário burlarem a Justiça todo o tempo,passando a vida toda na luxúria da roubalheira. "Livres",'leves",e "soltos".
É claro que essa gente desonesta não poderia jamais aplaudir o AI-5,cujo artigo 8º,por exemplo, preceituava: "O Presidente da República poderá,após investigação,decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido ilicitamente no exercício de cargo ou função pública,inclusive de autarquias,empresas públicas e sociedades de economia mista,sem prejuízo das sanções penais cabíveis. Parágrafo único: Provada a legitimidade da aquisição dos bens,far-se-á sua restituição".

É claro que com a "abolição" do AI-5, tão "festejada" pelos corruptos, ninguém mais teve confiscados os seus bens derivados de corrupção,como antes podia ser à luz do artigo 8º do referido ato institucional. E com a progressiva anulação das condenações da Operação Lava Jato,tudo o que foi roubado do erário ficou por isso mesmo,mantendo-se com os seus "legítimos"donos, com o aval e garantia da "Justiça".

Ora, todos os corruptos passaram a ser processados pelos ritos "convencionais" da Justiça,onde todos os que podem pagar têm absoluta garantia de que jamais serão presos mediante condenações trânsitas em julgado. Portanto,"fora" do AI-5,os corruptos poderão agir livremente e roubar do erário o quanto quiserem. 

Ressalte-se, entretanto,que não foram somente os corruptos os beneficiários desse "paraíso" da roubalheira derivado da derrubada do AI-5. De modo muito especial,TODOS os operadores do direito afetos direta ou indiretamente a esses ilícitos penais saíram beneficiados
Alguns advogados criminalistas,de modo especial,passaram a "nadar" no dinheiro ganho a título de honorários dos corruptos,para mantê-los livres das grades. 
 
E com o aumento dos crimes de corrupção, "incentivados" pelo "establishment", à vista da nova realidade, da "moleza" dada pela Justiça aos criminosos,necessariamente a folha de pagamentos relativa aos operadores do direito do setor público (juízes, promotores, policiais,  delegados,etc.) teve crescimento proporcional ao aumento do crime,especialmente da roubalheira ao erário.

Esse é o "outro lado" da"verdade tão festejada pelos corruptos , e pelos pretensos e falsos "democratas". 

Será que a corrupção teria ido a esses níveis "estratosféricos" se vigente ainda estivesse o "abominável" AI-5? 

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo


quarta-feira, 22 de junho de 2022

Produzir sêmen e embriões, a nova pecuária - Evaristo de Miranda

Revista Oeste

 A especialização genética brasileira para a zona intertropical garante ganhos em rusticidade, adaptação ao calor, eficiência e qualidade

Bovino da raça nelore, originária da Índia. Representa 85% do gado brasileiro para produção de carne | Foto: Shutterstock 

 Bovino da raça nelore, originária da Índia. Representa 85% do gado brasileiro para produção de carne | Foto: Shutterstock

O Brasil é um país pecuário e cristão. Além de carne e leite, o sucesso da pecuária tropical brasileira se projeta aos poucos através da genética, da venda de sêmen, óvulos e embriões. Só em 2021 foram comercializados cerca de 29 milhões de doses de sêmen bovino no Brasil. A inseminação artificial tem sido fundamental no melhoramento genético da pecuária.
 
Pecuária vem da raiz latina pecua (termo coletivo para gado, rebanho), a mesma na origem de pecúlio. Na Roma antiga, o pecúlio era a pequena parte do rebanho deixada em pagamento ao escravo responsável pela sua guarda, por oposição ao peculiar: a parte própria do rebanho do proprietário. Essa palavra evoluiu para o sentido de específico ou próprio. Pecúnia vem da mesma raiz. Na origem, designava riqueza em animais, posteriormente em dinheiro, por extensão, moeda e ainda honorários, primitivamente pagos com animais. Com o tempo, pecuniário, significado latino de rebanho, estendeu-se para dinheiro. Resumo: bovino igual riqueza.
              Rebanho de gado nelore - Foto: Shutterstock

O Brasil é cristão, e a Bíblia prefere pecuaristas a agricultores. C´est la vie. Desde os relatos míticos do Gênese, o pecuarista Abel tem os favores divinos em face do agricultor Caim (Gn 4,3). Na vida nômade original dos hebreus, os arquétipos, símbolos e imagens da pecuária predominam sobre os agrícolas.

A palavra pastor aparece cerca de 90 vezes na Bíblia, tanto no sentido próprio como no figurado. Deus é assemelhado a um pastor, como no conhecido Salmo 23. O próprio Jesus se apresentou como bom pastor, abrigo de suas ovelhas (Jo 10). Seu primo João Batista o chamou de Cordeiro de Deus (Jo 1,29). E, ao deixar este mundo, Jesus encarregou a Pedro, por três vezes, de apascentar o seu rebanho e o seu gado (Jo 21).

Em igrejas protestantes e evangélicas, pastor designa o líder da comunidade. Na Igreja Católica, o termo é próprio dos bispos. Eles têm no cajado ou báculo de pastor um dos símbolos episcopais, desde os primórdios do Cristianismo. No século 4, o báculo já era usado por bispos.

Cristianismo e pecuária começaram juntos no Brasil. Em 1500, para os descobridores, na Terra de Santa Cruz parecia não haver agricultura nem pecuária. Em sua carta, Pero Vaz de Caminha assinalava: “(os índios) não lavram, nem criam, nem há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem nenhum outro animal acostumado a viver com os homens”.

Para atender às necessidades básicas de alimentação, saúde e vestimenta, os portugueses introduziram e aclimataram espécies vegetais e animais. As da pecuária foram todas importadas: galinhas, patos, gansos, abelhas, coelhos, jumentos, burros, búfalos, cavalos, ovinos, caprinos e bovinos. Quanto às necessidades espirituais, a Igreja evangelizou indígenas e povoadores.

Já lá se vão cinco séculos. Nos últimos 30 anos, graças à evolução tecnológica, o rebanho bovino aumentou 13% e a produção de carne 108%! A produtividade avançou 147%. A produção nacional de leite ultrapassa 35 bilhões de litros/ano e coloca o país em terceiro lugar no ranking mundial. E nesse período houve redução na área de pastagens. Todo ano diminui a área das pastagens no Brasil, ao contrário do propalado por alguns.

                                   Foto: Shutterstock

Para a Embrapa, uma das maiores contribuições para revolucionar a pecuária foi a melhoria genética. A introdução e a seleção do zebu da Índia resultaram na genética diversificada do rebanho. Avanços continuam: inseminação artificial, fecundação in vitro, produção de embriões e clonagem animal. De importador de bovinos, o país passou a exportador de genética bovina superior.

A comercialização de doses de sêmen para cliente final, a exportação e a prestação de serviços cresceram 21% em 2021. Foram 28.706.330 doses de sêmen, contra 23.705.584 em 2020, segundo a Associação Brasileira da Inseminação Artificial (Asbia).

Em 2021, as vendas de genética para o cliente final aumentaram 18%. Foram 25.449.957 doses vendidas no país, contra 21.575.551 em 2020. O sêmen de raças de corte aumentou 22%. O setor leiteiro cresceu 6%, segundo a Asbia, e a prestação de serviço 47%: 2.390.636 doses de sêmen bovino, contra 1.621.937 em 2020. Em 2021, a inseminação artificial foi usada em 4.463 municípios (80% dos existentes), aumento de 4,1% sobre 2020.

Se o material genético de raças leiteiras é o mais vendido no exterior, a demanda por bovinos de corte está crescendo

Os touros selecionados são levados a centros especializados para coleta do sêmen, com análise apurada de qualidade e sanidade. De cada procedimento são produzidas em média 500 doses. A coleta em 2021 somou 23.919.732 doses e cresceu 61% em relação a 2020 (14.899.623 doses).

Além da inseminação, a transferência de embriões cresce no Brasil. A produção começa nas fazendas, com a retirada dos óvulos de fêmeas selecionadas, para serem fertilizados in vitro em centros especializados. Fêmeas fornecedoras de óvulos têm grande valorização. A vaca da raça nelore Viatina FIV Mara Móveis teve 50% de sua propriedade vendida, por R$ 3,99 milhões, em Uberaba (MG), durante a 87ª ExpoZebu. Uma valorização recorde de R$ 7,98 milhões, a maior já obtida por um nelore.

Os embriões obtidos são implantados em vacas receptoras (mães de aluguel). E podem ser preservados por décadas, como o sêmen. Locais afastados se beneficiam do melhoramento genético pela inseminação artificial e pela transferência de embriões, mesmo sem touros de qualidade na região.

Quanto à exportação de genética bovina, em 2021 foram vendidas no exterior 865.737 doses de sêmen, contra 508.096 em 2020, um crescimento de 70%. Para 2022, o Brasil deve exportar mais de 1 milhão de doses, fruto da valorização do sêmen e da genética obtida no país.

O faturamento na exportação de sêmen aumentou 22% em 2021: R$ 1 bilhão. Incluindo embriões bovinos, além do sêmen, o valor atinge R$ 1,3 bilhão, crescimento de 35% em relação a 2020. Com o credenciamento de novas empresas de genética bovina para exportar e o aumento do preço médio da dose de sêmen, o setor deve alcançar R$ 1,5 bilhão no mercado externo em 2022.

Se o material genético de raças leiteiras é o mais vendido no exterior, a demanda por bovinos de corte está crescendo. A exportação de material genético é acompanhada pelo Ministério da Agricultura, seguindo o protocolo sanitário do país importador. Grande parte das certificações é dada por centros de coleta habilitados. O Instituto Biológico de São Paulo tem o único laboratório credenciado pelo Inmetro para testes específicos de sanidade de sêmen, como estomatite vesicular, leucose bovina, rinotraqueíte infecciosa bovina e diarreia viral bovina.

A variada especialização genética brasileira para a zona intertropical garante ganhos em rusticidade, adaptação ao calor, resistência a doenças e parasitas (carrapatos, moscas e bernes), desempenho, eficiência e qualidade. Isso impulsiona a produção e a exportação de sêmen e embriões de bovinos de corte e leite para a América Latina, além de vendas a países africanos, asiáticos e do mundo árabe. Conquista recente foi o acordo sanitário com o Suriname. Há mais mercados abrindo-se em 2022.

O gado gir é de origem indiana. O Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro é uma parceria da Embrapa com a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro, iniciada há 37 anos. Ele obteve uma genética superior, e a produção média de leite praticamente dobrou em 30 anos. A cooperação com a Índia avança com a Embrapa Gado de Leite.

Técnicos hindus foram treinados, e a Embrapa auxiliou na montagem de um laboratório de reprodução animal na Índia. Os pesquisadores brasileiros produziram e transferiam os primeiros embriões obtidos por tecnologia de fertilização in vitro. Resultou no nascimento de duas bezerras, uma da raça gir e outra sahiwal, na cidade de Anand. O sucesso foi destaque no The Times of India, um dos mais tradicionais jornais da Índia.

Além da demanda da Índia pela genética do gir leiteiro, outros países tropicais (Colômbia, Bolívia, Equador, Guatemala, República Dominicana, Panamá e Costa Rica) formalizam parcerias. Israel é um mercado promissor.

Em cinco séculos, o Brasil tornou-se o maior país cristão da Terra e líder na produção bovina. Paradoxo, agora há gente torcendo e trabalhando para um retorno ao Neolítico: um Brasil sem cristãos nem bois. Cristãos, bois e pecuaristas enfrentam ataques de toda natureza. Contudo, os pecuaristas prosseguem. Aboiam e tocam seu gado, com fé e trabalho. Alimentam o mundo. Com o melhoramento genético, mais pecuaristas conseguem, além da produção de carne e leite, aumentar sua renda com a venda de sêmen e embriões, aqui e no exterior. Mais pecúlio, sem peculato. Para honra e glória dos bovinos.

                                           Foto: Shutterstock

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Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA

 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Prévia do programa de governo de Lula causa mal-estar entre aliados do PT - Folha de S. Paulo

Dirigentes de partidos reclamam de ausência de propostas e vazamento do texto pelo PT 

A veiculação do texto preliminar do plano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou mal-estar entre aliados de sua pré-campanha ao Palácio do Planalto. A começar pelo PSB, do ex-governador Geraldo Alckmin, dirigentes de partidos que integram a aliança se queixaram da exclusão de propostas encaminhadas e do vazamento do documento sem prévio debate.

Com 90 parágrafos, o documento divulgado na segunda define os governos petistas como inovadores no combate à corrupção, reforça o papel do Estado na economia, enaltece o Bolsa Família e propõe a revogação do teto de gastos e da reforma trabalhista implementada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), além da revisão do regime fiscal.

O texto defende ainda o fortalecimento dos sindicatos sem a volta do imposto sindical, a construção de um novo sistema de negociação coletiva e uma "especial atenção aos trabalhadores informais e de aplicativos".  Por volta das 8h30 de segunda-feira (6), os partidos receberam a cópia das diretrizes para elaboração do programa, com a recomendação de que encaminhassem até quinta-feira (9) suas sugestões de emendas.

Em grupos de WhatsApp, integrantes do PSB enfatizaram, segundo relatos, a ausência das contribuições da chamada "autorreforma" do partido, incluindo a implementação de um plano nacional de desenvolvimento. Aliados deduzem que a exclusão da proposta se deva ao fato de o termo ser repetidamente defendido pelo adversário do PDT, Ciro Gomes.

Segundo representantes de partidos que integram a coordenação do programa de governo, o PSB tinha sugerido, durante o debate, a inclusão dessas propostas, mas elas foram desconsideradas. Na troca de mensagens, integrantes da coordenação reclamaram de não terem sido consultados sobre a redação final antes do encaminhamento aos partidos.

Procurado para se manifestar sobre o conteúdo, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou: "Penso que é cedo para comentar sobre esse tema sem qualquer discussão com o PT e os demais partidos". O presidente nacional do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), afirmou ser prematuro comentar um documento sem que tenha sido submetido aos partidos. Ele ressaltou ainda que a ideia de revogação da reforma trabalhista já tinha sido descartada, mas acabou incorporada ao texto."Comentar sobre um esboço não é fácil. Porque não tem nada aprovado. Os presidentes dos partidos não bateram martelo", afirmou.

O presidente do PV, José Luiz Penna, disse que o partido se sente contemplado pela defesa da transição ecológica e energética, da proteção dos biomas e o compromisso no combate às mudanças climáticas. Ele ressalvou que a elaboração do programa é um processo em andamento. E disse: "Se for incluir todas as propostas, vira a Bíblia".

Representantes dos partidos afirmam que é preciso discutir e aprofundar temas. Mesmo os críticos da redação dessas diretrizes reconhecem que o debate ainda será aberto, em plataforma, a contribuições de entidades e movimentos sociais. Lembram ainda que existe uma orientação para que o documento seja enxuto, para que seja exequível e evite-se, com isso, uma enxurrada de contestações, a exemplo do que aconteceu com o extenso programa apresentado por Marina Silva, hoje na Rede.

Coordenador da equipe de programa de governo, o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) tem dito que o texto traduz uma preocupação legítima dos aliados para que ele não engesse o debate e permita ampliações. Juliano Medeiros, presidente do PSOL, disse que a avaliação da sigla é "positiva" sobre o documento divulgado, mas que ainda é preciso avançar e aprofundar alguns temas citados do documento, como a crise climática e a reforma tributária. "Essas diretrizes são positivas e apontam para um freio em relação a esse programa de destruição do país que está sendo implementado desde o governo Temer. Mas são diretrizes, linhas gerais. Agora vamos propor sugestões", afirmou Medeiros.

O dirigente disse ainda que nem todos os pontos discutidos internamente no PSOL e levados ao PT antes de oficializar apoio ao nome de Lula foram contemplados —e que isso será levado ao debate. "Vamos resgatar esse pacto que foi feito."

Em fevereiro, o PSOL preparou uma agenda com 12 pontos a serem levados ao PT. Os três eixos programáticos eram a revogação do teto de gastos e de reformas promulgadas nos governos de Temer e Jair Bolsonaro; políticas ambientais e a implementação de uma reforma tributária.

Na área ambiental, por exemplo, o PSOL propôs o desmatamento zero, que não foi incluído na prévia do PT.  Para Medeiros, não há limite de tamanho que um programa partidário deve ter. "É totalmente irrelevante se ele terá 10 ou 100 páginas. O programa tem que expressar nossas posições. Temos que defender nossas ideias para ir para a disputa de ideias na sociedade. É para isso que serve um programa", disse.

[o melhor para o Brasil é que os aliados que formam essa corja estão se desentendendo tão bem, que o descondenado petista - não inocentado - desiste da candidatura antes do primeiro turno.]

Representantes dos partidos aliados que integram grupo de trabalho para tratar do programa de governo deverão se reunir ainda nesta semana para discutir novas sugestões levadas por cada sigla. A presidente do PC do B, Luciana Santos, afirmou que a proposta preliminar "vai na direção correta", que ela contempla pontos estratégicos, como a geração de empregos e o enfrentamento à fome, e que "naturalmente", receberá contribuições da sociedade civil, dos movimentos sociais e entidades. "É um amplo e necessário movimento pela reconstrução do Brasil, com resgate da democracia, retomada do papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico, valorização do trabalho, geração de empregos e enfrentamento à fome", disse Luciana, em nota.

Ela afirmou ainda que a proposta expressa uma convergência entre os partidos da coligação em torno do "movimento necessário pela reconstrução do Brasil".

Poder - Folha de S. Paulo/UOL 


domingo, 29 de maio de 2022

A frase das frases da semana: “Não deixarei o Supremo isolado” - IDEIAS - Gazeta do Povo

Jones Rossi e Paulo Polzonoff Jr.

As frases da semana: “Não deixarei o Supremo isolado”
As frases da semana: “Não deixarei o Supremo isolado”

Foto: Agência Brasil

"Não deixarei o Supremo isolado" Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, em flagrante conluio com o poder que ele deveria fiscalizar. Sabe o que acontece com as ovelhas que acham que podem conviver com os lobos, né?

"O que a Bíblia diz sobre o aborto" Universa, cantinho ultraprogressista do UOL, recorrendo à exegese herege para justificar o assassinato de bebês. O texto começa sugerindo que a defesa da vida é coisa de “religiosos fundamentalistas”. Sente o nível!

“Quer baixar a inflação? Então garanta que as empresas mais ricas paguem seus impostos” – Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. Como assim Biden fez um intensivão com os economistas da Unicamp e ninguém nos avisa?

"Só um psicopata ou um imbecil para dizer que os movimentos de 7 de Setembro e 1º de Maio atentam contra a democracia. Quem diz isso é um psicopata ou imbecil" Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, sobre a fala tresloucada de seu arqui-inimigo Alexandre de Moraes, o ministro do STF que confunde toda e qualquer crítica a ele com "atos antidemocráticos".

"Na data comemorativa da abolição da escravatura é oportuno relembrar as dívidas históricas com a população negra e a importância de enfrentar o racismo estrutural que nos diminui a todos." Luis Roberto Barroso, ministro do STF, usando todos os clichês possíveis em sua incansável militância progressista dentro da Suprema Corte.  Resta saber se ele vai pagar nossa parte nessa dívida histórica por TED ou Pix.

"Metáfora de macho adulto branco sempre no comando" – Jean Wyllys, tomando as dores do parça Gregório Duvivier na treta com Ciro Gomes, que cometeu o pecado de chamar o comediante (cof! cof!) para um debate com (atenção!) “paridade de armas".

"Empresas precisam de capital para o seu desenvolvimento. Precisamos de tecnologia, precisamos de novos mercados e iremos avançar" – Nicolas Maduro, ditador, ao anunciar a venda de ações de estatais venezuelanas. Fontes anônimas registraram choro e ranger de dentes na sede do PSOL após esta notícia.

"Mas ela é artista?"
– Samantha Schmutz, incontestavelmente artista (tive que procurar quem ela é no Google para não errar o nome), questionando os dons... artísticos de Juliette, só porque a ex-BBB (ainda) não faz parte da panelinha.

“Fãs brancos se divertem com atletas negros um dia depois de um racista matar negros em Buffalo – eis o supremacismo branco” - Deadspin, blog esportivo americano. A gente até tinha pensado num comentário legal, mas acabamos nos distraindo com mais uma cesta de 3 pontos de pontos do Stephen Curry. Desculpe.

"Eu certamente deixarei a Suprema Corte quando fizer u trabalho tão porcamente quanto você faz o seu" – Clarence Thomas, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, para um jornalista. Apesar da frase, tanto o juiz quanto o jornalista e a plateia riram do chiste.

“Quadro da independência serviu aos militares” – Lilia Schwarcz, historiadora que curte destruir obras históricas por conveniência política. Aliás, como é que alguém que adora ostentar títulos acadêmicos se escandaliza com o uso político circunstancial de uma obra de arte? Escândalo seria se os militares se inspirassem em Francis Bacon.

"Vereador de Curitiba está sendo cassado por suas virtudes e não por seus defeitos" –
Julio Lancelotti, padre de passeata (para usar a expressão criada por Nelson Rodrigues), passando pano para o vereador e enfant terrible Renato de Freitas, que gosta de passar os domingos invadindo igrejas e atrapalhando Missas para fazer manifestações blasfemas. É mais fácil avistar o chupa-cabra do que encontrar virtude nas ações do futuro ex-vereador.

"É muito 'disgusting' ter que passar, de novo, por isso que nós estamos passando" – Marco Aurélio, diretor de teatro, recorrendo ao inglês para expressar seu nojinho pelo governo e, assim, pagar o devido pedágio à turma que supostamente compra ingresso para ver suas peças de teatro. Awful.

“Um amigo do futuro, jornalista, me enviou matérias de janeiro de 2023. Adianto algumas : inflação, desemprego, alta do dólar, culpa de Lula. Gasto de bolsonaro no cartão corporativo, foi Lula. Uma nova variante da Covid, a PTrômico: saiu da barba de Lula, e 2 pedalinhos da Ferrari que Lula já comprou!” Juninho Pernambucano, ex-jogador de futebol, craque incontestável em campo, mas um pereba irredimível com as palavras, apelando antecipadamente para a vitimização diante dos fracassos de um terceiro mandato de Lula (toc, toc, toc).

"O casamento hoje de Lula e Janja, conforme o convite, começa às 19h. (...) Que tal fazermos aqui, juntos, nesse exato horário um brinde aos recém-casados?" – Hildegard Angel, colunista social, encontrando uma justificativa mais ou menos plausível para se empanturrar de espumante em plena quarta-feira.

“Deixem Lula se casar em paz” – Mariliz Pereira Jorge, a mais histriônica das jornalistas antibolsonaristas, engolindo o ciúme de Janja.

"Sim" - Lula, ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado, em sua luxuosa festa de casamento. Supõe-se que a noiva também tenha dito "sim".

“A decisão individual de dar início a uma invasão brutal e sem justificativa ao Iraque. Digo, à Ucrânia..." –
George W. Bush, ex-presidente dos Estados Unidos, num ato falho espetacular.

"Moças. Machexplicação é uma corruptela de ‘macho’ e ‘explicação’" – Elon Musk, bilionário e dublê de comediante, testando o nível de liberdade de expressão do Twitter.

“Elon Musk no Brasil, em encontro secreto com o Presidente Miliciano, na véspera das eleições, só pode significar uma coisa: GOLPE DE ESTADO”
– Leonel Radde, vereador em Porto Alegre (PT), e que se define como "Policial Civil Antifascista, Aikidoka, vegetariano e Zen Budista". A declaração foi feita na rede social golpista Twitter.

#MEMÓRIA

Ostentação deveria ser crime previsto no Código Penal – Leonardo Sakamoto, jornalista, numa grande sakada do Saka, saka? Será que ele foi convidado para o casamento de Lula?

Ideias - Gazeta do Povo

 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Uma piada de campanha - O Estado de S. Paulo

Está disponível na praça, já à disposição do público em geral, a última lenda da campanha eleitoral deste ano: o ex-presidente Lula é, neste momento, um candidato moderado. Essa bobagem é apresentada em várias embalagens. Lula inclinou-se para “o centro”, diz uma delas. Lula “mudou o discurso”, diz outra. Lula está empenhado em atrair apoios entre as forças “conservadoras”, diz mais uma.

A prova disso, pelo que foi dito, é que no lançamento de sua chapa para a Presidência ele leu o discurso, em vez de falar o que lhe vem na cabeça - um monótono calhamaço sem cor, sem sabor e sem cheiro, e sem uma única palavra escrita por ele, Lula. Com isso, evitou cometer “deslizes” - que é como os gestores da sua campanha chamam as repetidas barbaridades que desandou a dizer nas últimas semanas.

A ficção que se quer vender, em suma, é que Lula está virando um Geraldo Alckmin - que o acusava ainda há pouco de querer voltar “ao local do crime” e agora estaria sendo uma espécie de grilo falante que mantém o chefe nos caminhos da virtude. É uma piada, claro; é mais fácil o camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que Lula fazer alguma coisa que Alckmin lhe peça. Mas essa invenção está sendo apresentada a sério, como sinal de que o ex-presidente não é mais o mesmo.

Como fica, então? Lula vai passar o resto da campanha lendo discursos escritos por outros? 

Vai trocar de personalidade, de estilo e de vícios? 
Vai ficar fingindo que respeita ou que ouve Alckmin, na esperança de que o ex-governador lhe traga algum voto “da direita”? (Nas últimas eleições Alckmin teve 4% dos votos.) É uma equação difícil.

Os devotos da sua candidatura sonham com um Lula no papel do bom vovô, sorridente e amigo das crianças, afável com todo mundo, pronto a “negociar” tudo, defensor número 1 das soluções sensatas - em suma, o homem que condena os extremos e só pensa na paz de que “o Brasil tanto precisa”. Mas para isso ele não pode mais ser o Lula da vida real - e esse, infelizmente para os crentes na “moderação”, é o único Lula que existe.

J. R. Guzzo, colunista -  O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 28 de abril de 2022

Para não dizer que não falei das flores - Evaristo de Miranda

O Brasil produz 15.000 hectares de flores, o que representa  8% da produção mundial

A capacidade de sedução das flores é fundamental para a reprodução e a sobrevivência da planta. As flores são belas e perfumadas para seduzir seus polinizadores: insetos, aves e morcegos. Até os humanos são atraídos pelo perfume e pela beleza das flores, capazes de um verdadeiro encantamento. Eles seguiram o exemplo dos vegetais. Em sinal de afeto, amor e paixão, oferecem flores. Para seduzir, perfumam-se com fragrâncias e aromas retirados das flores.

Campo de calêndulas | Foto: Shutterstock

Diversos papiros do Egito antigo atestam a fabricação de perfumes e unguentos aromáticos a partir de lírios e várias flores. São muitas menções a perfumes na Bíblia. É emblemático o gesto da mulher rompendo um vaso de alabastro, repleto de perfume de nardo, lá das proximidades do Himalaia, e derramando-o sobre Jesus, ungindo-o da cabeça aos pés (Mt 26,7).

Maria Madalena derramou um frasco de alabastro, repleto de perfume de nardo, nos pés de Jesus Cristo | Foto: Reprodução

No passado, os perfumes eram extraídos de rosas, jasmins, lírios, laranjeiras e outras flores através do vapor, da fumaça. Daí a origem latina da palavra: per fumum, “pelo fumo”, pela fumaça, pelo vapor. E por meio de borrifadas vaporizadas, per fumum, as fragrâncias ainda se espalham no corpo humano e no ambiente.

O Livro da Química de Perfumes e Destilados, escrito pelo químico árabe Alquindi no século 9, apresenta centenas de receitas de óleos de fragrâncias, águas aromáticas ou imitações para drogas caras, além de mais de uma centena de métodos e receitas para a perfumaria. Essa presença árabe segue no nome de instrumentos da produção de perfumes, como alambique. No século 10, o médico e químico persa Avicena sistematizou a extração de óleos de flores pela destilação. Seus ingredientes e sua tecnologia da destilação marcaram a perfumaria ocidental até hoje.

A produção de flores é uma das obras-primas praticadas por pequenos agricultores. No Censo Agropecuário do IBGE de 2017, dos 5 milhões de estabelecimentos agropecuários recenseados no Brasil, 12.000 declaram ser floricultores lato sensu (flores, folhagens, mudas, sementes…), presentes em quase metade dos municípios brasileiros (mapa 1). Parte significativa desses floricultores possui uma organização empresarial e tecnológica avançada e intensiva. Atividade competitiva, nessa floricultura moderna estão mais de 8.000 floricultores profissionais. Seus cultivos têm área média de 1,5 hectare, segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura. A área total da floricultura ultrapassa 15.000 hectares. Parece pouco, comparado à de soja ou milho. Não é. A área mundial é da ordem de 190.000 hectares. A brasileira representa cerca de 8%.

Além desse grupo, existe uma fração de floricultores, de 3.000 a 4.000, em escala muito local, menos integrada aos mercados. Segundo pesquisa da Embrapa Territorial, em janeiro de 2022, dos pequenos agricultores com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), 3.152 declararam-se produtores de flores, além de outras atividades, com expressiva presença no Nordeste e até na Amazônia (mapa 2).

No Brasil, aproximadamente 9% das flores e plantas são cultivadas em estufas, 3% sob telados ou sombrite e 88% em campo aberto ou ao ar livre. Das 350 espécies e suas 3.000 cultivares, nativas e exóticas, 30% são flores e folhagens de corte, 39% são plantas e flores de vaso e 31% plantas ornamentais e para paisagismo.

Intensiva em capital e mão de obra, a floricultura emprega, em média, 3,8 trabalhadores por hectare. A cadeia de produção e comercialização envolve diretamente 200.000 pessoas: 50% nas propriedades, 40% no varejo, 4% na distribuição e o restante em atividades complementares. Nas pequenas propriedades, apenas 20% da mão de obra é familiar, os outros 80% são contratados. Boa parte da mão de obra é feminina. As mulheres demonstram maior destreza, habilidade e cuidado no manuseio de flores e plantas. Floriculturas vendem beleza e embelezamento, associados à presença de mulheres nos pontos de venda.

A Lei de Proteção de Cultivares, de 1997, viabilizou a entrada no mercado brasileiro de novos cultivares e lotou as prateleiras de floriculturas e pontos de venda com uma gama ampla de cores e formatos até então desconhecidos dos brasileiros, aumentando a oferta e a diversidade.

O valor bruto da produção passou de R$ 0,3 bilhão, em 2004, para R$ 11 bilhões, em 2021. São Paulo responde por praticamente 70% desse valor. O consumo de flores cresceu, no mesmo período, de R$ 15/habitante/ano para cerca de R$ 65 (US$ 12), ainda muito aquém do consumo na Suíça (US$ 174), na Alemanha (US$ 98), na França (US$ 69) e nos EUA (US$ 58).

O faturamento do setor cresce entre 12% e 15% anualmente. São cerca de 600 empresas atacadistas no mercado de flores e mais de 25.000 pontos de venda. Mais da metade do consumo se concentra no Estado de São Paulo e 85% no Sudeste. O mercado nacional absorve 97,5% da produção. Só uma pequena porcentagem é destinada à exportação. Os principais polos de produção estão no Estado de São Paulo, em Arujá, Atibaia, Holambra e Ibiúna. Outros em Andradas, Barbacena, Munhoz (MG); Nova Friburgo, Petrópolis, Serra da Mantiqueira (RJ); Vale do Caí (RS); Joinville (SC); e Serra da Ibiapaba (CE). Flores e folhagens tropicais são produzidas em localidades no litoral do Nordeste (AL, PE, RN e BA).

Ambiente de trabalho ornado com flores não é mais exclusividade de mulheres. Homens presenteiam e são presenteados com flores

A floricultura sofreu com os lockdowns no início da pandemia: cancelamento de festas, casamentos, batizados, bodas e outros eventos. Houve queda brutal na demanda por decoração com flores de corte (rosas, crisântemos, astromélias, lírios…). O tratamento do consumo de flores como algo supérfluo no início da pandemia foi revertido graças a campanhas intensas dos produtores, sobretudo no varejo, em supermercados e floriculturas.

Pessoas em home office, confinadas, buscaram maior reconexão com a natureza. Os floristas propuseram opções: da decoração com flores e até no cultivo limitado de plantas ornamentais, para tornar o ambiente de trabalho mais prazeroso e dar maior aconchego e bem-estar às casas. Durante o isolamento, a jardinagem passou a ser praticada nas casas e se tornou um hobby de muitos brasileiros. Isso ampliou e diversificou a demanda. E exigiu novas soluções em buquês, ramalhetes e plantas, além do comércio de vasos, ferramentas, pequenos sistemas de irrigação, estufas e outros. Flores de vaso, orquídeas, suculentas, cactos, antúrios e até bonsais ampliaram as vendas.

Jardinagem e plantas para decoração ajudaram no crescimento do mercado de flores entre 2020 e 2021. E, mesmo com o recuo da covid, jardins e ambientes com flores ainda se mantêm. Somaram-se a essa demanda, novos hábitos. Ambiente de trabalho ornado com flores não é mais exclusividade de mulheres. Homens presenteiam e são presenteados com flores.

A floricultura e os floristas investiram e inovaram em comunicação e comércio digital. Criaram sites, ampliaram sua inserção em redes sociais, telemarketing e aperfeiçoaram os serviços de delivery. Cresceu a venda no varejo. Floristas já eram pioneiros em entrega de flores em domicílio, mesmo à distância. Agora, ganharam uma escala maior e mais sofisticada.

Após as perdas, as vendas de 2021 superaram as de 2020 e, em alguns segmentos, até de anos anteriores. A demanda cresceu. Maio é um mês das flores, com o Dia das Mães. Junho também, com o Dia dos Namorados. As duas festas somam quase 40% das vendas ao longo do ano. Aqui, o Dia dos Namorados é na véspera da festa de Santo Antônio, e não no dia de São Valentino.

Associar flores, namorados e Santo Antônio é natural. Ele foi um pregador culto e apaixonado, com grande devoção aos pobres. Veneradíssimo no Brasil como o santo dos amores e dos casamentos, ele abre o ciclo das festas juninas. Ao tornar-se monge, ele adotou o nome Antônio ou “flor nova”, anto nous: do grego ánthos “rebento, broto, flor”, presente em antúrio, e da expressão latina novus “novo”. Antônio foi mesmo uma nova floração para o Cristianismo na Europa e um expoente da Ordem dos Franciscanos.

Flores decoram imagem de um santo católico
Flores decoram imagem de Santo Antônio | Foto: Reprodução

Na floricultura, todo dia se planta e se colhe. A busca da perfeição é absoluta. Não pode haver defeito ou mancha nas flores. Se não, são descartadas. Esse perfeccionismo é associado à sustentabilidade. Nas estufas, se a temperatura sobe demais, o floricultor a resfria, e vice-versa. A água gerada pelos sistemas de refrigeração ou das chuvas é recuperada e utilizada na produção. Cada vez gasta-se menos água por vaso produzido, graças à eficiência dos sistemas de irrigação, à gestão dos melhores horários para irrigar etc. O setor investe muito em energia solar. Teme falta de energia ou um fornecimento de má qualidade, capaz de comprometer seus equipamentos sofisticados.

Em São Paulo, a Feira Internacional de Paisagismo, Jardinagem, Lazer e Floricultura reúne mais de 200 expositores nacionais e internacionais. Outros cartões-postais da floricultura são a Expoflora, em Holambra (SP), e a Festa das Flores de Joinville (SC). Esses eventos técnicos e turísticos reúnem milhares de produtores, fornecedores de equipamentos, insumos e centenas de milhares de visitantes. Como as feiras agropecuárias e as de peão, as festas das flores são vitrines para o consumidor urbano da potencialidade da agropecuária e dos pequenos agricultores tecnificados.

Uma frase conhecida dos floristas foi adotada por muitos. As flores transformam uma casa em lar. Vale para o agro e para o país.

Flor Pink Rose, em Holambra | Foto: Tamy Atamay/Shutterstock

Leia também “O Brasil não precisa importar trigo”

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 18 de março de 2022

'Vamos cumprir nossos planos', diz Putin em ato pró-guerra organizado pelo governo em estádio de Moscou - O Globo e agências internacionais

 Embora nem todos os olhos sejam azuis, todo sangue é vermelho.

Diante de dezenas de milhares de pessoas, presidente russo exalta 'operação especial' na Ucrânia

O presidente russo, Vladimir Putin, exalta 'operação especial' na Ucrânia diante de estádio lotado em Moscou Foto: HOST PHOTO AGENCY / via REUTERS
O presidente russo, Vladimir Putin, exalta 'operação especial' na Ucrânia diante de estádio lotado em Moscou Foto: HOST PHOTO AGENCY / via REUTERS

No front: Rússia ataca alvos em Lviv, perto da fronteira com a Polônia, e gera temor de que conflito se espalhe para Oeste da Ucrânia

Na noite de quarta, o presidente russo havia feito um discurso em que chamou de "escória" e "traidores" os russos que se opõem à guerra e afirmou que eles "cuspidos como moscas" que entram acidentalmente na boca de uma pessoa.

O palco onde Putin falou estava decorado com slogans "Por um mundo sem nazismo"  — o presidente russo vem batendo na tecla de que o atual governo ucraniano tem a participação de elementos neonazistas, e que parte do que considera ser sua missão na Ucrânia é a "desnazificação" de Kiev. Na plateia, pessoas exibiam a letra Z, que passou a ser estampada em equipamentos das Forças Armadas russas e virou símbolo dos apoiadores da guerra. Do lado de fora do estádio, ambulantes distribuíam cachorro-quente de graça.

No discurso, em tom triunfalista, Putin disse ter salvado a Crimeia da "degradação e do abandono" e que a população da península, que havia sido cedida à Ucrânia no período soviético, "impôs um obstáculo ao nacionalismo e ao nazismo que continuam existindo em Donbass", região de maioria étnica russa no Leste da Ucrânia onde separatistas pró-Moscou combatem o Exército ucraniano..

Veja também: Gerações diferentes de uma mesma família narram sua experiência com os conflitos que atingiram a Ucrânia no último século

Ele justificou a guerra falando do conflito separatista: — Foram vítimas de ataques aéreos [em Donbass], e nós chamamos isso de genocídio. Evitar isso é o objetivo da nossa operação militar — acrescentou o presidente, em referência à invasão. — Estamos salvando a Ucrânia de todo o sofrimento.

Durante o discurso, a transmissão na TV pública russa Rossiya-24 foi interrompida e o presidente desapareceu repentinamente enquanto elogiava o heroísmo dos soldados russos. O canal começou a mostrar outros momentos do mesmo evento, discursos oficiais e canções populares. Quinze minutos depois, a emissora retomou a transmissão da intervenção do presidente russo com "delay".

Ataque com seis mísseis de cruzeiro provavelmente veio do Mar Negro
Ataque com seis mísseis de cruzeiro provavelmente veio do Mar Negro

Citado pela agência de notícias RIA, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que uma falha no servidor causou a interrupção. Mais tarde, foi ao ar o discurso completo, que terminou alguns segundos após o corte com Putin deixando o palco, bastante aplaudido.

Kremlin, bancos e empresas aéreas: Sites do governo russo são alvos de ciberataques 'sem precedentes'

Antes do discurso, o hino nacional da Rússia ecoou nas arquibancadas do estádio, usado na Copa do Mundo de 2018, juntamente com sucessos pop mais modernos. A cantora russa Polina Gagarina, que concorreu ao festival Eurovision, cantou Cuckoo, da banda de rock soviética Kino. Apos a invasão da Ucrânia, a Rússia foi banida da competição.

Outra estrela pop russa, Oleg Gazmanov, cantou uma música sobre oficiais do Exército russo. Também foi lida a poesia pan-eslava de Fyodor Tyutchev, cujos versos alertam os russos de que "sempre seriam considerados escravos do Iluminismo pelos europeus".

Max Seddon, jornalista do Financial Times em Moscou, disse no Twitter ter ouvido muitos relatos de funcionários do governo sendo levados de ônibus ao ato. — Eles nos colocaram em um ônibus e nos trouxeram até aqui — contou uma mulher ao canal independente Sota.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Por que a extrema-esquerda ataca o catolicismo - Ideias

Queima de igrejas e invasão de missas: por que a esquerda ataca o catolicismo

A extrema-esquerda anda em pé de guerra com a Igreja Católica na América Latina. Na última semana, a invasão liderada pelo vereador Renato Freitas, do Partido dos Trabalhadores (PT), à Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Curitiba, chocou os fiéis e os espectadores que tiveram acesso às imagens.



Paróquia da Assunção, em Santiago, no Chile, em outubro de 2020. Manifestantes de esquerda invadiram, vandalizaram e roubaram a igreja.| Foto: EFE

O episódio de repercussão nacional, que foi solenemente ignorado pelo maior nome do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, remete a outros ocorridos no continente nos últimos quatro anos: no dia 1º de maio de 2019, um grupo da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) invadiu uma igreja dedicada à Nossa Senhora de Fátima na cidade de San Cristóbal, Venezuela, lançando bombas de gás lacrimogênio durante uma missa cheia de idosos.

Já o mês de outubro de 2020 foi marcado pela destruição de duas igrejas em Santiago, no Chile - a igreja de São Francisco de Borja e a paróquia da Assunção -, com direito a publicação de fotos nas redes sociais dos agressores ao lado de imagens religiosas destruídas.

Em 31 de agosto do ano passado, manifestantes picharam a catedral de Buenos Aires, na Argentina, com frases contra a Igreja, contra o clero e contra a Bíblia. No mês de novembro, apoiadores do regime cubano fizeram um ato de repúdio em frente à cúria de Camaguey. O Partido Comunista ameaçou um sacerdote de ir para a cadeia caso ele participasse das manifestações contra a ditadura que estavam previstas.

Condenações mútuas
A relação da Igreja Católica com a esquerda, contudo, nunca foi linear – especialmente na América Latina. Da parte do Vaticano, convém recordar as reiteradas e veementes condenações ao comunismo por parte dos papas dos últimos séculos, que remontam desde os tempos de Karl Marx: em 1846, na encíclica Qui Pluribus, o Papa Pio IX se referiu à "nefanda doutrina do comunismo, contrária ao direito natural, que, uma vez admitida, lança por terra os direitos de todos, a propriedade e até mesmo a sociedade humana".

Já na Quod Apostolici Muneris, de 1878, Leão XIII alertou contra “as facções dos que, sob diversas e quase bárbaras designações, chamam-se socialistas, comunistas ou niilistas", que "marchando aberta e confiadamente à luz do dia, ousam levar a cabo o que há muito tempo vêm maquinando: a derrocada de toda a sociedade civil”.

Finalmente, em 1891, pelas mãos de Leão XIII, a Igreja recebe a Rerum Renovarum: o texto fundacional do que viria se tornar a Doutrina Social da Igreja Católica. Depois de condenar a ganância que leva ao acúmulo desmedido de bens materiais e às injustiças sociais, o pontífice determina, contudo, que o "erro capital" no marxismo é "crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado". "Isto é uma aberração tal que é necessário colocar a verdade numa doutrina contrariamente oposta”, explica.

Meio século depois, em 1931, o Papa Pio XI reforçou que "ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista”. Em 1937, classificaria a Revolução Russa como um "horrendo flagelo" e o comunismo como um "sistema cheio de erros e sofismas".

A esquerda que emergiu das revoluções do século XX também demonstrava suas opiniões sobre o cristianismo. Estima-se que cerca de 1900 sacerdotes católicos tenham sido mortos pelas ditaduras de Lênin e Stálin, de acordo com um levantamento feito pela Administração Apostólica para Católicos da Rússia do Norte da Europa. Antes que Stálin decidisse "tolerar" a Igreja Ortodoxa Russa (depois de perceber que perdia apoio entre seus fiéis), o sanguinário ditador jogou o cristianismo na clandestinidade: durante os expurgos da década de 1930, pelo menos 100 mil pessoas foram condenadas e executadas por manterem alguma relação com a Igreja.

Décadas depois, Mao Tsé Tung não ficaria atrás. Com sua "Decisão sobre a Grande Revolução Cultural Proletária", publicada em 1966 pelo Partido Comunista, declarou seus objetivos de exterminar a educação e a religião. Como consequência, igrejas foram fechadas, demolidas ou vandalizadas e as práticas religiosas foram proibidas. Na mesma década, na América Latina, o guerrilheiro Ernesto Che Guevara proferiria sua famosa frase: “Asseguro a vocês que se Cristo cruzasse meu caminho eu faria o mesmo que Nietzsche: não hesitaria em esmagá-lo como um verme”.

João Paulo II
Se, de um lado, o século XX viu surgir o comunismo soviético, declaradamente anticatólico, e seus desmembramentos ao redor do mundo, do outro, também foi terreno de complexas batalhas entre religião e ideologia. A eleição de Karol Wojtyla, o Papa João Paulo II, para o cargo de chefe da Igreja Católica, em 1978, marcaria o início de uma nova fase de embates. Nascido na Polônia comandada por Moscou, João Paulo II sabia o que significava crescer em um país onde estudar para ser padre era um ato subversivo por si só.

Não à toa, seu pontificado foi marcado por duras críticas à União Soviética e ao comunismo, que ele entendia como um “mal espiritual”, mais do que econômico, e combateu com discursos e atos. É conhecido o fato de que Wojtyla e o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, formariam uma das maiores alianças de todos os tempos, a ponto de trocarem informações essenciais para o combate ao bloco soviético.

Seria, contudo, durante o pontificado de João Paulo II que a Teologia da Libertação ganharia força precisamente no continente latino-americano. Fundada em 1968 com a Conferência de Medellín, em uma década o movimento encabeçado pelo sacerdote peruano Gustavo Gutierrez e pelo então frei franciscano Leonardo Boff, do Brasil, entre outros, chegaria às mãos da Congregação Para a Doutrina da Fé, para que seus documentos e ideais fossem julgados de acordo com a doutrina católica.

O resto é história: o prefeito da Congregação, o então cardeal Joseph Ratzinger, que acompanhava atentamente a ação dos revolucionários de esquerda, determinou o rechaço à Teologia da Libertação e deu ordem de silêncio a Leonardo Boff.

Como aponta seu biógrafo, Elio Guerriero, Ratzinger não apenas “via que a teologia da libertação não era, em hipótese alguma, um pensamento nascido do grito de injustiça do povo latino-americano; pelo contrário, considerava-o um pensamento criado em laboratório nas universidades alemãs ou americanas”. Sua posição seria endossada por João Paulo II, que faria questão de sublinhar a importância da “opção preferencial pelos pobres” proposta pelo movimento, sem cair nas esparrelas revolucionárias e materialistas.

Nada disso impediria que a Teologia da Libertação ganhasse espaço - e muito – na América Latina. Há que se lembrar que as décadas de 1970 e 1980 foram marcadas pelo auge da ditadura militar no Brasil. Foi neste período que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) deu cobertura institucional às chamadas comunidades eclesiais de base (CEBs), de onde nasceria o Partido dos Trabalhadores.

De sua parte, João Paulo II tentava estabelecer uma relação diplomática, mesmo com a esquerda latino-americana. Embora tenha se tornado persona non grata na União Soviética, condição que só mudaria após a ascensão de Mikhail Gorbachev, o papa fez história ao visitar o líder revolucionário Fidel Castro, com quem teria estabelecido uma relação respeitosa, a ponto de convencê-lo a permitir que o povo cubano voltasse a celebrar as festas cristãs. Posteriormente, Bento XVI e Francisco também seriam recebidos pelo ditador – ambos com claras mensagens contra o regime. “Não se serve a ideologias, se serve a pessoas”, disse Francisco, em plena Plaza de la Revolución, em 2015.
Diplomacia: em 21 de janeiro de 1998, o papa João Paulo II foi à Cuba encontrar-se com o ditador Fidel Castro. Os cubanos foram autorizados a celebrar festas cristãs depois da visita (Poucos anos depois da fala, os ataques da extrema-esquerda às igrejas católicas se multiplicam pelo continente, ainda que a relação continue a ser complexa). O próprio Dom José Antônio Peruzzo, Arcebispo de Curitiba, que assina a nota de repúdio contra a invasão protagonizada pelo vereador do PT:  "A posição da Arquidiocese de Curitiba é de repúdio ante a profanação injuriosa. Também a Lei e a livre cidadania foram agredidas. Por outro lado, não se quer 'politizar', 'partidarizar' ou exacerbar as reações. Os confrontos não são pacificadores. O que se quer agora é salvaguardar a dignidade da maravilhosa, e também dolorosa, história daquele Templo”, diz a nota da Arquidiocese.

Há algumas hipóteses que ajudam a explicar os ataques. À época dos atos de vandalismo no Chile, houve quem relacionasse a destruição dos templos à relação da Igreja Católica com a ditadura de Augusto Pinochet. Nada justifica, contudo, os dizeres “muerte al Nazareno” na fachada de uma delas. Ocorre que é preciso levar em conta, também, que a esquerda mudou muito nas últimas décadas, abandonando o perfil sindical que outrora aliou-se à Igreja na formação das CEBs e cujas pautas eram estritamente ligadas à economia, e angariando apoiadores entre uma elite escolarizada e, sobretudo, secularizada, que não nutre qualquer afeição pelos símbolos religiosos associados aos novos demônios do “patriarcado” e do “racismo estrutural”.

A entrevista dada por Renato Freitas (PT) ao jornal O Estado de S. Paulo é, inclusive, um retrato fidedigno desse descolamento: “É muito contraditório: a gente construiu um espaço que, no final das contas, é gerido por um padre branco, de olhos azuis, descendente de europeus, que o ocupa sem a consciência do que aquilo de fato representa”, afirmou o parlamentar. Contanto que se questionem as “estruturas” com base em realidades materiais escolhidas arbitrariamente - como se o fato de o celebrante ser um homem branco de olhos azuis justificasse o desrespeito ao próprio sacerdote e todos os fiéis -, o senso de “sagrado” pode ser solapado. Como bem diagnosticou o papa polonês elevado aos altares católicos: trata-se de uma doença do espírito.

Maria Clara Vieira, colunista - Gazeta do Povo - IDEIAS