Confirmou-se que o primeiro turno das eleições municipais
trouxe a capilarização dos partidos da base do governo, e que por isso tinham,
e aproveitaram melhor, o acesso ao orçamento federal. Viu-se também um certo
movimento de continuidade, natural e esperado em meio a uma pandemia. Notou-se
ainda a resiliência da esquerda, fenômeno facilmente detectável na manutenção
dos votos para vereador e na votação significativa nos grandes centros.
O debate agora é sobre o que o resultado de 2020
projeta para
2022. Com os necessários cuidados, pois não há transposições mecânicas. E
falta muito tempo político. Feitas as ressalvas, a dúvida que fica é
sobre os possíveis blocos e alinhamentos. E para
esse debate é útil a observação do que vai se dar no segundo turno,
daqui a
uma semana. Pois ficará claro o estágio atual da disposição dos diversos
atores
para alianças e formação de coalizões. Informação essencial para definir
a
tática.
Já está explícito, por exemplo, que mesmo as frações mais
resistentes a alianças e frentismos na esquerda estão dispostas a votar em qualquer
candidato não bolsonarista para derrotar o bolsonarismo. A opção do presidente
da República por manter o discurso e a prática alinhados ao que podemos chamar
de núcleo ideológico facilita um agrupamento quase automático de forças
contrárias quando só há duas opções.
Mas, atenção, desde que o adversário seja palatável aos que em
2018 votaram Bolsonaro ou se abstiveram, e agora procuram outro caminho. E se em 2022 o presidente for ao segundo turno
contra alguém
da esquerda? Neste momento, não é excessivo supor que ele deverá
arrastar de
volta pelo menos uma parte dos arrependidos. Ou será que não? Duas das
disputas
neste segundo turno são um termômetro para tirar a dúvida. Vitória (ES),
onde o PT está no segundo turno, e Belém, onde o adversário do
candidato
bolsonarista é do PSOL.
Em Fortaleza, o cirismo parece ter formado com facilidade a frente antibolsonarista.
Veremos o resultado na urna. Mas, e em Vitória e Belém, o autonomeado centrismo
ficará de que lado? De todo modo, 2022 projeta forte pulverização de
candidaturas majoritárias, pelos menos das forças com pouco acesso a
orçamentos
públicos. Porque o voto majoritário é uma ferramenta preciosa para puxar
o voto
proporcional, e não custa lembrar sempre que daqui a dois anos a
cláusula de desempenho na votação para a Câmara dos Deputados estará
colocada alguns
centímetros acima do que em 2018.
E a votação para deputado federal, além de definir se
o partido fica na Série A ou cai para a B, acaba também definindo quanto a
legenda terá de espaço no horário eleitoral e verba do fundo eleitoral em 2024 e 2026. Não é
pouca coisa em jogo.
Portanto, é ilusão imaginar alianças muito amplas
na
largada. Cada um precisará caminhar com suas próprias pernas. Talvez
haja
alguma convergência entre MDB, PSDB e Democratas, notam-se ensaios.
E entre as legendas do chamado centrão, estrito senso, e talvez em torno
do
presidente da República. O que dependerá, obviamente, da popularidade de
Jair Bolsonaro quando chegar a hora de tomar as decisões. [nós que queremos em 2022 a consolidação do melhor para o Brasil = reeleição do presidente Bolsonaro = precisamos focar em 2021 por uma melhora na economia ´- o bastante para asfixiar a turma do quando pior, melhor.
Apesar dos maus brasileiros que torcem por uma segunda onda, esqueçam o repique da covid-19, neste mês foi fruto de uma excessiva flexibilização no feriadão do inicio do mês e do represamentos de dados devido problemas com o sistema do Ministério da Saúde.]
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político