O Estado de S.Paulo
Quem está de olho na Amazônia e oferece ajuda para ter ‘retorno’? Só a Europa? Os EUA não?
Depois de isolar o Brasil do mundo desenvolvido, com sua retórica virulenta e desprezo à preservação do meio ambiente e às comunidades indígenas, o presidente Jair Bolsonaro tenta dar a volta por cima criando um cerco à França, uma das mais sólidas democracias do Ocidente. Já telefonou para os líderes dos EUA, Japão, Espanha e Alemanha e recebeu em Brasília o mediador do seu conflito com o mundo, o chileno Sebastián Piñera, mas, obviamente, sua maior investida e grande aposta é o ídolo da família, Donald Trump[todos sabem que de há muito, o mundo inteiro está de olho na Amazônia - não só na floresta, na tão decantada biodiversidade, mas, também e especialmente nas riquezas minerais - uma olhada no mapa das reservas indígenas se percebe uma certa ordenação geográfica que as deixa mais vulneráveis a incursões estrangeiras, pela proximidade com algumas fronteiras.
Que continuem de olho, só não entrem.]
Sem apoio dos EUA o G-7 não decide e não faz nada. Logo, Trump é meio
caminho andado para neutralizar Macron e, assim, Bolsonaro marcou um gol
quando as portas da Casa Branca se abriram para encontro fora da agenda
de Trump com o deputado Eduardo Bolsonaro, candidato a embaixador do
Brasil em Washington, e o chanceler Ernesto Araújo. O presidente americano é cabo eleitoral de Eduardo, depois de endossar o pedido de agrément de próprio punho. Ninguém confirma, nem desmente,
mas é razoável supor que Bolsonaro aproveitou o telefonema para Trump,
no pico das queimadas da Amazônia e da crise com o G-7, para pedir: “Ô,
Trump, recebe o garoto aí! Ele tá precisando de uma força pra passar lá
no Senado!”
A visita teve duplo objetivo. Dar uma forcinha para Eduardo, que
encontra forte resistência da opinião pública e dos senadores para um
salto tão absurdamente grande, e arrancar algum compromisso dos EUA em
relação à Amazônia, para efeitos políticos internos e externos. Que
compromisso? Dinheiro? Equipes? Equipamentos? Ou um chega pra lá público
em Macron? E a coisa não é assim tão simples, depois de Bolsonaro, o pai, ter
praticamente rechaçado R$ 300 milhões da Alemanha e da Noruega no Fundo
da Amazônia e feito exigências e insinuações para aceitar a “esmola” de
US$ 20 milhões (mais de R$ 80 milhões) dos europeus.
“Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda
alguém – a não ser uma pessoa pobre, né? – sem retorno? Quem é que está
de olho na Amazônia? O que eles querem lá?”, provocou o presidente
brasileiro. Será que Trump, e só Trump, ofereceria ajuda sem “retorno”?
Será que só os europeus estão sempre de olho na Amazônia? Os EUA nunca? O
que os americanos querem lá? Duas curiosidades: o americano deu longa entrevista a jornalistas após o
encontro com os brasileiros, mas não disse uma palavra sobre Eduardo,
Jair, Brasil, Amazônia. Só pensava, e falava, sobre o furacão Dorian. E
as fotos só saíram no dia seguinte.
Desse jeito, a seca vai passar, as queimadas vão apagar e nem o Brasil
destina parte dos milhões do fundo da Petrobrás, nem os europeus mandam
seus euros, nem Trump anuncia seus dólares para salvar as florestas,
enquanto Bolsonaro mantém, firme, o discurso da soberania e a tese de
que os europeus (só os europeus...) querem mesmo nos roubar a Amazônia. [todo ano ocorrem queimadas na Amazônia e vão continuar ocorrendo - época de seca torna mais fácil até a combustão espontânea;
este ano é que o presidente francês, precisando desesperadamente melhor usa imagem interna e externa - que vai piorar por esses dias com a volta dos 'coletes amarelos', tentou fazer um escândalo que foi respondido à altura pelo presidente do Brasil - JAIR BOLSONARO - (que só não foi 100% magnifico na resposta, por ter valorizado por demais o francês, dando atenção demasiada) que os inimigos do presidente e do Brasil, frustrados com o fracasso das divulgações do intercept = intercePTação - tentaram maximizar e conseguiram novo fracasso.]
As queimadas, aliás, começam a perder espaço para a economia, depois que
o risco de recessão técnica foi superado pelo crescimento de 0,4% no
último trimestre e a Pnad confirmou a tendência de recuperação de
empregos. Agora é monitorar a mais nova crise da Argentina e desfazer os
nós do Orçamento de 2020.
O dinheiro acabou, o setor público é o grande entrave para a recuperação
econômica e só há uma saída: assim como está aprendendo a negociar com
as grandes democracias, Bolsonaro vai ter de finalmente aprender a
negociar com o Congresso, por onde passeou por 28 anos.
Ou revisão do teto de gastos, ou fim da “regra de ouro” ou crédito
suplementar de R$ 367 bilhões. Senão, adeus investimentos e Bolsonaro
vai ter de cortar salário de servidor. Como? Só Deus sabe. Atirar em
Macron e fazer reverências a Trump não vão dar um jeito nisso.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo