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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

A tal cristofobia - Folha de S. Paulo

Opinião 

Perseguição a cristãos não é questão na América Latina, assombrada por populismo

Um grupelho de vândalos ateou fogo a duas igrejas católicas, no domingo (18), em Santiago do Chile, durante ato político pelo primeiro aniversário dos protestos contra a desigualdade. Embora as manifestações naquele país ao longo do último ano tenham sido marcadas por episódios de violência, a religião nunca fora um alvoAlheio a esse contexto, um destrambelhado presidente Jair Bolsonaro aproveitou o incidente para voltar a falar em cristofobia, como já fizera em seu discurso nas Nações Unidas no mês passado. Trata-se, obviamente, de mais uma bandeira destinada a inflamar um setor caro ao bolsonarismo. [é um absurdo que a perseguição aos cristãos, que começa com o incêndio de duas Igrejas Católicas, seja considerado apenas um incidente.

Foi um atentado terrorista à liberdade religiosa e precisa ser combatido com rigor, com o uso da força necessária - seja no Chile, em qualquer país das Américas, no mundo e especialmente no Brasil.

A Igreja Católica Apostólica Romana é uma seguidora e difusora da PAZ - mas os valores cristãos precisam ser preservados.

Vejam que os vândalos, os hereges, os ateus, os esquerdistas usamos mais insignificantes pretextos para atacarem objetivos de maior importância do que os que dizem estar comemorando.]

A perseguição a grupos cristãos é uma realidade em outras partes do mundo, mas não no Ocidente e, muito menos, na América Latina. Em países islâmicos, principalmente, mas também em partes da Ásia registra-se violência contra minorias cristãs. [No Brasil os cristãos, especialmente os da FÉ CATÓLICA, não são minoria.] Mais até, há um ambiente institucional contrário ao cristianismo —e, diga-se, a qualquer outra fé que busque converter adeptos do credo majoritário.

Nas sociedades que seguem a lei islâmica mais ao pé da letra, a apostasia —isto é, o abandono da fé por alguém  nascido em família muçulmana— é considerada um crime, punível com a morteO mesmo não se dá, entretanto, nesta parte do mundo, onde o cristianismo se mostra na prática soberano. Verdade que a proporção de católicos no continente caiu ao longo das últimas décadas; entretanto as igrejas que ganharam espaço no período também são de matriz cristã, mais especificamente evangélicas neopentecostais.

Há decerto alguma animosidade entre elas, que já foi até maior no passado. Hoje, católicos e evangélicos frequentemente se aliam em torno da pauta de costumes. Daí não decorre, obviamente, que inexista violência religiosa no Brasil. Seus níveis são, isso sim, relativamente baixos na comparação com os do restante do mundo, e as religiões de matriz africana constituem as vítimas preferenciais. Estas, segundo os registros de um serviço de denúncia de violações de direitos humanos, responderam por 30% das queixas de discriminação religiosa em 2018 —embora tenham peso de apenas 0,3% na demografia brasileira. A América Latina se vê hoje, portanto, poupada do pior em termos de violência religiosa. Em contrapartida, foi amaldiçoada com pragas como o populismo, do qual Bolsonaro é representante de elite. [irônico é que o tema é religioso, o presidente Bolsonaro sendo cristão - não seguidor da FÉ CATÓLICA - é criticado por apontar a cristofobia claramente demonstrada nos atentados contra os cristãos e seus valores.

A imprecisão na identificação de qual ramo evangélico o presidente é vinculado, se deve a existência de 'trocentas' denominações evangélicas.]

Opinião - Folha de S. Paulo


domingo, 22 de setembro de 2019

Os novos “cruzados” - Nas entrelinhas

Há que separar os setores tradicionais que sempre defenderam o caráter laico do Estado daqueles que ambicionam uma espécie de nova teocracia”


No contexto da participação do Brasil na cena internacional, cujo ponto crucial será o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no próximo dia 24 de setembro, um sinal preocupante foi a participação do governo brasileiro na Cúpula da Demografia, em Budapeste, na qual o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, sugeriu uma espécie de cruzada antiglobalização e em defesa do cristianismo mais conservador. O Brasil foi representado pela ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, que reiterou a disposição de o governo brasileiro liderar um bloco ultra-conservador na ONU. [O Brasil precisa acabar com a valorização sem motivo desse discurso de abertura da assembleia-geral da ONU. 
A ONU é o exemplo mais perfeito de ditadura da minoria.]

Como se sabe, as cruzadas foram movimentos militares que partiram da Europa Ocidental com objetivo de conquistar a Palestina e tomar Jerusalém, que estava sob controle dos turcos muçulmanos. Foram nove cruzadas, um movimento quase permanente, que mobilizou a nobreza, camponeses e desocupados por mais de 200 anos, e se transformou numa alternativa de ascensão política, econômica e social. Ironicamente, ajudaram a acabar com o isolamento das sociedades feudais e fortalecer o comércio entre Oriente e Ocidente, principalmente no mar Mediterrâneo.    Hoje, a expressão tem significado mais político e ideológico do que militar.

Em Portugal, que liderou uma das cruzadas, a morte do jovem rei Dom Sebastião, em 1578, na batalha de Alcácer-Quibir, deu origem ao sebastianismo, um movimento místico-secular que ocorreu durante a segunda metade do séc. XVI. Como não possuía herdeiros, o trono de Portugal ficou sob o manto do poderoso rei Filipe II, da Espanha. Criou-se uma lenda de que o Rei ainda estaria vivo, esperando o momento certo para retomar o trono e afastar o rei estrangeiro. O mito sebastianista nada mais é do que a esperança de chegada de um salvador, mesmo que fosse necessário um verdadeiro milagre, como a ressurreição do rei morto, D. Sebastião, o Desejado.

No Brasil, o sebastianismo popular se manifestou na crença de chegada de um “rei bom” e até hoje está presente em manifestações folclóricas, como a Folia de Reis. Influenciou movimentos populares de Norte a Sul, sendo o mais significativo o de Canudos, no sertão da Bahia, no qual Antonio Conselheiro pregava que D. Sebastião retornaria dos mortos para restaurar a monarquia no Brasil, o que foi motivo para a intervenção do Exército. Foram necessárias quatro campanhas militares para derrotar os jagunços de Canudos. O livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, narra em detalhes essa tragédia nacional.

Neopentecostais
O mito sebastianista se manifesta de diferentes formas, mas todas têm como ponto de referência o surgimento de um “salvador da pátria”. Por isso mesmo, serve de caldo de cultura para o nosso velho populismo. Não à toa, o presidente Jair Bolsonaro é chamado de “Mito” por seus seguidores mais apaixonados. A facada que recebeu em plena campanha eleitoral e as quatro cirurgias dela decorrentes reforçam essa ideia no imaginário de seus seguidores. A forte relação de Bolsonaro com as igrejas neopentecostais também alimenta seu carisma, ainda mais por causa do forte engajamento político dessas correntes na política, que ultrapassou a fronteira entre o desejo de reconhecimento e o efetivo exercício do poder.

Há que separar, porém, os setores tradicionais que sempre defenderam o caráter laico do Estado, até por causa dos antigos vínculos entre a Igreja Católica e o Estado, daqueles que ambicionam uma espécie de nova teocracia. Depois do fracasso dos calvinistas franceses, nas invasões do Rio de Janeiro (1555) e Maranhão (1594), o protestantismo chegou ao Brasil no começo do século XIX, com os anglicanos (1816), devido à presença inglesa após a Abertura dos Portos(1808) por Dom João VI. Graças à liberdade religiosa, depois vieram congregacionistas (1855), presbiterianos (1859), metodistas (1867), batistas (1881), episcopais (1889) e luteranos (1900).

Mesmo com a Congregação Cristã do Brasil (1910) e a Assembléia de Deus (1911), somente na década de 1950, o movimento pentecostal brasileiro se fragmentou, com o surgimento das igrejas Evangelho Quadrangular (1954), Igreja do Nazareno (1958) e Cristã de Nova Vida (1960). A cisão desses movimentos deu origem às organizações pentecostais brasileiras: Brasil para Cristo (1955), do missionário Manoel de Mello e Silva; Deus é Amor (1962), de David M Miranda; e Casa da Bênção (1964), de Doriel de Oliveira.

O movimento que dá mais sustentação a Bolsonaro, porém, é formado por igrejas pentecostais que fazem uso intensivo dos meios de comunicação, com ênfase em milagres, curas e prosperidade pessoal: Igreja Universal do Reino de Deus (1977), de Edir Macedo; Igreja da Graça de Deus (1980), de R.R. Soares; a Renascer em Cristo (1986), de Estevam e Sônia Ernandes; Sara Nossa Terra (1992), de Robson Rodovalho; e Poder de Deus (1998), de Valdemiro Santiago.  [em  todas essas igrejas pentecostais, o que mais se observa é a abundância de denominações e que cada igreja é propriedade de alguém - os fiéis podem até não receberem milagres, curas e prosperidade pessoal, mas, os proprietários com certeza recebem e muito, especialmente, prosperidade pessoal em suas finanças.

Os tempos em que havia vínculos sólidos entre a Igreja Católica Apostólica Romana - que não se dividiu, por estar amparada no DECRETO DIVINO: ."E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.19. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”. Evangelho de São Mateus 16,18-19 - as situações eram mais definidas.]


Hoje, devido à nova legislação eleitoral, se transformaram em poderosas forças políticas, que vão disputar as prefeituras nas próximas eleições municipais, como no Rio de Janeiro, em razão da facilidade de montar chapas de vereadores e levantar recursos financeiros, ao lado do desgaste dos partidos.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

sábado, 4 de maio de 2019

A Deus o que é de César

Alinhada a um governo que encampa suas pautas principais, a bancada evangélica na Câmara mostra ambições mais amplas, que não se limitam ao terreno moral


Toda quarta-feira às 8 horas o plenário 6 da Câmara dos Deputados se converte em igreja. Com a Bíblia nas mãos, parlamentares e assessores, alguns acompanhados da esposa, agrupam-se para o “culto devocional”. Religião e poder dão-se as mãos. O culto de 27 de março, por exemplo, começou com aleluias e glórias ao senhor, enquanto a deputada e cantora gospel Lauriete Rodrigues (PR-ES) — ex-­mulher do ex-senador Magno Malta — puxava o louvor com seu violão. O deputado e pastor Francisco Eurico da Silva (Patriota-­PE), capelão da bancada evangélica, fez a pregação do dia. Depois, uma questão mundana se impôs: a escolha do novo líder da Frente Parlamentar Evangélica, composta hoje de 120 parlamentares ativos, um recorde desde a sua fundação, em 2002 — e maior, muito maior, do que qualquer partido político no Congresso Nacional.

Não há nem nunca houve votação para o posto de líder da frente religiosa: após discussões por vezes ásperas, Silas Câmara (PRB-AM) foi sagrado por aclamação. Há diferenças e divisões na frente, mas a unidade de ação da bancada, nesta legislatura, vem amparada por uma convicção renovada na força política que o eleitorado evangélico demonstrou: foram os evangélicos que, proporcionalmente, mais sustentaram a eleição de Jair Bolsonaro. E o presidente dá repetidas mostras de alinhamento com o setor. Agora mesmo, matou no nascedouro a ideia de um novo imposto que incidiria também sobre as igrejas, o que mostra a força da bancada evangélica.

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O caso foi o seguinte. Na segunda-­feira 29, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, [que falando é uma tragédia, em silêncio atrapalha menos.] em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, aventou a criação de um novo imposto para simplificar o sistema tributário brasileiro, que incidiria sobre o dízimo das igrejas, hoje imunes a tributação. Parlamentares evangélicos mais próximos ao presidente — como Marco Feliciano — e líderes evangélicos que circulam pelos salões da política — como Silas Malafaia — soterraram Bolsonaro com telefonemas e mensagens. Em seguida, o presidente divulgou um vídeo no Twitter para desmentir o secretário em termos inequívocos: “Não haverá novo imposto para as igrejas”. “As igrejas gastam muito mais do que recebem. Na igreja, os fiéis aprendem a pagar os seus impostos e a respeitar as autoridades”, justificou o ex-presidente da frente, deputado e pastor Lincoln Portela (PR-MG) — por ironia, um amigo de Marcos Cintra.

Desde há muito uma força política cortejada pelos mais diversos partidos, os evangélicos agora têm ambições mais amplas, que não se limitam a batalhar por vantagens tributárias, alvarás de templos ou concessões de rádio. O mapa político da frente segue mais as divisões religiosas do que as partidárias. Há uma profusão de denominações em disputa. Cinco parlamentares pleitearam a liderança da frente, por exemplo. Silas Câmara surgiu como um nome de compromisso entre candidatos de ramos rivais da Assembleia de Deus, e foi por isso que ganhou.

Encerrado o culto-sessão, enquanto o novo líder conversava com VEJA, uma assessora o interrompeu para que ele atendesse o bispo Manoel Ferreira, da Assembleia de Deus do Ministério Madureira. “Sou seu soldado, meu líder”, disse, ao celular, o novo presidente da Frente Evangélica. A lealdade desses deputados não está com caciques políticos, mas com pastores e bispos. “É uma nova elite que está se formando, que tem capital cultural diferente do da elite que nós conhecemos”, diz a coordenadora do Centro de Estudos sobre Temas da Religião da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Maria das Dores Campos Machado. [o maior problema dos evangélicos, anteriormente conhecidos como protestantes, é que existe só no Brasil mais de 500 denominações evangélicas, cada uma dizendo ser a verdadeira.
Alguns até que frequentam 'faculdades' de teologia, mas, a grande maioria começa a ler a Bíbilia Sagrada, interpretando da forma que mais lhe convier, anda com a mesma debaixo do braço - estilo desodorante - para um lado e para o outro, pregando em esquinas e logo forma uma seita, que chamam de religião e logo conseguem um  templo.

Sempre tem pessoas interessadas  na salvação da alma e se agarram ao caminho que lhe parecer mais conveniente.
Esquecem que as seitas evangélicas tiveram origem na rebeldia de uma monge alemão, há pouco mais de 500 anos, começaram unidas em torno de Lutero, o monge, mas depois começaram a se dividir.]

Os políticos evangélicos, sobretudo os pentecostais e neopentecostais, que compõem 60% da bancada, não querem mais ser coadjuvantes. A frente conta com 120 membros ativos, mas, como é praxe nesses casos, outros 83 apoiadores assinaram o documento que a instituiu. Esses são, em sua maioria, de outras religiões, como católicos e espíritas. 

Temas morais e comportamentais sempre estiveram associados a essa bancada, mas agora eles convivem com novos interesses. A educação, por exemplo: está prevista para a próxima semana a inauguração, em Brasília, da primeira faculdade no país ligada a uma sigla política, o PRB, o partido da Igreja Universal do Reino de Deus, como é conhecido nos corredores da Câmara. A autorização de funcionamento da instituição foi concedida pelo Ministério da Educação em novembro de 2018, no governo Temer. Quem vai gerir a instituição é a Fundação Republicana Brasileira, que recebe 20% da verba do fundo partidário destinada ao PRB. “É a primeira fundação ligada a um partido político do Brasil que terá uma faculdade autorizada pelo MEC”, celebra o deputado Marcos Pereira (PRB-SP). O Brasil já tem universidades ligadas a igrejas — católicas, presbiterianas, luteranas, metodistas —, mas isso é novidade entre as neopentecostais.

(...)

“Existem hoje 13 milhões de desempregados; pelo menos 98% deles são cristãos. A nossa pauta é trazer o Brasil aos trilhos do desenvolvimento”, diz o presidente da frente, Silas Câmara. Sua palavra de ordem é “profissionalização”. A frente colocou um representante em cada uma das 25 comissões permanentes da Câmara para monitorar os projetos em discussão, e contratou uma agência de marketing especializada em mídias sociais, que passará a divulgar atividades da bancada. A empresa é a Nativos Comunicação, cujo CEO é Elienai Câmara, filho do deputado (a agência fica no mesmo endereço de outra que tocou a sua última campanha eleitoral).

O nepotismo aqui não é ilegal, pois os fundos da frente não vêm da Câmara, e sim da doação de seus membros. Mas Silas Câmara enfrenta uma acusação de peculato: a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao Supremo Tribunal Federal a punição com prisão e multa do deputado, sob suspeita de ter pago com verba da Câmara uma cozinheira, um piscineiro e um motorista que lhe prestavam serviços privados.

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-­RJ), que está elaborando um projeto de lei que qualifica homofobia como agravante em casos de homicídio e agressão, mas ao mesmo tempo garante aos religiosos a liberdade para dizer, por exemplo, que relações homossexuais são pecado. [impedir de dizer que relações homossexuais são pecado, será o absurdo dos absurdos; CENSURAR A BÍBLIA SAGRADA.
Um dos pecados mais presentes e que levaram a destruição de Sodoma e Gomorra foi a prática do homossexualismo, especialmente a sodomia - que é pacífico é uma aberração sempre presente entre homossexuais, especialmente do sexo masculino.

No Brasil em que o Supremo desperdiça tempo e dinheiro público para julgar se  banheiro público, unissex, é constitucional, existe projetos tentando criminalizar a homofobia = obrigar as pessoas a gostarem da homofobia, o que será o primeiro passo para a homofobia obrigatória.]  Entre tais projetos está o que torna a homofobia um crime, equiparando-a ao racismo. Uma medida equivalente está sendo julgada no STF e já recebeu quatro votos favoráveis. O julgamento ainda não tem data para ser concluído, graças a uma articulação dos evangélicos com o presidente da corte, Dias Toffoli. O deputado-pastor Marco Feliciano, um dos principais expoentes da bancada evangélica, contou a VEJA que Toffoli chegou a conversar com algumas lideranças evangélicas para pedir que elas não abraçassem as campanhas de críticas ao STF, que propunham, entre outras coisas, a CPI da Lava-Toga. Em troca, sugeriu que adiaria a análise da questão da homofobia. A agenda pública de Toffoli mostra pelo menos quatro encontros com lideranças evangélicas nos últimos meses.


Publicado em VEJA de 8 de maio de 2019, edição nº 2633

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Bolsonaro e Israel, uma relação político-religiosa arriscada para o Brasil

Ao anunciar a transferência da embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, o presidente eleito Jair Bolsonaro respondeu às expectativas das influentes igrejas evangélicas, sua base de sustentação, correndo o risco de uma ruptura com uma política de mais de meio século do Itamaraty.   Seguindo os passos do presidente americano Donald Trump, de quem já se disse um admirador, o futuro chefe do Executivo brasileiro corre o risco de isolar o país diplomaticamente, expondo-o a represálias comerciais de parte dos países árabes, grandes importadores de carne do Brasil.
"O Brasil tem uma posição histórica naquilo que a gente chama de solução de dois Estados [para Israel e a Palestina] e esta decisão pode jogar todos esses esforços no lixo", avalia Guilherme Casaroões, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

A anexação de Jerusalém oriental por Israel, após a guerra de 1967, nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, para a qual o estatuto da cidade santa deve ser negociado pelas duas partes e as embaixadas não devem se instalar ali enquanto não se cheguar a um acordo.  O governo brasileiro sempre seguiu essa diretriz, mas o posicionamento de Jair Bolsonaro poderia colocá-la em xeque.  "É motivo de respeitar uma nação soberana", declarou o presidente eleito em entrevista à TV Bandeirantes na segunda-feira.

Na terça-feira, ele parecia hesitar, ao declarar que a transferência "ainda não foi decidida", lançando dúvidas sobre sua determinação sobre uma medida tão polêmica.  A transferência da embaixada teria, antes de mais nada, uma motivação religiosa para Jair Bolsonaro, eleito em 28 de outubro com 55% dos votos, em parte graças ao apoio ativo das igrejas evangélicas neopentecostais, que reúnem milhões de fiéis.
"Os evangélicos mais conservadores não colocam em questão, não relativizam nenhuma atitude de Israel. Qualquer decisão, qualquer medida, há um pressuposto que tem a legitimidade para fazer, como povo escolhido", que deve ser defendido custe o que custar, independentemente da atitude de seus dirigentes, explica Ronilson Pacheco, teólogo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
"É uma leitura extremamente literal da Bíblia, sem fazer qualquer reflexão de contexto, de história", acrescentou.

Os neopentecostais brasileiros seguem os preceitos do sionismo cristão, corrente segundo a qual o retorno dos judeus à terra santa e a criação do Estado de Israel, em 1948, segue uma profecia bíblica que anuncia o retorno do Messias.  "Nos templos, há muitos símbolos litúrgicos do judaísmo, como o candelabro ou a estrela de Davi, e alguns pastores até usam o kipá ", acrescenta Ronilson Pacheco.

O próprio Jair Bolsonaro, casado com uma evangélica, foi a Israel em 2016 para ser batizado por um pastor nas águas do rio Jordão.
Mas a religião não é a única motivação para Bolsonaro transferir a embaixada para Jerusalém, um anúncio que agradou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
"Tem um valor simbólico para ele, pela relação dele com a comunidade evangélica, e também casa com uma revisão da tradição da política externa brasileira, mais globalista, multilateralista", explicou Monica Herz, professora associada do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.

Para ela, o mimetismo com Donald Trump se aproxima a "um alinhamento com o governo americano, coisa que não fizemos nem durante a ditadura militar".  Ex-paraquedista do Exército, Jair Bolsonaro é conhecido justamente pela nostalgia do regime militar, que comandou o País entre 1964 e 1985.  A aproximação com Israel também se deve ao fascínio do presidente pela tecnologia de ponta do Exército israelense.

Um de seus filhos, o senador Flavio Bolsonaro, e o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, devem visitar o país em breve para comprar drones de ataque, que poderão ser usados pelas forças de ordem na luta contra os narcotraficantes.
Mas para Guilherme Casarões, "o Brasil teria condições de se aproximar dos EUA e de Israel independentemente de transferir a embaixada" de Tel Aviv para Jerusalém.
Membro da comissão de Relações Exteriores do Congresso, o senador Ricardo Ferraço, considerou recentemente que Bolsonaro fez esta promessa de forma precipitada, sem medir as consequências.
A Câmara de Comércio árabe-brasileira declarou sua preocupação, enquanto o Brasil é o primeiro produtor do mundo de carne halal (cujo consumo é permitido aos muçulmanos). O chefe da representação palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, declarou à AFP esperar que o deslocamento da embaixada não passe de um "anúncio de campanha".


 

sábado, 6 de outubro de 2018

Por que a polícia mata tanto no Brasil?

Talvez porque uma porção expressiva dos brasileiros aplauda de pé medidas como a pena de morte [resposta certa: para não morrer; os suspeitos reagem e os policiais exercem o direito legal de usar a força necessária para neutralizar a reação - que, quase sempre, está mais para um ataque aos policiais, do que para uma defesa.]

Por que a polícia mata tanto no Brasil? Cada um tem uma resposta. Porque a polícia é o braço armado do Estado, que extermina negros e pobres. Porque os policiais são despreparados. Porque os bandidos e a polícia travam uma guerra surda nas grandes cidades. Longe de negar as demais possibilidades — as refutações peremptórias eu deixo para os especialistas da área —, tenho cá uma sugestão: porque boa parte da população assim o quer.

Entre 2013 e 2017, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as mortes decorrentes de intervenções policiais escalaram uma montanha, indo de 2.212 para 5.159. Qualquer coisa que subisse 133% num período tão curto — assassinatos de mulheres, estupros de menores, inflação, IPTU — causaria, com razão, gritos de horror em praça pública. Não me consta que haja manifestantes marchando pelas ruas das capitais do país implorando, aos berros, que os policiais tirem o dedo do gatilho.

Talvez porque uma porção expressiva dos brasileiros aplauda de pé medidas como a pena de morte. Pressupondo-se que pesquisas de opinião retratem a realidade, mandar criminosos para câmara de gás, injeção letal, cadeira elétrica, pelotão de fuzilamento ou qualquer outro meio de extinção da vida é uma preferência nacional.  Pelos dados de uma pesquisa do Datafolha de janeiro deste ano, o apoio da maior parte dos entrevistados à pena de morte (na média, 57%) une homens e mulheres, jovens e idosos, moradores do Sul e do Nordeste, das capitais e do interior, neopentecostais e umbandistas, os menos e os mais escolarizados – embora seja interessante notar que, entre os ateus e as pessoas com renda familiar mais alta, essa maioria não se forme.  Como a pena capital é proibida pela Constituição e a probabilidade de que algum governo consulte o povo a respeito é rarefeita, implantou-se no país, com o apoio de uns e o silêncio de outros, a pena de morte informal.

E, assim, enquanto todas as forças policiais dos Estados Unidos mataram 1.093 pessoas em 2016, segundo levantamento do jornal inglês The Guardian, no ano passado apenas a polícia do estado do Rio de Janeiro(328 milhões de habitantes lá, 16,5 milhões aqui) deixou 1.127 mortos em confronto. E a intervenção federal acelerou o processo: pelos números contabilizados até agosto (1.073 mortes), os antigamente chamados autos de resistência chegarão sem esforço à casa dos 1.400 registros, ficando com folga no topo da série histórica, iniciada em 1998. É, de longe, a polícia que mais mata no país, responsável hoje por uma em cada cinco mortes violentas no estado.

O fato simples é que matar bandidos não reduz os índices de criminalidade. Tomando de novo o exemplo do Rio de Janeiro, em 20 anos foram 17 mil mortos em confronto com a polícia. É mais gente do que há em 60% dos municípios brasileiros. E a cidade não se tornou exatamente o paraíso da segurança pública.  A polícia parece operar numa lógica que chamo de caixinha de bandidos. A criminalidade, por esse raciocínio, é um sistema fechado. Se todos os marginais, os meliantes, os elementos forem mortos, acabam-se os crimes. Só que o caldo de cultura de desesperança, miséria, falta de educação, de exemplos e de perspectiva continua alimentando o mercado à margem da lei. O que reduz os crimes é a certeza de punição e do cumprimento da pena. De preferência, longa.


sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Para Malafaia, manifesto contra Cunha é de ‘esquerdopatas’


Pastor diz que texto de evangélicos deveria pedir também a saída de Dilma e de Renan

O manifesto evangélico que pede na internet a saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da presidência da Câmara foi alvo de críticas do pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Malafaia desdenhou da iniciativa e disse que ela partiu de igrejas que têm afinidade com o PT e não representam 1% do pensamento evangélico. Referiu-se aos que assinaram o pedido como “esquerdopatas gospel”. Se ele (Cunha) está devendo, ele que pague. Agora, vou assinar manifesto porque meia dúzia de esquerdopatas gospel quer fazer graça? Eu não — polemizou Malafaia, que apoiou Cunha na eleição para a presidência da Câmara.

Cunha era da Sara Nossa Terra, mas mudou para uma igreja que tem mais fiéis: a Assembleia de Deus de Madureira, um segmento diferente da comunidade de Malafaia. O pastor disse que assinaria um manifesto que pedisse a saída do presidente da Câmara, da presidente Dilma Rousseff e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).  — Se aqueles, em nome do evangelho, querem a Justiça, por que não incluem Dilma e Renan que também foram citados na Lava-Jato? — questionou Malafaia, dizendo achar normal que o povo esteja indignado e se manifeste.

A iniciativa, que até ontem à noite contava com quase 3 mil assinaturas, nasceu com um grupo de líderes das igrejas evangélicas históricas (Anglicana, Luterana, Metodista e outras), que, normalmente, não declaram apoio a candidatos nas eleições. Depois, o movimento ganhou o apoio de membros das igrejas evangélicas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), Sara Nossa Terra e Assembleia de Deus. [um movimento apoiado pela Igreja Universal tem que ser desconsiderado, proibido mesmo.]

Igrejas ouvidas pelo GLOBO informaram que não houve um posicionamento institucional, mas que os bispos e pastores são livres para demonstrar suas opiniões pessoais. 

Lideranças religiosas que assinaram o texto afirmaram que o objetivo é não só se manifestar contra Cunha, mas demonstrar que o presidente da Câmara não pode falar em nome dos evangélicos e se declarar como representante do segmento. — Como ele se diz representante de um pool de igrejas, essas igrejas estão questionando a mensagem que ele quer passar — afirmou Arthur Cavalcante, secretário-geral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e um dos que assinou a lista.


Membros da atual igreja de Cunha também assinaram o manifesto. O GLOBO esteve na Assembleia de Deus de Madureira ontem, mas não conseguiu contato com os pastores. Sem querer se identificar, um dos fiéis afirmou que ainda não há provas de que Cunha tenha cometido algum crime. Enquanto não tiver prova, não posso falar se fez ou não. Se ele roubou e for provado, vai pagar. Mas não cabe a mim dizer se ele é culpado ou não.

Em nota, a Sara Nossa Terra disse que a relação com Cunha sempre foi de caráter pessoal. “Não cabe à nossa instituição julgar qualquer dos seus membros ou ex-membros, como é o caso do senhor Eduardo Cunha, que atualmente segue outra denominação”.