Seja
inconsistente, produto de fogo inimigo ou não, a citação do deputado
Eduardo Cunha no âmbito das investigações da Operação Lava Jato não pode
ficar restrita ao terreno da dúvida. Simplesmente
porque não é possível que paire dúvida dessa natureza sobre um
candidato à presidência da Câmara, hoje tido como provável vencedor. [pode até não ser lógico, mas é possível, afinal de contas Dilma foi eleita pairando sobre ela sérias dúvidas sobre sua participação - ainda por conivência decorrente de omissão - no PETROLÃO - PT. Um Brasil que elege e reelege um Lula e uma Dilma, tudo é possível.]
Se,
como ele diz, é falsa a declaração do policial Jayme Alves de Oliveira
de que foi o destinatário de recursos provenientes do esquema de
corrupção montado na Petrobrás, Eduardo Cunha e seu partido, o PMDB,
devem ser os primeiros interessados em passar a história a limpo. Uma
coisa é o desmentido e o contra-ataque com base na hipótese de que a
divulgação de trecho do depoimento do policial seja parte de uma trama
para inviabilizar sua candidatura à presidência da Câmara. Outra coisa é
a dimensão que a notícia, verdadeira ou não, assume diante da opinião
pública.
A
recente campanha eleitoral mostrou muito bem o poder das versões ante
aos fatos, fracos ou fortes. Portanto, urge um esclarecimento da Polícia
Federal ou do Ministério Público sobre a existência, ou não, no
depoimento do policial de base para a abertura de inquérito contra o
deputado. Daqui
a pouco mais de 20 dias Eduardo Cunha estará disputando o segundo cargo
na linha de sucessão presidencial e o mínimo que se precisa saber é se
ele é partícipe de um esquema ilícito ou se é vítima de uma tramoia de
cunho político urdida no aparelho do Estado.
O
mesmo policial que o citou disse em depoimento à Polícia Federal que
quatro anos atrás entregou R$ 1 milhão ao então governador de Minas
Gerais e hoje senador eleito Antonio Anastasia, do PSDB, por ordem do
doleiro Alberto Youssef. Além
da autoria, as declarações têm em comum o efeito de arrastar para o
noticiário policial dois adversários do governo. Cunha, líder de um
partido aliado, mas desafeto devido a suas posições pessoais. Anastasia
por ser tucano, mineiro e ligado ao senador Aécio Neves.
A
reação automática dos atingidos é atribuir a divulgação de trechos do
depoimento a ações palacianas. Do mesmo modo como faz o governo quando
um dos seus é alcançado por denúncias desse tipo. Nesse caso, porém,
pelo que se sabe até agora há uma diferença. Quem
aponta é o deputado Roberto Freire, do PPS. As afirmações de Jayme
Alves de Oliveira não são fruto de acordo de delação premiada. Estas,
quando feitas, trazem em si um elemento de prova porque é da verdade
sobre o que declara o delator que depende a concessão dos benefícios
pretendidos. "A
prioridade é saber se há evidências suficientes para o prosseguimento
de investigações ou se isso tudo é produto do fogo amigo planaltino,
parte do ataque insidioso que o governo iniciou com o objetivo de
esvaziar o PMDB", diz Freire.
A
ligação entre a Operação Lava Jato e a disputa pela presidência da
Câmara foi motivo de troca de impressões e avaliações de bastidor
durante os últimos dois dias no PMDB e até mesmo entre Eduardo Cunha e
líderes de oposição, PSDB inclusive. Entre
os peemedebistas, a disposição é a de não entrar em embate público com o
governo nem com o PT, a fim de esvaziar o tema e, ao mesmo tempo,
reforçar a campanha de Cunha. "Ganhar a eleição" é a palavra de ordem.
Os
tucanos avaliam que, se ficar evidente que há movimentação do Planalto
por trás das denúncias, o efeito pode ser o contrário do pretendido, em
reação ao governo e contra o candidato do PT, Arlindo Chinaglia.
Fonte: Dora Kramer é colunista do Estadão
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