Kim Jong-un controla país com mão de ferro e ameaça grandes potências com seu programa nuclear. Cidadãos do país têm que obedecer normas até para cortar o cabelo
A Coreia do Norte é um lugar misterioso e, portanto, curioso. Pouco se sabe sobre o que acontece de fato no país que surgiu em 1948, após a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, fruto da divisão da península coreana nas partes norte e sul. O que se sabe é que ainda hoje sua população vive em condições de extrema repressão, lideradas por um sistema político ditatorial e sem liberdade de expressão. Quem mora no país tem que conviver com regras bizarras, como a limitação dos tipos de cortes de cabelo que podem ser usados.Ainda assim, o governo de Kim Jong-Un se esforça para divulgar ao mundo a imagem de que ali é que mora a verdadeira felicidade. Imagens distribuídas exclusivamente pela agência de comunicação oficial do governo passam a ideia de líder amado, sempre cercado de cidadãos sorridentes.
Quem tenta entrar no país com o objetivo de saber mais sobre a nação corre sérios riscos de morrer na prisão. Recentemente, um jovem cidadão americano se tornou o mais novo símbolo dessa opressão. De passagem pela terra de Kim-Jong-Un, o rapaz foi preso por brincar com um cartaz que fazia propaganda do governo. Sua soltura ocorreu em junho de 2017, quando ele foi mandado de volta aos EUA – em coma. Poucas semanas depois, já nos EUA, o rapaz morreu.
As provocações aos EUA continuaram nas semanas subsequentes ao fato, levando a Coreia do Norte a comparar o presidente americano, Donald Trump, ao líder nazista Adolf Hitler em um editorial da agência estatal coreana KCNA. Por outro lado, os Estados Unidos seguem conversando com os líderes do mundo todo para se unirem contra os abusos coreanos.
A ameaça nuclear da Coreia do Norte
Míssil disparado pela Coreia do Norte no mês de julho de 2017 (Crédito:AFP)
A cobrança americana ocorre, sobretudo, pela ameaça constante que faz a Coreia do Norte com seus testes com mísseis, realizados periodicamente no Mar do Japão.
Somente até maio de 2017 o país concluiu nove testes. Em resposta às
preocupações diante do avanço do programa de armas nucleares
norte-coreano, os americanos testaram, com sucesso, também em maio, um
sistema para interceptar mísseis balísticos intercontinentais. “Os EUA estão preocupados em mostrar que estão preparados para
responder a ameaça norte-coreana e proteger seu aliados na região,
principalmente o Japão e a Coreia do Sul. A ideia é mostrar que os
Estados Unidos estão atentos”, diz a professora de Relações
Internacionais da Unifesp, Cristina Pecequilo. “Já a Coreia do Norte tem
como objetivo, principalmente após a posse do americano Donald Trump,
conseguir colocar uma postura de força e sinalizar que existe sim, no
país, uma disposição para manter a soberania e essa disposição é baseada
em fatos concretos e não apenas no discurso”.A exibição de força para a manutenção no poder é estratégia antiga dos norte-coreanos. Essa é uma das explicações para justificar e espetáculo midiático que Kim-Jong-Un faz a cada novo teste nuclear. Para o professor de Ciências Econômicas da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Rodrigo da Silva, os testes reforçam o status quo, que é de equilíbrio e estabilidade, apesar da aparência, e garantem a narrativa de um Estado rebelde e beligerante, o que é bom para China e Rússia, que se beneficiam ao ficarem protegidos em uma espécie de “tampão”.
Além disso, preservam a Coreia do Sul e o Japão como parte de um esforço de contenção, o que justifica a presença militar americana nos dois locais — Coreia do Sul e na ilha japonesa de Okinawa. “Há uma questão de coesão interna nesse processo. O governo utiliza esse permanente estado de mobilização nacional como uma necessidade de defesa por que os norte-coreanos eventualmente assistem TV e ouvem rádio com informações sobre o sul e é preciso algo que justifique essa situação dramaticamente distinta, especialmente porque o capitalismo do sul é de um tipo particularmente igualitário, sem grande concentração de renda, nem miséria”, diz. “O inimigo externo é algo que ajuda a justificar as privações pelas quais passa o povo do norte”.
A formação da Coreia do Norte
Para compreender como a Coreia do Norte se tornou esse país excêntrico e os meandros geopolíticos que até hoje determinam suas relações diplomáticas é necessário recorrer à história da formação do país. A Coreia do Norte surge no momento e que chega ao fim a Segunda Guerra Mundial, em 1945, quando os japoneses foram expulsos da península coreana pela guerrilha comandada por Kim II Sung — que se tornaria o fundador do país e cuja terceira geração segue até os dias de hoje no poder — juntamente com as forças soviéticas e norte-americanas, que ocuparam a área.
Os primeiros se estabeleceram ao norte, os segundos, ao sul. Eis a origem do conflito: os dois lados reclamavam o direito sobre toda a península e, cinco anos mais tarde, em 1950, a Coreia do Norte tentou a unificação do país avançando em direção à Coreia do Sul. Teve início assim um grande conflito que colocou União Soviética e China de um lado e Estados Unidos do outro.
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