A guerra seduz o presidente
Brasil renunciou à ambiguidade como força vital da diplomacia
Arquiteto da distensão dos EUA com Pequim e Moscou nos anos 70, Kissinger gastou os últimos três dos seus 96 anos alertando sobre como o Irã se tornou fundamental para a China e a Rússia. Prevê reação à perspectiva de redução da influência na região — “se não o fizerem, estarão terminados, assim como os iranianos”. 12 mil quilômetros de Teerã, o ex-capitão Jair Bolsonaro resolveu se alinhar a Trump no conflito. Nada de novo, se o Itamaraty não liderasse uma manifestação contra o Irã.
[não somos, nem pretendemos, porta-voz do presidente Bolsonaro, mas, ousamos afirmar que o Brasil não estará nem a favor do EUA tampouco do Irã.
Além da neutralidade conveniente aos interesses do Brasil não haverá nenhum conflito.
Quanto ao criticado 'protagonismo' do Brasil na Conferência contra o Terrorismo, vale destacar que ainda que o Irã seja considerado terrorista, a ação dos EUA, sem estar em guerra e em solo estrangeiro, configura o terrorismo de Estado, o que torna recomendável que o Brasil se afaste dos dois terroristas, não tome parte seja do 'terrorista' Irã, seja do 'terrorista' de Estado EUA = neutralidade absoluta.
O presidente Bolsonaro certamente sabe que a neutralidade é essencial aos INTERESSES do Brasil, validando o brado = Brasil, acima de todos! DEUS, acima de tudo.']
O Brasil renunciou à ambiguidade como força vital da diplomacia. Assumiu inédito protagonismo, incitando governos da América do Sul a uma ofensiva contra o regime iraniano no dia 20, em Bogotá, na Conferência Hemisférica contra o Terrorismo. O Itamaraty confirma em nota de dez parágrafos, na qual usa cinco vezes a palavra “terrorismo” em referência ao Irã. Nela, anuncia a inclusão do Brasil na “cooperação”, porque “não pode permanecer indiferente a essa ameaça, que afeta inclusive a América do Sul.” Faltou definir cooperação. Nos dicionários significa “operar juntamente”. Faltou, ainda, dizer se o Congresso foi consultado.
Bolsonaro não alcançou nenhum dos seus objetivos declarados na aliança com Trump. E sua política externa baseia-se numa coletânea de crenças obscurantistas. Por isso, o Congresso deveria abandonar as longas férias e procurar respostas para questões relevantes à sociedade.
Duas delas:
- qual é o interesse brasileiro nesse conflito?
- O Brasil planeja ir à guerra aliado aos EUA?
Mais de 20% do superávit comercial de 2019 tiveram origem na região do Golfo, Irã incluído. Falta o governo explicar a lógica e apresentar seu plano para lidar com as vulnerabilidades do país numa economia global ameaçada. Decisões políticas têm custo, não dá para evitar as consequências.
José Casado, jornalista - Coluna em O Globo
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