O
palco estava completamente armado e determinado o cronograma para a
primeira fase da tomada de posse pelos comunistas. Nos calendários dos
chefes vermelhos no Brasil – assim como nos de Moscou, Havana e Pequim –
as etapas para a conquista do poder estavam marcadas com um circulo
vermelho: primeiro, o caos; depois, guerra civil; por fim domínio
comunista total.
Havia
anos que os vermelhos olhavam com água na boca o grande país, maior que
a parte continental dos EUA e que então continha 80 milhões de
habitantes, aproximadamente metade da população da América do Sul. Além
de imensamente rico em recursos ainda não aproveitados, o Brasil se
limita com 10 países – toda a América do Sul, exceto Chile e Equador –
seu domínio direto ou indireto pelos comunistas ofereceria excelentes
oportunidades para subverter um vizinho após o outro. A captura deste
fabuloso potencial mudaria desastrosamente o equilíbrio de forças contra
o Ocidente. Comparada com isso, a comunização de Cuba era
insignificante.
Por
fim estava tudo preparado. A inflação piorava dia a dia; a corrupção
campeava; havia inquietação por toda a parte – condições perfeitas para
os objetivos comunistas. O governo do presidente João Goulart estava
crivado de radicais; o Congresso, cheio de instrumentos dos comunistas.
Habilmente, anos a fio, os extremistas de esquerda tinham semeado a
idéia de que a revolução era inevitável no Brasil. Dezenas de volumes
eruditos foram escritos acerca da espiral descendente do Brasil para o
caos econômico e social; a maioria concordava em que a explosão que
viria seria sangrenta, comandada pela esquerda e com um elenco
acentuadamente castrista. Os brasileiros em geral olhavam o futuro com a
fascinação paralisada de quem assiste impotente à aproximação de um
ciclone. Uma expressão brasileira corrente era: “A questão não é mais de
saber se a revolução virá, mas de quando virá.”
O
país estava realmente maduro para a colheita. Os vermelhos tinham
introduzido toneladas de munições por contrabando, havia guerrilheiros
bem adestrados, os escalões inferiores das Forças Armadas estavam
infiltrados, planos pormenorizados estavam prontos para a apropriação do
poder, feitas as “listas de liquidação” dos anticomunistas mais
destacados. Luiz Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista Brasileiro,
tecnicamente ilegal, mas agressivamente ativo, vangloriava-se
publicamente: “Já temos o Poder, basta-nos apenas tomar o Governo!”
Amadores contra Profissionais
E
então, de repente – e arrasadoramente para os planos vermelhos – algo
aconteceu. No último instante, uma contra-revolução antecipou-se à
iniciativa deles. A sofrida classe média brasileira, sublevando-se em
força bem organizada e poder completamente inesperado, fez sua própria
revolução – e salvou o Brasil. Sem
precedentes nos anais dos levantes políticos sul-americanos, a
revolução foi levada a efeito não por extremistas, mas por grupos
normalmente moderados e respeitadores da lei. Conquanto sua fase
culminante fosse levada a cabo por uma ação militar, a liderança atrás
dos bastidores foi fornecida e continua a ser compartilhada por civis.
Sua ação foi rápida (cerca de 48 horas do início ao término), sem
derramamento de sangue e popular além de todas as expectativas.
Uma
vitória colossal para o próprio Brasil, ela foi ainda maior para todo o
mundo livre. Pois, como comentou um categorizado funcionário do Governo
em Brasília: “Ela marca a mudança da maré, quando todas as vitórias
pareciam vermelhas, e destrói completamente a afirmação comunista de que
a “história está de nosso lado”.
Como
foi, exatamente, que os brasileiros conseguiram esta vitória magnífica?
A história secreta desta legítima revolução do povo – planejada e
executada por amadores mobilizados para a luta contra calejados
revolucionários vermelhos – é um modelo para toda nação analogamente
ameaçada, uma prova animadora de que o comunismo pode ser detido de vez,
quando enfrentado com energia por um povo suficientemente provocado e
decidido.
Deriva para o Caos
A
história começa pouco depois da renúncia do presidente Jânio Quadros,
em agosto de 1961. Seu sucessor, o Vice-Presidente Goulart, de
tendências esquerdistas, mal chegado de uma visita à Rússia e à China
Vermelha, apenas assumiu o poder deixou transparecer claramente em que
direção ia conduzir o País.
Sem
ser comunista, Jango procedia como se o fosse. Sedento de poder,
Goulart julgava estar tornando os camaradas instrumento de suas
ambições; em vez disso, eram eles que faziam dele seu instrumento. As
portas, há anos entreabertas à infiltração vermelha, foram escancaradas.
A inflação, estimulada por enchentes de papel-moeda emitido em
administrações anteriores e agora acelerada por Jango, subia em espiral,
enquanto o valor do cruzeiro caía dia a dia. O capital, vitalmente
necessário para desenvolver o País, fugia para o estrangeiro; os
investimentos alienígenas secavam rapidamente sob o peso das restrições e
das constantes ameaças de desapropriação.
A Hora é Agora
Alarmados
com a perigosa deriva para o caos, alguns homens de negócio e
profissionais liberais reuniram-se no Rio em fins de 1961, dizendo:
“Nós, homens de negócio, não mais podemos deixar a direção do País
apenas aos políticos.” Convocando outras reuniões no Rio e em São Paulo,
declararam: “A hora de afastar o desastre é agora, não quando os
vermelhos já tiverem o controle completo de nosso Governo!” Dessas
reuniões nasceu o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES),
destinado a descobrir exatamente o que ocorria por trás do cenário
político e o que se poderia fazer a respeito. Outras associações já
existentes, como o CONCLAP (Conselho Superior das Classes Produtoras),
formado pelos chefes de organizações industriais, tanto grandes como
pequenas; o GAP (Grupo de Ação Política); o Centro Industrial e a
Associação Comercial, também se empenharam em atividades de resistência
democrática.
Essas
organizações ramificaram-se rapidamente através do País. Embora agindo
independentemente, esses grupos conjugavam suas descobertas, coordenavam
planos de ação. Produziam cartas circulares apreciando a situação
política, faziam levantamentos da opinião pública e redigiam centenas de
artigos para a imprensa respondendo às fanfarronadas comunistas. Para
descobrir como funcionava no Brasil o aparelho subterrâneo treinado por
Moscou, o IPES formou seu próprio serviço de informações, uma
força-tarefa de investigadores (vários dentro do próprio governo) para
reunir, classificar e correlacionar informes sobre a extensão da
infiltração vermelha no Brasil.
Guarnecidos de Vermelhos
Os
investigadores não tardaram a descobrir um cavalo-de-tróia vermelho, de
dimensões bem mais assustadoras do que alguém imaginava. Muitos
comunistas disfarçados, “plantados” em ministérios e órgãos
governamentais anos antes, tinham conseguido alçar-se a postos-chave na
administração federal. A maioria dos ministérios e repartições públicas
estavam guarnecidos por comunistas e simpatizantes a serviço das metas
de Moscou. O chefe comunista Prestes apregoava em público: “Dezessete
dos nossos estão no Congresso” – todos eleitos em chapas de outros
partidos. Além disso, dezenas de deputados simpatizantes faziam acordos
com os comunistas, apoiando-os em muitas questões, sempre atacando o
imperialismo dos EUA” – mas jamais criticando a Rússia Soviética.
Comunistas
não eram os ministros, mas os consultores de alto nível, e às vezes
apenas os subordinados do Ministro, ou os redatores de relatórios em que
se baseavam altas decisões. Alguns alardeavam abertamente: “Não nos
interessa quem faça os discursos, desde que sejamos nós quem os
escrevamos”. O Ministério das Minas e Energia era dominado completamente
por um grupo assim. O Diretor-Geral dos Correios e Telégrafos,
Dagoberto Rodrigues, oficial do Exército, conhecido como esquerdista,
liberou certa vez grande quantidade de material de propaganda cubana e
soviética apreendida pelo Governo Federal com a explicação vaga:
“Examinei este material e conclui que não é subversivo”.
Nos
próprios sindicatos o controle comunista era esmagador. Repetidamente o
Governo intervinha em eleições sindicais a fim de garantir a escolha de
candidatos comunistas, especialmente em indústrias que podiam
prontamente paralisar o País.
Atenção Especial a Educação
O
mais sabidamente infiltrado era o Ministério da Educação. Um dos mais
íntimos conselheiros de Goulart era Darcy Ribeiro, que, como Ministro da
Educação serviu-se de cartilhas para ensinar a milhões de analfabetos o
ódio de classes marxistas.
Especialmente
mimada pelo Ministério da Educação era a UNE (União Nacional dos
Estudantes), cuja diretoria era completamente dominada por vermelhos e
cujos 100.000 sócios constituem a maior organização estudantil nacional
da América Latina. Durante anos um subsídio anual do Governo, de cerca
de 150 milhões de cruzeiros (valores de 64) era entregue aos diretores
da UNE – sem que tivessem de prestar contas. Assim garantidos, eles se
dedicavam integralmente à agitação política entre os estudantes. Parte
desse subsídio era usado para financiar excursões à Cuba Vermelha e
visitas a grupos de irmãos de estudantes comunistas em outros países da
América Latina.
Fortalecida
ainda mais por substanciais fundos de guerra oriundos de Moscou, a UNE
publicava panfletos inflamados e um jornal semanal marxista. Fingindo-se
empenhado em combater o analfabetismo, um grupo da UNE passou dois
meses distribuindo material de leitura, no qual se incluía o manual de
guerrilhas do castrista Che Guevara – impresso em português por
comunistas brasileiros da linha vermelha chinesa. Líderes da UNE
especializavam-se em fomentar greves escolares estudantis, demonstrações
públicas e distúrbios de rua.
Engenheiros do Caos
A
infiltração, constataram os investigadores, fora-se tornando maior e
cada vez menos oculta a cada mês que passava. Suficientes para fazerem
soar campainhas de alarma foram as nomeações de certos homens feitas
logo no início do governo Goulart, como Evandro Lins e Silva, eminente
advogado, há muito defensor de causas comunistas, para Procurador-Geral
da República; e o professor Hermes Lima, um admirador de Fidel Castro,
para Primeiro-Ministro. (Ambos foram posteriormente nomeados para o
Superior Tribunal Federal). O principal entre os mais veementes
defensores de medidas esquerdizantes era Abelardo Jurema, Ministro da
Justiça de Goulart. E o secretário de Imprensa do Presidente era Raul
Ryff, de ligações notórias com o Partido Comunista havia mais de 30
anos.
O
principal porta-voz do regime Goulart era Leonel Brizola, cunhado de
Jango, Governador do Rio Grande do Sul e depois deputado pelo estado da
Guanabara. Ultranacionalista, odiando os Estados Unidos, Brizola era
classificado como “um homem temerariamente mais radical do que o próprio
chefe vermelho, Luiz Carlos Prestes”.
Por
toda a parte havia “técnicos de conflito”, comunistas do caos.
Adestrados em escola de subversão atrás da Cortina de Ferro, eram
peritos em criar o caos, para depois promover agitações em prol das
“reformas”, levar o Governo a fazer grandes promessas que nunca poderia
cumprir e, em seguida, aproveitar o desespero resultante para gritar:
“Revolução”. O número desses técnicos não era grande – não havia mais de
800, tendo uns 2000 adeptos em órgãos do Governo. Diz o Dr Glycon de
Paiva, do Conselho Nacional de Economia: “É tática comunista clássica
darem a impressão de que são muitos. Na verdade, só uns poucos devotados
são necessários para levar a efeito a derrubada de um país. Os povos
livres cometem o erro de não darem importância a qualquer força sem
efetivos consideráveis. Nós aprendemos pelo processo difícil.”
Quase
diariamente vinham à luz as mais espantosas provas de que uma revolução
vermelha estava em processo. No empobrecido nordeste, onde se
justificava a preocupação pelas flagrantes injustiças praticadas por
abastados proprietários rurais contra camponeses famintos, “barbudos” de
Castro perambulavam pelo campo suscitando a revolta. O transporte para
instrutores cubanos em guerra de guerrilhas, assim como para centenas de
jovens brasileiros que iam a Cuba fazer cursos especiais de subversão
de 20 dias, era assegurado por aviões diplomáticos em vôos regulares de
ida e volta para Havana. Irradiações da China Vermelha, em português,
ficavam no ar quase 8 horas por dia, conclamando os camponeses a se
sublevarem contra os proprietários das terras.
Típico
da eficiência dos investigadores democráticos foi a descoberta que
fizeram, em setembro de 1963, de um grande carregamento de armas que se
encontrava a caminho do Brasil, procedente da Europa Oriental. Alertado,
o Exército Brasileiro enviou uma tropa ao navio e conseguiu confiscar
toneladas de armas portáteis, munições, metralhadoras, equipamentos de
comunicações de campanha e montões de propaganda vermelha em português.
Este texto foi condensado a partir de uma publicação da
revista Seleções do Reader’s, elaborado por Clarence W Hall.
A impressão
foi feita pela Biblioteca do Exército, sob orientação do CIEX