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sábado, 10 de outubro de 2020

Inflação em alta na pior hora - Míriam Leitão

Coluna em O Globo

Por Álvaro Gribel (interino)

A inflação subiu em má hora e voltou a preocupar. O país ainda vive o pior da recessão no mercado de trabalho, mesmo que tenha atenuado parte de seus efeitos com as políticas de governo e o auxílio emergencial. Os preços sobem nos produtos que os pobres mais consomem. Os índices do atacado dispararam, criando um problema no mercado de imóveis alugados que só será superado com muita negociação. A inflação acelera num momento de dúvida sobre os juros futuros. De um lado, a economia precisa de estímulos, de outro, os sinais confusos do governo na área fiscal pressionam o custo da dívida. O IPCA está baixo, mas a natureza desta inflação, a hora em que ocorre, o peso sobre os alimentos, tudo isso se tornou um complicador.

A inflação de setembro foi a mais alta para o mês desde 2003. Se a análise sobre os índices de preços não pode se concentrar no dado de um único mês, também não dá para ignorar o que diz a trajetória. E a taxa acumulada em 12 meses também voltou a acelerar. Saiu de 1,88% em maio para 3,14% em setembro. É verdade que está bem abaixo da meta do ano, de 4%, mas esse movimento surpreendeu os economistas e deve aumentar a cautela do Banco Central. A possibilidade de um novo corte da Selic já era baixa e agora ficou praticamente descartada. Ontem foi dia de revisões para cima nas projeções de inflação em bancos e consultorias.

Os alimentos foram responsáveis por mais de 70% da inflação de setembro. Isso tira renda das famílias porque são itens essenciais de compra. Mas os economistas dizem que esse choque será temporário e tem pouca capacidade de se espalhar para outros produtos. [com todo o arsenal de mestrados, doutorados, pós e outras especializações que temos, sempre de universidades famosas, nos permitimos referendar o entendimento dos economistas = o aumento de alimentos é um vento ruim, que já está indo embora - não se sustenta.] Ou seja, está muito concentrado, o que é uma boa notícia. Ainda assim, o departamento econômico do Bradesco chamou atenção para a inflação dos serviços, que saiu de -0,47% em agosto para 0,17% em setembro. Esse dado será monitorado com lupa nos próximos meses.

Em situações normais, a inflação no patamar atual preocuparia pouco, porque a taxa em 12 meses permanece abaixo da meta. Mas ela ocorre em uma conjuntura de piora dos indicadores fiscais, de aumento do dólar, risco de rompimento do teto de gastos e estresse de vários ativos financeiros. Já não se trata apenas de números ligados à bolsa de valores, mas sim de aumento do custo da dívida do Tesouro. Nessa circunstância, voltar a falar de inflação é tudo que o Brasil não precisava.

(...)

Nem pensar

O mercado financeiro não quer nem ouvir falar na prorrogação do auxílio emergencial no ano que vem. Pelas palavras de um gestor, a reação seria “horrorosa” caso o governo e o Congresso acionem novamente o orçamento de guerra, dentro do pacto federativo, para driblar o teto de gastos. De um jeito ou de outro, a despesa irá pressionar o déficit e a dívida bruta, ainda que legalmente não descumpra a regra do teto.

MATÉRIA COMPLETA - O Globo

(Míriam Leitão está de férias)


sexta-feira, 22 de maio de 2020

Volta à cena o Imposto sobre Transações [CPMF] - Valor Econômico

Claudia Safatle


A intenção é cortar a tributação sobre a folha de salários
Está na primeira fila das medidas em discussão no governo para o relançamento da atividade, tão logo ocorra a abertura da economia, uma reforma tributária que reduza a carga imposta às empresas e que ajude na reconstrução da política fiscal e na retomada do crescimento. O principal candidato ao corte é a tributação sobre a folha de salário das empresas e, prosperando essa alternativa, vai ser muito difícil o governo escapar da discussão sobre a criação do Imposto sobre Transações Financeiras (ITF).[famigerada CMPF.] Aliás, essa ideia  nunca foi totalmente engavetada pela pasta da Economia e torna-se mais relevante no pós-pandemia.

Por mais penosa que seja essa hipótese para o presidente Jair Bolsonaro, que já a descartou por várias vezes e demitiu Marcos Cintra, então secretário da Receita Federal, por defendê-la, o argumento da área econômica é o de que a desoneração da folha, que carrega uma pesada carga de impostos que onera o emprego, requer uma receita substituta e que o Imposto sobre Transações tem uma base mais ampla e, portanto, pode ter uma alíquota pequena e é “insonegável” tanto para as transações legais quanto para as ilegais. [saber mais, clique aqui.

Em uma das última vezes que o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu abertamente a criação do ITF, ele mencionou a intenção de desonerar a folha e reduzir a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), em troca do ITF e mencionou uma escadinha da seguinte forma: 0,2% de alíquota do Imposto sobre Transações permitiria cortar a tributação da folha dos 20% atuais para 13%; uma alíquota de 0,4% seria suficiente para derrubar a CSLL e se fosse possível elevar a alíquota do ITF para 1%, acabaria o IVA (Imposto sobre Valor Adicionado).[por incidir nas duas pontas, a CPMF ou ITF, como o ex-Posto Ipiranga quer, ainda que de 0,2% equivalerá a 0,4%.] 

Dependendo da calibragem da alíquota do ITF, ele poderia render uma receita anual de até R$ 150 bilhões, estimou o ministro. Nos últimos dias foram feitas declarações a respeito da retomada dos estudos sobre o novo imposto, um sucedâneo da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), pelos secretários Especial da Receita Federal, José Barroso Tostes, e do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

O déficit primário do governo central poderá rondar a casa de R$ 1 trilhão neste ano, dependendo de quando a economia voltará a funcionar e da decisão sobre o destino de medidas que foram tomadas para mitigar os efeitos do coronavírus, a exemplo do auxílio emergencial de R$ 600. Este teria, originalmente, duração de três meses e um custo de cerca de R$ 151 bilhões.

O Ministro da Economia disse porém, que está avaliando uma redução gradual dessa ajuda emergencial. Não cravou para quanto, mas especula-se que poderia voltar ao montante inicialmente proposto, de R$ 200. [presidente Bolsonaro, com o devido respeito: isto é uma palhaçada. Demita o Guedes ou a situação do senhor ficará insustentável. Tem pessoas,eleitores seus, penando há um mês para receber primeira parcela do auxilio emergencial.] Segundo fontes da área econômica, essa é uma decisão que dependerá de por quanto tempo ainda vai durar o isolamento social e em que velocidade os governos farão a reabertura da economia.

Há, também, uma decisão política relevante a ser tomada. “Pode ser que a crise nos leve a adotar um programa de renda mínima”, pondera uma fonte oficial que não vê muita viabilidade política de simplesmente esticar por mais algum tempo o auxílio emergencial reduzido e, depois, acabar com ele.  A crise do coronavírus escancarou sem retoques o nível da desigualdade que se tem no país e há quem defenda, no governo, que alguma medida para diminuir a distância entre os que têm e os que nada têm, terá que prevalecer no pós-pandemia.

Micro e pequenas
Sancionada nesta semana pelo presidente da República, a lei 13.999, que criou o Programa Nacional de Apoio à Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), ainda será objeto de regulamentação para começar a funcionar na próxima semana. A ideia, no governo, é que todas as instituições financeiras públicas e privadas operem com essa linha de crédito. Um dos aspectos que será abordado na regulamentação é que o banco terá que oferecer obrigatoriamente o crédito do Pronampe, não podendo, portanto, sugerir no seu lugar uma linha similar específica da própria instituição, fora do programa.

A oferta de crédito estimada pela área econômica para o Pronampe é de R$ 15,9 bilhões. Caso os bancos privados não se interessem pelo programa, a Caixa Econômica Federal já avisou que estaria disposta a bancá-lo sozinha. As micro e pequenas empresas poderão contratar crédito correspondente a 30% da receita bruta de 2019, com prazo de 36 meses. A taxa de juros será a Selic, hoje de 3% ao ano, mais 1,25%.

As instituições financeiras participantes poderão formalizar operações de crédito no âmbito do Pronampe até três meses após a entrada em vigor da lei, prazo prorrogável por mais três meses. Também neste caso a distribuição do risco é de 85% para o Tesouro Nacional e de 15% para os bancos privados. A Caixa também está avaliando a criação de uma outra linha de crédito específica para profissionais liberais da área de saúde. Com a disseminação do coronavírus, o sistema de saúde está praticamente voltado para o combate à pandemia. Os pacientes de outras especialidades como fisioterapia, psicologia, pediatria, desapareceram dos consultórios nessa fase de isolamento social e os profissionais estariam enfrentando dificuldades financeiras.

Veto tardio
Bolsonaro vetou a flexibilização de reajustes salariais para funcionários públicos de determinadas categorias profissionais, conforme aprovado pelo Congresso no âmbito do projeto de socorro aos Estados e municípios. É importante que fique claro, porém, que o veto vem depois que a grande maioria dos Estados já concedeu reajustes a seus funcionários e que, portanto, parte do socorro financeiro que a União está dando aos demais entes da federação será usada, mais uma vez, para custear a folha de salários.

Enquanto 8 milhões de trabalhadores do setor privado tiveram que aderir à redução da jornada com corte proporcional de salários, dos servidores que não terão reajuste o governo sugeriu apenas que seus vencimentos fiquem congelados até o fim do próximo ano.

Claudia Safatle, jornalista - Valor Econômico



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Copom emite comunicado confuso e contraditório - Míriam Leitão


O Globo

Queda dos juros e dúvidas do BC

O Banco Central reduziu mais uma vez os juros, agora para 4,25%, apesar do pouco ou nenhum espaço de redução, mas avisou que é hora de interromper o ciclo de queda. Em um comunicado confuso, o Banco Central diz uma coisa e o seu contrário, usando para isso aquela linguagem própria, que carece de tradução para o idioma corrente do país. Diz que as expectativas de inflação estão baixas até 2022, mas ao mesmo tempo avisa que há riscos de que o atual nível de juros possa “elevar a trajetória da inflação acima do esperado”. Ora, se há risco, era o caso de não ter reduzido de novo a Selic. 
[pessoas com as quais conversamos, que entendem de economia tanto quanto entendemos = nada = mas, são fãs da  velha,  e que já foi  boa,  caderneta de poupança, começam a dizer que vão gastar o que tem na caderneta = sabemos que gastos, especialmente de poupança, além de reduzir a já pequena poupança interna, elevam a demanda e aumentam a inflação.
 
Dois deles, destacaram que se optarem por deixar o dinheiro na poupança e usar o daquele famoso cheque - dez dias sem juros - mesmo que por um dia, ficam no prejuízo = só de IOF pelo uso de um único dia, pagam 0,38%, que significa 50% a mais do que a poupança rende em um mês.]
Se cortou, é porque acha que a economia ainda precisa de estímulo, ou seja, acredita que a recuperação da atividade está mais fraca do que o imaginado. Mas diz na abertura do comunicado que os dados recentes mostram “a continuidade do processo de recuperação da economia”. Bom, se está tudo bem com a recuperação não precisava reduzir novamente os juros que já estavam no menor nível da história. Mais adiante, contudo, aponta como o primeiro risco “o nível de ociosidade elevado” que pode levar a um crescimento abaixo do esperado. Em resumo, avisa que o país está se recuperando, mas a retomada pode ser menor, que a taxa de inflação está controlada até o fim do atual mandato, mas pode subir pelo estímulo dos juros baixos.
 
Por fim, alertou que pode mudar de ideia, ou seja, voltar a cortar juros dependendo da evolução da economia. E mandou o recado de que é preciso continuar as reformas e perseverar no ajuste fiscal. Curioso é que no mesmo dia o presidente da República deu um sinal de que pode não perseverar no ajuste. Bolsonaro disse que pode zerar os impostos sobre combustíveis se os governadores fizerem o mesmo com os seus tributos. O governo federal está com déficit há seis anos, reduziu o rombo no ano passado usando receitas extraordinárias, os estados estão em penúria fiscal, os orçamentos não têm recursos para o básico, e o presidente propõe que o Tesouro e os estados subsidiem combustíveis fósseis, abrindo mão de bilhões em receita. O presidente permanece sem entender o mínimo de economia. Com a declaração, ele está avisando que pode, se quiser, ser irresponsável do ponto de vista fiscal e desafia os governadores a seguirem seu exemplo. Parece bravata e é. Se fosse a sério, o Banco Central teria que incluir isso no seu “balanço de riscos”.
 
A situação internacional complicou desde a última reunião do Copom. A crise do coronavírus tornou muito mais opacas as perspectivas da economia global este ano. As consequências são mistas. Têm o efeito de derrubar a inflação, mas ao mesmo tempo o de elevar alguns preços. O petróleo baixou de patamar desde o início da crise, mas o dólar aqui dentro bateu recorde histórico na semana passada. A incerteza da trajetória da economia mundial em 2020 subiu muito. Depois do primeiro susto, há consultorias agora prevendo que o impacto será pontual, com uma queda mais forte da China em um trimestre e recuperação rápida logo à frente. É cedo para dizer. Só será possível saber a real consequência econômica depois que houver sinais de que o vírus pode ser controlado. Hoje as notícias ainda são preocupantes. 
 
O consumo de petróleo na China deve cair 25% este mês. E a Organização Mundial de Saúde reduziu a esperança de que haja uma vacina eficiente contra a doença.  O Banco Central não menciona diretamente este mais recente fantasma que assombra a economia mundial. Diz que “no cenário externo apesar do recente aumento de incerteza” os juros baixos nas principais economias têm produzido um “ambiente relativamente favorável para as economias emergentes”.
 
Segundo levantamento da Infinity Asset, o Brasil passou a ter juros reais de 0,91% com esse novo corte da taxa Selic. Ou seja, descontada a inflação projetada à frente, os juros estão menores do que 1%. Se a conta for feita com a inflação dos últimos 12 meses, os juros já são negativos. Há economistas que consideram que o Banco Central está indo longe demais e reagindo a pressões do mercado para reduzir a taxa. Quanto menor a Selic, maior a migração de investimentos para a bolsa. Mas a sua comunicação trôpega de ontem indica que o próprio BC está confuso diante da atual, e realmente complexa, perspectiva da economia.
 
 
 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O que o ajuste fiscal já permitiu - Míriam Leitão

O Globo
 

País pode economizar em dois anos R$ 200 bi em juros

O Congresso, ao voltar, terá uma tarefa imediata. Decidir se dará seguimento à tramitação do projeto de venda da Eletrobras. Se não andar nada em fevereiro, na primeira revisão bimestral do Orçamento, em março, o governo terá que contingenciar R$ 16 bilhões. Mas há boas notícias fiscais. Uma delas é a contínua redução da dívida pública. Se os juros forem mantidos nos níveis atuais até o fim do ano, mesmo sem qualquer queda eventual, o governo terá economizado em dois anos quase R$ 200 bilhões só em pagamento de juros.
 
O contingenciamento é obrigatório pelas regras orçamentárias. Na conta das receitas entraram os R$ 16 bilhões que o governo deve arrecadar com a renovação das usinas, que só pode acontecer se a Eletrobras for privatizada. E pela lei, no final de março, o governo terá que dizer como está a gestão orçamentária. Nessa revisão, terá que comprovar que o projeto está andando. Do contrário, há risco de frustração de receita, e o congelamento de despesas é automático.

No final do ano passado, o governo acabou liberando tudo o que contingenciou. Mas o problema é que a liberação em muitos casos chegou tarde demais. A receita extra veio do leilão do petróleo. Até o início de dezembro havia R$ 34 bilhões bloqueados. Quando liberou, muitos ministérios não conseguiram gastar. O ano passado terminou com dados fiscais muito melhores do que o imaginado, mas ainda com déficit. Se parte desse dinheiro liberado no final de 2019 for gasto este ano, isso pressionará as contas de 2020. São os problemas das muitas regras engessadas do orçamento brasileiro.

A decisão de aumentar o salário mínimo na proporção da inflação do ano passado foi tomada na equipe econômica por dois motivos: primeiro, porque a lei exige que haja recomposição do poder de compra do salário mínimo. Segundo, como será por MP, o Congresso poderia mudar. O que criou a defasagem foi que a inflação subiu no final do ano, mais precisamente, no último mês. Por isso a inflação de fato ocorrida foi um ponto percentual acima das projeções.

Mas não há espaço para novas pressões de gastos. Uma delas foi o pedido do presidente Bolsonaro de se dar redução na conta de luz dos templos religiosos. As igrejas já têm deduções ou isenções em vários tributos como Imposto de Renda e IPTU. Se tiverem privilégios nos pagamentos da energia, isso será pago pelos outros consumidores. Pelo contrato, a empresa de energia não pode ter prejuízo na venda de luz. Então alguém pagará. Além do mais, isso vai na direção oposta da defendida pelo Ministério da Economia. [atualização: assunto já resolvido - presidente Bolsonaro considerando os inconvenientes desistiu da redução.]

O temor entre integrantes da equipe econômica é que as notícias de melhora nas contas do governo sejam entendidas como licença para aumentar os gastos. Alguns são indispensáveis, evidentemente. Mas o que se ouve por lá é que o Brasil não pode esquecer que ainda é um país deficitário e com uma grande dívida pública. A melhora mais visível foi exatamente na dívida. Essa redução dos juros e, portanto, dos custos, começou no governo Temer, quando a Selic saiu, de forma consistente, de 14,25% até 6,5%. Mas as quedas que aconteceram no atual governo já produziram efeito. Na conta de juros brutos, o governo pagou, em 2019, R$ 69 bilhões a menos do que pagaria se a Selic permanecesse em 6,5%. E este ano, se ficar constante, haverá outra redução de R$ 120 bilhões. O governo pagava de juros 9% do PIB em 2015 e deve estar pagando entre 4% e 4,5% agora, segundo fontes do governo. A mudança da TJLP para TLP, também na administração Temer, diminuiu o subsídio financeiro concedido via BNDES. E o banco no ano passado devolveu ao Tesouro R$ 123 bilhões, que foram usados para abater dívida. Além disso, houve a reforma da Previdência, que não tem efeito imediato, mas melhora as projeções, e a venda de parte das reservas cambiais.

Tudo isso fez cair a dívida pública. A previsão era de que bateria em 80% do PIB e está em 77%. Essa reversão estava projetada pelos economistas para acontecer no próximo mandato presidencial. Já está acontecendo. O temor agora é que o mundo político entenda isso como licença para ampliar gastos. E por mundo político entenda-se até o presidente, com pressões como essa da energia dos templos religiosos. O Brasil é um país que está começando o seu ajuste fiscal. Há muito a ser feito.

Blog da Míriam Leitão, jornalista - Alvaro Gribel de São Paulo - O Globo

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Novas regras do cheque especial começam a valer hoje; entenda o que muda


Por Larissa Quintino

Taxa de juros mensal da modalidade de crédito será limitada em 8% ao mês; bancos podem cobrar tarifas sobre limites acima de R$ 500

Começam a valer nesta segunda-feira, 6, as novas regras do cheque especial. Segundo resolução do Banco Central, as instituições financeiras só poderão oferecer essa modalidade de crédito com juros mensais de até 8% ao mês. Porém, os bancos podem cobrar uma tarifa para disponibilizar a modalidade na conta do cliente.
A cobrança dessa nova tarifa acontecerá, em primeiro momento, apenas para novos contratos. Ou seja, para quem abrir uma nova conta ou contratar limite de cheque especial a partir desta segunda. Para quem já tem cheque especial, a mudança nas regras passará a valer a partir de 1º de junho. Pela norma, os bancos podem cobrar uma taxa de até 0,25% por mês sobre o valor disponibilizado do limite acima de 500 reais. Essa taxa mensal será cobrada mesmo se o cliente não usar o limite do cheque especial.

Caso o cliente tenha limite de cheque especial de até 500 reais, ele é isento da cobrança. Porém, um consumidor que tem 5.000 reais de cheque especial só terá isenção em 500 reais. Os 4.500 reais excedentes estão sujeitos a cobrança. Neste caso, esse consumidor pode pagar 11,25 reais por mês. Caso ele use o crédito, essa quantia será descontada do valor que ele terá de pagar em juros. As alterações foram definidas em novembro pelo Banco Central. Até então, não havia nenhuma limitação de taxa para o cheque especial, que é uma das modalidades de crédito mais caras do país.

Os clientes que têm limite de crédito superior a 500 e que não querem ser taxados precisam contatar seus bancos para checar se haverá isenção ou pedir a redução do valor do crédito disponível. A orientação é que a solicitação gere um número de protocolo, para que o cliente possa cobrar a posição do banco depois.

Crédito caro
Segundo dados do Banco Central, a taxa média do cheque especial ficou em 306,6% ao ano em novembro, equivalente a uma taxa de cerca de 12% ao mês. Com a redução estipulada, os juros cairão quase pela metade, para 8% ao mês (151% ao ano), mas esse crédito ainda continuará sendo um dos mais caros do mercado e deve ser usado em caso de emergências. [8% ao MÊS que é o valor que os bancos estão autorizados a cobrar de juros pelo  uso do cheque especial é igual ao valor da Selic - só que o valor da taxa Selic, em torno de 4%, é ANUAL.
E sabemos que logo os bancos voltam a cobrar acima dos 8% e a taxa pela manutenção, sem uso do cheque especial continuará sendo cobrada.

Considerando que a poupança rende em torno de 0,5% ao mês é bem mais barato o cliente que necessitar usar o limite do cheque especial pedir emprestado a si mesmo e lembrar de pagar = depositando o dinheiro sacado, acrescido 0,5% na poupança.]
O Banco Central autorizou a cobrança de taxa mensal sobre o limite e a redução de até 8% no valor dos juros do crédito para tentar reduzir o valor do cheque especial.
O BC disse que autorizou a cobrança da taxa para ajudar a reduzir o custo do cheque especial. Hoje, os bancos disponibilizam cerca de 350 bilhões aos clientes como limite. Desse total, apenas 26 bilhões são de fato utilizados pelos clientes.


VEJA - Economia




sábado, 28 de dezembro de 2019

À espera da virada - Alta de 2,25% prevista para o PIB em 2020 confirmará retomada econômica - IstoÉ

Marcos Strecker 

Alta de 2,25% prevista para o PIB em 2020 confirmará retomada econômica, mas o desemprego vai persistir

Dois Brasis convivem no atual cenário econômico. Um começa a acelerar: o próximo ano terá um crescimento de 2,25% do PIB, segundo a expectativa dos agentes econômicos compilada pelo Banco Central. Não é excepcional, mas será a maior expansão em oito anos. O outro Brasil é um país com um contingente de 12,4 milhões de desocupados. Os desempregados, subempregados e desalentados somam mais de 20 milhões de habitantes. [do contingente de desempregados é que se retiram os desalentados e os subempregados.
Só que alguns 'estatísticos', para piorar o que já está ruim, somam o total de desempregados ao de subempregados e de desalentados - 'esquecem' que quem está desalentado por não conseguir emprego ou subempregado para ir sobrevivendo enquanto obtém um emprego, está necessariamente desempregado.]
E tudo indica que essa realidade vai continuar. É a face mais dramática da crise social e da incapacidade do governo Bolsonaro em atuar concretamente para reverter os problemas do mercado de trabalho.

As privatizações anunciadas até aqui são insuficientes, apesar das 44 concessões previstas para 2020 pelo Ministério da Infraestrutura
A julgar pela ação do Ministério da Economia, essa realidade não vai ser alterada no curto prazo. Além da liberação parcial do FGTS, que revive uma medida tomada pelo governo Temer, o governo adotou apenas um desajeitado programa de emprego batizado de Verde Amarelo, destinado a estimular a contratação a partir da desoneração da folha de pagamento das empresas. O número de beneficiados —1,8 milhão de jovens — é considerado superestimado pelos especialistas. Para não provocar um rombo nas contas públicas com a benesse fiscal aos empresários, o governo propôs um mecanismo que vai contra o próprio espírito da iniciativa — quer taxar os desempregados beneficiários do seguro-desemprego. Também pesa o fato de que essa medida foi utilizada à exaustão pela ex-presidente Dilma Rousseff com resultados pífios. Por essas razões, é pouco provável que o Congresso aprove a Medida Provisória que criou o programa da forma como foi concebido.
                   
EUFORIA Apesar da fuga dos     estrangeiros, bolsa de valores bateu o recorde histórico seguidamente (Crédito:Bruno Rocha/Fotoarena)
Reformas e fast tracking
Seria mais um revés para a equipe econômica no Congresso. Além da Reforma da Previdência, que tomou o calendário legislativo de 2019 e só foi aprovada com a liderança decisiva do Parlamento, são poucas as iniciativas da equipe econômica que de fato avançaram na ambiciosa pauta econômica do ministro Paulo Guedes. A sensação é de que as privatizações anunciadas até aqui são insuficientes. A promessa de arrecadar até R$ 1 trilhão com as desestatizações já foi esquecida. O programa de concessões é lento e repleto de empresas pouco relevantes — as 44 concessões para 2020 anunciadas pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, são capitaneadas pelo novo leilão da rodovia Dutra, e não trazem novidades.  [oportuno lembrar que mais de 50% dos projetos que o Governo Bolsonaro pensa apresentar para facilitar estatização, logo que começam a ser formatados são alvos de decisões judiciais que travam o processo ou mesmo o Poder Legislativo boicota.
Governar sofrendo boicote sistemática do Legislativo e do Judiciário fica dificil.]

Para agilizar o processo, está em discussão a criação de uma Fast Track, ou via rápida, para facilitar as privatizações. Mas até agora o Ministério da Economia não enviou esse projeto ao Congresso. Enviou, por outro lado, três Propostas de Emenda Constitucional (PECs) — que são de difícil aprovação — para limitar os gastos públicos em caso de emergência financeira e para redesenhar o Estado, descentralizando recursos e fundindo municípios. Devem enfrentar vários obstáculos no Legislativo, e seus efeitos práticos no curto prazo são limitados.

Num sinal de confiança, o risco-país caiu ao nível mais baixo em nove anos. A Selic está no menor patamar histórico e a B3 bate recordes seguidos
Enquanto os resultados não aparecem, resta esperar que nos próximos meses a economia reaja ao estímulo monetário que, este sim, avançou. A Selic, taxa básica de juros, recuou ao nível mais baixo da história. Está em 4,5%, quase dez pontos percentuais abaixo de julho de 2015 (quando cravou 14,25%). Essa baixa estimula o investimento produtivo e tem afugentado as aplicações em renda fixa, que são substituídos pela aposta na B3. O Ibovespa, principal indicador do desempenho da bolsa de valores, bateu seguidos recordes em 2019, ainda que os estrangeiros tenham tirado um volume recorde de recursos do País, que eram direcionados às ações brasileiras. Num sinal auspicioso de confiança na economia brasileira, o risco-país medido pelos títulos CDS (Credit Default Swap) de cinco anos atingiu o menor nível desde novembro de 2010.

Ao mesmo tempo, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) elevou de estável para positiva a perspectiva da nota da dívida pública brasileira. Isso significa que existe a possibilidade de o País retomar o grau de investimento, classificação concedida pelas empresas de rating especializadas que garante o aporte de mais fundos do exterior. Se a crise internacional não se agravar — por algum conflito ou pelo recrudescimento da guerra fiscal China x EUA —, deve-se esperar um ano mais positivo para o País, ainda que menos arrebatador do que o discurso superlativo do ministro Paulo Guedes. No início de 2018, o Ministério da Economia afirmava que a economia cresceria 2,9% em 2019 caso a Reforma da Previdência passasse. A realidade tratou de desmentir mais essa previsão irreal. [a previsão não foi tão irreal;
o ministro projetava aquele crescimento se a reforma fosse aprovada - o que só ocorreu na segunda metade de 2019.
Se algum dos críticos tiver a disposição para somar o crescimento mensal desde a aprovação da Reforma verá que anualizando o resultado o ministro não mentiu.]

Confiança no crescimento
Os dados estimulantes, amparados por uma aceleração na atividade econômica no último trimestre, ajudam a trazer mais confiança e atenuam os efeitos da política divisionista e desestabilizadora do presidente Jair Bolsonaro. Todo o esforço do governo tem sido até o momento concentrado nas reformas macroeconômicas e em medidas capazes de reativar a economia. A aposta é que, assim, os empregos e os salários voltarão. Falta a população perceber de fato que será beneficiada.

 IstoÉ

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Varejo melhora e aguarda reforma - Míriam Leitão

O Globo

 

Gasto médio neste Natal avança e vendas em 2020 devem voltar ao nível pré-crise no setor, que espera pela reforma tributária


Varejo melhora e aguarda reforma

Shopping do Rio

Nesta longa crise que atingiu o Brasil, o Natal será um ponto importante. Apesar de as vendas no ano crescerem menos do que em 2018, é previsto que o gasto médio do consumidor neste Natal tenha retomado o nível de cinco anos atrás. Durante a recessão, o varejo encolheu 20%. Desse baque foi se recuperando devagar e apenas em 2020, se a projeção se confirmar, as vendas voltarão ao nível de 2014.

A Confederação Nacional do Comércio revisou para 5,2% a estimativa de alta nas vendas neste Natal. Em 2014 as famílias foram às compras sem saber o tamanho da recessão que o país enfrentaria. Depois das grandes quedas de 2015 e 2016, o consumidor ficou arisco. Agora, o gasto médio esperado é de R$ 489 por família, o que levará o faturamento do setor a R$ 36,3 bilhões no período natalino.

No geral, 2019 terá um crescimento de 1,9% nas vendas do comércio. É menos do que a alta de 2,3% de 2018. Isso porque este ano teve dois períodos distintos. O primeiro semestre foi de frustração, explica Fabio Bentes, da CNC. Os erros do governo, os ruídos que ele produziu, tiraram o vigor da economia. Já a segunda parte de 2019 foi positiva. Em 2020 a alta esperada é de 3%. E se não houver novos sustos, o país poderá dizer que a atividade de fato engrenou.
— Três fatores foram mais importantes para a melhora. A inflação baixa garantiu o poder de compra dos consumidores. No crédito, as taxas ainda são absurdamente altas, mas os prazos estão mais longos e o que o brasileiro leva em consideração mesmo é o preço da prestação. O terceiro ponto foi a liberação do FGTS, que ficou concentrada neste fim de ano e impulsionou a Black Friday e o Natal — explica Bentes. [somos leigos em economia, mas, continuamos entendendo que antecipar a liberação do FGTS, prejudica o trabalhador seja reduzindo os recursos para eventual indenização, também reduz a disponibilidade financeira para compra de um imóvel, reduz o que o trabalhador recebe quando da aposentadoria - que aind sendo pouco, ajuda a reduzir as atribulações da velhice.]

Essa década foi um período de volatilidades para o comércio. Em 2010 as vendas cresceram 11,3%. Em 2015 e 2016, a queda foi maior que 8% ao ano e mais de 330 mil postos de trabalho foram fechados. Em 2019, o saldo está positivo em 85 mil. A expectativa é que ano que vem sejam recuperados mais 119 mil empregosMaurício Filizola, presidente da Fecomércio do Ceará, lembra que a comunicação do governo pode atrapalhar. Foi o que aconteceu neste primeiro ano de mandato. O começo foi tão turbulento que as previsões de crescimento passaram a apontar até para uma recessão técnica na economia. A confiança do consumidor, que havia ensaiado uma alta, voltou a cair. Mesmo tendo melhorado nos últimos meses, o índice da FGV que mede o otimismo dos consumidores fechou o ano menor que em janeiro. Está no mesmo nível que no começo de 2015.

Filizola aponta um indício de que a recuperação agora é para valer. Os consumidores estão comprando mais produtos semiduráveis, como eletrônicos, roupas e calçados. Pela experiência dele, esse é um sintoma de força do consumo. As famílias estão mais dispostas a comprar produtos mais caros, que dependem de crédito. A previsão do BC para o comércio melhorou nos últimos de três meses, de 1,2% em setembro para 2% da previsão divulgada na semana passada. No último dado setorial divulgado pelo IBGE, o de outubro, as vendas foram 4,2% mais fortes que um ano antes, apurou o IBGE.

Nos shoppings, também o ano foi melhorando na reta final. A previsão é de que as vendas cresceriam 7% e já antes da Black Friday, a alta acumulada era de 8,2%.
— Este foi o melhor Natal dos últimos anos para os shoppings, a estimativa é de um avanço de 10%. Os empregos criados podem chegar a 70 mil. A taxa de juros mais baixa tem efeito no consumo e também no investimento. Com o retorno menor da Selic, abrir um empreendimento comercial fica mais atraente — conta Glauco Humai, presidente da Abrasce, a associação dos operadores de shoppings.

As ações das empresas de varejo na Bolsa mostraram esse momento mais positivo.
 A Magazine Luiza dobrou de preço novamente este ano. A Via Varejo quase triplicou sua cotação. São empresas que apostaram no comércio eletrônico, conta Thomaz Fortes, da gestora de recursos Warren. Mas elas também dependem das mesmas condições do varejo em geral. Ele acha que os riscos ainda existem na economia, embora as condições para o varejo devam continuar positivas em 2020. O que o setor mais esperava este ano, a reforma tributária, não veio e teme-se que em 2020, ano eleitoral, ela também não avance. A tributação mais simples sobre o consumo reduziria o custo dos lojistas. Com essa dúvida, os grandes investimentos, diz Glauco Humai, devem ficar para 2021.

Blog da Míriam Leitão, colunista - Com Marcelo Loureiro - O Globo

 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

PIB, devagar, quase acelerando - Folha de S. Paulo

Vinicius Torres Freire

Faz seis anos, conjuntura não era tão favorável para retomada; política é risco

Aumentou aprobabilidade de aceleração” do crescimento nos próximos meses, sugere uma medida combinada de indicadores financeiros, de produção industrial, do comércio exterior e de expectativas empresariais e do consumidor.  Vai, racha ou ainda se arrasta? Uma aceleração pode ter também consequências políticas mesmo em meados de 2020, ainda mais dada a conformação gelatinosa dos pedaços da política brasileira recente.

“O cenário do Copom supõe que essa recuperação seguirá em ritmo gradual”, escreveu a diretoria do Banco Central na exposição de motivos da decisão de baixar a Selic na semana passada, no entanto (na Ata do Copom). Isso parece significar que o crescimento do PIB deve passar aos poucos do ritmo de crescimento de 1% ao ano para 2%. Mantido o ritmo do segundo e terceiro trimestres até o final de 2020, a economia cresceria 2,2%, por exemplo.

Ainda assim, o pessoal do BC escreveu também na Ata que a economia pode acelerar além da conta atual, dadas certas e novas condições da economia: taxa básica de juros historicamente baixa, nova e crescente fonte de financiamento da economia (mercado de capitais), menos crédito público subsidiado, por exemplo. É uma hipótese, lá está claro, pois se desconhece como funciona a economia neste novo regime (e, não está lá escrito, depois de meia dúzia de anos de recessão e estagnação).

A medida que sugere a “probabilidade de aceleração nos próximos meses” é o Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (IACE), publicado em parceria entre a FGV-Ibre e The Conference Board. É uma combinação ponderada de taxa básica de juros no mercado para um ano, do desempenho do Ibovespa, de expectativas de empresas da indústria e de serviços, de confiança do consumidor, da produção de bens de consumo duráveis e de preços relativos (termos de troca) e de quantidade de exportações brasileiras.


Pelos números recentes e a julgar pelo resultado passado do efeito conjunto de tais indicadores, a economia parece estar no caminho da aceleração. Mas a gente não tem como prever que os efeitos continuem os mesmos, como de costume. Para dificultar a estimativa, temos esses fatos muito novos, como a taxa básica real de juro em torno de 0,6% ao ano, ressalte-se, e a configuração da economia depois de anos de ruína.

Para o Banco Central, traços de respostas para essas questões vão indicar se a taxa de juros (Selic) vai cair de novo em fevereiro de 2020 (próxima reunião para decidir sobre juros). Caso a economia cresça o previsto ou até acelere, o clima político deve mudar, caso o governo de Jair Bolsonaro não cause mais tumulto ou dê mais tiros no pé ou na orelha.tiros no pé ou na orelha. Não vai ser o “milagre do crescimento”. O desemprego continuará muito alto. A distribuição do crescimento não deve ser favorável para os mais pobres; não há dinheiro para fazer redistribuição, ao contrário. Mas haverá beneficiados, mais gente vivendo algo melhor do que agora e menos gente vivendo pior. Pode aparecer alguma percepção “pop” de que reformas e despiora da economia têm algo a ver.

Seria uma situação que levaria um governo normal a atrair aliados e fazer composições político-partidárias mais amplas. No caso de Bolsonaro, difícil dizer, até porque em termos políticos o governo vive voluntária ou involuntariamente no caos e do caos. Mas haveria condições para o clima político mudar. Na direção de formação de alianças ou de ênfase em “quebrar o sistema”?

Vinicius Torres Freire, colunista - Folha de S. Paulo

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Novo corte nos juros esta semana é amplamente esperado - O Globo

Marcelo Loureiro

A inflação acelerou e o crescimento do PIB surpreendeu, mas o relatório Focus manteve a projeção para o corte dos juros esta semana. A mediana prevê a redução de meio ponto na Selic, para 4,5%. O Banco Central divulgará sua decisão na quarta-feira. Já o crescimento do PIB do terceiro trimestre provocou mudanças no Focus. Os especialistas revisaram os cálculo e esperam alta de 1,1% na economia em 2019.


Sede do BC



Na sexta-feira, o IBGE informou que o IPCA do mês passado subiu 0,51%, bem acima do 0,10% de outubro. A aceleração, puxada pelo preço das carnes, elevou a estimativa para o IPCA deste ano. A mediana no Focus saltou de 3,52% para 3,84%. Mesmo com o avanço, a inflação será menor que o centro da meta para 2019, que é de 4,25%.

Em relação ao PIB, as previsões melhoraram após o resultado do terceiro trimestre, divulgado na terça-feira, apontar alta de 0,6%. O dado veio mais forte do que se previra. A mediana subiu de 0,99% para 1,1% na semana, mas ainda está bem abaixo do que o mesmo Focus estimava em janeiro. Naquela época, a projeção era de alta de até 2,6%. Para o ano que vem, a estimativa ficou quase estável, em 2,24%.

Blog da Míriam Leitão, em O Globo - Marcelo Loureiro

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Modesta retomada – Editorial - Folha de Paulo


Com alta do consumo, projeções para expansão do PIB em 2020 podem superar 2%


Após um longo período de letargia, em que a atividade econômica ficou acomodada num ritmo de crescimento próximo a 1% ao ano, os indicadores mais recentes sugerem aceleração —ainda que modesta. Os sinais mais positivos têm vindo do varejo e do setor de serviços em geral. No terceiro trimestre, as vendas no comercio, incluindo automóveis e construção, cresceram 1,4% ante o trimestre anterior, ou 5,6% em termos anualizados.



O ritmo deve continuar sólido nestes últimos meses do ano com a liberação dos saques do FGTS. Considerando a melhora também em outros setores, o indicador de atividade do Banco Central mostrou alta de 0,9% no período julho-setembro, o equivalente a 3,6% se a cifra for anualizada. Também a criação de empregos parece engatar tendência mais favorável. O Caged, que mede a abertura líquida de empregos com carteira assinada, mostrou 70,8 mil novas vagas em outubro.



Embora em ritmo ainda longe de satisfatório, o emprego cresceu de forma generalizada, em serviços, comércio, indústria e construção civil. Em 12 meses, o saldo positivo chega a 562,1 mil postos. [ainda não é o ideal, mas, o suficiente para colocar o número de desempregado um pouco abaixo dos 12.000.000 - número carregado de simbolismo de uma queda.
Destaque-se que o desalentado e subempregado é antes de tudo um desempregado,com isto ele é contado duas vezes - no rol dos desempregados ao qual é somado o número dos desalentados ou subempregados e com isto ele é contado duas vezes.] É verdade que a pesquisa do IBGE nos domicílios —que captura todas as formas de emprego, não apenas as formais, e também indicadores de desalento e precariedade— sugere um quadro menos favorável.



No terceiro trimestre, o desemprego permaneceu elevado, abarcando 12,5 milhões de pessoas, ou 11,8% da população ativa, quase o mesmo patamar do ano passado. Mostra-se que o 1,45 milhão de novas vagas em 12 meses são em sua grande maioria (73%) informais. Para reduzir subemprego e informalidade, um ou dois trimestres mais positivos decerto não bastam. As repetidas decepções devem servir de alerta para análises mais otimistas. Feita a ressalva, desta vez há mais consistência.



Vão ficando para trás os efeitos de choques que prejudicaram a retomada, como a greve dos caminhoneiros de 2018, a incerteza a respeito das reformas e até o impacto da recessão argentina, que subtraiu 50% das exportações industriais brasileiras para o país vizinho. Por fim, há a politica monetária. Com juros hoje em 5% ao ano e perspectiva de novas reduções, estima-se que haverá considerável impulso para a economia em 2020 —mesmo que a queda da Selic ainda não se reflita plenamente no custo do crédito para pessoas físicas e pequenas empresas.



Tudo considerado, se não houver uma crise internacional grave ou novos ruídos políticos vindos do governo de Jair Bolsonaro, as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto em 2020, hoje próximas a 2%, podem subir aos poucos nas próximas semanas.
Editorial - Folha de S. Paulo

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Para Ilan, Brasil venceu anomalia dos juros altos, mas tem outras barreiras para voltar a crescer - Miriam Leitão

O Globo

Para Ilan, ex-BC, país tem barreiras para voltar a crescer

Ilan assumiu o BC em junho de 2016

Os juros baixos vieram para ficar, avisa Ilan Goldfajn. Ele falou aos repórteres Claudia Safatle e Alex Ribeiro, do “Valor”, na primeira entrevista após deixar o BC, no início do ano. Ilan, no comando do Banco Central, ajudou o país a atravessar uma anomalia brasileira. "Os juros menores vieram para ficar", disse 

Ele assumiu o cargo com o país em recessão e juros de 14%, em meados de 2016. A inflação chegou a 10%. A política econômica no governo Temer conseguiu derrubar o IPCA para um patamar até abaixo do piso da meta. As taxas de juros puderam cair. É claro que a economia fria também influencia. Depois de dois anos de recessão, a atividade estagnou. Mas não se pode subestimar. O Brasil, mesmo em períodos de recessão, já registrou inflação alta. Aconteceu em 2015 e em 2016.

Especialistas não prevêem nenhum susto para a inflação no curto prazo. Os juros devem cair mais. Quando Ilan deixou o BC, a taxa havia caído para 6,5%. Hoje está em 5,5% e estima-se que cairá mais um ponto este ano.  O Brasil escapou dessa anomalia, mas precisa fazer todo o resto, que é escapar da “armadilha da renda média”, como dizem os economistas. O país não cresce suficientemente nem consegue aumentar a renda per capita e a produtividade. Não basta ter juros baixos. Mudanças têm que ser feitas para que a economia ganhe mais vigor. Ilan explica que a Selic em níveis baixos não garante o crescimento da economia. O BC sozinho não vai resolver sozinho o desafio atual, que é crescer e gerar emprego.

Uma boa notícia é que economistas de alguns bancos revisaram para cima a projeção de crescimento deste ano e dos próximos. O Itaú, que previa 0,8% para 2019, aumentou para 1%. O desempenho melhora nos anos seguintes. Em 2020, a estimativa é de alta de 2,2%. Apesar dessa melhora nas expectativas, em geral espera-se um crescimento melhor que o atual, mas ainda baixo.Ilan entende que o recuo nos juros começa a chegar a algumas linhas bancárias, voltadas a grandes empresas. O grande problema no setor bancário do Brasil é que a Selic, paga pelo governo, cai e não é acompanhada pelos juros dos bancos.  

LEIA TAMBÉM: Previsão de juros a 4,5% no fim do ano vira o padrão

 
Míriam Leitão - Economia, em O Globo



domingo, 13 de outubro de 2019

A banca viciou-se nos juros altos - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Bancos lucram tanto com quem paga que isso compensa calotes que tomam

A Selic está em 5,5% ao ano, mas a mordida dos juros do cartão de crédito cresceu quase 10%

O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, fez uma estranha associação entre os juros altos da banca e a situação da economia:
“O aumento da inadimplência, a queda lenta do desemprego e o baixo crescimento da renda criam alguma cautela do ponto de vista de quem está concedendo o crédito”. 

A cautela poderia levar a uma menor oferta de crédito, não a uma subida nas taxas de alguns empréstimos. A Selic está em 5,5% ao ano, algumas taxas caíram, mas a mordida anual dos juros do cartão de crédito parcelado foi de 163,1% para 177,3%. [a taxa do cheque especial do BB, para clientes 'estilo', com limite acima da média, não utilizado, apresenta CET mensal de 12,80% e anual 323%.]
Indo-se ao livro “Uma chance de lutar”, a autobiografia da senadora Elizabeth Warren, candidata a presidente dos Estados Unidos pelo partido Democrata, vê-se a seguinte cena:
Pouco antes da crise de 2007 ela deu uma palestra para executivos do Citibank e disse que eles poderiam conter as inadimplências (e as bancarrotas familiares) parando de emprestar a quem estava em dificuldade
Ao que um dos caciques presentes tomou a palavra:
“Professora Warren, gostamos muito de sua exposição, mas não temos a intenção de parar de emprestar a essas pessoas. São eles quem garantem a maior parte de nosso lucro.” 

Cobrando juros altos para quem parcela as dívidas do cartão de crédito, a banca lucra tanto com quem paga que isso compensa os calotes que toma. O Citi continuou apostando e nunca mais convidou a professora Warren. Em 2008, o banco foi às cordas, salvou-se com um socorro de US$ 20 bilhões da Viúva e hoje é uma sombra do que foi. Já a professora, elegeu-se senadora e lidera (por pouco) algumas pesquisas de preferências entre os candidatos do partido Democrata.

(...)
 
Não sou o Macri
Bolsonaro tem repetido um bordão sempre que um çábio da ekipekonômica pretende ensinar-lhe o que fazer:
“Eu não sou o Macri”.
O presidente argentino Mauricio Macri fez o que os çábios recomendavam e está terminando o mandato com falta de votos e excesso de apupos. 

Por mais que o bordão pareça categórico, resta saber quem é Jair Bolsonaro.
Os çábios liberais garantem que Macri fritou-se por não ter feito tudo o que propunham, mas é possível que eles estejam tomados pela Síndrome de Minoru Genda.
Genda foi o oficial da Marinha japonesa que em 1941 planejou o ataque à base americana de Pearl Harbor e forçou sua entrada na Segunda Guerra Mundial.

Até morrer, em 1989, o almirante Genda garantia que o ataque foi uma boa ideia, que só deu errado porque faltou completá-lo com um segundo bombardeio.
Quem sofre da Síndrome de Minoru Genda nunca admite que teve um má ideia. Sempre atribui a derrota a quem decidiu não radicalizar uma iniciativa que, desde o início, daria errado. 

Aras em Roma
Aproveitando sua passagem por Roma, o procurador-geral Augusto Aras precisa pedir a proteção de Santa Dulce dos Pobres e aos santos de todos os altares da basílica de São Pedro. 

O doutor ainda não teve tempo de mostrar a que veio e já pegou duas lombadas.
Faltou pouco para que sua romaria fosse paga pela Viúva. Nomeou um general para sua assessoria especial de assuntos estratégicos (ganha uma viagem a Caracas quem souber para que serve isso numa procuradoria-geral) e exonerou-o oito dias depois.
A PGR informou que a exoneração se deu porque em uma semana ele cumpriu a sua missão. Fica combinado assim. [Aras pagou sua própria passagem e demais despesas;
Também foram ao Vaticano Alcolumbre e Maia - quem bancou passagens e demais despesas? 
 
O poderoso Nabhan
Apesar de sua tumultuada passagem pelo Exército, o capitão Jair Bolsonaro aprendeu as lições da hierarquia.
O presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antônio Nabhan Garcia, foi um dos seus primeiros aliados, defendeu a saída do Acordo de Paris e a fusão do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente e poderia ter sido nomeado para o cargo. Não o foi, e ficou com a Secretaria Especial de Assuntos Fundiários.

Em dez meses, detonou os generais que haviam sido colocados na Funai e no Incra. O general da Funai disse que ele “odeia os indígenas”, e o do Incra disse que havia se tornado uma “pedra no sapato” de “verdadeiras organizações criminosas”.
Nabhan é um litigante por temperamento, mas a ministra da Agricultura é a doutora Tereza Cristina. Se a hierarquia prevalecer, ele acabará entendendo isso.
 
Coluna em Folha de S. Paulo e O Globo - 13 outubro 2019 - Elio Gaspari, jornalista