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quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O Direito, apodrecido e insepulto - Valmir Pontes Filho

        Logo no mês e ano em que completo 50 anos de formatura (pela velha Faculdade de Direito da UFC), e depois de quase 40 de magistério superior, cheguei à sinistra conclusão de que o Direito – que estudei tanto e que ensinei com amor – morreu, apodreceu, embora reste insepulto.

Quando ainda entusiasmado com a advocacia privada, após anos de dedicação exclusiva ao serviço público, certa vez abordei um fraterno amigo para perguntar se a empresa do seu pai poderia contratar o meu escritório, prometendo-lhe prestar serviços dedicados e éticos. 
Ele me respondeu que não poderia dispensar um outro, que lhe garantia êxito em todos as ações judiciais. Eu não tinha como competir com esse "super attorney"!

Daí me veio a conclusão de que a advocacia séria, como a que faziam meu pai, eu mesmo, e tantos profissionais sérios, havia desaparecido num "buraco negro" (descoberto pelos astrofísicos, sem conotações raciais). Há pouco, um magistrado "supremo" anulou, monocraticamente, multas bilionárias (aplicadas pela prática de corrupção apuradas pela "Lava Jato"), sem ter o pudor de fazê-lo mesmo tendo a própria esposa como patrocinadora da causa vencedora.

Inaugurou-se a "Jurisdição Anulatória", tema de um precioso artigo do meu Professor Adriano Pinto, por quem tenho sincera amizade e admiração. Ela, disse o Mestre, "...serviu à premiação de imputados...para os quais existiam condenações em duas e até três instâncias". Mas não os inocentou... nem poderia!

Outro ilustre super togado houvera dito que o que aconteceu na Petrobrás "... foi crime mesmo". Mas parece ter cambiado de ideia! 
O anteriormente referido instaurou um inquérito tão largo e comprido que mais parece um tunelamento quântico que liga as dimensões do multiverso... coisa sem começo nem fim. E nomeou (sem o obrigatório sorteio) um colega seu para comandá-lo, que se transformou no incontestável "Grão Mestre" da judicatura nacional.

Está a vir, em passos lépidos e fagueiros, a censura à imprensa e às redes sociais... afinal é preciso manietar essa perniciosa "liberdade de opinião e de expressão", garantida pela Constituição defunta. Inventaram até um sistema, que instalado no celular, o mantém sob severa vigilância... prefiro mil vezes que um ladrão o leve e o troque por baseados.

Ficou também dito que o novo Ministro deveria agir, no STF, como um "bom comunista"... se existir tal possibilidade, ver-me-ei obrigado a crer, logicamente, num Deus mau e injusto.

O Direito, tanto como estrutura normativa ou como ciência, desencarnou... mas resta insepulto, a apodrecer na via pública. Não há um "rabecão" que tenha a misericórdia de vir pegar suas vísceras bolorentas.

O Presidente reeleito não se conteve ao afirmar, sem rebuços, que voltava ao governo para "f..." seus inimigos. 
E que os que se opõem ao "sistema" – em especial os "bolsonaristas" (pérfida espécie sub-humana, suponho) merecem ser "extirpados'. Outro prócer da leninismo afirmou, em concorrida palestra, que um suposto "bom direitista" merecia, em verdade, "um bom paredão, um bom fuzil, uma boa bala, uma boa pá e uma boa cova". Sensibilidade cristã extrema, esta!

Tudo isto, para aumentar o meu pavor, sob as bençãos da Igreja Católica. Em brilhante escrito, disse bem o poeta e jornalista Barros Alves (em artigo publicado no Jornal O Estado): "Então, a Igreja Católica no Brasil, com as bênçãos do papa marxista Francisco, se contrapõe ao que consideram uma heresia  pactuar diretamente com o Satanás. Os que dizem que Deus é brasileiro estão seriamente inclinados a acreditar que ele foi morar na Argentina. Não temos motivos para ufanismos. Que neste Natal o Deus-Menino se lembre dos brasileiros e retorne para nós".

Assim seja!

Site: Conservadores e Liberais - Valmir Pontes Filho

 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

A toga manchada de sangue - Nikolas Ferreira

Vozes - Gazeta do Povo 

Os desdobramentos ligados ao ativismo judicial e à interferência no poder legislativo não são novidade para mais ninguém. 
Escrevi sobre isso em um artigo anterior, inclusive. 
Porém, o STF parece não deixar de nos surpreender negativamente. 
A ministra Rosa Weber liberou para julgamento a ação do PSOL que pode [pretende e não passará de uma reles pretensão.] descriminalizar o aborto até 12 semanas. 
A análise foi pautada para a próxima sexta-feira, 22 de setembro, no plenário virtual da corte, onde os ministros votam e não há discussão. 
 
É triste ver que além da invasão de competências, o judiciário abre caminho para a matança de crianças no ventre de suas mães
Aos três meses de gestação a criança já está completamente formada, tem impressão digital, cérebro, seu coração bate e possui movimentos, mesmo que involuntários. 
Qual a diferença entre nós e ela? Apenas tempo e nutrição. 
 
Não acredito que o desejo incessante pela morte dos mais vulneráveis e indefesos seja meramente fruto de discussões acerca de políticas públicas. O plano espiritual rege o mundo físico e não seria diferente se tratando dessa agenda demoníaca. 
O evangelho de Mateus conta como o rei Herodes ordenou um infanticídio em Belém, sendo Jesus Cristo o principal alvo. 
A história vem se repetindo e massacres em massa são almejados ao redor de todo o mundo.

    É triste ver que além da invasão de competências, o judiciário abre caminho para a matança de crianças no ventre de suas mães

Na Colômbia, a Corte Constitucional descriminalizou o aborto até 6 meses de vida
Argentina, Cuba, Guiana, México e Uruguai são outros países que também flexibilizaram a interrupção da vida. 
Na Europa, eugenistas permitem que bebês diagnosticados com síndrome de Down sejam dizimados. 
Não podemos aceitar que o Brasil, onde a população é majoritariamente cristã e contra esse absurdo, seja mais um nome acrescentado a essa lista. 
 
Nossa luta deve girar em torno de proporcionar às crianças o direito de moradia, saúde, segurança, alimentação e educação. 
Trabalhar para que elas não sejam abandonadas pelos pais e pelas mães. Porém, sem a vida não há qualquer outro direito subsequente
 
Minha Aurora tem hoje exatamente três meses e jamais cogitaríamos decidir por suprimir sua vida. Ela não é uma extensão do corpo da minha esposa, e chega a ser loucura ter que provar isso afirmando que há dois corações, quatro pernas e por aí vai. 
Um dia uma mulher tentou convencer a minha avó a abortar, sob os argumentos de que ela era muito jovem e que não tinha boas condições financeiras pra arcar com isso. 
Se a ‘’Dona Basília’’ tivesse dado ouvidos, hoje a minha mãe não existiria, e consequentemente, nem mesmo eu, as minhas irmãs e a minha filha. 
Já imaginou a dimensão do "efeito borboleta"’
É muito fácil e incoerente apoiar o aborto depois de ter nascido. 
 
Uma canetada não pode transformar o útero das mulheres, local de vida, em cemitério. 
Os verdadeiros genocidas são os que querem aprovar esse banho de sangue. 
Nunca abrirei mão dessa pauta, que não é somente política, mas humana. Nem mesmo o pior criminoso é legalmente punido com a morte no Brasil, como querem fazer com os bebês. 
 
Finalizo pedindo principalmente aos cristãos que, caso isso avance, estejamos unidos para irmos às ruas.  
Hoje existem vários movimentos que dão suporte não só psicológico, como financeiro àqueles que cogitam o aborto ou já o cometeram. 
Isso sem contar com os trabalhos feitos por igrejas responsáveis que estão sempre dispostas a receber e cuidar de pessoas em situações de vulnerabilidade. Enquanto eu tiver fôlego a vida será sempre defendida. ADPF 442 não!

Nikolas Ferreira, deputado federal - Coluna Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

SÃO SEBASTIÃO - 20 de janeiro [Padroeiro do Rio de Janeiro e o protetor da Humanidade, contra a fome, a peste e a guerra]

Dom Fernando Arêas Rifan       

Hoje celebraremos a solenidade do glorioso mártir São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa, nossa capital, e, portanto, especial protetor do Estado do Rio de Janeiro.

Conforme nos explica Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, São Sebastião nasceu em Narbona, uma cidade ao Sul da França, no século III. Era filho de uma família ilustre. Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde passou os primeiros anos da infância e juventude.

A mãe educou-o com esmero e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.

Foi denunciado ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção. Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. 

Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido, recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro.

Seu corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade. Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e da fé.

Nesses tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais, São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.

Um mártir não deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo, e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Além disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs.

Nota do editor: Na véspera do  dia do padroeiro do Rio de Janeiro, um grande bispo escreveu aos mártires de hoje, sobre esse grande mártir do cristianismo

O autor é ordinário da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney e bispo-titular de Cedamusa. 


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Brancos podem interpretar negros? E judeus? ‘Blackfishing’ é racista? - Vilma Gryzinski

Blog Mundialista - Veja

Dá para sentir que é uma encrenca tremenda: discussões raciais envolvem mundo artístico, com resultado obviamente explosivo

Para quem ainda nem se deu conta da existência do Little Mix, a discussão envolvendo uma de suas integrantes, Jesy Nelson, pode soar misteriosa. A coisa trata de um comportamento chamado ‘blackfishing”, expressão inventada para descrever quem, tendo a tez clara, tenta imitar o estilo e o balanço de artistas negros. É disso que a cantora Jesy Nelson foi acusada ao se desligar do grupo e se jogar na carreira solo (“Um dos mais desastrosos lançamentos da memória recente”, na definição algo acrimoniosa do Independent).

Para muitos fãs do grupo pop britânico de quatro garotas (uma loira, uma morena etc etc), foi até uma surpresa: muitos achavam que Jesy era a “morena”, ou racialmente mista. Os cabelos cacheados e até, possivelmente, um toque mais carregado de maquiagem criavam essa impressão.

 As cantoras Jesy Nelson e Leigh-Anne Pinnock em 14 de janeiro de 2016

Quem levantou a questão do “blackfishing” foi uma ex-colega de banda, Leigh-Anne Pinnock, legitimamente mestiça. Nicki Minaj, que participa do lançamento de Jesy, entrou na história – e dá para imaginar a quantidade de palavras censuradas que explodiram nas redes sociais. Foi nelas, claro, que surgiu o fenômeno “blackfishing”, com muitos milhares de jovens imitando a “atitude” de artistas negras no Instagram. Nos casos mais extremos, recorrendo até a cirurgias plásticas. Os preenchimentos labiais não contam porque já viraram padrão em países como a Inglaterra, sob a influência das irmãs Kardashian/Jenner, cujas saliências exacerbadas  por procedimentos também reproduzem padrões associados a corpos negros curvilíneos.

O fenômeno de alguma maneira espelha casos como o da americana Rachel Dolezal, branquíssima nativa de Montana que criou uma vida como se fosse negra e fez carreira na universidade e na tradicional Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de cor.  Mesmo depois que foi exposta, Rachel, com todo direito garantido pela flexível sociedade americana, continuou a levar a vida que escolheu e mudou o nome para Nkechi Amare Diallo.

Se uma professora universitária ou uma cantora se apresenta como se fosse negra, isso é ofensivo ou deveria ser celebrado como uma manifestação de que “a imitação é a mais sincera forma de elogio”? Depois de tanto tempo em que crianças e jovens negras não tinham figuras públicas para se espelhar segundo sua própria etnia, não é bom que agora ocorra o oposto?

Claro que num mundo em que as questões identitárias se tornaram tão proeminentes, isso não acontece. As “brancas negras” são acusadas de apropriação cultural (um conceito que, se fosse aplicado ao Brasil, levaria ao fim de praticamente todas as manifestações culturais). Mais complicados ainda são casos em que atores interpretam personagens de outra etnia. Aconteceu com a peça Uma Escrava Chamada Esperança, protagonizada pela ex-BBB Gyselle Soares. Houve protestos contra o “embranquecimento” da personagem, uma escrava que protestou em carta ao governador da época contra os suplícios que sofria e veio a se tornar advogada.

Um caso similar, guardadas as diferenças, está se desenrolando nos Estados Unidos. Personalidades artísticas de origem judia reclamam quando personagens judeus são interpretados por atores de outro perfil. Um caso específico envolve o ator Tony Shalhoub (o veterano Monk da série de mesmo nome).

O ator é de família libanesa, árabe e cristã, e interpreta o personagem Abe Weissman na série The Marvelous Mrs. Meisel. Quando surgiu a questão, ironizou que, como ator, foi treinado para não interpretar a si mesmo, mas, justamente, personagens.  Para que o argumento tivesse validade, seria preciso admitir que atores judeus não poderiam interpretar não-judeus.

O que seria de Espártaco sem Kirk Douglas (Issur Danielovich, filho de imigrantes judeus da então Bielo Rússia)? 
Ou de seu companheiro de filme Tony Curtis (originalmente, Bernard Schwartz)? 
Poderia o tão Wasp capitão James Tiberius Kirk , de Jornada nas Estrelas, ser confiado a William Shatner, que aos 90 anos voltou a ser notícia pela emocionante voltinha espacial que deu na nave de Jeff Bezos?

Todo mundo entende que quando atores negros interpretam aristocratas ingleses na série Bridgerton a intenção é fazer um manifesto anti-racista, invertendo expectativas. O ponto de partida foi a especulação, sem nenhuma base, de que a rainha Charlotte, personagem histórico que aparece na série, seria descendente, em nona geração, de Afonso III de Portugal e sua amante moura, Madragana.

A muito germânica Sophia Charlote de Meklemburg-Strelitz, que se casou com George III, o “rei louco”, com apenas dezesseis anos, foi retratada em alguns quadros com “traços mulatos”, segundo a descrição de seu médico, Christian Friedrich Stockmar. “Era famosamente feia”, resumiu Desmond Shawe-Taylor, ex-curador da coleção real. Na ficção de Bridgerton, nada disso aparece. Ao contrário, o ator Regé-Jean Page, inglês de mãe do Zimbabwe, esfacelou corações no planeta inteiro como o arrasadoramente belo e romântico duque de Hastings.

Na ficção de Bridgerton, nada disso aparece. Ao contrário, o ator Regé-Jean Page, inglês de mãe do Zimbabwe, esfacelou corações no planeta inteiro como o arrasadoramente belo e romântico duque de Hastings. Que tenha sido convincente como um duque negro é uma prova do poder da arte da interpretação – e ninguém reclamou que ele praticamente reencarnou grandes galãs brancos, de Clark Gable em E O Vento Levou a Colin Firth em Orgulho e Preconceito.

Duques negros ou cantoras brancas que copiam o estilo black podem relaxar os estereótipos, o que é sempre bom, mas definitivamente não vão encerrar a discussão.

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski,  jornalista - Revista VEJA


domingo, 9 de fevereiro de 2020

Guerra Santa - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Católicos e evangélicos são sugados para a polarização entre Bolsonaro e Lula

O ex-presidente Lula adiou seu depoimento à Justiça no dia 11 para se encontrar com o papa Francisco no Vaticano. [qual a fundamentação legal para um conhecido criminoso, com duas condenações confirmadas, adiar um depoimento? 
a iniciativa do adiamento foi dele?] O presidente Jair Bolsonaro deu lugar de destaque no palanque e na foto do 7 de Setembro ao bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. E é assim que as religiões vão sendo sugadas para o centro da polarização política no Brasil. A Igreja Católica (ou parcela expressiva dela) se aliou a Lula e aos movimentos sociais na resistência à ditadura militar e esteve por trás da fundação do PT em 1980, ao lado de sindicatos, universidades e escolas. A aliança atravessou a Lava Jato sob silêncio e constrangimento.

As igrejas evangélicas, tradicionais e neopentecostais, estão há muitas eleições na base de Bolsonaro, seus filhos e ex-mulheres no Rio e compõem a “bancada da Bíblia”, mais forte e organizada no Congresso do que partidos. O resultado é que o embate direto entre Lula e Bolsonaro e entre esquerda e direita ameaça se transformar num teste de forças também entre a estagnada Igreja Católica e as emergentes igrejas evangélicas. A tentativa de articular uma fusão desses grupos numa frente única no Congresso até existe, mas é duvidosa.


O que falar de uma foto de Lula com Francisco? Terá uma força política considerável, fazendo o link entre a imagem do papa mais popular e mais humanista em décadas com o discurso histórico do PT (atenção: sem entrar no mérito do que é real e do que não é). O uso político e partidário no Brasil será inevitável, em ano eleitoral. Já a foto de Bolsonaro com Macedo causou espanto, pelo hábito da Universal de recolher o “dízimo” de seus fiéis e de, não raramente, estimular ingênuos, ignorantes e/ou desesperados a entregarem casas, carros e bens para a igreja, em troca do “reino de Deus”.

[uma foto do Papa Francisco com o multicondenado petista não terá nenhuma força política, exceto entre idiotas que se tornaram devotos de uma encarnação do diabo em Lula,que está morto politicamente.
Apenas como lembrete confirmatório, vejam o vídeo abaixo, no qual Cid Gomes - que não é nenhum modelo de correção, mas, disse uma verdade: - "O Lula tá preso, babaca".
É só adaptar esta frase, substituindo o preso por 'morto' - politicamente, para se expor a verdade  cristalina que Lula acabou, já era.
Ele está sendo recebido pelo Papa Francisco em um ato de Caridade cristã do Sumo Pontífice. 
E tentar criar um conflito entre a Igreja Católica Apostólica Romana e os evangélicos, é tão inútil quanto criar inimizada entre o Presidente Bolsonaro e seu ministro Sérgio Moro.
Os católicos tem alguns desencontros contra os evangélicos, mas, nada que leva a uma polarização. Afinal, antes de entrar em conflito com os católicos romanos os evangélicos precisam resolver qual das diversas denominações de igrejas evangélicas é a certa.]
Essa prática, sob as nossas barbas e com a leniência dos poderes constituídos, começa a chegar à Justiça, com devolução de valores e indenização de vítimas. Mas é tão consolidada que é difícil combater e já extrapolou fronteiras para diferentes continentes. E Lula já age para disputar as graças (e os votos) dos evangélicos.

No Brasil, os governos não veem, ouvem nem falam sobre esse avanço que levou os “donos” de igrejas (uma filhote da outra, com sutis diferenças de designações) a figurar nas listas das grandes fortunas brasileiras. Nenhum político, ninguém que disputa eleições quer bater de frente com essa máquina de manipulação de almas, que pode trazer ou tirar votos. Com Lula já era assim e com Bolsonaro tornou-se mais audacioso. Já não há dúvida do uso de cultos evangélicos na coleta de assinaturas para o partido do presidente, que prestigia evangélicos na composição do Ministério e já acenou com um nome “terrivelmente evangélico” para o STF e integra uma tal Aliança pela Liberdade Religiosa com EUA, Polônia e Hungria.

Uma curiosidade: apesar dos vínculos de Bolsonaro e de sua mulher, Michelle, com evangélicos, os militares são tradicionalmente católicos – e praticantes. Uma exceção é o ministro e general da ativa Luiz Eduardo Ramos, da Igreja Batista. A disputa de Bolsonaro e Lula pelas igrejas tem efeito maléfico, inclusive para elas. Seus “podres” tendem a ganhar visibilidade. Na Igreja Católica, os templos ricos, o gosto pelas elites, até a pedofilia. Nas neopentecostais, os espaços espartanos em centros estratégicos das cidades para atrair e lucrar com o corre-corre de trabalhadores.

O direito à liberdade e à manifestação religiosa é reconhecido em todas as democracias e não se trata aqui de discutir religião, teologia, crenças e dogmas e, sim, alertar para o uso político e eleitoral das igrejas e da fé. Pode ser considerado ilegítimo e, de certa forma, imoral.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo

sábado, 31 de agosto de 2019

A perda da esperança - Merval Pereira

O Globo

A incongruência  desse governo, em dizer-se parte do mundo ocidental e defender posições completamente em desacordo com os legados mais básicos da cultura desse mundo, ficou patente na recente crise das queimadas da Amazônia.  Como se fosse uma síntese de suas convicções mais arraigadas, no mesmo episódio o presidente Bolsonaro menosprezou os problemas do meio-ambiente, embora tenha sido avisado pelos estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e entrou em conflito, direto e pessoal, com o presidente Emmanuel Macron, da França, país símbolo das liberdades individuais e dos direitos humanos, [também inventora e campeã no uso, nem sempre justo, da guilhotina e  traiu, de forma repugnante, os argentinos no caso dos 'exocet' na Guerra das Malvinas.] legados fundamentais do Ocidente à civilização.

Civilidade que não esteve presente no desacato à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Embora tenha dito que não a ofendeu, Bolsonaro apagou sua mensagem misógina do twitter, numa autoincriminação.  Aproveitando-se de uma demagogia ecológica de Macron, que tentou levar a discussão para o lado da
internacionalização da Amazônia, Bolsonaro tirou da manga a carta do patriotismo que, como disse Samuel Johnson, numa versão amenizada, é o último refúgio dos sem argumentos.  Não era preciso, Macron foi isolado pelos demais líderes europeus de peso, como Angela Merkel, da Alemanha e Boris Johnson, da Inglaterra.

Talvez seja a faceta mais nauseante de seu comportamento como chefe de Estado o retrocesso que pretende impingir a uma sociedade que avançou em medidas sociais desde a Constituição de 1988, e nos últimos anos vem ampliando essas conquistas com decisões que nos colocaram no campo de valores comportamentais progressistas contemporâneos. [o avanço que veio com o da Constituição de 88 - a constituição dos direitos sem deveres, do desrespeito aos valores familiares, institucionalizou a corrupção e a impunidade dos marginais - especialmente os de colarinho branco.] Falta ao presidente a compreensão de que é o representante de um país, e não de um restrito grupo de apoiadores que comungam seus pensamentos e se apresenta nas redes sociais de maneira acafajestada.

Bolsonaro não leva em conta alguns dos grandes legados  das democracias ocidentais: separação da figura pessoal do governante, e suas próprias opiniões, do cargo institucional que representa; separação dos assuntos de Governo e de Estado; separação entre Estado e Religião, qualquer que ela seja. Cotidianamente vai de encontro a tudo isso. Na visão de seus mentores, como Olavo de Carvalho, o espírito ocidental estaria sendo mitigado por uma política globalista, e é preciso reforçar a herança histórica, cristã, cultural, bem como o papel da família e do estado de direito a partir da tradição do liberalismo dos EUA.

Seria preciso resgatar o passado simbólico das nações ocidentais, mais calcado no imaginário representado por Trump do que pelas democracias européias. Falando em seminário da Academia Brasileira de Letras, no encerramento de um ciclo coordenado pela escritora Rosiska Darcy de Oliveira intitulado “O que falta ao Brasil?”, o embaixador e ex-ministro Rubem Ricupero [o autor da tese: o que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde.] fez uma análise sobre o país às vésperas do bicentenário de sua independência.  Seu temor, registrado no título da palestra - Um futuro pior que o passado? – se baseia na história recente, cujo presente vê atingido por “desgraças simultâneas” que produziram o efeito equivalente ao da guerra “sobre uma sociedade até então poupada de catástrofes históricas, como derrotas e ocupações estrangeiras”.

Para Ricupero, “o Brasil jamais tinha passado por retrocesso tão destrutivo na vida das pessoas por meio do desemprego, do aumento da pobreza, do desalento. Nem experimentara nada equiparável ao profundo impacto depressivo dos escândalos de corrupção que destruíram a autoestima de todo um povo”.  Esse passado próximo, lamenta, não acabou de passar, é ainda o nosso presente. “Neste mesmo instante, ele continua a nos fazer sofrer na persistência da estagnação econômica, do desemprego, do retrocesso social, da barbárie das prisões, da corrupção, da destruição da Amazônia, da degradação dos homens que nos desgovernam”.
O que considera “a mais angustiante crise de nossa História”, Ricupero vê agravada “pelo advento de um governo retrógrado, cujo único programa reside na demolição sistemática do passado”.  Mas, o pior, analisa o ex-ministro Rubem Ricupero, é que “perdemos a esperança, isto é, a confiança de que o futuro nos trará remédio às agruras do presente, da mesma forma que antes o presente costumava superar problemas do passado”.  (Amanhã: “Dar sentido à vida”)


Merval Pereira, jornalista - O Globo