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terça-feira, 4 de abril de 2023

Deu no Datafolha - Lula percebeu que as coisas vão mal e pediu otimismo aos ministros - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - Vozes

Na segunda-feira o presidente Lula, recuperado da pneumonia, foi para o Palácio do Planalto e já fez uma reunião ministerial. 
O encontro ocorreu a portas fechadas, mas no início ele fez uma breve alocução aos ministros, pedindo que não se lamentem, que sejam otimistas. 
Ficamos pensando: o que aconteceu para Lula reconhecer que integrantes do governo estão lamentando e que é necessário sacudi-los para que eles distribuíam otimismo? Otimismo faz parte de propaganda: na tentativa de contaminar as demais pessoas, é preciso passar esse otimismo para os demais. [o pior não é o que aconteceu, aí é simples de resolver, NÃO ACONTECEU NADA no DESgoverno Lula - hoje, 94º dia; 
- aumento de R$ 18, no salário mínimo; 
- apresentação do rascunho, melhor dizendo MINUTA, do que pretendem que seja um 'arcabouço fiscal' - não passa no Congresso;e,
- inauguração de uma placa de identificação/localização da sede do 'ministério da cultura' - uma repartição que ele denominou 'ministério', que seria substituída com vantagens  por uma subsecretaria pendurada no Ministério da Educação.]
 
É que no domingo o Datafolha que nunca foi contra Lula na campanha eleitoral mostrou como o otimismo está caindo e o pessimismo está subindo em relação a dezembro do ano passado. 
Vamos aos números: em dezembro, o pessimismo estava em 20%, e agora já está em 26%. O otimismo estava em 49% e caiu para 46%. Quanto à política econômica, 28% imaginavam que seria a mesma, mas agora muitos estão vendo que não será a mesma, caiu para 26%. 
Essa avaliação de Lula no primeiro trimestre de governo é a pior dos seus três mandatos. A avaliação positiva neste momento está em 38%; a negativa está em 29%; as pessoas que classificam como “regular”, não sabem exatamente definir, são 30%
É por causa disso que o presidente Lula falou a seus ministros que precisam distribuir otimismo e não ficar se lamentando.

Veja Também:
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   Lula não perde uma chance de mostrar que não entende nada de economia

E por que eles ficariam se lamentando? Saiu o arcabouço fiscal, uma nova marca de fantasia para o fato de o teto de gastos ser furado, desrespeitado. O teto foi uma das grandes leis do período Temer, aprovada pelo Congresso para limitar os gastos públicos. Mas o governo quer gastar. O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore disse que é uma licença para gastar”. 
E que, havendo essa licença, tem de subir a arrecadação, porque do contrário isso não se paga. 
Pastore disse isso no fim de semana e na segunda-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que será preciso ter mais receita, na ordem de R$ 110 bilhões a 150 bilhões. 
Traduzindo: o governo pretende cobrar R$ 150 bilhões a mais de impostos de todo mundo
Dá R$ 700 per capita, do bebê ao mais idoso dos brasileiros, R$ 700 de cada um para o governo poder gastar. [gastos em sua maior parte para manter o que chama de ministério, mastodôntico, integrado por, no mínimo, 30 SUMIDADES EM NADA, reativar todo o esquema de corrupção - afinal o estrago que a Lava Jato efetuou, tem que ser compensado, emprestar recursos a fundo perdido para ditaduras amigas e lançar pedras fundamentais de construções que não passam de projeto.]. É por isso que as pessoas estão estranhando, por isso os que aprovaram estão desistindo de aprovar, por isso os que estavam pessimistas agora são em maior número, porque não há definição.
 
Nessa fala de abertura da reunião ministerial o presidente repetiu que os programas sociais foram todos desmontados no governo passado. Ele repete isso a toda hora na base daquela receita do repita, repita, repita que alguém vai acabar acreditando. Alguém que não se dá ao trabalho de pensar, alguém que está distraído vai acabar acreditando.  
Mas a pesquisa Datafolha mostra que não é bem assim, que as pessoas estão caindo na real inclusive os 60 milhões que fizeram com que o Brasil estivesse na situação de agora.
 
Queria falar mais desse anúncio do arcabouço. Vocês notaram que ocorreu no mesmo dia em que o ex-presidente Bolsonaro chegou a Brasília. É um recurso de propaganda: sempre que não se quer dividir o noticiário, inventa-se alguma coisa. [o que atrapalha é que Bolsonaro não dividiu o noticiário nem quando estava no exterior - a mídia militante, gastava mais bytes noticiando as merecidas férias do capitão, tendo em vista que o DESgoverno do petista não teve, não tem e, tudo indica, não terá realizações para ocupar espaço do noticiário.
Em nossa opinião o que mais apavora o petista, seus asseclas, adoradores e inocentes inúteis, é o silêncio do ex-presidente Bolsonaro.]
Então o arcabouço foi anunciado assim, apressadamente; e precisava ser anunciado porque pegou um nome, o “fura-teto” de gastos. O governo substituiu o “furar o teto de gastos” por “vem aí um arcabouço fiscal”. Como disse Pastore, é para gastar mais. E a consequência disso, segundo o ex-presidente do Banco Central, é uma brutal carga tributária.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 6 de março de 2022

Três opções para a guerra: há pouca razão para otimismo - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino


Podemos - devemos - discutir onde escorregamos, mais até do que onde caímos. É compreendendo onde foi que o Ocidente cochilou que podemos tirar as melhores lições para não repetirmos os mesmos erros. A fragilidade ocidental foi um convite à agressão de Putin.

O autocrata imperialista poderia ter sido dissuadido da invasão lá atrás, não fosse uma sequência de erros. 
Se a Ucrânia tivesse ainda armas nucleares; 
se a dependência ao gás e petróleo russos não fosse tão grande; 
se Putin acreditasse que um ataque seria recebido com uma dura resposta militar da OTAN; [acontece que uma dura resposta militar contra uma potência nuclear é apenas uma das formas  de acabar com o nosso bom e velho planeta - embora se o maldito progressismo esquerdista não for contido ...] enfim, talvez essa guerra pudesse ter sido evitada. Mas não foi.

E agora precisamos pensar em como sair do atoleiro. Não há saída fácil aqui. O fato é que Putin já investiu muito de seu capital político na guerra, e tem pouco a perder agora. Daí a posição delicada do Ocidente, uma verdadeira sinuca de bico. As sanções econômicas pesam, mas são insuficientes, até porque o Ocidente não parece disposto ao sacrifício máximo de efetivamente cortar a compra de energia russa.

ONU aponta que não houve vazamento de radiação em central nuclear atacada e agora controlada por russos

Temos, então, basicamente três opções para essa guerra daqui para frente: 
1. As sanções impostas convencem os oligarcas russos de que Putin precisa sair, os militares se voltam contra o autocrata todo-poderoso da KGB, e chegamos a um final feliz
2. Putin insiste na ocupação, enquanto os ucranianos não o enxergam como "libertador", conforme ele esperava, e sim como um agressor maldito que precisa ser enfrentado, e a guerra, no seio da Europa, segue por anos ou mesmo décadas em forma de guerrilhas, criando uma crise humanitária e milhões de refugiados no continente; 
3. o Ocidente oferece uma saída "digna" para Putin, que pode então reivindicar uma vitória, ficando com alguns territórios separatistas da Ucrânia, que não fará parte da OTAN jamais, e os ucranianos mantêm Kiev e sua nação independente, ainda que bastante devastada.

A primeira e a terceira opção são as melhores, claro enquanto a segunda é a visão do inferno. Ocorre que a probabilidade maior não parece ser das demais, e sim justamente da segunda. A estratégia de pressionar pela economia para um golpe interno derrubar o tirano no poder não tem respaldo histórico favorável. Basta ver Cuba, Venezuela, Irã, Coreia do Norte etc. Regimes nefastos em nações falidas conseguem permanecer no controle por décadas, apesar do custo sócio-econômico. [uma opinião de leigos: a solução mais viável,sensata e menos dolorosa em termos de perdas de vidas humanas seria o que vamos chamar de QUARTA OPÇÃO: Zilensky é deposto, despachado para um país de sua escolha - menos o Brasil - e a Ucrânia a vida pacata que levava antes de ser governada pelo ex-humorista. De bônus, o mundo ganha mais algumas décadas livre do maldito esquerdismo progressista - Biden que já é o pior presidente, consolida sua posição, perdendo espaço para prestar qualquer ajuda aos que querem destruir valores básicos ainda existentes no mundo.]

E Putin comanda a Rússia com mão de ferro desde a década de 2000. Ele esmagou os oligarcas que o desafiaram, destruindo um a um. O Exército russo está com moral baixa, equipamento precário, já teve centenas, quiçá milhares de baixas em apenas uma semana.   
Mas estamos falando da Rússia, não de uma potência ocidental como os Estados Unidos. Quando a América vai para uma guerra, costuma ser em território distante, com enorme precisão tecnológica militar, e pouquíssimas perdas militares do seu lado, assim como civis do lado adversário. A Rússia é outra história: Putin não liga muito para o sacrifício de homens fardados, tampouco para mortes de civis ucranianos. É por isso que a guerra começa suja, e há poucas esperanças de melhora.

Putin apostou na conquista rápida da Ucrânia. Uma vez que isso não aconteceu, ele não tem muita alternativa, do seu ponto de vista, a não ser intensificar os ataques e permanecer nessa guerra. O Ocidente, de mãos atadas e sem disposição para o sacrifício necessário, tanto militar quando econômico, pode apenas subir a retórica, sem surtir efeito prático. É com base nessa análise que não consigo ficar muito otimista com um desfecho rápido para a guerra. Mas espero estar totalmente enganado, claro... 

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quarta-feira, 9 de junho de 2021

"Neste país vigoroso, otimistas reagem, desafiados" - Otimismo furou a bolha da má notícia - Correio Braziliense

"Agora, a despeito das restrições da pandemia, do pessimismo, do medo, o país se sentiu desafiado. E o otimismo furou a bolha da má notícia"

Este país ciclotímico se movimenta em altos e baixos com fases de pessimismo e otimismo. 
O otimismo e o entusiasmo levaram ao milagre econômico dos anos 1970, com crescimento médio de 11,2% do PIB por um período de quatro anos. Num ano, crescemos 14%! 
Despencamos nos anos Dilma, perdendo mais de 7% do PIB em dois anos e deixando mais de 12 milhões de desempregados. 
Agora, a despeito das restrições da pandemia, do pessimismo, do medo, o país se sentiu desafiado. E o otimismo furou a bolha da má notícia.

Num seminário de banco, o ex-secretário de economia, hoje economista-chefe do banco, Mansueto Almeida apostou em crescimento do PIB em 5,3%. Foi além da previsão da Fundação Getulio Vargas, de 4,2%, e até superou instituição concorrente, que previu 5,2%. Nada mais eloquente do que a Bolsa de Valores em torno de 130 mil pontos, depois de ter estado na casa dos 60 mil pontos quando sofreu com a pregação do pânico. É confiança no vigor das empresas, no futuro. Até o dólar encolheu.

No comércio exterior, acúmulo de superavits, mesmo com crescimento das importações, que indica atividade econômica se recuperando. O agro, que não parou nunca, desponta como a locomotiva do processo, agora com a indústria reaquecendo, como mostra a demanda de aço, a produção de caminhões, o salto em máquinas e equipamentos, a construção civil, o varejo e, consequência maior, a recuperação de empregos. Até as contas públicas mostram recordes de arrecadação federal, e a previsão do economista Mansueto é de fechar quatro anos com menor despesa primária que a recebida e dívida pública não de 100% do PIB como se temia, mas de menos de 85%.

Depois da reforma da Previdência, veio a pandemia, mas também o auxílio emergencial, que será prorrogado até o novo Bolsa Família com porta de saída. E já estão aí as novas leis do gás, das falências, do saneamento, Banco Central independente e encaminhamento das reformas administrativa e tributária, privatização da Eletrobras (atenção para o jabuti da Câmara), lei da cabotagem. No pessimismo, afundam todos primeiro os pessimistas. Neste país vigoroso, otimistas reagem, desafiados.

Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

 

sábado, 4 de abril de 2020

Até quando? As previsões de especialistas para o fim do isolamento - VEJA

Há imensa ansiedade para a volta à normalidade possível — cientistas indicam pelo menos mais um mês, desde que o isolamento seja respeitado à risca

Parece uma eternidade, e não se passaram mais de vinte dias desde que o governo do Estado de São Paulo decretou, pioneiramente no Brasil, severas medidas de distanciamento social para combater a pandemia de Covid-19. A partir daí, o país parou, com algumas distinções em cada região — congelamento necessário, imposto pelo mantra que atravessa o mundo, ancorado em três palavrinhas mandatórias: fique em casa. E é para ficar mesmo. Mas até quando teremos de estar confinados? Ou, em outros termos: quando conseguiremos retomar o cotidiano de modo relativamente normal, sem riscos para a saúde, mas em ritmo que autorize ar respirável e luz para a economia? Não há, evidentemente, uma resposta clara, muito menos única.

No entanto, a curva de casos, mortes e, sobretudo, recuperações em países que chegaram antes ao drama, além de vastos estudos de epidemiologia e projeções matemáticas, oferece um cauteloso — cauteloso, insista-seotimismo.

Um modo inaugural de enxergar alguma saída é olhar para a região de Hubei, na China, epicentro do espraiamento do coronavírus, identificado pela primeira vez logo depois do Natal de 2019, então como “uma pneumonia atípica de causa desconhecida” e que, na quinta-feira 2, tinha alcançado a triste marca de mais de 1 milhão de casos, 8 000 deles no Brasil. Em 23 de janeiro, a cidade mais populosa do condado chinês — Wuhan — entrou em um processo chamado de “isolamento sanitário”. Tudo fechou — ruas, escolas, estabelecimentos comerciais. Em 24 de março, depois de exatos dois meses, a pétrea decisão foi levantada.




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Embora seja compulsório registrar as diferenças: a ditadura mandou prender quem ousasse abrir a porta para a rua; havia testes em profusão, separando sãos de enfermos; e deu-se, é sempre bom sublinhar, uma exibição da extraordinária capacidade de movimentação oriental, que ergueu em apenas dez dias um hospital com 1 600 leitos. Ainda assim, apesar das evidentes discrepâncias, trata-se de um bom espelho. [além da lentidão típica dos burocratas brasileiros, alguns conseguem ser pior que outros.
Em Goiânia, entregaram um hospital de campanha em apenas oito dias.
Já em Brasília, na segunda, 31/3, o secretário de Saúde do governo Ibaneis informou que o estádio Mané Garrincha seria adaptado para receber pacientes - ontem, 3/4, conseguiram liberar o edital para escolher quem vai construir. Isso apesar da operosa Câmara Legislativa do DF = aquela que abriga os distritais = ter declarado calamidade pública no DF.
Com muita sorte, talvez no começo de maio, comedem a construção.]

Outros cenários, baseados em levantamentos rigorosos, entregam diferentes alternativas — bem mais sinistras. Há, grosso modo, duas perspectivas fundamentais no campo dos estudos de respeitadas instituições sobre o Brasil — uma em relação ao tempo de quarentena e a outra relativa ao número de óbitos. 

A primeira, desenhada por grupos como o da Universidade Simon Fraser, do Canadá, ao medir o vaivém virótico de uma cidade grande, Vancouver, adverte que são necessários ainda seis meses de vigília no Brasil, dado o tipo de quarentena costurado por aqui (algo em torno de 60% das pessoas com restrição de circulação). Detalhe: se isso for verdade, pulverizará nossa economia. 

O outro trabalho, dos cientistas do Imperial College, de Londres, ao focar a régua de mortes, sobretudo, e menos a linha temporal, é ainda mais assustador. Para eles, sem distanciamento social, haveria mais de 1 milhão de falecimentos no Brasil. Com restrições à locomoção de 45% da população, o pico iria a 627 000. Isolando-se 60% dos idosos, a 529 000. Com 75% em casa e aplicação massiva de testes, seriam 44 000 mortos.

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Um de seus pares, também da USP, Esper Kallás, afirma que o exagerado zelo na largada é imperioso em situações inéditas como a do surto atual. “Faltavam-nos dados precisos, e as referências, como as da China, poderiam não se aplicar ao Brasil”, explica ele.

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Não por acaso, adequadamente, o Ministério da Saúde anunciou — à falta de testes, que precisam ser importados — um serviço de ligações telefônicas, alimentadas por inteligência artificial, de modo a distinguir as ditas “zonas quentes” de outras menos ameaçadoras. Desde 1º de abril, 125 milhões de brasileiros estão recebendo chamadas telefônicas com perguntas sobre a existência (ou não) de sintomas. Um colossal banco de dados indicará onde serão necessárias ações incisivas de equipes de saúde para evitar que o vírus se espalhe (ainda) mais. É a aposta do lado consciente do governo federal. E é boa. 



 TRISTEZA – O Cemitério da Vila Formosa, em São Paulo: estudo inglês alerta para até 1 milhão de mortos no país Andre Penner/ap/.    

Em futuro breve, a Covid-19 pode se tornar o que é a gripe hoje — um flagelo controlável, recorrente no inverno. Se tivéssemos permitido que a pandemia seguisse seu curso natural, sem intervenção, ela acabaria, talvez definitivamente, em cerca de doze meses, mas deixaria milhões de mortos, como aconteceu quando da gripe espanhola, que ceifou 50 milhões de vidas em 1918. Ninguém deseja esse cenário — e o preço, que fere a economia global, mergulhada na pior crise desde a II Guerra, é ficar em casa. Calmamente, como um velho marinheiro.

Colaborou Edoardo Ghirotto
Publicado em VEJA,  edição nº 2681,  de 8 de abril de 2020

Em VEJA, leia MATÉRIA COMPLETA

terça-feira, 21 de maio de 2019

A marcha à ré

O pano de fundo da tensão no Congresso é a convocação de uma manifestação de apoio a Bolsonaro para o próximo domingo, uma marcha a Brasília, na qual os principais líderes do PSL querem fazer uma demonstração de força”


De repente, o país começa a perder o otimismo e teme retroceder em várias áreas, sobretudo na economia, justo no momento em que um amplo consenso em torno da necessidade de reformas econômicas e institucionais estava sendo construído no Congresso. Colaboram para isso, em primeiro lugar, a gravidade dos problemas enfrentados, que demandam um esforço continuado para superação da crise fiscal; de outro, o comportamento errático do governo, pródigo na promoção de polêmicas inúteis e avarento quando se trata de foco nas soluções, em particular a reforma da Previdência.

Ontem, o presidente Jair Bolsonaro voltou a culpar os políticos pela situação, em solenidade no Rio de Janeiro, na qual declarou que o Brasil “é um país maravilhoso que tem tudo para dar certo, mas o grande problema é a nossa classe política”. A declaração é ambígua porque, depois de generalizar os ataques ao Legislativo (“é o Parlamento em grande parte, é a Câmara Municipal, a Assembleia Legislativa”), Bolsonaro também se incluiu entre os políticos, ao lado do governador fluminense, Wilson Witzel, e do prefeito carioca, Marcelo Crivella, que estavam ao seu lado: “É nós!”.

Mais tarde, já em Brasília, ao lançar a campanha publicitária da reforma da Previdência, Bolsonaro procurou consertar as declarações, que tiveram péssima repercussão: “Nós valorizamos, sim, o parlamento brasileiro, que vai dar a palavra final nesta questão da Previdência tão rejeitada ao longo dos últimos anos. Agradeço ao Rodrigo Maia (presidente da Câmara), ao Davi Alcolumbre (presidente do Senado), que em conversas são unânimes em dizer da necessidade da reforma da Previdência. E, aos parlamentares, queria dizer que só não recebo mais por falta de agenda, mas gostaria de continuar a conversar com o maior número de vocês para que possíveis equívocos, possíveis melhoras, nós possamos junto ao parlamento buscá-las”, disse.

Não foi por acaso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em evento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), havia anunciado um pacto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para aprovar a reforma da Previdência e outras reformas demandadas pela sociedade, independentemente das polêmicas criadas pelo governo e a oposição na mídia e nas redes sociais. Maia também descartou a possibilidade de um projeto alternativo de reforma da Previdência, o que foi corroborado pelo relator da reforma, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP.

Na verdade, o debate sobre as mudanças na Previdência está apenas começando na Câmara, e faz parte do processo legislativo a apresentação de um substitutivo pelo relator, que geralmente incorpora mudanças propostas pelos deputados ao projeto original do governo. Sendo assim, não será integralmente a proposta que o governo mandou para a Câmara, mas também não será um projeto novo.

Manifestação
O pano de fundo da tensão no Congresso é a convocação de uma manifestação de apoio a Bolsonaro para o próximo domingo, uma marcha a Brasília, na qual os principais líderes do PSL querem fazer uma demonstração de força em resposta aos protestos da semana passada, de professores, estudantes e funcionários das universidades e demais estabelecimentos de ensino federais atingidos pelos cortes de verbas da Educação, que o governo chama de contingenciamento. Como a medida foi anunciada como uma retaliação à “balbúrdia” nas universidades pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, houve forte reação da comunidade acadêmica.

A marcha dos partidários de Bolsonaro a Brasília está sendo atacada pela oposição, que a compara à “Marcha sobre Roma” dos camisas negras de Benito Mussolini, em 28 de outubro de 1922, data que marca o início do domínio fascista sobre a Itália. Foi uma manifestação organizada pelo Partido Nacional Fascista, que mobilizou 300 mil militantes armados, para pressionar o parlamento e tomar o poder. A pressão deu resultado: no dia 30 de outubro, o rei Vittorio Emanuele III instruiu ao próprio Mussolini a formação de um novo governo, que implantou o fascismo.

Bolsonaro não precisa de marcha alguma para exercer o poder, foi eleito pelo voto direto. Somente não conta com uma base de apoio robusta no Congresso porque decidiu que não faria um governo de coalizão com os partidos de centro-direita nem adotaria o chamado “toma lá, dá cá” nas negociações com o Congresso. A falta de sintonia com a própria base na Câmara é tanta que o governo corre risco de não conseguir aprovar sua reforma administrativa, o que depende de um acordo com o chamado Centrão. No caso, a recriação do Ministério das Cidades, cujo comando seria entregue a um político.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

sábado, 23 de julho de 2016

A volta da governabilidade

Vencidos os primeiros dois meses desde a troca de guarda no Planalto, está evidente para todo mundo que o País finalmente voltou a ter governo. E com ações concretas dirigidas aos interesses da Nação. Não meramente eleitoreiras, de autopreservação, como ocorria até recentemente com a presidente afastada Dilma. A diferença entre o cenário caótico dos tempos de Dilma e o que se experimenta agora é abissal. Aquela sensação tenebrosa de ausência de direção e de confiança nas deliberações do Executivo vai aos poucos se dissipando, ficando para trás como lembrança de um pesadelo que ninguém quer vivenciar de novo.

Temer e o seu “dream team” da economia estão injetando otimismo, abrindo espaço a soluções criativas para os inúmeros problemas que herdaram. O sopro de credibilidade é fruto da percepção de que o atual comando está efetivamente compromissado com resultados. A proposta de renegociação da dívida dos estados, o projeto que dá maior transparência às agências reguladoras, a nova lei das estatais, o incremento das parcerias público/privadas – com a abertura, inclusive, do controle de subsidiárias dos Correios – são apenas algumas das medidas positivas em andamento que revestem de ânimo essa nova fase de gestão do Estado.

Sem contar no balaio as sonhadas reformas estruturais, entre as quais a da Previdência, que devem finalmente entrar em pauta. Dilma atravessou quase dois mandatos implodindo com os fundamentos da economia, legando a maior recessão de todos os tempos, abrindo espaço e fazendo vista grossa a uma corrupção monumental. Havia largado a administração pública à própria sorte. Não arbitrava nada. Não planejava. Tocava os estouros de caixa com pedaladas criminosas, sem critério, e lances de populismo escrachado e irresponsável que só agravavam o quadro.

De uns tempos para cá, a então mandatária não fazia outra coisa que não campanha em interesse próprio, montando verdadeiros comícios no Palácio e estimulando a anarquia sindical que lhe dava apoio em troca de generosas subvenções. A caricatura de uma chefe de estado perdida em propostas inexequíveis é reforçada pelos movimentos de Dilma longe do poder: ela fala em realização de eleições gerais antecipadas, promete manter a equipe econômica de Michel Temer, diz que vai colocar o Congresso no prumo.

Delira, divaga e exibe em praça pública sua inapetência notória para o cargo que um dia ocupou. Nas rodas de conversa de variados segmentos da sociedade a impressão que hoje prevalece, referendada inclusive em pesquisas de opinião, é a de que seu eventual retorno representaria um desastre de proporções inimagináveis, quebraria a economia de vez e mergulharia o País nas trevas da ruptura social. Boa parte da população sente calafrios diante da mera hipótese de repetição do ambiente de desmandos petistas.

No contrafluxo, o mercado vive dias de crescente tranquilidade com as ideias e decisões de Temer. Aposta todas as fichas na sua permanência. Reconhece nele a habilidade política para negociar temas áridos e para conquistar apoio do Congresso a iniciativas antes abandonadas. São duas visões bem distintas sobre os estilos de gestão em jogo, que devem pesar na hora da votação do impeachment. A irredutível Dilma faz pouco caso das demandas parlamentares e do necessário entendimento com senadores e deputados.

É o retrato da empáfia, da teimosia e da convicção irrevogável de que só ela governa. Foi assim nos idos do seu (des)governo e por incrível que pareça será, na sua visão, a fórmula a ser repetida na cada vez mais remota alternativa de seu retorno. Sem base de sustentação, nem apoio popular, Dilma parece sonhar com a consagração de um poder autocrático, fora de qualquer contexto e sintonia com as atuais necessidades do Brasil. Entre Dilma e Temer, nem os partidários dela, se tiverem algum juízo e compromisso com os votos que receberam, devem cometer a sandice de apoiar essa senhora.

 Fonte: Editorial - Isto É - Carlos José Marques


terça-feira, 19 de abril de 2016

Governo dá como certo afastamento de Dilma após análise do impeachment no Senado

Aposta do Planalto é na 'melhor qualificação' dos senadores

Apesar do otimismo com a tramitação do pedido de impeachment no Senado, que a presidente Dilma Rousseff procurou demonstrar ontem, integrantes do governo avaliam como muito difícil a tarefa de impedir a aceitação do processo na comissão especial no Senado. Caso a comissão aceite a ação, isso levará ao afastamento imediato de Dilma do Planalto por até 180 dias.

Se esse diagnóstico se confirmar, o Palácio do Planalto concentrará os seus esforços no julgamento do processo de cassação, que exige ainda mais votos dos senadores. Para o acolhimento, é necessária maioria simples dos senadores presentes em plenário. Já para rejeitar o processo de cassação, basta que Dilma tenha 28 votos dos 81 senadores.

Para conseguir uma virada no processo iniciado na Câmara, o Planalto aposta na “melhor qualificação” dos senadores e no maior equilíbrio que deverá ser proporcionado pelo presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e, se o processo for aberto, do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. O presidente do STF é o responsável por conduzir o processo, a partir do momento em que ele for aberto e a presidente, afastada do cargo:  — Os senadores são menos suscetíveis a pressões. São mais qualificados. A presidente também acredita no equilíbrio de Renan. Ele não fará as manobras de Eduardo Cunha — disse um interlocutor palaciano, referindo-se ao presidente da Câmara.

Mas os auxiliares da presidente preveem dificuldades. Com Dilma afastada do cargo, ela perderá seu Ministério, a caneta e o poder maior de negociação. O ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, é um exemplo. Ele não estará mais no cargo e deverá cumprir uma quarentena, o que o tira da defesa de Dilma. Esse problema está sendo tratado por Cardozo e pelo entorno da presidente, que já busca alternativas para sua defesa jurídica.

No Senado, Dilma reforçará sua equipe de articulação, com a ministra Kátia Abreu (Agricultura), que é senadora e espera a manutenção do apoio do ministro Eduardo Braga (Minas e Energia), também senador e ex-líder de seu governo. A petista voltou a dizer que a expectativa esta semana é que o STF permita a nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil, decisão pautada para amanhã. A eventual liberação de Lula é vista no Planalto como um trunfo para reaglutinar forças aliadas. [é ser muito imbecil quem esquece que o estrupício do Lula pode até ser liberado para ser ministro, mas não haverá tempo de impedir que o processo de impeachment seja aberto no Senado e a 'cérebro baldio' afastada.
Com isso Temer assume, dá um pé na bunda de todo o ministério Dilma - Lula com direito a dois chutes no traseiro - e volta a ser um ministro sem valor, um nada.]

Fonte: O Globo