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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Só quer gastança - Quem avisa amigo é: Lula está assustando o mercado com seu populismo - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - VOZES

Pra não dizerem que não foram avisados. O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, numa entrevista, de uma página e meia, no Correio Braziliense, disse que Lula ainda não se deu conta do desafio que tem pela frente. Desafio da economia. 
Que o que ele está fazendo na verdade é assustando os investidores, assustando o mercado, frustrando a expectativa dos economistas que apostaram nele, porque achavam que o Lula três seria igual ao Lula 1; mas o Lula três está sendo igual ao Dilma.
 
Segundo Maílson, o governo está com um olhar enviesado sobre o uso das estatais, do dinheiro público, do dinheiro do tesouro nacional, do BNDES, e mais do que isso, uma percepção equivocada sobre o Brasil de hoje, pensando que é o Brasil dos anos 1970 ou 1980.  
Diz por exemplo, que o Lula falou na posse que não é aceitável ele importar a plataforma de petróleo, aeronave, microcomputador, microprocessador, e aí ele lembra que a plataforma de petróleo foi foco de corrupção, microprocessador é volta da política de informática do governo militar, que foi desastrosa. 
E achar que o Brasil é competitivo em aeronave, é pensar que a Embraer pode fazer avião do tamanho de um Airbus ou Boeing; a gente faz aviões ainda pra cento e cinquenta lugares, então é um pouquinho fora da realidade.

Insegurança jurídica

E esse é um temor que a gente está vendo junto com a insegurança jurídica. Todo mundo olha para o Brasil de hoje e vê juiz mandando em tudo, não tem devido processo legal.  
No caso do escândalo das lojas Americanas, uma pedalada de R$ 20 bilhões, um dos credores, BTG Pactual, vai lá e retira um R$1,9 bilhão, e um juiz dá uma liminar dizendo que não pode retirar e tem que devolver
Aí BTG diz que nunca viu a Justiça beneficiar o fraudador em prejuízo do credor inocente. 
Essa decisão pegou muito mal.
 
Vejam só o grupo Guararapes acaba de fechar uma fábrica de roupa em Fortaleza, vai ficar só com a fábrica de Natal, dois mil empregos a menos. 
 Até tentou ajudar os empregados, as máquinas de costura foram dadas para as costureira levarem e ter seu ganha pão, mas, enfim, é um sinal de que mercados, investidores, os produtores, os empregadores estão recebendo com muita estranheza.

Não tem nada de herança maldita
O governo não fala em equilíbrio fiscal, ao contrário, fala em gastança, em uso das estatais como antes, como lembra Maílson da Nóbrega, e aí sai por essa desculpa de herança maldita, não é. Saíram agora os números da balança comercial, recorde de 62,3 bilhões de dólares no ano passado, a própria inflação, 5,39%, é menor que a inflação americana, que a inflação da Alemanha no ano de 2022.

Então não é uma herança maldita. Essas declarações de política misturando economia e populismo, no Brasil de hoje não tem mais nada a ver. 
É preciso que o novo governo tenha uma atualização, tem de se atualizar principalmente na parte econômica e também na parte política, sabendo que pelo resultado da eleição, o Brasil está dividido ao meio.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


domingo, 18 de setembro de 2022

O Brasil totalitário - O Estado de S. Paulo

A eliminação do 7 de Setembro é puro Lula – combina com a sua promessa de ‘controle social da mídia’

 As classes que mandam no Brasil estão preocupadíssimas com os perigos que a democracia estaria correndo e com a necessidade de medidas extremas para se salvar as “instituições”, a Constituição e o “estado de direito”. 
Soltam a polícia em cima de um grupo de empresários que, segundo o STF, poderiam estar querendo dar um golpe de Estado pelo WhatsApp. Um dos seus ministros chefia há mais de três anos um inquérito perpétuo, ilegal e sem freios contra o que declara “atos antidemocráticos” ou aquilo que lhe desagrada
 
Bombardeiam os cidadãos com bloqueios de contas, quebras de sigilo, assédio policial, operações de busca e apreensão, penas de prisão, prisões sem pena, censura nas redes sociais, “desmonetização”. 
Tudo isso, asseguram os atuais vigilantes da democracia, para salvar o Brasil do “autoritarismo”, do “populismo”, do “direitismo” e de outras doenças fatais.
 
 Atendendo a pedido da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), TSE proibiu Jair Bolsonaro de usar imagens do 7 de Setembro em sua propaganda eleitoral.
 
Atendendo a pedido da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), TSE proibiu Jair Bolsonaro de usar imagens do 7 de Setembro em sua propaganda eleitoral. Foto: Diego Vara/Reuters [Lula em comício para milhares de apoiadores.]

É esquisito, nessas condições, que um dos candidatos à Presidência da República nas próximas eleições seja claramente autorizado, e incentivado pelos marechais de campo do “campo democrático, a buscar a implantação de um regime totalitário no Brasil. 
É isso, ou algo o mais próximo possível disso, que o ex-presidente Lula diz que quer fazer se ganhar a eleição – e não poderia haver demonstração mais clara do que ele está planejando para o País do que sua postura pública na campanha eleitoral, suas exigências e suas promessas de governo. 
Um fato, mais talvez que qualquer outro, tira qualquer dúvida sobre o assunto: Lula exigiu, e foi prontamente atendido pelo TSE, o braço eleitoral do STF, que fosse proibida a divulgação das imagens das maciças manifestações populares em favor do seu adversário no dia 7 de setembro. Não havia ali nenhuma ofensa pessoal a ele. Não era, obviamente, uma “fake news”, dessas que assombram o STF, a suprema esquerda e as “agências de checagem”
Era, pura e simplesmente, a imagem da realidade. Lula proibiu sua exibição para os eleitores brasileiros. É essa a estima que tem pela liberdade de informação.

É difícil, quando se deixam de lado a hipocrisia e a trapaça mental, identificar um exemplo concreto de totalitarismo tão potente quanto esse impedir que o povo veja com os seus próprios olhos o que acontece na rua. É coisa de ditador. 

Era assim que se fazia na ditadura comunista da antiga Rússia: as imagens proibidas pelos chefões eram raspadas, à força, de fotos e filmes. A eliminação do 7 de Setembro, na verdade, é puro Lula – combina, com perfeição, com a sua promessa de criar o “controle social da mídia”, nome de fantasia para a censura. É uma amostra do Brasil que ele quer.

J. R. Guzzo, colunista -  O Estado de S. Paulo

 

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Um duplo recall - Alon Feuerwerker

 Análise Política

O sistema político-eleitoral brasileiro vem organizado para impedir que o presidente escolhido na urna eleja com ele uma maioria parlamentar partidária. O problema está na base da nossa crônica instabilidade e de presidentes precisarem passar todo o mandato às voltas com a ameaça de impeachment.

E está na raiz de o chefe do Executivo precisar fazer concessões em série no orçamento e na ocupação de estruturas ministeriais e empresas estatais, o que torna o governo potencialmente mais vulnerável. E mais refém, portanto, do Congresso Nacional. E o círculo se fecha.  Teria como resolver, mas não há interesse. Para manter o presidente no cabresto curto.

Eis por que de vez em quando os flutuantes “partidos de centro” ganham o rótulo depreciativo de “centrão”, mas outra hora, quando convém, é oferecido ao útil "centrão" renomear-se como “partidos de centro”.

Uma maneira de resolver seria calcular as bancadas dos estados na Câmara dos Deputados não pelos votos dados aos candidatos a deputado federal, mas aos candidatos a presidente. E calcular as bancadas nas assembleias legislativas pela votação dos candidatos a governador. E nas câmaras municipais pela votação dos candidatos a prefeito.

Mas a simples menção à possibilidade de presidentes terem maioria parlamentar partidária desencadeia por aqui advertências apocalípticas sobre o risco de “populismo”, “cesarismo”, “bonapartismo”. O Brasil deve ser o único país em que a dificuldade estrutural de o chefe do Executivo formar maioria parlamentar é embalada como qualidade.

Mas, se esse problema é de difícil solução, há outro caminho. Talvez seja saudável então aumentar o preço a ser pago pelos legisladores em caso de impeachment. O modelo em vigor, aliás, prevê apenas estímulos ao Congresso Nacional quando se trata de remover o presidente.

Estímulos especialmente aos presidentes das duas Casas, que andam uma casa (sem trocadilho) para adiante na linha de sucessão. É mamão com açúcar.

Não é normal que a nossa "taxa de mortalidade política” dos presidentes escolhidos na urna ande tão alta. Por que, apenas por hipótese, não estabelecer que remover um presidente deve ser decidido em última instância num referendo? Dando ao eleitor que colocou a autoridade no palácio a última palavra.

Melhor ainda: por que não oferecer a esse mesmo eleitor a possibilidade de decidir também sobre a dissolução do Congresso Nacional e a convocação de novas eleições para o Legislativo federal? 
Duas perguntas na urna eletrônica em vez de uma. Um duplo recall. Querem remover um presidente? Então que se ofereça ao eleitor a possibilidade de um reset, ou um Ctrl+Alt+Del.

E o método deveria ser replicado nas assembleias estaduais e câmaras municipais.Há com certeza outras ideias. Uma que ensaia voltar é o parlamentarismo, mas ele sofre de duas moléstias: 1) já foi rejeitado em dois plebiscitos; 2) não é razoável achar que um presidente eleito com 60 milhões de votos vá aceitar ser peça decorativa num governo comandado por algum deputado ou senador só porque ele tem apoio nos pares.

Publicado na revista Veja de 16 de fevereiro de 2022, edição nº 2.776

Alon Feuerwerker,  jornalista e analista político

 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

América vermelha - Revista Oeste

Protestos contra o governo chileno em 2019| Foto: Unsplash
Protestos contra o governo chileno em 2019| Foto: Unsplash

O encontro virtual teve a participação dos ditadores Nicolás Maduro (Venezuela), Miguel Díaz-Canel (Cuba) e Daniel Ortega (Nicarágua). Outros países latinos enviaram representantes, inclusive os narcoguerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc. Quem mediou o evento foi a petista Monica Valente, mulher de Delúbio Soares, o tesoureiro oficial do mensalão.

É evidente que nada do que foi debatido no encontro teve alguma relevância a ponto de ser publicado em jornais, nem chacoalhou as bolsas pelo mundo, muito menos incomodou o empresariado. Mas a ordem para o Foro de São Paulo se reagrupar fazia algum sentido. Em outubro do ano que vem, Lula quer retomar o projeto de poder do PT, interrompido pela sua temporada na cadeia e pelo governo Jair Bolsonaro. Nada mais favorável do que buscar isso cercado por uma vizinhança amistosa.

“Não imaginávamos que esse encontro de partidos e movimentos chegasse aonde chegou, tornando-se um foro permanente e até uma referência para partidos de esquerda e progressistas de todo o mundo” (Lula, em julho do ano passado)

Chile
O episódio mais recente do avanço das labaredas vermelhas pelo continente americano ocorreu no Chile. Gabriel Boric, um deputado de 35 anos do Partido Comunista e líder estudantil — seja lá o que isso ainda signifique neste século —, foi eleito presidente. Presidente da República, não do grêmio estudantil.

A reportagem de Oeste vasculhou a trajetória de Boric e descobriu que, em janeiro de 2005, os guardas do supermercado Líder, na cidade chilena de Punta Arenas, notaram que um jovem havia saído do estabelecimento com um vidro de álcool sem pagar. Eles o interpelaram, levaram-no para a polícia e o ficharam por furto. O caso não seguiu adiante por causa do princípio da insignificância. Anos mais tarde, o rapaz afirmaria ter cometido “um erro”. Seu nome: Gabriel Boric.

O esquerdista Gabriel Boric é eleito presidente do Chile, 
 no segundo turno | Foto: Reprodução Facebook

Boric não é de família pobre. Seu pai foi gerente da Enap —  equivalente à Petrobras. A condição financeira confortável permitiu que o garoto frequentasse o Colégio Britânico de Punta Arenas, no sul do país. Seu endereço à época, conforme consta no Boletim de Ocorrência, era o de uma mansão de dois andares de frente para o Pacífico.

Curiosamente, sua mãe fez exatamente a mesma coisa anos depois — no mesmo supermercado. Não foi a primeira vez. Em 2013, ela havia sido flagrada com cerca de R$ 250 em produtos surrupiados. Em 2016, por ser reincidente, a Justiça determinou que ficasse um ano sem entrar no estabelecimento.  Boric apareceu na política em 2011, quando estudantes tomaram as ruas do país para protestar, entre outras coisas, contra a cobrança de mensalidades no ensino superior público (o que também existe em países de economia mais aberta, como os Estados Unidos). Em 2014, tornou-se deputado federal.

Longe de ser moderado, o partido de Boric, o Convergência Social, anuncia em sua plataforma a busca por “uma sociedade socialista, libertária e feminista”. O documento assusta ao falar em “socialização da produção”. O texto ainda critica a “aliança entre o patriarcado e o capital” e defende um projeto “continentalmente integrado”. Boric é uma espécie de Guilherme Boulos que deu certo.

Também sobrou, claro, para o presidente Jair Bolsonaro, classificado por ele como “racista, homofóbico” e adepto do “discurso de ódio”. Quando o brasileiro visitou o líder chileno Sebastián Piñera, em 2019, Boric se juntou aos baderneiros que organizaram um ato contra o presidente do Brasil.

Retrocesso
Num país com quase 20 milhões de habitantes do tamanho de Minas Gerais — e renda per capita maior do que o dobro do Brasil, o eleitor chileno resolveu praticar skate na Cordilheira dos Andes. Há mais de duas décadas, o Chile se nega a integrar os acordos tarifários do Mercosul. É um país de tradição econômica liberal, a despeito dos devaneios de Michelle Bachelet. Trata-se de uma nação que optou por negociações bilaterais, especialmente com os Estados Unidos. Além disso, detém o Porto de Antofagasta, com saída para o Oceano Pacífico.

A corda chilena, contudo, parece ter estourado num daqueles momentos de distração dos políticos do andar de cima. Sebastián Piñera enfrentou turbulências e pedidos de impeachment durante o mandato. Teve de manter o olhar fixo no Legislativo para não sair pela porta dos fundos e não entendeu o que acontecia na praça.  Enquanto isso, grupos de vândalos encapuzados — como os black bloc brasileiros de 2013 — decidiram tomar as ruas, com Boric à frente. Pelo menos duas igrejas foram incendiadas desde 2019, entre elas a bela Igreja da Assunção, na Praça Itália, em Santiago. O Templo dos Carabineros (polícia chilena) também foi queimado.

A economia passou longe dos debates eleitorais neste ano de pandemia. A temática foi uma profusão de pautas LGBT mescladas com liberação do aborto, ampliação de programas sociais — Boric pretende criar uma espécie de Bolsa Família — e, especialmente, os direitos dos índios.

A presidente da Assembleia Constituinte, deputada Elisa Loncón, é uma representante dos mapuches. Ela batizou a nova Carta Magna, que deverá ser aprovada em 2022, como “Constituição da Mãe Terra”. Em outubro, quando a Assembleia realizou votações, Elisa conseguiu emplacar um pré-texto que fala em punir o “negacionismo” cultural e a opressão “aos povos originários durante a colonização europeia” — cerca de 10% do país afirma ser indígena. Segundo ela, são esses 10% que o Estado deve priorizar a partir de agora.

Vizinhos incômodos
Desde 2011, a América Latina não era tão vermelha. E o cenário pode ser ainda pior — e inédito — caso o Brasil e a Colômbia optem por governos de esquerda no próximo ano. Equador e Paraguai também são exceções, mas têm peso menor na economia e na geopolítica do continente. Os equatorianos bateram na trave neste ano, mas o banqueiro Guillermo Lossa venceu a esquerda.

A Colômbia permanece sob o comando de Iván Duque, discípulo do ex-presidente Álvaro Uribe. Mas os colombianos vão às urnas em março para eleger um novo presidente. O senador Gustavo Petro, ex-integrante da guerrilha M-19 e ex-prefeito de Bogotá, aparece como favorito nas pesquisas eleitorais.

A lista de países sob domínio socialista-comunista é extensa e reúne a longeva ditadura cubana, a Venezuela chavista e a Nicarágua do golpista Daniel Ortega, que mandou prender seus adversários políticos. A Bolívia segue à mercê do grupo de Evo Morales e o Peru passou a ser administrado pelo sindicalista Pedro Castillo, uma espécie de Dilma Rousseff que fala espanhol.

Principal parceiro comercial do Brasil no continente, a Argentina segue com seu tango de alternar passos à direita, seguidos de recuos à esquerda. O único alento no país platino foi a vitória da direita nas eleições legislativas, que, além do susto na dupla presidencial, equalizou as forças.

Outra novidade foi a eleição neste mês da socialista Xiomara Castro em Honduras, encerrando um ciclo de 12 anos dos conservadores no poder. Ela é mulher de Manuel Zelaya — que ganhou notoriedade em 2009, ao transformar a embaixada brasileira em Tegucigalpa numa pensão, que ocupou por quatro meses para escapar da cadeia. No México, López Obrador é oficialmente o primeiro presidente de esquerda do país. Eleito em 2018, ele promove um plebiscito para saber se pode seguir até 2024.

Em outubro, será a vez de os brasileiros votarem para presidente. O professor de Ciência Política Jorge Corrado, da Universidade Católica de La Plata, na Argentina, afirma que o pleito no Brasil será crucial para os rumos da região. “É essencial que Bolsonaro — ou quem quer que represente a direita — triunfe”, diz. “Se o Brasil cair, estaremos em um continente incendiado. A tônica da esquerda é alcançar o poder, mudar a Constituição e permanecer no poder.”

Corrado afirma que, para aumentar as chances de sucesso, o presidente brasileiro deve ajustar sua postura pública — sem abrir mão dos princípios. “Ele precisa ter um discurso mais moderado e captar uma faixa maior da população”, diz. “Às vezes, ele tem de ser duro, às vezes conciliador. Se fizer isso, se tornará menos previsível para seus adversários”, argumenta o professor, que também é diretor do Instituto de Estudos Estratégicos de Buenos Aires.

Ele explica ainda que o sucesso da esquerda na América do Sul é fruto de três décadas de articulação conjunta, iniciada depois do colapso da União Soviética. A estratégia vai além da política eleitoral e inclui a ocupação de espaços em órgãos públicos, nas universidades e nos meios de comunicação. “Em alguns países essa semente tardou um pouco mais, em outros, menos, mas em todos ela deu frutos porque o Estado não se deu conta”, afirma. Se quiser vencer essa guerra, a direita precisará lutar nos mesmos fronts.

O que fica de lição para o Brasil na virada de um ano que promete ser de alta combustão política? Que o perigo mora ao lado. Por enquanto.

Leia também “A Nicarágua entra no clube das ditaduras”

 Gabriel de Arruda Castro - Silvio Navarro - Revista Oeste

 

quarta-feira, 28 de julho de 2021

POPULISMO E XENOFOBIA - O Globo

Bernardo Mello Franco

Bolsonaro e a extrema direita alemã

Jair Bolsonaro abraça a deputada alemã Beatrix von Storch e seu marido Sven von Storch
Em entrevista ao CQC, o então deputado Jair Bolsonaro classificou Adolf Hitler como um “grande estrategista”.  A gravação voltou a circular nesta segunda, depois que ele posou para fotos com uma representante da extrema direita alemã.
 
Beatrix von Storch é vice-líder da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido populista e xenófobo. Em março, a sigla passou a ser investigada sob suspeita de abrigar neonazistas e conspirar contra a democracia alemã. A deputada é neta de Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler. Ele foi preso pelas tropas aliadas e condenado por crimes de guerra no Tribunal de Nuremberg.
 
 [está sendo dada uma importância exagerada - afinal a mídia militante = a mídia contra Bolsonaro = a mídia que defende os inimigos do Brasil - não dispensa oportunidade de apresentar 'narrativas' contrárias ao nosso presidente. Sem entrar na apreciação de outros conceitos dados ao fundador do III REICH, indubitavelmente,  Hitler foi um dos maiores estrategistas de todos os  tempos - errou, com consequências negativas aos seus planos -  quando desconsiderou o 'general inverno'.
E qualquer ser humano tem o direito de ter opinião sobre qualquer assunto - Bolsonaro é um SER HUMANO.
Quer saber mais? clique aqui.]
Parentesco não é destino, mas Von Storch parece compartilhar parte do ideário do avô. Ela se elegeu com falas contra imigrantes e já foi suspensa de uma rede social por incitar o ódio contra muçulmanos. [em época de crise é perfeitamente compreensível que se adote uma política que favoreça mais a consecução de empregos aos nascidos em solo pátrio. Se há escassez de oferta de empregos e sobra mão de obra nacional, os nacionais precisam ser atendidos primeiro. Dúvidas? pergunte aos milhões e milhões de desempregados?
A hostilidade é inaceitável, mas perder uma vaga de emprego por uma prioridade dada a imigrante é dificil e doloroso para um nacional.]
Líderes de países democráticos evitam se encontrar com a turma da AfD. Os extremistas só costumam ser recebidos por párias como o ditador sírio Bashar al-Assad e o autocrata bielorruso Alexander Lukashenko. Agora conseguiram montar seu palanque no Palácio do Planalto. A família Bolsonaro sonhava integrar um movimento global de extrema direita. Com as derrotas do americano Donald Trump e do italiano Matteo Salvini, sobrou a companhia de figuras periféricas como o premiê húngaro Vikor Orbán e os aloprados da AfD. [em suma: os inimigos do Brasil querem um mundo dominado pela esquerda;  
aquietem-se e se conformem: PERDERAM. A esquerda tem chance ZERO de voltar a ter as perspectivas que tem  em um passado já distante e que perdeu por incompetência, crueldade e outras mazelas.
Duas perguntas que se impõem: 
- que dizer das atrocidades praticadas pelo comunismo? qualquer líder comunista é recebido com honras pelos inimigos do Brasil -  o que inclui, sem limitar, a midia militante;
- que dizer das ações israelenses contra civis palestinos na Faixa de Gaza? nas quais caças da poderosa Força Aérea de Israel são usados contra civis palestinos desarmados. Algo tipo aviões x estilingue
IMPORTANTE: a DEMOCRACIA concede espaço para todos e o POVO, soberanamente, escolhe. Não é democracia que os governantes, os legisladores, escolham os que querem como adversários.]

O espectro do nazismo já havia rondado o governo quando o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, plagiou um discurso de Goebbels. Ele caiu por pressão da embaixada de Israel, mas sua plataforma de guerra cultural foi encampada pelo atual secretário Mario Frias. Em nota contra a visita de Von Storch, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) classificou a AfD como um “partido extremista, xenófobo, cujos líderes minimizam as atrocidades nazistas e o Holocausto”.

Há três meses, o presidente da entidade, Claudio Lottenberg, participou de um jantar em que Bolsonaro foi aplaudido por empresários paulistas. Ao fim do repasto, ele elogiou o governo e disse que o capitão foi “muito simpático”. A ver se a ficha cai depois das fotos com a populista alemã.

Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo


domingo, 4 de julho de 2021

Os ‘guardiões’ da urna eletrônica - O Globo

'Guardiões' da urna eletrônica: Ministros do STF dividem tarefas em articulação contra o voto impresso 

Presidente do TSE mantém encontros com políticos para explicar que mudança no sistema atual de votação não ajudará país; Fachin e Moraes se unem a Barroso e defendem o sistema adotado junto à opinião pública e ao Congresso 

[cabe esclarecer: as urnas eletrônicas não necessitam de guardiões, elas não correm nenhum risco, não há nenhuma intenção de extingui-las, de substituí-las.
Apenas há o manifesto desejo de grande parte dos brasileiros de que as urnas propiciem meios ao eleitor de saber se o seu voto está sendo realmente computado, assim, o voto impresso é a impressão fiel do que o eleitor teclou e do que está sendo enviado para o meio digital. Não haverá violação do sigilo do voto,  já que o ticket impresso será após teclar FIM misturado aos já existentes.
INDISCUTIVELMENTE, o voto impresso é o único meio para detectar modificações nos votos.
O argumento de custo elevado e violação de sigilo é uma balela criada pelos adeptos de que os votos possam ser manipulados - com o sistema atual, SEM o voto impresso, não se pode afirmar que houve ou não manipulação = o sistema em uso não permite checar o destino dos votos, impedindo que se detecte ocorrência de fraude.]

Barroso, Fachin e Moraes Foto: Reprodução
                    Barroso, Fachin e Moraes Foto: Reprodução
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, recebeu 29 parlamentares e presidentes de partidos no último mês para explicar que o voto impresso não ajudará o Brasil, mas sim colocará em risco o sigilo do voto e a lisura do processo com a retomada de manuseio humano dos votos. A articulação de Barroso junto aos congressistas faz parte de um movimento maior da Corte eleitoral para esvaziar o projeto do voto impresso que tramita na Câmara dos Deputados e se tornou uma das principais bandeiras do presidente Jair Bolsonaro. [Não haverá violação do sigilo do voto,  já que o ticket impresso será após teclar FIM misturado aos já existentes.
Outro absurdo é tentar passar a ideia de que haverá manipulação humana dos votos - a única manipulação humana  será a conferência dos votos impressos com os armazenados digitalmente.  
Sendo didático: se o meio digital informar que o candidato UM teve 49 votos e só são encontrados 45 votos impressos dados àquele candidato e o número total de votos impressos confere com o número total de votos 'digitais', quatro votos foram modificados naquela urna
Lembrando o óbvio: os ministros do TSE, não deveriam interferir em assuntos que são da competência do Poder Legislativo.
Eles julgam, não criam leis - suas interferências 'legislativas' deveriam se limitar à emissão de instruções normativas buscando esclarecer pontos não claros nos procedimentos eleitorais = detalhar as minúcias operacionais de uma eleição.
Deixem as normas objeto de leis, caso das urnas, por conta do Poder Legislativo. Os três ministros já são, por integrarem o Supremo, guardiões da Constituição, só que quando na condição de ministros do TSE interferem em outro Poder passam a violar a Constituição da qual são considerados guardiões. 
É a opinião de um eleitor, de um cidadão, ainda que leigo.]

Além de Barroso, viraram “guardiões da urna eletrônica” os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Edson Fachin — ambos integram o TSE e vão presidir o tribunal no ano eleitoral de 2022. Fachin, de fevereiro a agosto, quando passa o comando para Moraes, que tocará as eleições presidenciais. Na divisão de tarefas, o presidente do TSE atua com a opinião pública e eventos institucionais, com o apoio de Fachin em declarações sobre a segurança do atual sistema. Moraes, por sua vez, trabalha nos bastidores, no convencimento da classe política.

Entre os parlamentares e presidentes de partidos com quem Barroso manteve conversas em junho, estão aliados de Bolsonaro, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) — chamado por Bolsonaro de “pai do voto impresso” —, e os deputados federais Cezinha de Madureira (PSD-SP) e Marcos Pereira (Republicanos-SP). O presidente do TSE também esteve com membros da oposição, como Talíria Petrone (PSOL-RJ), Fernanda Melchiona (PSOL- RS) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Aos parlamentares e dirigentes, o ministro relatou que o sistema atual é seguro e auditável em diversos momentos.[quem garante que a inserção no software das urnas eletrônicas não permite que a cada 10 votos recebidos por um determinado candidato, os cinco seguinte a ele dirigidos sejam encaminhados para um outro? só o voto impresso detectará essa 'anomalia'.]

Coalizão com 11 Siglas
O movimento dos ministros é uma das explicações para a coalizão de 11 partidos, incluindo siglas aliadas de Bolsonaro, que fecharam posição a favor do atual sistema de votação, posicionando-se de forma contrária à introdução do voto impresso. Participaram do encontro os presidentes de MDB, PP, Republicanos, PSL, Cidadania, PL, Solidariedade, Avante, PSD, DEM e PSDB.
 
Crítico das propostas que pretendem reimplementar o voto impresso no Brasil, Moraes tem conversado reservadamente sobre o tema com congressistas, a fim de sensibilizá-los a respeito do desgaste que uma eventual aprovação do voto impresso acarretaria ao sistema eleitoral brasileiro. Além de agir nos bastidores, o ministro externou sua avaliação a respeito do voto impresso no último episódio do podcast “Supremo na Semana”, feito pelo STF. Na entrevista, Moraes disse que a implementação do voto impresso “não contribui para a democracia”. 
— Não me parece que o voto impresso possa vir a contribuir para a democracia, porque nós corremos um grande risco de quebrar o sigilo na votação. E isso não é possível. Nós temos, obviamente, que discutir, e estamos discutindo não só no Tribunal Superior Eleitoral, mas no Supremo Tribunal Federal também. Mas se você me perguntar: é necessário, hoje, para aprimorar a democracia o voto impresso? Não é — disse. [o não é do ministro é uma opinião de um eleitor, de um cidadão, e o seu valor deve ser igual à opinião de qualquer cidadão. Mudança de valor, só cabe se usá-la quando se manifestar sobre o tema na condição de juiz, de ministro - caso venha a ter que apreciar o assunto =  possibilidade que torna não recomendável o ministro opinar.]

O ministro afirmou acreditar que a maioria da população acredita nas urnas e atribuiu as tentativas de descredibilizar o atual sistema eleitoral a um grupo minoritário:  — É uma minoria que merece todo respeito para discussão, mas é uma minoria que coloca em dúvida a legitimidade do voto eletrônico. Sem apresentar, até agora, uma única prova de fraude. Então, eu acho que a discussão é válida, principalmente para que o Tribunal Superior Eleitoral possa reafirmar a total legitimidade, transparência e confiabilidade do voto eletrônico.

Seguindo o roteiro de defesa da urna eletrônica, Fachin tem se posicionado em entrevistas e lives no último mês. Segundo o ministro, é preciso defender o sistema eleitoral e democrático. Fachin afirmou estar preocupado com as eleições de 2022, diante do que considera investidas de um populismo autoritário. — As eleições de 2022 no Brasil se aproximam. De um lado, enfrentam, desde já, propostas de retrocessos em reformas legislativas em matérias que afetam os ganhos e avanços do sistema eleitoral informatizado. De outra parte, e é o mais crítico, estão de frente com a própria negação da representação, que é o populismo — disse Fachin, em um evento da Associação Brasileira de Direito Constitucional.

Brasil - O Globo
 

domingo, 24 de novembro de 2019

Sapato de Cinderela - Nas entrelinhas

O populismo pode ser calçado com o pé esquerdo ou o pé direito, porém, não ressurge num ambiente de industrialização e ampliação dos direitos sociais que lhe dariam sustentação”


É do filósofo Isaiah Berlin, citado pelo historiador Alberto Aggio num instigante artigo sobre o populismo na América Latina (Um lugar no mundo, Fundação Astrojildo Pereira/Fundazione Instituto Gramsci), a comparação do conceito de populismo com o sapato da Cinderela no conto de fadas popularizado pelo francês Charles Perrault, a partir de 1697. Segundo Berlin, existe um sapato — a palavra populismo — para o qual há um pé em algum lugar. “Existem diversos tipos de pés que podem calçá-lo, mas esses pés não nos devem enganar porque quase se ajustam à medida. Na busca, o príncipe sempre vagueia errante com o sapato; e, em algum lugar, estamos seguros, espera um pé denominado populismo puro”. Aggio recorre à citação para questionar o uso abusivo e vulgar do conceito explicativo nas análises sobre a América Latina.

Num cenário de crise do liberalismo das repúblicas oligárquicas e de emergência das camadas populares na América Latina, em meados do século passado, porém, qualquer que fosse, o populismo buscava a construção de uma sociedade industrial moderna, politicamente orientada pelo Estado, com incorporação das massas pela via do reconhecimento dos seus direitos sociais. No Brasil, resultou num Estado de bem-estar social limitado, a partir de um programa nacionalista e estatizante, com uma legislação trabalhista que garantia direitos e, ao mesmo tempo, tutelava os trabalhadores. Esse modelo se tornou tão robusto que foi batizado de Era Vargas, pois atravessou inúmeras crises econômicas e políticas, inclusive com mudanças de regime político (1945, 1964, 1985), ao longo de nove décadas; somente agora, no governo Bolsonaro, está sendo desmantelado.

Por aqui, os sociólogos Francisco Weffort e Octavio Ianni, no final da década de 1980, experimentaram o sapato de Cinderela. Influenciados pela teoria da dependência, associaram o populismo ao processo de industrialização substitutiva de importações e às particularidades do desenvolvimento do capitalismo na América Latina. As plataformas aglutinadoras e catalisadoras da chamada “coalizão populista” seriam o nacionalismo desenvolvimentista e a política social de massas que os governos deveriam colocar em prática.

O populismo é visto como fenômeno de massas urbano, expressão e consequência do declínio do poder das oligarquias, a partir do início da década de 1930. A crítica ao populismo está na gênese da formação do PT, cujo próprio nome já revela a intenção original de construir uma organização que representasse a classe trabalhadora para si e não a sua manipulação por um “Estado de compromisso”. Não é preciso muita tinta para explicar que o resultado prático, 40 anos depois, com a passagem do PT pelo poder, não foi bem esse: o partido foi capturado pelo transformismo e abduzido pelo patrimonialismo.

Efeito Orloff
Na América Latina, a revanche do populismo bolivarianista parte da ideia de que a relação entre governantes e governados deve dar lugar à democracia direta e participativa, no bojo da crise da democracia representativa e dos seus partidos tradicionais. Entretanto, a roda da história dá mais uma volta, e o subcontinente é convulsionado por um novo ciclo político, no qual o Estado liberal oligárquico outra vez entra em confronto com as massas, tendo por pano de fundo a recidiva do populismo (Chile, Argentina, Colômbia), ou o contrário, o “Estado de compromisso” (Venezuela, Bolívia, Nicarágua) é que entra em colapso, com o fracasso do “bolivarianismo”.


Voltando à analogia de Isaiah Berlin, todos os populismos são derivações e variações, “em algum lugar se esconde, furtivo, o populismo verdadeiro, perfeito”. Pode ser que seja aqui no Brasil. “O populismo dos dias que correm é visivelmente uma força regressiva no político. Nele predominam o autoritarismo, a intolerância e o antipluralismo. Onde é possível, afronta direitos humanos, suprime liberdades, reprime opositores, persegue juízes e jornalistas”, adverte Aggio, com a ressalva de que nos lugares onde a ordem constitucional é mais legitimada, como aqui no Brasil, a resistência é maior a esse tipo de movimento, que “nem deveria ser qualificado de populista”.

Insidioso, o populismo pode ser calçado com o pé esquerdo ou o pé direito, porém, por uma ironia da história, agora não ressurge num ambiente de industrialização e ampliação dos direitos sociais que lhe dariam legitimidade e sustentação política. Pelo contrário, ocorre num momento em que a integração da América Latina às cadeias mundiais de produção resulta em desindustrialização, redução de mercado interno e ampliação das desigualdades sociais e regionais, com desemprego em massa. Ou seja, por falta de uma estratégia robusta de desenvolvimento sustentável, não tem a menor chance de dar certo. No nosso caso, se o projeto ultraliberal do atual governo fracassar, ou Bolsonaro enveredar pelo caminho de um certo “populismo destro”, corremos risco de um efeito Orloff: o Brasil pode ser a Argentina amanhã.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo -Correio Braziliense

 

sábado, 13 de abril de 2019

Ingerência de Bolsonaro na Petrobras cria alerta: flerte com o populismo?

Adiamento de reajuste do diesel coloca em xeque a política de autonomia da estatal e remete a práticas contestadas nas gestões de Dilma e Temer

A intervenção do presidente da República, Jair Bolsonaro, na decisão da Petrobras de aumentar o preço do diesel mostra a fragilidade do governo em seguir a agenda liberal, tão propagandeada no período eleitoral, e faz a gestão flertar com o populismo, presente nos governos anteriores de Temer e Dilma. Durante a gestão da petista, os preços dos combustíveis eram controlados pelo governo. Já no governo Temer, em ocasião de uma greve dos caminhoneiros, houve a concessão de subsídios no preço do diesel.
“Cada vez mais temos indícios de que, ao contrário do que esperava o mercado, Bolsonaro é um reformista relutante e não tem grande apreço pelo liberalismo econômico”, afirma Sérgio Lazzarini, colunista de VEJA e professor do Insper.

Para Fernando Schüler, cientista político e professor do Insper, “é a hora de o governo mostrar se de fato é liberal ou se vai deslizar para o populismo de curto prazo, de circunstância”. A atitude de Bolsonaro coloca em xeque a confiança dele nos membros integrantes do seu governo e escancara o descompasso com a equipe econômica. “O resultado é muito ruim para a credibilidade dele como presidente e como maestro de uma equipe. A atitude mostra que ele está inseguro e não está alinhado com o presidente da Petrobras”, diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

Ao ser questionado sobre a decisão do presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu que não foi informado sobre a intervenção. Eu não sei nem do que vocês estão falando”, afirmou ao sair de reunião no Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington (EUA). Com a decisão de questionar a estatal, o presidente da República se mostrou refém dos caminhoneiros. “Ele empoderou a categoria e gerou uma onda de desconfiança em todo o governo”, diz Pasianotto. [a decisão do presidente Bolsonaro deixou claro que para ele o que importa é os caminhoneiros satisfeitos e mais gulosos, não importa que a Petrobras tenha prejuízos - caso ocorram, e ocorrerão,  simples de compensar: aumenta o preço da gasolina e do álcool, afinal os usuários de automóveis não fazem greve.]
Como resultado, o mercado financeiro deixou claro o seu descontentamento. As ações da companhia negociadas na bolsa de valores brasileira tiveram queda de mais de 8% nesta sexta-feira, 12. Com isso, em apenas um dia, a Petrobras perdeu 32 bilhões de reais em valor de mercado.     “A atitude de Bolsonaro gera uma incerteza brutal aos investimentos, o que, ao final, acaba sendo ruim para a geração de empregos e para a oferta na economia”, diz Lazzarini.

Versões oficiais
O porta-voz da Presidência da Republica, general Otávio Rêgo Barros, negou que a atitude de Bolsonaro significasse uma volta da política de intervenção na estatal. “Por princípio, o senhor presidente da República entende que a Petrobras, uma empresa de capital aberto, sujeita às regras de mercado, não deve sofrer interferência política em sua gestão.”

O Ministério de Minas e Energia adotou tom semelhante. “O MME reafirma seu compromisso de não intervenção no mercado, de defesa dos interesses do país nas questões energéticas, e, também, dos consumidores quanto a preço, qualidade e oferta de combustíveis”, informou a nota.

Veja
 

sábado, 2 de dezembro de 2017

Populismo à moda tucana


O PSDB começou a se preparar para as urnas de 2018 bem ao estilo dele. De saída concedeu o controle absoluto da sigla a um dos seus caciques, o governador paulista Geraldo Alckmin que, de quebra, por decisão de cúpula, deverá ser o escolhido para a corrida presidencial. Esse foi o movimento mais previsível. O que estava fora do script e saltou aos olhos foi a guinada de 180 graus que promoveu no seu escopo de princípios e bandeiras históricas. A começar pela ideia, sem pé nem cabeça, de impor resistências à votação da reforma da Previdência. Não deu para acreditar. Seria mesmo o PSDB que estava propondo isso? Logo ele, uma espécie de pai ideológico da reforma, o baluarte de resistência pela modernização do Estado, resolveu rever o comportamento e apostar no retrocesso? O que exatamente estaria por trás de tamanha incongruência?

 Cúpula tucana (Divulgação)
 [Os tucanos não são confiáveis; começando e principalmente pelo primeiro à esquerda, Aquele que na primeira oportunidade mandou esquecer o que escreveu.]

A resposta não poderia ser outra que não o velho e bom oportunismo eleitoral. Entra em cena o populismo à moda tucana. Da pior espécie. Prejudicando inclusive a agenda de desenvolvimento do País. Uma escolha, no mínimo, inconsequente que o aproxima perigosamente do seu arquirrival PT. As medidas vitais e inadiáveis da Previdência já foram penosamente resumidas ao mínimo. Anulou-se quase R$ 500 bilhões em economia por meio de concessões. E vem o PSDB pedir mais R$ 109 bilhões de desfalque no projeto para beneficiar servidores públicos? No jogo de conveniência e marketing para a plateia não faltam subterfúgios.

A agremiação quer barganhar apoio suprimindo cláusulas vitais do projeto. Almeja parecer simpática aos olhos daqueles que reclamam da perda de vantagens e resistem a mudanças de regras. Mudanças essas, registre-se, que terão de ocorrer pela sobrevivência do sistema. O tucanato vai assim lançando às favas a crença na responsabilidade fiscal, pela qual tanto lutou. Compromete as chances de montagem de um País financeiramente ajustado. Por que isso agora? Quer mostrar que passou 
definitivamente à oposição ao governo Temer. É popular fazer isso. Dá ibope. No rastro do mantra marqueteiro e inconsequente do “Fora Temer” quer surfar por outros mares. Fingir que expiou os pecados. O novo prócer partidário, o governador Alckmin, já avisou que logo após assumir o controle da sigla vai dar a ordem de retirada da aliança com o governo.

Uma parceria que gerou vantagens a ambos e perdurou desde o início. Joga para a plateia. Seja nessa desincompatibilização, seja na resistência às medidas da Previdência ou mesmo no movimento de lançar um programa pseudoliberal (anunciado há poucos dias), os tucanos estão errando feio. Definitivamente dão sinais de terem perdido o rumo e o prumo. Não há como falar em separação do governo sem ter de explicar o seu passado. Inaceitável recuar no apoio a Previdência que tanto defendeu. Inviável aplicar um programa de gestão que remonta princípios obsoletos – como o do “choque de capitalismo” – defendidos há quase 30 anos, ainda nos idos de Mario Covas. O momento é outro. O Brasil anseia novas propostas. E o PSDB parece viver de um passado que pode levá-lo, inapelavelmente, a uma derrota fragorosa na disputa presidencial. Os economistas partidários criticam cada passo dado. Os chamados “cabeças-pretas” e “cabeças-brancas” não se entendem. Manda e leva quem tem mais tempo de casa, independentemente de carisma e sintonia com a demanda dos eleitores. 

Para o mercado financeiro, o presidenciável Alckmin não empolga. [Alckmin como presidenciável só empolga os adversários; é perdedor nato (quando candidato a  presidente da República, prejudica os aliados e, por consequência, e favorece os adversários.) Logo que foi anunciado o acórdão para a sua ascensão ao trono do PSDB as bolsas andaram de lado. O governador paulista ainda terá de encarar um inquérito aberto no STJ sobre as citações ao seu nome nas delações da Odebrecht. Ele foi acusado de receber dinheiro por fora e o tema, inevitavelmente, vai refluir na campanha. Caso não se saia bem nesse quesito poderá acabar misturado aos demais candidatos encalacrados da eleição que, de saída, já promete trazer um eleitor demasiadamente resistente a velhas fórmulas e malfeitos dos nomes de sempre. De uma maneira ou de outra, o PSDB parece mesmo ter enterrado no passado os dias de glória. Não empolga mais. 

Perdeu sistematicamente as quatro últimas eleições majoritárias para presidente no mano a mano direto com o PT e só experimentou hiatos de alento no escrutínio municipal, quando impôs uma derrota histórica aos petistas, levando a prefeitura da capital paulista no primeiro turno com o novato João Doria, que se sagrou vitorioso inclusive nos redutos antes dominados rotineiramente pelos mandatários de Lula. De lá para cá, os reveses tucanos se acumulam. A imagem de ética foi amarrotada por seguidos escândalos, culminando com o enterro político do até então comandante, Aécio Neves, que após os 51 milhões de votos na campanha de 2014 encontra-se agora às voltas com uma batalha judicial sem precedentes. Falta alguma coisa? Só mesmo o populismo para virar corpo e focinho do PT.

Por: Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três - Isto É



sábado, 23 de julho de 2016

A volta da governabilidade

Vencidos os primeiros dois meses desde a troca de guarda no Planalto, está evidente para todo mundo que o País finalmente voltou a ter governo. E com ações concretas dirigidas aos interesses da Nação. Não meramente eleitoreiras, de autopreservação, como ocorria até recentemente com a presidente afastada Dilma. A diferença entre o cenário caótico dos tempos de Dilma e o que se experimenta agora é abissal. Aquela sensação tenebrosa de ausência de direção e de confiança nas deliberações do Executivo vai aos poucos se dissipando, ficando para trás como lembrança de um pesadelo que ninguém quer vivenciar de novo.

Temer e o seu “dream team” da economia estão injetando otimismo, abrindo espaço a soluções criativas para os inúmeros problemas que herdaram. O sopro de credibilidade é fruto da percepção de que o atual comando está efetivamente compromissado com resultados. A proposta de renegociação da dívida dos estados, o projeto que dá maior transparência às agências reguladoras, a nova lei das estatais, o incremento das parcerias público/privadas – com a abertura, inclusive, do controle de subsidiárias dos Correios – são apenas algumas das medidas positivas em andamento que revestem de ânimo essa nova fase de gestão do Estado.

Sem contar no balaio as sonhadas reformas estruturais, entre as quais a da Previdência, que devem finalmente entrar em pauta. Dilma atravessou quase dois mandatos implodindo com os fundamentos da economia, legando a maior recessão de todos os tempos, abrindo espaço e fazendo vista grossa a uma corrupção monumental. Havia largado a administração pública à própria sorte. Não arbitrava nada. Não planejava. Tocava os estouros de caixa com pedaladas criminosas, sem critério, e lances de populismo escrachado e irresponsável que só agravavam o quadro.

De uns tempos para cá, a então mandatária não fazia outra coisa que não campanha em interesse próprio, montando verdadeiros comícios no Palácio e estimulando a anarquia sindical que lhe dava apoio em troca de generosas subvenções. A caricatura de uma chefe de estado perdida em propostas inexequíveis é reforçada pelos movimentos de Dilma longe do poder: ela fala em realização de eleições gerais antecipadas, promete manter a equipe econômica de Michel Temer, diz que vai colocar o Congresso no prumo.

Delira, divaga e exibe em praça pública sua inapetência notória para o cargo que um dia ocupou. Nas rodas de conversa de variados segmentos da sociedade a impressão que hoje prevalece, referendada inclusive em pesquisas de opinião, é a de que seu eventual retorno representaria um desastre de proporções inimagináveis, quebraria a economia de vez e mergulharia o País nas trevas da ruptura social. Boa parte da população sente calafrios diante da mera hipótese de repetição do ambiente de desmandos petistas.

No contrafluxo, o mercado vive dias de crescente tranquilidade com as ideias e decisões de Temer. Aposta todas as fichas na sua permanência. Reconhece nele a habilidade política para negociar temas áridos e para conquistar apoio do Congresso a iniciativas antes abandonadas. São duas visões bem distintas sobre os estilos de gestão em jogo, que devem pesar na hora da votação do impeachment. A irredutível Dilma faz pouco caso das demandas parlamentares e do necessário entendimento com senadores e deputados.

É o retrato da empáfia, da teimosia e da convicção irrevogável de que só ela governa. Foi assim nos idos do seu (des)governo e por incrível que pareça será, na sua visão, a fórmula a ser repetida na cada vez mais remota alternativa de seu retorno. Sem base de sustentação, nem apoio popular, Dilma parece sonhar com a consagração de um poder autocrático, fora de qualquer contexto e sintonia com as atuais necessidades do Brasil. Entre Dilma e Temer, nem os partidários dela, se tiverem algum juízo e compromisso com os votos que receberam, devem cometer a sandice de apoiar essa senhora.

 Fonte: Editorial - Isto É - Carlos José Marques


segunda-feira, 2 de março de 2015

MOVIMENTO CÍVICO DE 15 DE MARÇO DE 2015



General de Brigada Paulo Chagas - Presidente do TERNUMA 

A opinião pública está para os políticos como a água está para os peixes e precisamos torná-la insalubre para os que, com má fé e incompetência, estão destruindo o Brasil.  É com muita satisfação que constato que a mobilização, prevista para o dia 15 DE MARÇO, promovida por grupos organizados nas redes sociais, já está tirando a tranquilidade do governo e dos seus mais truculentos agitadores.  Já está sendo até tratada como guerra pelo apavorado sr Lula da Silva!  Como disse o jornalista Reinaldo Azevedo: “não concordo com as idéias nem com os métodos deles”!  Esta deve ser a diferença da nossa manifestação!  

Precisamos preservar a democracia e recuperar a liberdade que, nos dias de hoje, só serve aos fora da lei e ao enriquecimento ilícito de corruptos e corruptores.
Precisamos dizer ao mundo que não são os valores éticos e morais do povo brasileiro que estão destruindo fisica e moralmente o nosso país.

Precisamos deixar bem claro a todos que fomos vítimas de uma armadilha e de um estelionato eleitoral arquitetados por uma quadrilha homiziada dentro e fora do Brasil.

Precisamos deixar claro ao Congresso Nacional e à Suprema Corte de Justiça que o povo brasileiro não é conivente com a desonestidade e que acaba de se dar conta de que tem errado em suas escolhas e que quer mudá-las pelas vias que lhe confere a Constituição Federal.

É preciso que fique claro a quem de direito que o tempo do desmando, da corrupção, do patrimonialismo, da impunidade, do populismo e do paternalismo irresponsáveis está esgotado.  Chegou o fim desse tempo!  queremos, precisamos e merecemos mudanças, e vamos exigi-las do nosso modo, não do modo deles apoiado no desmando, na desordem, na irresponsabilidade, no desrespeito, na ilegalidade...

Precisamos passar todas estas mensagens do nosso modo!  Não somos vândalos, respeitamos o patrimônio público e a propriedade privada!  Nós não somos fascistas, comunistas ou bolivarianistas!  Somos brasileiros, democratas, amantes da paz, do direito, da liberdade e do respeito à lei e à ordem!   Portanto, que o movimento cívico de 15 de março de 2015 reflita em nossas atitudes todas as correções que queremos ver implementadas na vida nacional.

Que a serenidade, a ordem, a responsabilidade e o respeito dos manifestantes reflita a nossa determinação para dar um basta a tudo que nos tem envergonhado, diminuído e empobrecido como povo e como nação.  

Desejo aos homens e às mulheres de bem, que, por convicção democrática, participarão do movimento de 15 de março, plena realização em seus propósitos e que dele saiam vitoriosos a democracia, a honestidade, a liberdade e o mérito!

Porque nós somos melhores do que aqueles que queremos denunciar e ver fora da vida pública e demonstraremos isto, com veemência, em 15 de março, lembrando-os que nenhuma ditadura serve para o Brasil.

Boa marcha a todos!