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domingo, 5 de março de 2023

Teste da realidade:Covid 19: vírus saiu de laboratório e máscaras foram inúteis

Reconhecer fatos e mudar de ideia são características de quem quer pensar bem - até quando isso parece, equivocadamente, “premiar negacionistas”

 

É dura a vida de quem pelo menos tenta não ser engolfado por opiniões ideologizadas, um fenômeno que contaminou até cientistas que deveriam ser a última linha de defesa contra a politização de sua atividade. Alguns acontecimentos dos últimos dias dá um certo alívio para os que mantiveram a independência e são algo duros de engolir para quem acreditou firmemente que os “negacionistas” seriam punidos por seus múltiplos pecados durante a pandemia.

Obviamente, os fatos não têm nada a ver com opiniões formadas com base em posições políticas – progressistas, em geral, louvando a ciência, essa coitada tão abusada, e conservadores insurgindo-se contra a obrigatoriedade de medidas como máscaras, lockdowns e vacinas.

No olho do furação, a maioria de nós quis acreditar que uma camadinha de pano ou de papel na frente do rosto nos protegeria do vírus e que ficar em casa era o preço a pagar pela sobrevivência a uma praga incontrolável saída da natureza para, como sempre, punir os humanos por invadir habitats animais.

No fundo, era nossa culpa e precisamos expiá-la.

Fato: o Departamento de Energia dos Estados Unidos e o FBI fizeram declarações apontando uma razoável convicção de que o vírus da Covid-19 escapou por acidente do laboratório chinês onde era estudado.

Parecia um absurdo lógico imaginar que o vírus aflorado na cidade de Wuhan, onde funciona um laboratório de estudos desse tipo de agente patológico, tivesse saído por acaso de um morcego que infectou um animal intermediário que infectou humanos
Mas quem disse isso chegou a ser chamado de racista.

Outro tijolinho recente: a revelação de que a França havia encerrado a colaboração com o laboratório de Wuhan e avisado que ele estava sendo usado para fins militares.

Fato: uma instituição chamada Cochrane Library, considerada a mais respeitada na análise de intervenções médicas em escala mundial, concluiu que máscaras comuns ou as usadas por profissionais de saúde, as N95, “provavelmente fizeram pouca ou nenhuma diferença” na propagação da doença. 
Antes da pandemia, serviços médicos de diferentes países e a Organização Mundial de Saúde não consideravam as máscaras efetivas para conter o contágio de doenças respiratórias.

Fato, ou fatos: uma montanha de e-mails provenientes do ex-secretário da Saúde do Reino Unido Matt Hancock comprova o que muita gente já tinha concluído. Ou seja, que o governo na época chefiado por Boris Johnson tomava providências com base em pesquisas de opinião e não na mais pura e elevada ciência.

Não é exatamente uma surpresa — e todos os políticos precisam realmente levar em consideração o que o povo está pensando. 
Mas ver a manipulação nua e crua desse conceito é chocante.
Um exemplo, no mar de mensagens: as crianças das escolas inglesas para alunos a partir dos onze anos foram obrigadas a usar máscaras sem nenhum embasamento científico, mas sim um puro cálculo político. 
A primeira-ministra da Escócia na época, Nicola Sturgeon, havia determinado a restrição e Boris concluiu que não valia a pena “comprar essa briga”. Não queria parecer menos durão do que a rival escocesa.

O primeiro-ministro também se deixou convencer a não reabrir as escolas fechadas com grandes prejuízos para os alunos, como está acontecendo até hoje — porque “os pais já achavam mesmo que não haveria volta às aulas” até o início do ano letivo, em setembro.

Hancock e outros funcionários ironizaram as pessoas que precisavam voltar ao país e fora, durante um certo período, obrigadas a aceitar — e pagar — para ficar dez dias em isolamento em hotéis perto de aeroportos, “trancadas em caixas de sapato”. “Hilário”, diz um deles.

Os exemplos de decisões sem motivos sólidos são inúmeros — e provavelmente seriam similares se outros governos pudessem ser vasculhados de forma tão definitiva.

Um dos raros países que já fizeram isso foi a Suécia, que se distinguiu de todos os outros países desenvolvidos por não mandar a população se trancar em casa e manter abertas as escolas para jovens e crianças. Foi uma decisão “fundamentalmente correta”, concluiu a Comissão do Coronavírus. 

Outra conclusão: vários outros países que implantaram o lockdown tiveram resultados significativamente piores” do que os da Suécia. As autoridades médicas, únicas responsáveis pelas medidas oficiais, pecaram por demorar muito para alertar a população e houve aglomerações que deveriam ter sido restringidas, criticou a Comissão.

Em resumo, muitas das orientações e das consequências do combate à Covid-19 só estão sendo estudadas agora, enquanto autoridades médicas e governamentais tiveram que reagir no calor dos acontecimentos, em meio a um estado mundial de pânico e prognósticos cataclísmicos. Quanto mais a ciência verdadeira — e jornalistas inquisitivos — perscrutarem de onde se originou a pandemia, como se propagou, o que funcionou e o que não funcionou no seu combate, mais teremos a ganhar.

Reconhecer fatos não é “premiar” os negacionistas — uma palavra odiosa, por evocar uma horrível comparação com os degenerados que rejeitam as conclusões sobre o genocídio dos judeus pelos nazistas. É jogar a favor de toda a humanidade.

Escrevendo na Spectator com sua inteligência brilhante e seu pendor para a polêmica, Rod Liddle anotou sobre a situação na Inglaterra: “Eu não tinha — e não tenho — grandes objeções ao primeiro lockdown ou mesmo às primeiras recomendações para usarmos máscaras ou esfregarmos as mãos com álcool a cada poucos segundos. Não sabíamos o que estávamos enfrentando”.

Liddle obviamente é um conservador e escreve que “muito do que fomos proibidos de dizer, sob pena de sermos banidos das redes sociais ou demitidos de nossos empregos, revelou ter considerável substância”.

Só mesmo um intelecto superior para usar a expressão “considerável substância” no lugar de “estão vendo só, nós tínhamos razão”.

 Leia  também: Teoria sobre origem da Covid em laboratório chinês é considerada “mais provável” por agência dos EUA - Gazeta do Povo

Quem preferir, pode ignorar essa parte e se ater aos fatos que estão contando uma história à qual não deveríamos fechar nossos ouvidos.

Coluna Mundialista - Vilma Gryzinski - VEJA


terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Os reais e perversos agentes do mal - Gilberto Simões Pires

INFLAÇÃO - EXPANSÃO MONETÁRIA

Não foram poucos os editoriais que escrevi -explicando- tim tim por tim tim, que INFLAÇÃO é a EXPANSÃO MONETÁRIA -decorrente da impressão de moeda ou aumento da oferta de crédito ACIMA da QUANTIDADE DE BENS E SERVIÇOS DISPONÍVEIS. Ou seja: enquanto a economia estiver sendo pressionada pela EXPANSÃO EXCESSIVA DE MOEDA, os preços dos produtos e serviços, inevitavelmente, vão continuar subindo, na mesma proporção, em busca do necessário equilíbrio MOEDA/PRODUTOS.  

OSCILAÇÃO DE PREÇOS

Ainda que a MÍDIA -erradamente- insista a todo momento dizendo que INFLAÇÃO é AUMENTO GENERALIZADO DE PREÇOS, o fato é que SEM EXPANSÃO MONETÁRIA o que leva à OSCILAÇÃO DE PREÇOS de bens e serviços é a OFERTA E DEMANDA
Ou seja: quando há escassez de OFERTA por qualquer motivo, os preços tendem a subir. Da mesma forma, quando há retração de DEMANDA, o equilíbrio se dá por redução de preços. Simples assim.

AGENTES DO MAL

Pois, a título de melhor esclarecimento faço aqui um necessário e importante reparo: os MAUS GOVERNANTES, assumindo o lamentável papel de REAIS E PERVERSOS -AGENTES DO MAL-, notadamente Chefes do Poder Executivo da -UNIÃO e dos ESTADOS- além de serem responsáveis pela INFLAÇÃO, pelos exaustivos motivos acima descritos, estão prontos para DEFLAGRARINFLAÇÃO TRIBUTÁRIA. Explico: enquanto a UNIÃO quer por que quer o FIM DA DESONERAÇÃO de impostos federais (PIS/Pasep e Cofins), que impõe uma alta imediata em torno de R$ 0,70/litro dos combustíveis, os GOVERNADORES ESTADUAIS querem por que querem voltar a tributar -combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo, considerados -BENS ESSENCIAIS-, com as escandalosas alíquotas que vão de 25% a 34% para a gasolina e de 13% a 32% no caso do etanol.

INFLAÇÃO QUALITATIVA

Este tipo nojento de AUMENTO DE PREÇOS GOVERNAMENTAIS já ganhou fama como -INFLAÇÃO QUALITATIVA-. Fenômeno estúpido que ocorre quando os governantes provocam o AUMENTO DOS PREÇOS por força da criação e/ou elevação de impostos sobre produtos e serviços
É isto que os governadores estão querendo, às claras, sem demonstrar o mínimo remorso. Vejam que em nenhum momento disseram o quanto arrecadaram a mais, durante a pandemia, por conta da ALTA DO DÓLAR combinado com o AUMENTO DO PREÇO DO BARRIL DE PETRÓLEO. O que mais fizeram foi lamentar a perda de arrecadação motivada pela redução das alíquotas do ICMS para 17 ou 18%. Na real, o que fizeram foi TRIBUTAR A DESGRAÇA. 
 
PONTO CRITICO -  Gilberto Simões Pires
 

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

A economia e a síndrome de Sísifo - Revista Oeste

Ubiratan Jorge Iorio

Pandemia, guerra na Ucrânia, perturbações energéticas: nada foi capaz de impedir a subida da economia brasileira, que estava 'com os dias contados'

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Um mito bem conhecido da Grécia antiga é o de Sísifo, considerado o mais inteligente e astuto dos mortais, mas que — certamente por julgar que essas suas qualidades o dispensariam de qualquer atitude de humildade — ousou desafiar e tentar iludir os deuses, o que lhe valeu uma punição terrível: rolar eternamente com as mãos, montanha acima, uma enorme pedra de mármore.  
Sempre que estava perto de alcançar o cume, extenuado pela faina sobre-humana, uma força avassaladora fazia a pedra rolar novamente morro abaixo até o ponto de onde partira, jogando fora todo o imenso esforço despendido. 
É desse mito que vem a expressão “trabalho de Sísifo”, utilizada para designar aquelas tarefas que exigem esforços repetitivos penosos e irremediavelmente fadados ao fracasso, em infindáveis ciclos que alternam esperança e frustração e sem qualquer possibilidade de tentativa de recusa ou desistência.
Sísifo, escultura de Hans Marx (1993), na Avenida Charles de Gaulle, 
em Neuilly-sur-Seine, em Paris, França | Foto: Shutterstock

A economia brasileira, infelizmente, parece condenada há bastante tempo ao sobe e desce de Sísifo: quando tudo parece estar indo bem, a pedra rola ladeira abaixo, lá permanece por algum tempo e em seguida é novamente posta a subir, para depois cair novamente. Não estou me referindo apenas aos ciclos econômicos a que todas as economias estão sujeitas, mas a um fenômeno mais amplo, cuja natureza transcende a economia e que abraça, entre outros campos, o político, o jurídico, o histórico e o psicológico.

Do ponto de vista estritamente econômico, sabe-se há bastante tempo quais são as causas da formação da riqueza (ou da manutenção da pobreza) das nações, a saber, a liberdade econômica, a economia de mercado e o livre comércio. Em outras palavras, a riqueza dos países depende, essencialmente, de um cenário institucional garantidor das liberdades e dos direitos individuais, que proporcione aos agentes econômicos o exercício autônomo e responsável de seu esforço, criatividade, inventividade, trabalho e outras virtudes do espírito humano, diante do problema da escassez.

A diferença entre os liberais e os ditos “progressistas” é que os últimos, guiados pelo construtivismo racionalista, desejam que o Estado, direta ou indiretamente, se aposse do espetáculo, impondo a todos o cenário, o “script“, a rigorosa distribuição dos papéis e os preços dos ingressos referentes a uma peça cujos teor e resultados são pré-concebidos e impostos a todos

O crescimento econômico como ramo teórico remonta a Adam Smith, com a publicação de A Riqueza das Nações, em 1776. Seguramente, somente depois da publicação dessa obra é que se começou a perceber — concordando-se ou não com suas teses — que o desenvolvimento econômico poderia estar ao alcance de qualquer nação. 
A questão levantada por Smith, que — convém lembrarmosera um filósofo moral que se interessou pela Economia, é, a rigor, de natureza empírica e pode ser sintetizada em uma importante pergunta: se o objetivo é promover o bem comum e a prosperidade geral, o melhor meio é encorajar os indivíduos a fazerem os seus próprios juízos racionais e práticos, dentro do campo de ação de cada um, ou encorajá-los ou mesmo obrigá-los a pensarem nos interesses de toda a sociedade? 
Sua resposta, com a qual concordam os liberais (de ontem, de hoje e de sempre) é que, no conjunto, os indivíduos são capazes de promover o bem e a prosperidade geral com maior solidez, continuidade e efetividade pelo primeiro método do que pelo segundo.

Isso decorre, em parte, do princípio católico da subsidiaridade, que se refere ao fato de que as pessoas diretamente envolvidas em qualquer atividade estão em posição melhor para realizar julgamentos mais precisos e, portanto, para realizar as melhores ações do que as que “não pegam na massa”. Os romanos condensavam este princípio na máxima do pintor Apeles (séc. 4 a.C.) — “ne sutor supra crepidam” (não suba o sapateiro acima das sandálias) — pronunciada a um sapateiro que, depois de olhar um de seus quadros e criticar a pintura das sandálias, se pôs a censurar outros pormenores. Uma atitude sem dúvida semelhante à do Estado, quando se propõe a criar riqueza e distribuí-la, tarefas que não lhe competem.

Eis, portanto, os ingredientes básicos do processo gerador de riqueza: um cenário individual compatível com a liberdade individual e bons atores, isto é, saudáveis e educados, isto é, donos de capital humano. 
O que falta para um bom espetáculo? Falta apenas uma boa história, um “script” competente. 
A diferença entre os liberais e os ditos “progressistas” é que os últimos, guiados pelo construtivismo racionalista, desejam que o Estado, direta ou indiretamente, se aposse do espetáculo, impondo a todos o cenário, o “script“, a rigorosa distribuição dos papéis e os preços dos ingressos referentes a uma peça cujos teor e resultados são pré-concebidos e impostos a todos. 
Já os liberais não creem em histórias pré-concebidas: o “script” é uma consequência imprevisível, baseado em performances individuais autônomas, tal como em um concerto de jazz, em que os músicos improvisam sobre um tema, respeitando sua harmonia e criando melodias e figuras rítmicas, e os agentes econômicos agem livremente, respeitando os acordes legais e institucionais e dando vazão à sua criatividade.

A evidência empírica vem dando suporte às teses liberais que sustentam que a ação livre, autônoma e espontânea dos agentes econômicos, em um pano de fundo institucional que lhes garanta liberdade e segurança física e jurídica, é muito mais adequada à formação e à distribuição natural da riqueza do que aquilo que Hayek chamou de “pretensão fatal”, em que algumas pessoas se consideram em condições de determinar “quanto se vai crescer”, “como se vai crescer”, “quem vai ganhar ou perder”, “quanto se vai ganhar ou perder” etc.

Voltando ao Brasil, com base nessas considerações e examinando-se as experiências de diversos países, algumas bem-sucedidas, outras fracassadas, o que pode ser feito para trilhar a estrada da riqueza, reduzir a pobreza, eliminar a miséria e, portanto, respeitar a dignidade de milhões de brasileiros? 
A resposta liberal é bastante clara: reduzir os poderes do governo, recolocando-o no seu devido lugar, nas suas autênticas tarefas, entre as quais se inclui a indução de investimentos em saúde pública, educação básica, justiça e segurança. Isso feito, os cidadãos brasileiros — e não os políticos e tecnocratas — é que poderão dizer não “o que devemos crescer” e sim “o que podemos crescer”, com base na iniciativa individual, exercida em clima de liberdade, responsabilidade e baixa incerteza.

Sempre que governos se arrogam o direito de comandar a economia, a pedra fatalmente termina descendo a montanha, impossibilitando a riqueza de florescer. Os exemplos são inúmeros. Onde quer que se tenha colocado o Estado acima do indivíduo, os resultados sempre foram um desfile de fracassos, e atualmente estamos vendo a confirmação disso na Venezuela e outros vizinhos da América do Sul que não aprenderam a lição.

Nos últimos quatro anos, desde que a nossa economia passou a ser orientada, depois de décadas de intervencionismos diversos, por uma visão liberal, até que Sísifo chegou bem perto do cume: nem a pandemia, nem a guerra na Ucrânia, nem as perturbações energéticas foram capazes de impedir sua subida, e parecia que a maldição estava com os dias contados.

Mas, infelizmente, em menos de duas semanas, o pedregulho já começou a cair e pode-se afirmar que, com a visão econômica do novo governo, vai continuar descendo. 
Medidas como a retirada de estatais do programa de privatizações, bem como a suspensão de toda e qualquer privatização;
 indicações de que se pretende realizar uma “desreforma” da previdência e uma contrarreforma trabalhista para garantir fundos para os sindicatos; articulações para pôr fim ao direito dos empregadores de demitirem sem justa causa; 
extinção da Secretaria de Desburocratização e da secretaria que acompanhava o ingresso do Brasil na OCDE;
 tentativa de reversão do marco do saneamento;
 indicações de que a ideia infeliz de criar uma moeda única para o Mercosul pode estar sendo levada a sério; sinalizações de que o BNDES e os bancos públicos voltarão a subsidiar “campeões” escolhidos e outras, todas no sentido de aumentar o poder e a interferência do Estado sobre as atividades econômicas.

A par disso, no plano macroeconômico, as notícias são também preocupantes: tendência a forte aumento de gastos correntes e da carga tributária, decorrentes da crença no Estado como promotor do crescimento; e ausência de compromisso com o controle da inflação. Em resumo, dois venenos simultâneos: (1) regime fiscal deficitário, que acarretará dívida pública ascendente e juros mais altos, e (2) regime monetário expansionista, a dizer, inflação.

Nos últimos quatro anos, desde que a nossa economia passou a ser orientada, depois de décadas de intervencionismos diversos, por uma visão liberal, até que Sísifo chegou bem perto do cume: nem a pandemia, nem a guerra na Ucrânia, nem as perturbações energéticas foram capazes de impedir sua subida, e parecia que a maldição estava com os dias contados

A economia pode ser encarada como um jogo de que participam três jogadores: a autoridade monetária (Banco Central), a autoridade fiscal (que determina receitas e despesas públicas) e o restante dos agentes econômicos, que a literatura denomina de “público”
Por outro lado, como se sabe, o governo pode financiar os seus gastos de três maneiras, não mutuamente excludentes: contrair dívida junto ao setor privado, aumentar tributos e expandir a oferta de moeda. 
 Por fim, é preciso levar em conta o papel que as expectativas representam nas decisões do “público”:  
e, por alguma razão (como ocorre no momento), esperam-se preços mais altos no futuro, por que esperar isso acontecer, se cada agente achar que pode obter vantagens sobre os demais caso aumente o preço dos seus produtos agora?

Por isso, é importantíssimo olhar para o modo como se relacionam entre si as autoridades fiscais e monetárias. Há três tipos de relações.

Na primeira, o Banco Central não é independente e não existe expectativa de aumento de preços. Nesse caso, se o Banco Central adotar uma política de austeridade monetária, as autoridades fiscais terão de financiar o seu déficit tomando mais dívida, o que fatalmente jogará a taxa de juros para cima, e, mais cedo ou mais tarde, a autoridade monetária será forçada a sancionar a inflação. Portanto, neste primeiro caso, apertos na política monetária hoje podem implicar inflação no futuro.

Na segunda, o Banco Central também não é autônomo, mas há expectativas de que os preços vão subir. Nesse caso, o déficit fiscal terá de ser suprido também por mais dívida, isso também vai provocar aumentos na taxa de juros, mas, dada a influência das expectativas, os agentes econômicos anteciparão a inflação de preços, obrigando a autoridade monetária a sancioná-la já, pela emissão de moeda. Portanto, na presença de expectativas de inflação, apertos na política monetária agora podem significar inflação imediata.

Por fim, a terceira relação acontece quando o Banco Central é independente (como o nosso) e as autoridades fiscais continuam a gerar déficits substanciais, como tudo indica que virá a acontecer no Brasil. Nesse caso, a queda de braço entre política monetária austera e política fiscal festeira fatalmente vai desembocar em quebradeira generalizada: pelo lado monetário, o Banco Central terá de aumentar seguidamente e cada vez mais a taxa de juros, em razão de sua obstinação em não admitir inflação; e, pelo lado fiscal, o crescimento vertiginoso da alternativa solitária para financiar o déficit, ou seja, da dívida pública, implicará irremediavelmente aumento da taxa de juros. O resultado de tudo isso é que provavelmente a inflação não vai explodir, mas o Estado vai literalmente quebrar, arrastando com ele o setor produtivo, ou seja, empresas, empreendedores e trabalhadores.

Isso que você acabou de ler, por mais preocupações que acarrete, não tem absolutamente nada a ver com ideologia política, nem com essa ou aquela escola de pensamento econômico, nem com simpatias ou antipatias por esse ou aquele economista ou aqueloutro político. É, simplesmente, aritmética básica, aquele velhíssimo conjunto de operações numéricas elementares, ensinado desde a nossa mais tenra infância por alguma “tia” abnegada e querida.

E o custo de se desafiar a aritmética, nesse caso, poderá ser extremamente elevado. Força, Sísifo!

Leia também “Um conjunto de barbaridades econômicas”


Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Twitter: @biraiorio

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor - Revista Oeste

 


quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

“A Globo escondeu a verdade sobre a pandemia” - Revista Oeste

Redação Oeste

A jornalista Giovanna Mel foi a convidada do programa As Liberais desta semana 

 
Giovana Mel é a convidada do programa <i>As Liberais</i> | Foto: Márcio Komura/Revista Oeste

Giovana Mel é a convidada do programa As Liberais | Foto: Márcio Komura/Revista Oeste

Especialista em comunicação e oratória, a jornalista Giovanna Mel ganhou ainda mais evidência há algumas semanas, quando resolveu escancarar uma realidade que muitos desconfiavam: na época da pandemia, a Rede Globo impedia a divulgação de notícias verdadeiras sobre o coronavírus. “Recebi diversas denúncias de pessoas que estavam recebendo diagnóstico de covid, mas que haviam morrido de câncer, de acidente de carro”, contou Giovanna, ao programa As Liberais desta semana. “Eu mandava para amigos  da Globo, e eles diziam que não podiam publicar aquilo.”

Na entrevista, Giovanna contou, entre outras coisas, episódios vividos durante o período em que trabalhou na emissora e também dos motivos que a levaram a sair. “Não podia aguentar meus editores comemorando quando acontecia uma desgraça, porque teriam um factual para abrir o telejornal”, conta. Hoje empresária super bem-sucedida, ela conta o que é mais importante para quem quer aprender a se comunicar em frente às câmeras.

Apresentado pelas jornalistas Branca Nunes e Paula Leal, o programa As Liberais vai ao ar toda terça-feira, às 20h30. Semanalmente, a dupla conversa com mulheres de destaque no cenário nacional. Aproveitem este espaço para sugerir nomes de entrevistadas que vocês gostariam de ver por aqui. E não deixem de se inscrever no nosso canal.

Revista Oeste


terça-feira, 22 de novembro de 2022

Black Friday: Procon lista 41 sites para serem evitados

Neste ano, o evento será na sexta-feira, 25 

Considerada uma das datas mais importantes para o comércio, a Black Friday será na próxima sexta-feira, 25. As grandes ofertas em lojas físicas e virtuais devem movimentar o setor, após dois anos consecutivos impactados pela pandemia. Um levantamento do Mercado Livre mostrou que 78% dos brasileiros querem gastar mais nesta edição do evento — e já estão se preparando financeiramente para isso. No ano passado, a data proporcionou lucro de R$ 4 bilhões aos comerciantes, segundo estudo da Betway.

Para fugir dos golpes, o Procon de São Paulo elaborou uma lista de lojas virtuais que devem ser evitadas pelos consumidores. Segundo a instituição, essas empresas tiveram reclamações registradas, foram notificadas e não responderam nem foram encontradas. A lista também mostra sites criados exclusivamente para enganar o consumidor, que não realizam comércio eletrônico.

Criada em 2011, a lista conta atualmente com 41 sites e teve a sua última atualização em julho deste ano. Confira aqui todos os sites a serem evitados, segundo recomendação do Procon paulista.

O que comprar na Black Friday?
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) fez um levantamento neste ano para avaliar o potencial de descontos efetivos durante a Black Friday. Por 40 dias, a entidade coletou 180 preços dos itens mais buscados pela internet e descobriu que 39% deles revelaram tendência de redução.

Os principais destaques da pesquisa foram as quedas de 17% no valor de sapato masculino, 13% em lavadora de roupa, 10% em smartwatch e 8% em fones de ouvido.

Ainda, uma pesquisa feita pela consultoria Neotrust, empresa que fornece dados e inteligência sobre o e-commerce brasileiro, mostrou que os produtos mais consumidos em 2021 foram moda e acessórios, beleza e perfumaria e telefonia.

Redação - Revista Oeste

 

domingo, 30 de outubro de 2022

A origem da ilegalidade - Revista Oeste

 Flavio Morgenstern

O conteúdo do Inquérito 4.781 até hoje é um mistério — acusações genéricas são ventiladas na mídia, o que não ocorria nem mesmo nos anos de chumbo do regime militar

Inquérito das <i> Fake News: </i> | Foto: Shutterstock

 Foto: Shutterstock
 
Às 6h02 da manhã de 27 de maio de 2020, a campainha do condomínio tocou, avisando que a polícia queria entrar na casa de alguém que nunca havia sido acusado de nenhum crime.  
Ato contínuo, uma viatura da Polícia Federal estacionou, despejando seis homens armados. Um deles carregava um mandado em mãos
Outro reconheceu o alvo da operação. Aproveitou para dizer que era fã de seus vídeos. Tratava-se do youtuber católico Bernardo Pires Küster.

A operação terminou por levar um notebook, um iPad que Bernardo deixava para crianças da família e seu celular. Os policiais ainda permitiram que Küster anotasse alguns números de telefone de advogados antes de ter o material levado para Brasília.

Outros não tiveram a mesma “sorte” de Bernardo. Os investigados (talvez devamos chamá-los de “vítimas”) pelo inquérito variaram no relato de acordarem com policiais revirando seus quartos ou até mesmo com armas apontadas para esposas grávidas. O único a conseguir gravar um trecho da ação foi o humorista Rey Bianchi, enquanto sua esposa se desesperava de choro.

Bernardo, como é conhecido, não fazia ideia do porquê estava sendo tratado como um criminoso perigosíssimo — ele, acostumado a andar cercado pelo povo. Tudo o que pôde saber é que estava sendo acusado em um tal Inquérito 4.781, no Supremo Tribunal Federal. Um crime federal. Aquilo que, em filmes norte-americanos, faz com que a polícia local seja afastada e entrem “os feds” em cena. Ameaças grandes, como terrorismo ou ataques alienígenas.

Até hoje nenhum dos investigados sabe qual seria o suposto “crime” em questão. Algo tão grandioso que permitiu uma operação policial no auge da pandemia quando operações contra traficantes com armamento capaz de abater helicópteros nas favelas do Rio foram proibidas por decisão de Edson Fachin, ministro do STF. Já contra youtubers, humoristas, jornalistas e ativistas, sem que se saiba até hoje por qual crime, tudo foi realizado.

Novas buscas e apreensões ocorreram no dia 16 de junho, e ainda outras viriam contra ativistas e empresários. O Brasil, que tinha se acostumado a ver prisões de políticos durante a Operação Lava Jato, agora via a mesma mecânica voltar-se contra pessoas acusadas de serem “bolsonaristas”. 
O que aparentemente é tão grave quanto movimentar bilhões para financiamento próprio e de ditaduras. 
Algumas vezes, os investigados eram chamados de “golpistas” — quase sempre acusando alguma expressão de indignação privada, como “tem de limpar este Congresso” e outras verbalizadas por cerca de 102% das pessoas que leem notícias.

Acordar todo dia antes das 6 da manhã
Bernardo Küster, por meses, não conseguiu mais dormir até as 6 da manhã, sempre imaginando que a Polícia Federal voltaria à sua casa. Como voltou à casa de Allan dos Santos, sempre tratado como “blogueiro bolsonarista acusado de espalhar fake news”, mesmo que nem sequer um blog possuísse. Após se mudar para os Estados Unidos, Allan passou a ser tratado sempre como “foragido” epíteto que não é reservado a um Edward Snowden, por exemplo.  [felizmente, o epíteto é aplicado só por "jornalistas" da mídia militante do Brasil - "jornalistas" entre aspas, pela dificuldade de se aceitar que jornalistas, dignos do nome e da profissão, possam ser favoráveis à censura - postura dos que4 formam a mídia militante.]

O conteúdo do Inquérito 4.781 até hoje é um mistério — acusações genéricas são ventiladas na mídia, o que não ocorria nem mesmo nos anos de chumbo do regime militar. Chamado de “inquérito das fake news”, foi também apelidado de “inquérito do fim do mundo” pelo ex-ministro do Supremo Marco Aurélio Mello, título que rendeu um dos livros jurídicos mais lidos do país. A ele se somaram o “inquérito dos atos antidemocráticos” e o “inquérito das milícias digitais”. Todos parecem trocar informações entre si. A Procuradoria-Geral da República exigiu o arquivamento de todos, mas o pedido foi solenemente ignorado.

Livro Inquérito do Fim do Mundo | Foto: Reprodução
Além disso, veio da CPMI das Fake News, que fez a esquerda passar tanta vergonha que foi arquivada sem nem apresentar um relatório. Já a CPI da Covid, reconhecida pela população como “CPI do Circo”, pediu quebras de sigilo bancário, telefônico e telemático de jornais que criticavam os políticos que a geriam, de maneira flagrantemente ilegal. Afinal, uma CPI só pode investigar o objeto ao qual se propõe (no caso, a falta de respiradores em Amazonas), e não a mídia, a cor do céu ou o final de Caverna do Dragão. 
Os dados foram compartilhados com os inquéritos do STF. Os senadores nem se deram ao trabalho de ouvir os investigados: foi como um delegado pedindo quebra de sigilo de alguém por ouvir dizer, sem nenhuma prova, nem mesmo indício. 
A pena pelo abuso de autoridade chega a mais de quatro anos de cadeia. A devassa foi tão violenta que os senadores pediram todas as mensagens privadas em todas as redes sociais, cópia integral do iCloud, fotos dos contatos, todas as geolocalizações, histórico de buscas no Google e dados de saúde.

Denúncia baseada em crime não existente
O crime que gerou tudo isso? Bem, não há crime de “fake news” no ordenamento jurídico brasileiro. Ainda que houvesse, não se conhece nenhum inquérito secreto para investigar, digamos, desvio de dinheiro público com essas características: a Lava Jato realizava tudo às claras. Nada justifica o tamanho da força estatal contra pessoas acusadas de minudências — embora sejam sempre tratadas como “acusadas” ou “investigadas” em manchetes jornalísticas, criando sentimentos negativos nos leitores de antemão, como se fossem esquartejadores.

O termo “fake news” foi colocado em circulação pela mídia norte-americana como uma desculpa para o fracasso das pesquisas eleitorais, que afiançavam uma vitória fácil de Hillary Clinton

Até hoje, simplesmente nenhuma das ditas “fake news” foi apresentada. Fica-se apenas com um clima de suspeita no ar: “pessoas que divulgam fake news são tratadas como se fossem mentirosas compulsivas. O clima, na verdade, é perfeito para a tirania, que sempre abusou da desconfiança mútua para se livrar de quem discordasse de seus métodos — e nunca se preocupava em mostrar que alguma das denúncias fosse verdadeiramente falsa. Bastou popularizar o termo “fake news” após a eleição de Donald Trump para que a lógica se invertesse: hoje, muitos preferem ficar do lado da censura, mesmo sem apontar qual seria a dita notícia falsa — ou “desinformação”.

(...)

Notícia do site Poder360, publicada no dia 5/9/2021 | 
Foto: Reprodução

O escritor e linguista judeu Victor Klemperer escreveu, durante o nazismo, como a ascensão do Terceiro Reich se deveu muito a uma mudança anterior de vocabulário. Em LTI – Lingua Tertii Imperii, publicado em 1947, Klemperer mostra como toda terminologia oficial da língua alemã havia adquirido tons militares — até com condecorações militares para esportistas. Hoje, basta acusar quem você quer perseguir com a mesma terminologia: milícias, ataques, desinformação, alvo, operação, ordem. Com nenhuma mudança na lei, e com termos cirúrgicos repetidos goebbelsianamente por jornalistas (até com variações como “milicianos digitais”), a censura passa a ser aplaudida. Tudo teve método.

Leia também “O Direito sem lei”

 Flavio Morgenstern, colunista - Revista Oeste



segunda-feira, 26 de setembro de 2022

L de Lava Lula - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Várias pessoas em sequência fazendo um gesto de arma, seguido de um sinal referente a Lula. Conclusão imediata: assalto 

Cena alarmante: surge um vídeo na tela com várias pessoas em sequência fazendo um gesto de arma, seguido de um sinal referente a Lula. Conclusão imediata: assalto. 
A leitura óbvia da mensagem era que, depois da rapinagem disfarçada de governo, agora o pessoal tinha optado diretamente pelo assalto à mão armada.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

O susto inicial logo se abranda. Pensando bem, um assalto à mão armada assumido, ostensivo, bruto, poderia ser melhor do que mais de uma década vendo seus impostos e o fruto do seu trabalho serem comidos pelas beiradas — sob um véu de bondade, igualitarismo e ética que passarinho não bebe. Como diria o boticão, melhor sentir a dor de uma vez só.

Uma observação mais atenta ao tal vídeo, porém, traz uma nova e surpreendente percepção: não é o anúncio de um assalto. Você até se decepciona, pois já estava se apegando a essa experiência moderna de saber de forma leve e descontraída que será roubado — num comunicado musical cheio de sorrisos. Aí você cai das nuvens ao descobrir que aquilo é só um clip pacifista em defesa de um candidato do bem.

A ideia de transformar o gesto da arma em L de Lula é ousada
Se parte do público interpretasse que o L era de ladrão, poderia parecer que o clip estava propondo a entrega de um revólver ao bandido para que ele ficasse mais à vontade na limpeza do cofre. Talvez até coubesse um verso de esclarecimento: “Somos contra bandidos armados / não transigimos na defesa da paz / assalto com função social / sabemos o bem que isso faz”.

De qualquer forma, o clip é bom. Mostra de forma clara e empolgante que você pode transformar qualquer realidade tenebrosa num sonho todo azul, azul da cor do mar

Mas, pelo elenco do clip, o bom entendedor saberia que o L era de Lula. E claro que, no caso dessa gente boa, estamos falando daquele Lula honesto do William Bonner, não do Lula ladrão da Lava Jato. O título da canção inclusive poderia ter sido “Lava Lula”, o que retrataria com mais fidelidade a filosofia humanitária dos menestréis da picaretagem regenerada. Caberia até uma paródia do clássico de Luiz Melodia: “Lava Lula todo dia / que agonia / no apagar da roubalheira / que sumia…

De qualquer forma, o clip é bom. Mostra de forma clara e empolgante que você pode transformar qualquer realidade tenebrosa num sonho todo azul, azul da cor do mar — dependendo, naturalmente, do seu talento para enganar os inocentes úteis e os trouxas. Também é muito importante que seu roteiro de vida te proteja de encontrar, mesmo que furtivamente, alguém que saiba ou possa deduzir quem você realmente é. Isso quebraria todo o encanto e a força cívica da mensagem democrática.

O ideal seria uma reedição da pandemia, como vive anunciando o companheiro Bill Gates, para que pudesse ser resgatado o slogan de proteção às vidas humanas “fique no ônibus que eu fico no sítio”. Aí daria para gravar um monte de clip democrático sem o risco de esbarrar com ninguém na rua — especialmente com aqueles milhões de farofeiros de verde e amarelo que se aglomeram em paz para disfarçar o seu ódio. Covid por um mundo melhor.

O TSE não precisaria ficar removendo vídeos de povo, pois o próprio povo estaria removido. Aí só faltaria o Ipec assumir o lugar do TSE para oficializar os percentuais da felicidade. 

Não precisaríamos mais sequer de eleição. Nem de clip.

Leia também “A Falha e o Tubo”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste

domingo, 18 de setembro de 2022

O freio da pandemia - Alon Feuerwerker

 Análise Política

Entre as excentricidades das leis eleitorais no Brasil, uma a contribuir fortemente para atrapalhar as mentes é a que define uma data, perto da eleição, para o início oficial da campanha. Antes desse dia, entre outras bizarrices, não se pode falar em candidaturas, só em pré-candidaturas. Daí a ilusão de a campanha mudar de patamar num certo dia, e a partir daí existir sempre potencial para grandes mudanças.

Uma variável estatística há muito tempo já dava sinais de não ser bem assim desta vez: a alta escolha de candidatos na pesquisa espontânea, quando o entrevistado tinha de responder sem apresentarem a ele a relação dos concorrentes à Presidência da República. Na real, a eleição presidencial brasileira está na rua há um ano e meio, desde que Edson Fachin anulou as condenações de Luiz Inácio Lula da Silva na Lava-Jato. [ressalte-se: ANULOU as condenações, o criminoso NÃO FOI INOCENTADO.]

Ali começou um acelerado processo de sedimentação da bipolaridade entre o ex-presidente e o atual, o que acabou por fechar o espaço para uma fragmentada terceira via, que terminou se perdendo na ilusão de haver um grande estoque potencial de votos “contra os extremismos”. Registre-se ainda a ajuda do centro, quando matou os candidatos que, fora Ciro Gomes, tinham alguma massa crítica própria, Sergio Moro e João Doria.

Na política e no futebol, o “se” não joga, mas uma única terceira via que, por ser única, batesse em algo entre 10 e 15% dos votos produziria um fato político na campanha, sem o que qualquer centro teria imensa dificuldade para decolar. Mas isso agora é história.

A nossa longa corrida presidencial foi cristalizando algumas tendências que mostram resiliência agora na “campanha oficial”. Uma são as expressivas rejeições ao presidente da República e ao principal desafiante. É outra característica de um certo “segundo turno no primeiro”. Acontece que a rejeição do presidente tem sido consistentemente dez pontos maior que a do adversário, o que permite ao desafiante uma liderança estável nas projeções de segundo turno.

A melhora na economia e na percepção sobre o ambiente econômico está em algum grau cumprindo seu papel, ao manter o incumbente competitivo faltando apenas duas semanas para o fechamento do primeiro turno. Mas até agora não foi suficiente para estreitar a fenda de dez pontos a mais de rejeição. Talvez porque essa diferença tenha origem principal em outra fonte. O que também vem sendo apontado há tempos.

A origem dos problemas do incumbente nesta reta final de primeiro turno deve ser buscada na pandemia. Políticos arriscam-se mais do que seria prudente quando fazem questão de ter razão e ignoram os grandes movimentos da massa, as grandes ondas de opinião. E tudo se agrava quando os danos numéricos à saúde popular são maciços, e quando o governante transmite alheamento e insensibilidade.

Os grandes estoques de voto onde Lula constrói sua vantagem sobre Bolsonaro são o Nordeste, os pobres e as mulheres. Para ter chance real de vitória, o presidente precisa reduzir ao menos moderadamente o déficit de votos em cada um desses grupos, ou então reduzir fortemente em algum deles. Até o momento, a rejeição entre as mulheres cristalizada durante a pandemia vem funcionando como freio.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

 

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Brava gente brasileira! - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

A única coisa que não pode ser maquiada é o povo na rua

Apoiadores de Jair Bolsonaro, em Porto Alegre (RS), durante o feriado 07 de setembro | Foto: Miguel Noronha/Futura Press
Apoiadores de Jair Bolsonaro, em Porto Alegre (RS), durante o feriado 07 de setembro | Foto: Miguel Noronha/Futura Press
 
Em 2020 a pandemia trouxe enormes perdas para o Brasil e para a humanidade. O vírus chinês destruiu famílias e dizimou negócios.  
A doença trouxe vários sintomas graves e, entre eles, a fome, a mentira, a manipulação, a politização de vidas e do futuro de todos nós. Governantes foram expostos e suas lideranças (ou a falta delas!) mostraram problemas graves ao mundo, bem mais graves do que a própria pandemia.
 
No Brasil, no entanto, um outro vírus avassaladorque adoeceu o país com sintomas incrivelmente similares aos do vírus chinês havia tomado conta da nação desde 1º de janeiro de 2019. 
O cenário já antevia ao da pandemia e com os mesmos inimigos do povo torcendo para o “quanto pior, melhor”. 
Mentira, manipulação, politização de vidas e do futuro estavam em curso. E tudo por causa do resultado de uma eleição presidencial em 2018.
TSE Bolsonaro
As ruas do país foram tomadas por manifestantes em atos de apoio 
ao presidente | Foto: Tomzé Fonseca/Futura/Estadão Conteúdo

A eleição de Jair Bolsonaro não apenas mexeu nas entranhas do establishment e desordenou toda uma sequência de um teatro que enganou o brasileiro durante décadas, mas reviveu a memória de quem insistia em não querer lembrar o que o PT fez no poder entre 2003 e 2016, e o país que entregaram: a pilhagem bilionária dos cofres públicos, as verdadeiras fortunas “emprestadas” a ditaduras companheiras, o aparelhamento do Estado por militantes cleptomaníacos, a total incapacidade de viabilizar no país um ambiente favorável ao investimento e à geração de empregos com crescimento sustentável sem feitiçarias econômicas e muito mais. Enquanto a bolha de falsos liberais, jornalistas militantes e celebridade hedonistas se preocupa e com a proteção de seus próprios vícios e perversões em 2022, suas estúpidas falácias continuam sendo plantadas e espalhadas como ervas daninhas na rasa e falsa comparação de um ex-presidiário e o maior corrupto que o país já viu com o atual presidente.

Desde a eleição de 2018, o presidente Jair Bolsonaro não teve um dia sequer de sossego, ou de pelo menos o mínimo de uma oposição intelectualmente honesta ou propositiva. A gritaria política faz parte de qualquer cenário democrático, fato. 
Mas o repertório de xingamentos, mentiras e ataques ao presidente e todos aqueles de seu governo ultrapassa a infantilidade e beira a insanidade mental.  
Há quatro anos, não apenas o presidente, mas o país vem testemunhando um ritual satânico que alimenta a destruição de reputações, mentiras, e a própria implosão do nosso já capenga Estado de Direito. 
No entanto, o plano diabólico não contava com um “pequeno” detalhe que há muitos anos vem sendo deixado de fora do tabuleiro político nacional: o povo.

Independência ou morte em 7 de Setembro de 2022

Ainda tento encontrar palavras para descrever o que senti neste 7 de Setembro. Fiz questão de estar no Brasil e ver, de perto, o que meu coração me dizia que seria essa data. 
Não era e não foi um 7 de Setembro comum. Não apenas pela comemoração do bicentenário de nossa independência, mas porque há muito em jogo em nosso futuro como nação forte. Nossa Constituição não é mais respeitada por aqueles que deveriam protegê-la a todo custo. 
Há juízes ativistas tomando conta das leis em conluio com membros da velha imprensa e da velha política, e precisávamos entregar uma mensagem. Políticos estão omissos em suas atribuições institucionais e nossas ferramentas de freios e contrapesos para manter saneada nossa República estão sendo ignoradas. E lá foi o povo para as ruas. 
O mesmo povo que causa nojo e ódio nos mesmos hipócritas que bradam proteger as minorias e os pobres, mas que enriquecem deitados na cama com banqueiros, ditadores e corruptos.                       Mas o povo entendeu, e deu o seu recado em um mar de brasilidade verde e amarela: o autointitulado “pai dos pobres” e uma mãe para os ricos não vai mais segurar as rédeas da nação. Pelo menos se houver eleições limpas e justas.
Jair Bolsonaro interage com o público em discurso na 
Praia de Copacabana | Foto: Reprodução/Redes sociais
O Brasil estava como um grande desfile olímpico! Centenas de cidades e milhões de pessoas vestidas com as cores de nossa bandeira decidiram dar o recado. E eu vi tudo, ninguém me contou, não li em lugar algum. 
Ali, na Avenida Paulista, em São Paulo, não consegui evitar que passasse um longo filme de 24 anos como atleta profissional pela cabeça. 
Todas aquelas viagens pelo mundo usando um uniforme verde e amarelo. Assim como em muitos países percorridos, era possível ouvir nosso Hino Nacional, que tocava em carros espalhados por toda a Avenida Paulista. 
Diante de uma multidão, um filme olímpico com nosso hino sendo tocado nos pódios insistia em voltar na memória. 
Eu estava em uma grande — na verdade, em uma gigantesca — delegação olímpica pelo Brasil! A maior e a mais bonita delas! 
E não havia lixo nas ruas, não havia baderna, não havia vandalismo, não havia brigas e discussões…, mas havia um grande senso de civilidade e responsabilidade, tão forte que poderia ser quase tocado no ar. Havia uma paixão profunda incrustada nos rostos das pessoas, eu sei que ela estava lá, eu vi! As pessoas tinham o mesmo semblante de quando tirávamos da mala nossos uniformes novos com a bandeira do Brasil bordada na manga, como as que os soldados usam em seus uniformes nas guerras.

Os mesmos que colocam medo no povo estão — na verdade morrendo de medo do povo

Às vezes, a cabeça ficava vazia, sem pensamentos. As pessoas gritavam meu nome e eu apenas entrava num estado de transe diante de tantas imagens que jamais esquecerei, tantas fotos, tantas nuances verde-amarelas, tantos sorrisos. Sim, muitos sorrisos apesar de tudo que estamos vivendo no Brasil. E, tentando decifrar aquela avalanche de informações em forma de imagens sobre a nova realidade do brasileiro e sua paixão pelo país e pelas ferramentas que podem transformar um país em nação, mais tarde lembrei-me de uma cena espetacular do excelente filme Dunkirk, de 2017, dirigido e produzido pelo britânico Christopher Nolan.

Em 1940, ainda no começo da Segunda Guerra e sem a presença das tropas norte-americanas, depois que belgas, britânicos e franceses foram cercados por tropas alemãs durante a longa batalha de seis semanas no norte da França, 198 mil soldados britânicos e 140 mil soldados franceses e belgas foram salvos na operação conhecida como “Milagre de Dunquerque”. A evacuação maciça das tropas aliadas das praias e do porto de Dunquerque, que envolveu centenas de embarcações navais e civis e serviu como um ponto de virada para o esforço de guerra dos Aliados.

Dunkirk, um sucesso do cinema que já nasceu com etiqueta de clássico, coroa o brilhante trabalho de Christopher Nolan que retrata com maestria as mazelas humanas e a beleza do espírito divino que se manifesta em todos nós, se assim permitirmos. É nas cenas em Dunkirk que meus pensamentos fazem a conexão com este momento tão crítico no Brasil. O trecho que resume a ideia central do filme é quando um piloto de avião abatido, resgatado boiando no mar e traumatizado, grita com o homem comum que segue com seu pequeno barco para tentar resgatar soldados a pedido de Churchill na França ocupada: “Você tem que voltar! Seu lugar é em casa! Seu lugar é em casa!”, grita o piloto abatido.

Para o piloto, vivido pelo brilhante ator irlandês Cillian Murphy (Peaky Blinders), o cidadão comum deve deixar a guerra para os profissionais, já que o mais prudente é ausentar-se, omitir-se, proteger-se em sua própria casa, enquanto o destino da nação está sendo decidido entre os exércitos das forças do bem e do mal na Segunda Guerra. A resposta de Mr. Dawson, interpretado com uma dignidade comovente por Mark Rylance, não poderia ser mais pertinente e definitiva: “Se não ajudarmos, não haverá mais casa, filho”.

A grande geração que salvou o mundo do eixo nazifascista há mais de sete décadas era composta de heróis na essência do termo, em pensamento e ação, em força e capacidade de sacrificar tudo por todos. Lembrando G. K. Chesterton, eram jovens que não foram movidos pelo ódio do que estava na frente, mas por amor ao que deixavam para trás. E foi exatamente isso que eu vicom os meus próprios olhos neste 7 de Setembro: zelo, orgulho e amor, muito amor.

O assalto petista
O Brasil ainda sofre com as consequências de uma dura batalha travada contra o assalto sem precedentes do PT às instituições brasileiras, autorizado a voltar à cena do crime (alô, Alckmin!) por manobras ativistas e inconstitucionais por parte do STF. A imprensa de necrotério, completamente impregnada com seus agentes políticos torpes, é mais um tentáculo no projeto de poder da nova era petista que envolve não apenas um fantástico e inacreditável volume de dinheiro, mas também a clara e evidente intenção de usar da força desses braços infiltrados no Estado para subjugar o país ao projeto de poder do partido mais uma vez.
Praia de Copacabana no Bicentenário da Independência -
Foto: Reprodução/Redes sociais

Os mesmos agentes nefastos do STF que ajudaram a instaurar o pânico durante a pandemia para total controle da sociedade, que vêm cerceando liberdades constitucionais e protegendo corruptos, tentaram — mais uma vez — amedrontar a população antes do 7 de Setembro para que o povo não saísse às ruas e mostrasse seu apoio e seu amor ao país. Os mesmos que colocam medo no povo estão — na verdade — morrendo de medo do povo

Falam apenas para suas bolhas hedonistas, trancam comentários em redes sociais e se lambem em ambientes controlados sem os germes dessa gente chata esse troço chamado “povo” que resolveu gostar e falar de política.

Se falta honestidade e liderança no STF ou no Congresso, anda sobrando liderança com o povo na rua para irritar os ungidos.  
Sabemos que, se não encararmos essa guerra e apenas voltarmos para casa, pode não haver mais casa esperando por nós. 
Mas, como brilhantemente disse o jornalista Silvio Navarro, editor da Revista Oeste, eles — os ungidos — também sabem que a única coisa que não pode ser maquiada é o povo na rua. Ali não há margem de erro.

Leia também “Sr. Gorbachev, derrube este muro” 

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste (AnaPaulaVolei)


segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Hidroxicloroquina provavelmente ajudou na pandemia, conclui reanálise dos melhores dados - Eli Vieira

Gazeta do Povo -  Ideias

Uma nova análise dos dados dos melhores estudos publicados sobre o efeito da hidroxicloroquina (HCQ) na pandemia concluiu que essa droga ajudou a reduzir a Covid-19 sintomática em 5% a 45% dos casos, em comparação a pessoas que não tomaram HCQ, se ela fosse tomada antes da exposição dos pacientes à doença. O resultado central dessa profilaxia pré-exposição, que consiste em tomar HCQ por precaução antes do contágio, é uma redução de 28% no risco de Covid-19.

(...)

Harvard e Espanha

O primeiro autor da análise é Xabier García-Albéniz, afiliado a uma organização não-governamental de saúde em Barcelona, Espanha, e à Universidade de Harvard. 
Ele é acompanhado por quatro coautores afiliados a Harvard, ao Ministério da Saúde da Espanha e à Universidade de Málaga. 
A análise é uma revisão metanalítica, ou seja, um estudo sobre estudos que busca agregar dados e conciliar as diferentes conclusões dos estudos individuais. Foi publicada na revista European Journal of Epidemiology, a oitava mais influente publicação científica na área da epidemiologia (entre 111) segundo o site Scimago, especializado em rankings de revistas científicas.
 
Internados com Covid em Hospital de Campanha Pedro Dell’Antonia, em Santo André, 16 de abril de 2021. Análise de estudos mostra que a hidroxicloroquina poderia ter ajudado de maneira profilática.| Foto: EFE / Sebastiao Moreira
 
O foco dos autores da revisão foi nos estudos que utilizaram a HCQ como um profilático antes e depois da exposição ao vírus, como algo que evitasse a apresentação ou o agravamento dos sintomas, não como um tratamento. 
Estudos que utilizassem a HCQ como tratamento para um quadro estabelecido de Covid-19 foram excluídos da análise. 
Também foram excluídos estudos que não usaram a técnica da randomização, que é a distribuição por sorteio dos pacientes em dois grupos, um que tomou HCQ e outro que não tomou, para comparação — uma estratégia para reduzir possível tendenciosidade nos resultados.
 
O ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado [não inocentado]    Lula tem todos os motivos para não gostar da Lei da Ficha Limpa, que ele próprio sancionou em 2010.

TSE nega pedido para tirar do ar postagens de Bolsonaro que relacionam o PT ao PCC

De 72 estudos, 11 restaram para a reanálise após a seleção: sete deles tratavam da profilaxia pré-exposição e quatro da pós-exposição.


A Falácia da Linha Nítida

Xabier e colegas discutem os resultados em linguagem negativa: não se pode descartar a ideia de que a hidroxicloroquina foi benéfica como um tratamento preventivo para Covid-19, como muitos fizeram — frequentemente com motivações políticas. 
Eles lamentam uma interpretação errônea dos resultados dos estudos que atrapalhou os estudos clínicos que estavam em andamento no começo da pandemia e impediu que fossem geradas estimativas precisas a respeito do manejo da pandemia antes do advento das vacinas.

Internados com Covid em Hospital de Campanha Pedro Dell’Antonia, em Santo André, 16 de abril de 2021. Análise de estudos mostra que a hidroxicloroquina poderia ter ajudado de maneira profilática.| Foto: EFE / Sebastiao Moreira

Essa interpretação errônea é conhecida como a “falácia da linha nítida”. Na pesquisa científica, especialmente nas áreas biológicas e médicas, convencionou-se usar uma ferramenta estatística conhecida como valor p. Simplificadamente, o valor p é a probabilidade de os resultados a favor de eficácia de um medicamento terem sido obtidos por pura sorte, em vez de por causa de um efeito real. Por uma convenção, aceita-se no máximo um valor p de 5% — em menos de cinco a cada cem vezes aqueles resultados serão observados ao acaso, então é suficientemente improvável que eles sejam por sorte e suficientemente provável que representem algo como uma diferença no risco de desenvolver Covid entre quem tomou HCQ e quem não tomou.

(...)


Em suma, o erro de muitos jornalistas e divulgadores de ciência ao comentar os estudos da hidroxicloroquina em que o valor p foi maior que 5% é uma violação de um famoso adágio popularizado pelo astrônomo Carl Sagan: “Ausência de evidência não é evidência de ausência”. Se o valor p algumas vezes passou de um limiar arbitrário máximo, isso não significa que está provada uma ineficácia da droga, mas no máximo que não houve, na amostra e sob as condições específicas de alguns estudos, evidências suficientes a favor de sua eficácia. Pelo contrário, uma observação repetida de valores p baixos, mas acima do limiar, poderia ser contada como evidência a favor de algum efeito que os métodos não foram adequados para capturar.

Os cientistas da revisão lamentam os resultados dessa confusão: “o recrutamento [de participantes] para a maioria dos estudos de profilaxia com HCQ foi impedido de forma severa pelas interpretações incorretas das evidências” dos primeiros estudos. Os achados desses estudos foram retratados “amplamente (e incorretamente) como evidências definitivas da falta de eficácia da HCQ, simplesmente porque não eram ‘estatisticamente significativos’ quando tomados individualmente”, comentam, o que levou muitos a “concluírem prematuramente que a HCQ não tinha efeito profilático, quando a conclusão correta era que a estimativa do efeito era imprecisa demais”. Em suma, “a opinião pública interfere com a geração das próprias evidências”, alertam os autores aconselhando futuros estudos.

Revisando a revisão
A propósito da revisão a reportagem consultou o dr. Daniel Victor Tausk, que vem se manifestando publicamente de forma similar à vista nesta revisão há dois anos. Ele é professor associado do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo.

(...)

Ele refez para a Gazeta do Povo parte da análise da nova revisão de Xabier García-Albéniz e colaboradores. Os autores usaram duas abordagens estatísticas, uma mais “clássica” e outra mais “pessimista”. Tausk removeu um estudo usado na revisão pois suspeita que os resultados podem ter sido atrapalhados pela forma como o estudo separou os participantes: por andares de um prédio. 
Há espaços fechados como corredores em que pessoas em um mesmo andar podem pegar Covid. 
Na abordagem clássica, o valor p da profilaxia pré-exposição da hidroxicloroquina dá 2%, ou seja, “significativo”. Na abordagem mais pessimista, o valor p é de 6,5%, acima do limiar convencional de 5%, mas não muito. O matemático calcula que a redução do risco de piora clínica com o uso da droga é de cerca de 20%, um pouco menor que a estimativa da revisão.

 Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias