Novas regras deixam mais de 60% dos trabalhadores demitidos sem seguro-desemprego
Aumento do prazo de carência afetará principalmente os trabalhadores mais jovens, que mudam de emprego com maior frequência
A nova
regra do seguro-desemprego anunciada em 29 de dezembro de 2014, que altera o prazo de carência de seis para
dezoito meses para os trabalhadores que requisitarem o benefício
pela primeira vez, pode fazer com que mais da
metade dos funcionários demitidos sem justa causa não receba o auxílio.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) analisados
pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos mostram
que 63,4% dos 10,8 milhões de trabalhadores demitidos entre janeiro e novembro
do ano passado tinham menos de um ano e meio de serviço.
A mudança ainda precisa passar
pelo Congresso Nacional, que só volta do recesso dia 2 de fevereiro. O porcentual (63,4%) reflete, segundo o
professor, a elevada rotatividade no mercado de trabalho brasileiro. “O tempo médio de permanência no trabalho
no Brasil é de três anos”. Apesar de a mudança na legislação do
benefício ter o objetivo de evitar fraudes, Ramos acredita que ela não
será capaz de resolver o problema de alocação de mão de obra no país. De acordo
com ele, a rotatividade é resultado da baixa qualidade
de boa parte das vagas geradas pela economia brasileira. “Essa troca de emprego geralmente se dá
entre quem não tem muita opção de escolha”. As informações foram publicadas nesta terça-feira pelo jornal Valor Econômico.
Jovens
– O professor da Faculdade de
Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) diz que a mudança afetará principalmente os trabalhadores mais
jovens, que mudam de emprego com maior frequência até se estabelecerem
no mercado de trabalho. Dados do Caged apontam que 78%
dos trabalhadores demitidos sem justa causa com até 17 anos entre
janeiro e novembro tinham até 11,9 meses de serviço.
Para profissionais entre 18 e 24 anos, o porcentual é de 58,1%. Enquanto que
para profissionais entre 25 e 29 anos, o porcentual é de 27,1%.
O
professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Rodrigo Leandro de Moura também
afirma que a nova regra do seguro-desemprego pode incentivar principalmente os
mais novos a permanecerem mais tempo no emprego. “As empresas gastam muito para treinar novos funcionários. Uma
mudança como essa poderia ajudar a aumentar a produtividade da economia”.
Ele acrescenta que anteriormente o seguro-desemprego dava um “incentivo perverso” para que os
trabalhadores mudassem de emprego com maior frequência. "Essa troca deve ser pelo menos protelada."
Fonte: Revista VEJA
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