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domingo, 2 de julho de 2017

Economia livre

Esta é uma excelente oportunidade para a economia brasileira. Talvez a melhor. Em decorrência do combate à corrupção, o capitalismo brasileiro pode deixar de ser tutelado pelo Estado. As empresas têm a possibilidade de encontrar, na eficiência e na competição, quem são os reais vencedores. Velhos vícios públicos e privados poderão ser eliminados. A avenida que se abre para a economia é promissora.

A mais óbvia vantagem é a de não ter que entrar na corrida sobre quem paga mais propina pelo contrato, ou quem faz mais contribuição pelo caixa 2 com o objetivo de conseguir no futuro algum benefício dos cofres públicos. É redução de custo Brasil. 

Pensem só no volume espantoso de dinheiro que saiu do caixa da Odebrecht e da JBS para o pagamento sistemático de propina nos últimos anos. Esses valores que espantam o Brasil distorceram a economia. Os cartéis impediram a competição, as vantagens prejudicaram concorrentes e a corrupção criou também barreira à entrada de novas empresas.

Não há dúvida de que a corrupção aumentou muito nos anos recentes, mas a relação de dependência das empresas em relação ao Estado é uma longa tradição no Brasil. Hoje, ficou claro para o país a que ponto pode chegar esse compadrio. A JBS teve que virar dona de um pedaço do Mineirão, sem que isso fizesse qualquer sentido em seu negócio. Foi apenas a forma de camuflar a entrega de R$ 30 milhões feita para o candidato a governador Fernando Pimentel a pedido da então presidente Dilma, como contou na sua delação o empresário Joesley Batista. A Odebrecht entrou na Sete Brasil mesmo achando que não daria certo, segundo afirmou Marcelo Odebrecht. Esses são só dois dos absurdos contados pelos delatores.

A corrupção produziu uma enorme destruição de riqueza. As empresas estatais perderam valor de mercado e fizeram investimentos sem qualquer possibilidade de retorno. As empresas privadas deixaram de focar em seus negócios, porque no curto prazo a propina era muito mais rentável. A sucessão de eventos e decisões sem qualquer lógica corporativa é enorme e o cálculo do custo do sinistro ainda não está completo.

Os problemas brasileiros se misturaram. Um agravou o outro. A síndrome da dependência crônica que as empresas têm em relação ao Estado é antiga. Gasta-se um enorme tempo nas idas a Brasília para pedir por medidas que favoreçam o setor ou a empresa. Quantas vezes líderes empresariais levaram chá de cadeira nas antessalas dos gabinetes econômicos, apenas para falar com uma autoridade que exercia um poder temporário mas que poderia assinar aquela portaria com redução de tributo, ou com elevação da barreira ao produto importado. Mesmo se não houvesse o pagamento de suborno para obter essa vantagem, já seria um fator deletério.

A delação de Joesley é ilustrativa do avanço da doença que acomete a economia brasileira. Ele pediu ao presidente Temer naquela reunião soturna que o Cade o favorecesse numa decisão. Além de ter vantagens diretas, com os empréstimos subsidiados, e as operações de debêntures, ele queria benefícios de órgãos reguladores. Se houvesse defesa da concorrência no país, ele teria sido impedido de comprar frigoríficos apenas para fechar, como fez nos últimos anos.

O Brasil tem empresas que tocam seus negócios sem pedir benefícios governamentais. São as melhores. Mas as maiores são aquelas que construíram uma rede de interesses espúrios com políticos e governantes. Cresceram, mas ficaram dependentes e, hoje se sabe, expostas a riscos que podem nem conseguir superar.  O excesso de Estado produz confusões. O BNDES é o maior credor da Eldorado e sócio do JBS. Em crise, o grupo J&F precisa vender a empresa de celulose. O banco é também um dos donos e está no comando da Fibria, que quer comprar a Eldorado. Há um outro comprador chileno e o banco público vive um conflito de interesses. Se aceitar a venda para um concorrente da Fíbria, a empresa no qual é sócio será prejudicada. Se vetar, estará prejudicando o JBS, do qual é sócio e credor.

Há um emaranhado de erros, ineficiências, conflitos de interesse criados pela relação promíscua entre Estado e capital no Brasil. O combate à corrupção pode abrir uma larga avenida para superar os atrasos da economia brasileira.

Fonte: Coluna da Miriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo

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