Segurança no Rio vive situação de descontrole
Diariamente, a população fluminense é acordada com histórias
chocantes, logo suplantadas por outras, não menos contundentes. Para
citar apenas o dia de ontem, por volta das 7h40m, o médico André
Schelemm, de 47 anos, foi baleado no peito durante tentativa de assalto
dentro de uma das galerias do Túnel Rebouças. Ele foi ferido depois que
bandidos fecharam a pista para fazer um arrastão. Na mesma manhã,
Guilherme Tranquilino, de 15 anos, foi morto a tiros num ponto de
ônibus, em Água Santa, por ter se recusado a entregar o celular aos
bandidos. O jovem, que havia sido assaltado outras duas vezes no mesmo
local, estava a caminho da escola. Também de manhã, um motorista que
passava pela Avenida Brasil, nas imediações de Campo Grande, foi baleado
numa tentativa de assalto.
Na Cidade de Deus, uma das primeiras comunidades a receber uma
Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), em 2008, o terceiro dia de
tiroteios assustou moradores e impediu que mais de 2 mil alunos de 11
unidades da rede municipal de educação fossem às aulas. Para a população, a sensação é de que não há lugar seguro no Rio. Os
crimes acontecem nas ruas, dentro de casa, de escolas, de túneis, nas
imediações de estádios, em brigas de trânsito e até no útero materno,
como foi o caso do bebê Arthur. Impressiona como as tragédias se sucedem
sem que autoridades esbocem reação. As medidas adotadas revelam-se
tímidas e de pouco efeito.
É verdade que o Estado do Rio atravessa uma das maiores crises
financeiras de sua história, problema que afeta todos os setores,
inclusive o de segurança. Mas a penúria não pode ser pretexto para a
inércia. Se há poucos recursos, é preciso, mais que nunca, aplicá-los
melhor. Ademais, autoridades de segurança têm de rever suas estratégias,
porque, claramente, as que estão aí não estão dando resultado. É
necessário também melhorar o policiamento ostensivo. Quando bandidos
fecham um dos principais túneis da cidade, apostam na falta de
vigilância.
É fundamental ainda a ajuda da União, especialmente para coibir a
entrada de drogas e armas no estado. O prometido Plano Nacional de
Segurança, que usaria o Rio de Janeiro como laboratório para o país,
pouco avançou.Parte desse plano, o envio de 380 policiais rodoviários federais ao
Rio, para atuar no combate ao roubo de cargas em rodovias que cortam o
estado, é bem-vindo. Mas é ação pontual, que não ataca as causas do
problema. Até porque, no início do mês, a Polícia Rodoviária Federal
suspendeu o patrulhamento em rodovias de quase todo o país, devido ao
corte de mais de 40% no orçamento. Com isso, rotas por onde circula
grande quantidade de drogas e armas ficaram mais vulneráveis. Sem um plano nacional de segurança, que priorize a inteligência e as
ações integradas entre todos os níveis de governo, para barrar a entrada
de drogas e reduzir o arsenal dos bandidos, dificilmente essa guerra
será vencida. [o 'norte' desse Plano Nacional de Segurança deverá ser: "bandido bom, é bandido morto'.]
Fonte: O Globo
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