De olho num eventual parecer negativo do relator na CCJ, Planalto trabalha para rejeitar o relatório e tentar emplacar outro relator, alinhado ao Palácio. Trocas de parlamentares pró-Temer seguem a todo vapor na comissão
Prevendo uma possível derrota na Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ) da Câmara, o governo agora trabalha para derrubar o
relatório de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) e, com isso, colocar um relator do
bloco alinhado ao Planalto. Mesmo que essa estratégia provoque mais
corrosão na credibilidade do Palácio, aumentaria as chances de barrar a
denúncia e livrar Michel Temer de um afastamento do cargo.
A
mudança se deve à crescente apreensão dos governistas sobre o perfil do
relator da denúncia. Considerado próximo a Rodrigo Maia (DEM-RJ),
presidente da Câmara e beneficiário direto da queda de Temer, Zveiter
não tem sinalizado aos correligionários um parecer favorável ao
peemedebista. A partir de um relatório acatando
a denúncia, há duas avaliações correntes nos bastidores do Congresso:
se o documento for meramente técnico, considerando apenas a
constitucionalidade da acusação, é ruim para Temer, porém ainda deixa
brecha para uma vitória do peemedebista no plenário. Por sua vez, se o
parecer entrar no mérito da denúncia, fazendo juízo de valor sobre a
acusação de corrupção passiva, haverá mais pressão pela admissibilidade
no plenário, especialmente sobre os votos de parlamentares indecisos.
Nesse quadro, o time de Temer começa a se mobilizar em busca
de um nome que esteja declaradamente disposto ao enfrentamento da
denúncia. Um dos perfis que aparecem como opção é o do deputado Carlos
Marun (PMDB-MS). Um movimento nesse sentido foi dado ontem pela legenda,
quando colocou o parlamentar como titular na CCJ e passou José Fogaça
(RS) para a suplência.
A manobra também foi
adotada na semana passada pela liderança do Solidariedade. Foi retirado
da titularidade o deputado Major Olímpio (SP), declarado opositor de
Temer, para assumir o líder da bancada, Áureo Moreira (RJ). Em nota,
Áureo declarou que a decisão se baseou na isenção total do partido
frente à denúncia. “Avaliamos que, para garantir total isenção ao
processo, aqueles que haviam manifestado a intenção de voto não deveriam
compor a comissão como titulares”, argumentou o parlamentar.
Dança das cadeiras
No
PP alagoano, o líder, Arthur Lira, admitiu que poderá mexer também na
comissão. “Nenhum deputado é nato numa comissão, todos estão sujeitos à
decisão da liderança. Se for preciso, vai ser mudado”, disse. De acordo
com ele, a bancada vai se reunir na próxima semana para decidir a
composição e a orientação dos membros da CCJ.
Na
avaliação do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), já passou o tempo de
mudar integrantes da comissão, uma estratégia que pode gerar, inclusive,
desavenças entre correligionários. “Não adianta mais, a situação está
cada vez mais complicada. Se a primeira denúncia for derrubada, vem a
segunda, vêm fatos novos de uma delação, então, eles ficam
desmoralizados.”
Mesmo com o clima tenso,
aliados de Temer tentam demonstrar otimismo. O deputado Darcísio Perondi
(PMDB-RS) declarou o ‘já ganhou’, pois, nas contas dele, são 44 votos
contra a denúncia na CCJ. Na avaliação de outros parlamentares, o placar
está muito apertado, e Temer não poderá contar com mais de 30 votos dos
66 membros da comissão.
Para Delgado, apesar
da movimentação dos governistas, não será possível vencer o relatório de
Zveiter e a denúncia. “O voto do relator será o vencedor na CCJ, porque
há muita pressão popular. Eu, que não sou da comissão, já recebi
mensagens do ‘Zveiter, estou de olho em você’”, contou. Ele fez
referência a um movimento que começou nesta semana nas redes sociais
para cobrar do relator a aceitação da acusação feita pela
Procuradoria-Geral da República. Entre as dezenas de postagens que
tomaram a página pessoal de Zveiter no Twitter com essa mensagem, estão
publicações e vídeos de artistas, como Renata Sorrah, Lázaro Ramos e
Tico Santa Cruz.
Fonte: Correio Braziliense
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