Michel Temer decidiu torrar R$ 20 milhões do contribuinte numa campanha
publicitária sobre reforma da previdência. A campanha é cínica, inútil e
desrespeitosa. O cinismo está no fato de que a peça critica privilégios dos
quais Temer é beneficiário. A inutilidade decorre da evidência de que os
parlamentares não condicionam seus votos a nenhuma propaganda, mas a tenebrosas
transações. O desrespeito salta da constatação de que, sob Temer, o governo
queima verba pública como se fosse dinheiro grátis. [Temer tem contrariado e vai continuar contrariando muitos interesses.
A verdade que até pode ser desagradável é 'que ruim com ele, pior sem ele.'
Alguém já parou para pensar o desastre que seria trocar de presidente agora? A única via ainda aceitável seria a 'intervenção militar constitucional', mas, essa apesar da situação não ser das melhores os militares não a querem e só será implantada como a última alternativa.]
O repórter Bruno Bhogossian informa que o mote da campanha será o ataque
a privilégios dos servidores públicos. ''Tem muita gente no Brasil que trabalha
pouco, ganha muito e se aposenta cedo'', diz o comercial. A carapuça ajusta-se
perfeitamente ao cocuruto de Temer. Sua reforma propõe que a idade mínima para
a aposentadoria dos homens seja 65 anos. Em 1996, aos 55 anos, Temer requereu
sua aposentadoria como promotor do Estado de São Paulo. Recebe há mais de 20
anos uma pensão que, hoje, soma R$ 45 mil. A cifra precisa ser rebaixada para
não ultrapassar o teto do funcionalismo, regulado pelos vencimentos dos
ministros do STF: R$ 33,7 mil.
Temer aposentou-se precocemente na mesma época
em que atuava como relator de outra reforma da Previdência, trançada no governo
de Fernando Henrique Cardoso. Sobre sua atuação, FHC escreveu no livro Diários
da Presidência: “…Ganhamos na Câmara, uma vitória de Pirro, ou seja, 352 votos
contra 134, mas para ganhar o quê? A proposta Michel Temer. Muito pouco avanço.
Trinta por cento do necessário…” [FHC nunca foi confiável; ainda hoje existe uma curiosidade: estão investigando tudo neste País - a única que não investigam, sequer cogitam, é a reeleição.]
Noutro trecho, FHC anotou: “Temos que ir fundo na reforma fiscal, o que
é difícil com o Congresso que aí está. A reforma da Previdência foi
desfigurada, o Temer cedeu além de todos os limites, porque ele tem o voto de
um ou de outro. Agora, eu vejo com espanto que os líderes pediram que o Abi
Ackel redija o seu texto sobre estabilidade [dos servidores]. Ou seja: não
querem enfrentar as questões reais. É muito difícil obter a modernização do
país com este Congresso tão preso a coisas do passado.” Na sua época, FHC
mandou às favas a fama de político diferente. Escorando-se em Max Weber, trocou
a moeda da “convicção” pela da “responsabilidade.” Tapou o nariz e pagou o preço pelos 30% de reforma que o
relatório de Temer foi capaz de produzir. Hoje, Temer não precisa fingir que é
diferente. Ao contrário, torna-se cada fez mais igual a si mesmo para agradar
aos aliados.
À frente de um governo loteado e convencional, ele escancara os
cofres por uma que não sabe se terá. Se obtiver 10%, soltará rojões. Mario
Henrique Simonsen costumava dizer: muitas vezes sai mais barato para o
contribuinte pagar a propina e cancelar a obra.
No caso
da publicidade sobre a mexida na previdência, o governo deveria considerar a
hipótese de pagar a comissão e esquecer a campanha cínica, inútil e
desrespeitosa.
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