No sábado, num voo comercial de Brasília
rumo a Cuiabá, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo, que está
encerrando seu período como presidente do Tribunal Superior Eleitoral,
foi hostilizado. Em meio a protestos em razão da concessão de habeas
corpus, de que aqueles especialistas em si mesmos discordavam,
ouviram-se palavrões, ofensas à dignidade profissional e pessoal do
ministro, injúrias várias.
Cabe a pergunta: o que aquelas pessoas faziam
no avião é muito diferente do que fazem alguns procuradores nas redes
sociais, sob o silêncio cúmplice do Conselho Nacional do Ministério
Público e, por que não dizer?, da Procuradora-Geral da República, Raquel
Dodge, que, nesse particular, repete o comportamento omisso de seu
antecessor, Rodrigo Janot? Há dias, Deltan Dallagnol, como se fosse um
desses moleques que fuzilam pessoas nas redes sociais, estimulava a
adesão a um pedido de impeachment de Mendes.
“E aí, vai soltar o Lula também?”,
gritou um deles. O teor da manifestação era claríssimo: partia dos
chamados fanáticos da Lava-Jato, cujo viés fascistoide, infelizmente, é
estimulado por alguns próceres da operação, pertençam à Justiça, ao
Ministério Público Federal ou à Polícia Federal. O que foi aquele
espetáculo grotesco a que se assistiu com Sérgio Cabral, chegando a
Curitiba algemado — já aí uma desnecessidade, mas vá lá… — e com os pés
acorrentados? Alguém ouviu ao menos algum muxoxo da ministra Cármen
Lúcia, presidente do Supremo, representando, no recesso, o Poder
Judiciário? Se houve, não fiquei sabendo. Se não fiquei sabendo, foi tão
discreto que, ainda que tenha havido, foi irrelevante.
Será necessário lembrar a Cármen Lúcia, o
mais desastrado e infausto comando do Supremo desde a redemocratização,
que a ilustre senhora, como presidente do CNJ, tem, vamos dizer,
AUTORIDADE para se manifestar sobre a condição de qualquer preso? Se
aquele espetáculo grotesco é permitido, então tudo é possível. Há um protofascismo rombudo em bolsões
da classe média. Os que atacam autoridades em espaços públicos deveriam
ter a coragem de mostrar a cara e de expor a própria biografia ao
escrutínio coletivo para que possamos testar sua moral ilibada. Afinal,
se estão saltando para o centro da arena, é sinal de que topam um embate
que deve ter, então, a transparência como regra.
Ainda bem que tenho história, não é? Ou
melhor: meu blog tem. Procurem uma miserável vez em que eu tenha ao
menos flertado com esse tipo de comportamento, pouco importando qual
fosse o alvo, se de esquerda ou de direita, se petista ou não, se
reacionário ou não. Quem está na vida pública está, claro!, submetido
ao escrutínio desse público, mas há canais para manifestar essa
insatisfação. Infelizmente, quando juízes e procuradores da Lava Jato se
comportam como militantes das redes sociais, estão é estimulando esse
comportamento fascistoide, que defende julgamentos sumários. Como esquecer, no entanto, que essa
prática asquerosa de submeter as pessoas a constrangimentos, com uma
câmera na mão, é coisa de que a esquerda era useira e vezeira, até que
seus próprios representantes começassem também a ser intimidados?
Como
não lembrar das baixarias patrocinadas pelo tal Mídia Ninja, que se
queria uma espécie de jornalismo alternativo? Ora, sempre que as regras
da democracia e as garantias constitucionais são violadas, não há
vencedores.
Garantia constitucional?
Bem, parece-me que o Inciso X do Artigo 5º da Constituição, uma cláusula pétrea, aguarda regulamentação legal:
“São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”.
Os que, de forma deliberada, em nome de
suas convicções, de suas crenças e de suas ignorâncias submetem
terceiros a rituais de humilhação ou a situações vexaminosas em
ambientes públicos têm de começar a pagar caro por isso nas áreas civil e
criminal.
Que arquem com o peso de sua grotesca intolerância.
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