Para relator, Lula era o chefe da organização criminosa
O relator
João Pedro Gelbran Neto acolheu a sentença do juiz Sergio Moro e, segundo ele,
todas as declarações, delações de ex-diretores e dos políticos envolvidos no
esquema indicam que o ex-presidente Lula era o chefe da organização criminosa.
Era ele quem decidia quando havia discordância entre os membros do cartel e os
políticos, como quando ele ameaçou demitir todo o conselho da Petrobras que não
queria indicar Paulo Roberto Costa diretor da empresa. O relator partiu também
da teoria de que é possível condenar se todos os indícios corroboram numa mesma
direção, mesmo que não exista ato de ofício.
Análise: Terapia de desilusões
A defesa titubeou e não transformou o processo numa causa
Há um
choque de realidade no julgamento de Porto Alegre. Em parte,
está nas cenas explícitas (ao vivo) do tribunal. São eloquentes sobre o
funcionamento das instituições. Um ex-presidente da República no banco dos réus
em tribunal de segunda instância indica efetividade na ação da Justiça. É, no
mínimo, didático a um país que sequer completou três décadas de
redemocratização.
Também inédito
e relevante é a presença ostensiva da Petrobras na bancada da acusação. Com o
peso de seus 64 anos de história, embalados na bandeira do nacional-estatismo
que até hoje alimenta sonhos de poder de parte das forças autoproclamadas de
esquerda, a empresa pediu a condenação do ex-presidente. A Petrobras
declarou-se "vítima" de Lula.
Apoiou o Ministério Público, que assim
resumiu acusação: "Lamentavelmente, Lula se corrompeu."
A defesa
titubeou. Cumpriu a "tabela" do rito processual, e não transformou o
processo numa causa, algo que Lula realizou com competência, como mostram as
manifestações do lado de fora do tribunal. Na
política, choques de realidade podem ser úteis na terapia de desilusões com a
democracia.
José Casado, jornalista - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário