As lutas de Lula nas frentes política e criminal. A visão mais
frequente nos meios jurídicos é que existem espaços para adiar a prisão
do ex-presidente Lula, mas não existem espaços para evitar a
inelegibilidade. Pode-se evitar a prisão agora, com medida liminar
suspensiva, tanto no STJ quanto no STF. Já a Lei da Ficha Limpa é de
aplicação quase automática. A defesa precisará ser mais eficiente do que
foi até agora porque os recursos têm que ser sólidos.
Os pedidos de habeas corpus que certamente serão impetrados pelos
advogados de Lula serão decididos pelos ministros Felix Fisher, no STJ, e
Edson Fachin, no Supremo. Os HCs podem pedir a suspensão da ordem de
prisão ou podem requerer anulação da condenação. Deferido ou indeferido o
HC, os ministros vão querer levar imediatamente a plenário. Ninguém
quer ficar com o peso de uma decisão solitária sobre essa questão. A
liminar pode ser concedida, ou não, mas o ministro deve buscar a visão
do colegiado. Há uma pressa político institucional de que isso seja
decidido e a tendência dos juízes é distribuir o ônus da decisão com o
pleno de cada tribunal. Uma fonte que acompanha detidamente tudo o que
se passa nos julgamentos da LavaJato acha que há mais chance de o HC ser
concedido no Supremo do que no STJ.
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O fim do julgamento no TRF-4 é questão de semanas. A defesa tem um
pouco mais de tempo do que se imagina, porque os dois dias para os
embargos de declaração começam a contar a partir do momento em que os
advogados abrirem os autos eletrônicos e eles têm dez dias para fazer
isso. Certamente, os autos serão abertos só ao fim desse tempo. Mesmo
assim, quem acompanha a maneira de atuação do TRF-4 acha que no final de
fevereiro ou no começo de março devem estar julgados os embargos de
declaração. Eles são, como se sabe, breves e simples. Têm que discutir
apenas pontos obscuros da decisão, sem qualquer rediscussão de prova.
Aliás, mesmo nos tribunais superiores não se discutirá mais a
validade das provas, porque do ponto de vista processual, explicam os
juristas, toda a discussão “fática” acaba na segunda instância. Agora,
os advogados podem alegar vícios do processo. Vão, certamente, discutir
novamente se o juiz Sérgio Moro e a 13ª Vara tinham a competência de
julgar o caso. A defesa alegou junto à segunda instância que não era o
foro adequado porque o dinheiro da OAS para as obras no triplex não veio
de contratos da Petrobras. Se não é Petrobras, não deveria ser Moro.
Isso foi derrubado insistentemente no TRF-4, mas eles podem levar a
mesma questão ao STJ. Se fosse aceito, o julgamento poderia ser anulado.
Nos meios jurídicos, a avaliação é que isso tem pouquíssima chance de
acontecer. A concessão de qualquer recurso não é automática, ele precisa
ter alguma procedência para ser analisado.
A decisão do Supremo sobre prisão em segunda instância não é
mandatória. Pelos termos da decisão do STF — que sempre pode ser
alterada — foi permitido ordenar a prisão após condenação em segunda
instância, mas não tornou a prisão automática ou obrigatória. Contudo, o
que já foi determinado pelo desembargador Leandro Paulsen é que,
esgotados os recursos no TRF-4, o juiz de primeira instância deve mandar
cumprir a ordem. Em outras palavras, que Moro mande prender Lula. Para
evitar isso, os advogados entrarão com Habeas Corpus.
Quanto ao Direito Eleitoral, a aplicação é tão clara que um ministro
do TSE diz que Lula, no momento, tem “inelegibilidade aritmética”. Basta
se cumprir essa curta reta final. A ideia de que será preciso esperar
até 15 de agosto, prazo final do registro de candidaturas, para se saber
se o ex-presidente será ou não candidato, não faz sentido, segundo essa
autoridade. A Lei da Ficha Limpa é clara sobre a impossibilidade de
qualquer condenado em segunda instância concorrer a cargo eletivo. O PT só conseguiria manter a candidatura se tivesse êxito na
tentativa de suspender a condenação criminal no STJ. Do ponto de vista
da política real, os efeitos desse impedimento de se candidatar estão
acontecendo agora. Na política, como no mercado financeiro, tudo
acontece antes do fato. Os possíveis candidatos em cada estado já estão
formando suas alianças neste momento, e, portanto, vão querer saber quem
será o candidato do PT.
Míriam Leitão - O Globo
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