Cármen Lúcia colocou limites às pressões que vem sofrendo. Ao definir
que o Supremo Tribunal Federal (STF) não pode se pautar por questões
pessoais, e por isso seria apequenar a mais alta Corte do país rever a
decisão sobre a prisão depois de julgamento em segunda instância devido à
situação do ex-presidente Lula, a presidente Cármen Lúcia colocou
limites às pressões que vem sofrendo para colocar o assunto na pauta. Os advogados de Lula Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira
Martins mais uma vez explicitaram as pressões ao pedirem um habeas
corpus preventivo antes mesmo que o acórdão do julgamento do TRF-4 tenha
sido publicado, o que não é comum. [se percebe que os nobres causídicos estão desesperados diante da realidade: de defensores da 'alma mais honesta do mundo', passaram a advogados de porta de cadeia defensores de bandido indefensável, multi criminoso e cujo destino é ser condenado a mais de 100 anos de cadeia.
considerando que estão mantendo Paulo Maluf - 86 anos, cardíaco, portador de câncer da próstata, com doença lombar degenerativa que dificulta sua locomoção e condenado em um processo a pena inferior a oito anos, preso em regime fechado, o destino do multi octa réu Lula não é dos melhores, o que não ajuda no conceitos dos que o defendem.]
O vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto
Martins, negou o habeas corpus, afirmando que “não há plausibilidade do
direito invocado, pois a possibilidade de execução provisória da pena
encontra amparo na jurisprudência das cortes superiores”. Nas explicações, os advogados de Lula usam argumentos políticos para
justificar o que consideram a impossibilidade de o ex-presidente ir para
a cadeia, como se dependesse da importância do condenado a decisão de
cumprir a lei em vigor. Alegam que uma eventual prisão irá influenciar as eleições
presidenciais, pois o petista já anunciou sua pré-candidatura e está
liderando as pesquisas de intenções de voto. Por esse raciocínio, todos
os pré-candidatos estariam livres de qualquer punição da Justiça a
partir do anúncio de suas pretensões, pois não é crível que só o
primeiro colocado tenha esse direito.
Até porque estar em primeiro lugar nas pesquisas, ou mesmo terminar
liderando o primeiro turno, não é garantia de ser eleito nas urnas no
segundo turno. José Serra em 2010, que começou a campanha liderando as
pesquisas, que o diga. Em 2014, Alexandre Kalil, do PHS, terminou o
primeiro turno da disputa para prefeito de Belo Horizonte com 26,5% dos
votos, enquanto seu adversário, o tucano João Leite, havia conquistado
33,4% dos votos. Kalil terminou com 52,98% dos votos e João Leite ficou
com 47,02%. Alegam ainda os advogados que “(…) a privação de sua liberdade no
período de campanha (ou pré-campanha) eleitoral, consideradas as
credenciais acima referidas, configurar-se-ia em um prejuízo
irreversível ao exercício da democracia no país — que pressupõe o debate
de ideias muitas vezes antagônicas entre si. (…) Garantir liberdade de
trânsito e voz a alguém que representa tantos brasileiros, especialmente
neste período de conflagração sócio-política que se atravessa”, dizem
no texto que encaminharam ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A defesa que politiza a questão é a negação da Justiça, e se aproxima
perigosamente da tese de que somente as urnas podem condenar ou
absolver Lula. Os advogados de Lula desistiram de tentar reverter o
resultado do julgamento do TRF-4 e defendem o direito de seu cliente de
passar por cima das leis para satisfazer seus eleitores. Quase uma
reprodução da tese de que eleição sem Lula é fraude. Ao mesmo tempo, os advogados tentam antecipar o resultado de uma
eventual revisão da decisão do plenário do STF no caso da prisão em
segunda instância, alegando que o ministro Gilmar Mendes já anunciou que
mudou de posição, estando disposto a votar a favor da prisão apenas
depois da decisão de recurso no STJ.
Além do fato de que ministros do STF podem mudar de voto até a
decisão final, os advogados de Lula esqueceram-se de consultar outros
ministros. Como a ministra Rosa Weber, que estaria disposta a também
mudar de voto, apoiando agora a prisão em segunda instância que recusara
no julgamento anterior. E o ministro Alexandre de Moraes, que entrou na vaga de Teori
Zavascki, confirmará a posição a favor da execução da pena, como
prometeu em sua sabatina no Senado, ou mudará de posição? Tudo são
suposições que não deveriam servir de argumentação de defesa, que só
reforça a tese da ministra Cármen Lúcia de que uma posição majoritária
do plenário do Supremo não pode ser alterada devido a um caso
específico.
A pauta do Supremo não pode servir para resolver uma questão pessoal,
mesmo que de um ex-presidente, por mais popular que seja o atingido.
Como lembrou o ministro do STJ Humberto Martins, já não está mais em
discussão o fato em si: “(…) não viola a presunção constitucional de não
culpabilidade a execução provisória da pena quando pendente recurso sem
efeito suspensivo, como são os recursos extraordinário e especial, nos
quais não há mais possibilidades de discussão acerca do fato.”
Merval Pereira, jornalista - O Globo
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