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sábado, 27 de janeiro de 2018

O PT diante da esfinge

A nota do PT, divulgada logo após a condenação unânime de Lula pelo TRF-4, caracteriza o resultado como "uma farsa judicial", fruto do "engajamento político-partidário de setores do sistema judicial, orquestrado pela Rede Globo", os "mesmos setores que promoveram o golpe do impeachment".  O partido compromete-se a "lutar em defesa da democracia", "principalmente nas ruas". Desde que nasceu, o PT equilibra-se sobre uma disjuntiva: partido da ruptura, para consumo interno; partido da ordem, para consumo externo. A tensão chega agora a um grau extremo, insustentável. Finalmente, diante da esfinge mítica, o PT terá que decifrar seu enigma existencial.

As democracias, com seus rituais eleitorais periódicos, tendem a expurgar os partidos da ruptura para as franjas do cenário político. Desde cedo, o PT circundou o túnel do isolamento, definindo-se como partido institucional. O discurso de ruptura, jamais descartado, retrocedeu à trincheira dos eventos de militância. A dualidade discursiva atingiu o ápice depois que Lula subiu a rampa do Planalto. De um lado, o presidente congraçava-se com o alto empresariado e com os personagens icônicos da tradição patrimonialista nacional. De outro, os congressos do PT imprimiam resoluções cada vez mais radicais, pontuadas por termos como "elite" (e, logo, "elite branca"), "imperialismo" e "socialismo".[não surpreende a dualidade discursiva ter crescido sob o jugo do Lula; o condenado tem no jogo dupla, no uso de 'duas caras', uma característica presente desde seu nascimento.


É fato notório e inconteste que quando era líder sindical  o sentenciado pela manhã conduzia assembleias de metalúrgicos, insuflando a greve geral, depredar fábricas, passar por cima de quem tentasse manter a ordem pública; 

no final da tarde, inicio da noite, se reunia na FIESP, com os patrões e em conversas regadas com o bom whisky, Lula passava todas as informações do decidido nas assembleias, do que realmente poderia acontecer e recebia orientações dos patrões sobre como manter os movimentos de acordo com a vontade dos empregadores.

É de domínio público - e recentemente confirmada no livro 'assassinato de reputações' de Romeu Tuma Jr - que Lula dirigia os sindicatos, resistia à ação da polícia e ao mesmo tempo era o principal informante do delegado-chefe do DOPS, Romeu Tuma.]
 
A loucura obedecia a um método: conservar o monopólio petista sobre a esquerda do espectro político. A estratégia funcionou eficientemente, salgando o solo no qual o PSOL tentou lançar suas sementes. Na hora do impeachment, a duplicidade adquiriu as tonalidades da hipocrisia escancarada, mas sobreviveu ao teste de fogo. A deposição legal de Dilma Rousseff foi declarada um "golpe" e o PT prometeu resistir nas ruas, eletrizando a base social de esquerda.  


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Na sequência, a alma institucional restaurou seu primado e o partido reinstituiu sua política de amplas alianças eleitorais, que inclui os "golpistas" do MDB e do "centrão". A militância engoliu em seco, assim como os intelectuais "companheiros de viagem". O partido da ordem conhece perfeitamente suas prioridades. A valsa, porém, não mais se repetirá.

A dupla alma petista organiza-se ao redor de Lula, o venerado caudilho que abraça tanto um Maduro quanto um Odebrecht.  A eliminação judicial da figura nuclear implode o instável equilíbrio do edifício partidário. Como substituir Lula na cédula presidencial sem destruir a mística que preserva o monopólio sobre a esquerda? Cabeça humana, corpo leonino, a esfinge encara o PT, exigindo uma resposta nítida: ordem ou ruptura? [as lideranças querem a ruptura, os Lindbergh', Gleisi - esta por necessitar, desesperadamente, de um presidente que lhe conceda um foro privilegiado  que retarde sua prisão - e outras lideranças petistas latem por uma ruptura;

mas, para a ruptura só latir não é suficiente; colocar os militontos nas ruas - já não tão numerosos, muitos desempregados, outros preocupados com a perda iminente do emprego -  exige a presença física das lideranças.

Só gritar nos palanques, fazer declarações belicosas, 'dar corda' não funciona.
E, para tanto os militantes não tem coragem.

Além da falta de coragem existe a certeza que foram derrotados em 35, 64, nada fizeram durante a deposição da Dilma e que nova derrota os espera.

Lula, por necessitar desesperadamente se livrar da cadeia pode ter até vontade de liderar, fisicamente, eventuais atos que possam evoluir para uma sedição.
Mas, ele está ciente que é fácil neutralizá-lo; é um condenado em segunda instância, em liberdade por força de uma legislação que beneficia os criminosos, mas, que permite seja preso no momento em que seus atos configurem crime. E um condenado em segunda instância a pena superior a dez anos,  em liberdade aguardando julgamento de recurso, estará cometendo vários crimes se liderar qualquer  movimento de perturbação da ordem.

Lula sabe, e seus asseclas também, que  pregar revolta contra decisão judicial, liderar manifestações de quebra-quebra, proferir discursos inflamados diante de centenas de adoradores,  será motivo para prisão imediata.

Gleisi, Lindbergh e outros até tem vontade de liderar eventuais sediciosos, mas, cadê a coragem???

O Stédile está sobre controle, tem ciência que qualquer movimento que ele faça e que desagrade poderá provocar a convocação da Polícia Militar do Estado do Pará e daquela Corporação ele quer distância.
Além do que Stédile caminha rapidamente para o mesmo destino do José Rainha; alguém ainda lembra dele?]

Uma coisa é José Dirceu; outra, é Lula. O partido abandonou alegremente o primeiro, em nome do imperativo da ordem, que se identifica com a insaciável ambição de poder do segundo - e com as valiosas carreiras políticas dos quadros petistas. O segundo, contudo, confunde-se com o próprio partido -ou, na linguagem lulista, com nada menos que o "povo brasileiro".  O manual do marketing eleitoral reza que o nome de Lula deve permanecer numa cédula fictícia, aureolado pela denúncia da "farsa judicial", até o momento derradeiro da substituição inevitável. Mas como fazer a transição do discurso da ruptura ao da ordem, entregando o cetro a um Jaques Wagner (ou, pior, a um Ciro Gomes), sem
fragmentar o campo da esquerda?


O espectro da prisão de Lula complica ainda mais o artifício. No rastro do impeachment, Guilherme Boulos cumpriu, como culpado útil, a missão teatral de incendiar a militância de esquerda, arando o terreno para a reinstalação do discurso lulista da ordem eleitoral. Agora, junto com o PSOL tem a oportunidade de deflagrar sua campanha presidencial combatendo "nas ruas" a "farsa judicial" dos "golpistas de sempre".  Depois de Lula, o PT não pode mais enganar a si mesmo. É a hora da esfinge.


Demétrio Magnoli -  Folha de S. Paulo

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