Uso de algemas na Lava Jato não deve se repetir, diz Moro
O juiz Sergio Moro enviou
ofício ao relator da Lava Jato no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª
Região), juiz João Pedro Gebran Neto, afirmando ser "bastante
improvável" que a Polícia Federal volte a utilizar algemas nos pés e nas
mãos na condução dos presos. Ele se refere ao episódio da transferência
do ex-governador do Rio Sérgio Cabral para o Complexo Médico Penal de
Pinhais (PR).
Cabral foi transferido do Rio
de Janeiro para Pinhais no dia 19 de janeiro. O uso de algemas nas mãos e nos
pés gerou críticas à atuação da Polícia Federal, que respondeu dizendo que elas
foram utilizadas para proteger o ex-governador e o público. O IML (Instituto
Médico Legal), para onde Cabral foi encaminhado inicialmente, tem acesso aberto
–o objetivo das algemas seria evitar qualquer reação mais forte em caso de
desentendimentos. No ofício enviado no dia 26 de
janeiro, Moro afirmou a Gebran que está tomando as "providências
cabíveis", que já recebeu explicações da Polícia Federal e que aguarda
manifestações do Ministério Público e da defesa. Ainda assim, disse que foi
"expressamente recomendado" às autoridades policiais que observem a
Súmula 11 e evitem "o emprego de algemas nos pés e mãos durante o
deslocamento de presos da Operação Lava Jato, salvo casos de absoluta
necessidade e em circunstâncias excepcionais".
"Então, parece bastante
improvável que episódio equivalente se repita, salvo talvez em circunstâncias
muito excepcionais", afirmou no documento.
A Súmula 11 do STF estabelece
que "só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado
receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte
do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito".
TRANSFERÊNCIA
Cabral
foi transferido para o Paraná por conta das supostas regalias a que ele
teria tido acesso no sistema prisional do Rio de Janeiro. Em sua decisão, Moro justificou
a transferência lembrando que Cabral tem influência no Estado, o que
representaria "risco concreto de que ele possa utilizar essas relações
para, continuamente, obter ou tentar obter privilégios no cárcere".
"Mantendo-o no Rio de
Janeiro, constituirá um verdadeiro desafio às autoridades prisionais ou de
controle prevenir a ocorrência de irregularidades e privilégios", escreveu
o juiz. No pedido, o Ministério Público
citou dezenas de visitas recebidas pelo político fora do horário estabelecido,
além da instalação
de um "home theater" no presídio. O equipamento foi instalado em
outubro e retirado em novembro após a divulgação de que pastores assinaram o
recibo de doação a pedido de Cabral.
Folha de S. Paulo
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