Que coisa!
Em 2014, o
ministro Luiz Fux, do Supremo, concedeu uma liminar que vai ser
examinada pelo pleno só em março. Ela estende a todos os juízes federais
e a todos os membros do Ministério Público país afora o chamado
auxílio-moradia, pouco importando se os respectivos membros dos dois
entes dispõem de residência própria na cidade em que trabalham. E o dito
“auxílio” não é coisa pouca, não: R$ 4.377,73 mensais. A renda média do
trabalhador brasileiro está pouco acima de R$ 2.100.
É isto
mesmo: os juízes e membros do MPF, estes que aparecem a toda hora na
imprensa como os salvadores da pátria, recebem, só de auxílio-moradia, o
dobro do rendimento médio de um brasuca. Fora todos os outros auxílios,
e sem tributação nenhuma, diga-se: além dos 60 dias de férias, há
auxílio-livro, auxílio-creche, uma espécie de auxílio pós-graduação etc.
Nada disso, vejam que mimo!, é considerado salário, entenderam? Por
isso, em tese, esses ganhos não contribuem para ultrapassar o teto do
salário das duas categorias, que é o vencimento de um ministro do
Supremo: R$ 33.763,00.
Pois bem! A
coluna “Painel” desta segunda, da Folha, revelou algo realmente
impressionante. O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio —
aquele que já é bem mais famoso do que Sérgio Cabral, seu réu de
estimação —, que gosta de disputar com Sérgio Moro, a sua versão mais
chique, o galardão de homem de moral mais ilibada do país, é
beneficiário não de um, mas de dois auxílios-moradia. Explica-se: sua
mulher também é juíza. E, parece, eles precisam morar, sei lá, duas
vezes… Só o auxílio-moradia rende ao casal R$ 8.755,46 por mês, mais de
quatro vezes o rendimento médio do trabalhador de Banânia. O pagamento
do benefício, que alcança quase 18 mil juízes e 13 mil membros do
Ministério Público custa R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos. Não sei se
ocorre ao leitor: não existe “cofre público”. Existe é o seu dinheiro.
Depois que
Fux deu aquela liminar pornográfica, o Conselho Nacional de Justiça
resolveu regulamentar o privilégio.
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E decidiu que, se marido e mulher exercerem funções que rendam a ambos o tal auxílio-moradia, este deve ser pago uma única vez. Bretas, dono, entre outras coisas, de um imóvel comercial alugado por quase R$ 11 mil, não se conformou. Ele e alguns colegas recorreram à Justiça alegando que o que chamaram de “discriminação” fere a Lei da Magistratura. E, bingo!, ganharam a peleja. Assim, queridos, ainda que o marido juiz more com a mulher juíza na mesma casa, compartilhem a mesma cama, o mesmo meio ambiente e olores sobre e sob edredons, pouco importa: nós lhes pagaremos dois auxílios-moradia, como pagamos a Bretas e à sua mulher.
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E decidiu que, se marido e mulher exercerem funções que rendam a ambos o tal auxílio-moradia, este deve ser pago uma única vez. Bretas, dono, entre outras coisas, de um imóvel comercial alugado por quase R$ 11 mil, não se conformou. Ele e alguns colegas recorreram à Justiça alegando que o que chamaram de “discriminação” fere a Lei da Magistratura. E, bingo!, ganharam a peleja. Assim, queridos, ainda que o marido juiz more com a mulher juíza na mesma casa, compartilhem a mesma cama, o mesmo meio ambiente e olores sobre e sob edredons, pouco importa: nós lhes pagaremos dois auxílios-moradia, como pagamos a Bretas e à sua mulher.
Muito bem!
Sabemos que as entidades de juízes estão em guerra contra a reforma da
Previdência. Obviamente, elas não têm ideia de como equilibrar as contas
públicas sem a dita cuja… Fazer o quê? Que tal cortar verba da saúde,
da educação, do saneamento? E também estão em marcha pela manutenção do
asqueroso privilégio. E, como se verá, há quem não poupe nem a obrigação
que tem a imprensa de noticiar o que é do interesse público e o direito
desse público de ser informado.
A
Ajuferjes (Associação dos Juízes Federais do Rio de Janeiro e Espírito
Santo) não teve dúvida. Saiu em defesa de Bretas. Lá se lê esta pérola,
assinada pelo presidente da entidade, Fabrício Fernandes de Castro.:
“A constante campanha para tentar
desmoralizar os juízes federais brasileiros pretende não só subtrair um
direito como denegrir a honra dos que hoje mais se empenham em coibir o
maior dos males da administração pública brasileira, a corrupção
organizada e voraz”.
Tantos erros em tão poucas palavras.
Em
primeiro lugar, Bretas, que me parece descendente de negros, deveria
ficar particularmente ofendido com o uso da palavra “denegrir” como
sinônimo de manchar, macular, rebaixar, agredir, degradar. E, ainda que a
aparência engane e não haja tal ascendência, em nome da civilidade, o
emprego da palavra com tal sentido deveria merecer reprimenda quando
vinda de uma associação de juízes. Até porque caberia perguntar à
“Ajuferjes” se a nota de desagravo busca “embranquecer a honra” de
Bretas…
“A linguagem é um vírus”, escreveu o poeta William Burroughs. Cuidado com ela, meritíssimos.
Em segundo
lugar, fica, então, estabelecido que aqueles que se atreveram a
noticiar um fato, um dado da realidade, estão, ora vejam!, alinhando-se
com a corrupção, donde se conclui, por óbvio, que aqueles que se opõem
aos malfeitos devem apoiar o auxílio-moradia, certo?
É espantoso!
Blog do Reinaldo Azevedo
LEIA TAMBÉM: BRETAS E O AUXÍLIO-MORADIA 2: A corrupção é um mal, mas incompetência e nababos matam ainda mais criancinhas
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