O Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) absolveu apenas
cinco dos 77 condenados pelo juiz federal Sérgio Moro em quase quatro
anos de Operação Lava Jato. Nesta quarta-feira, a Corte de segunda
instância vai analisar o primeiro recurso do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Caso seja confirmada a pena de 9 anos e 6 meses de prisão
por corrupção e lavagem de dinheiro na ação do triplex no Guarujá (SP),
o petista poderá ficar inelegível.
O resultado do julgamento terá impacto na disputa pelo Palácio
do Planalto e vai mexer com o xadrez da eleição deste ano. A
dificuldade jurídica de Lula se reflete em seu futuro político e no de
seu partido. Neste domingo, 21, o jornal O Estado de S. Paulo
mostrou que o PT teme encolher na Câmara, no Senado e nos governos
estaduais caso o petista seja impedido pela Lei da Ficha Limpa de
disputar a Presidência mais uma vez.
A defesa do petista alega inocência. As estatísticas do TRF-4,
porém, revelam obstáculos impostos a Lula. O índice de absolvição na
8.ª Turma Criminal da Corte – responsável em Porto Alegre por julgar os
recursos contra as sentenças de Moro, da 13.ª Vara Criminal Federal, de
Curitiba – é de 6,5%. Apesar das reformas das decisões, 93,5% dos
condenados não conseguiram escapar da pena de prisão. O criminalista Carlos Eduardo Scheid, doutor em Direito, prevê
“desafio muito grande” para Cristiano Zanin Martins e equipe, uma vez
que, ao longo de 20 anos, a jurisprudência do TRF-4 considera “o Estado
frágil em relação à criminalidade econômica”. Lula foi condenado por
envolvimento no esquema de cartel e desvios na Petrobras.
“Normalmente um processo que tem uma prova indiciária e um
processo cuja prova traz dúvidas é um processo que conduz à absolvição.
Mas, em alguns casos especiais, o TRF-4 entende que essa dúvida não é
uma dúvida razoável, porque eles aplicam a teoria do domínio do fato e
aplicam a questão da cegueira deliberada”, explicou Scheid, que atua na
Corte, mas não defende nenhum acusado na Lava Jato.
Segundo o criminalista, Moro conhece bem a jurisprudência do
Tribunal. “As ações que são analisadas pelo TRF-4 são processos que
tendem a ter um afrouxamento das garantias constitucionais e uma
valoração das posições do juiz de primeiro grau. Por isso, o índice de
reversão das decisões de Moro é baixíssimo”, afirmou Scheid.
O procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da
Lava Jato em Curitiba, comemorou os números e a coesão entre primeira e
segunda instâncias. “O mais relevante é o grau de sucesso das acusações.
Como o TRF-4 é o último grau de avaliação probatória, podemos dizer que
o convencimento das provas levantadas nas acusações é superior a 90%”,
afirmou Lima, um dos integrantes da força-tarefa.
Absolvições
Até o momento, 98 decisões de Moro – um condenado por ter mais
de uma sentença – foram analisadas pelo TRF-4 em 23 recursos. Foram
absolvidos o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto (duas vezes), os
executivos da empreiteira OAS Mateus Coutinho de Sá Oliveira e Fernando
Augusto Stremel Andrade, o operador André Catão de Miranda e também
Maria Dirce Penasso, mãe da operadora Nelma Kodama.
Preso desde abril de 2015, Vaccari foi condenado em cinco ações
penais a 45 anos e 6 meses, por crimes como corrupção e lavagem de
dinheiro. Três sentenças de Moro já foram analisadas pela Corte – uma de
15 anos e 4 meses, outra de 9 anos e a terceira de 10 anos. Nas duas
primeiras, a defesa conseguiu a absolvição. Na terceira, a pena foi
aumentada para 24 anos. [mesmo tendo sido absolvido em duas sentenças, a pena da mantida foi majorada, tanto que o condenado entrou para o recurso com um total de penas de 34 anos e 4 meses e saiu com 24; considerando que ainda falta analisar recursos das duas ações penais restantes - penas que somam 11 anos e 2 meses, que podem ser mantidas e majoradas.]
A primeira vitória de Vaccari na 8.ª Turma Criminal ocorreu em
junho do ano passado e a segunda, em setembro. Os desembargadores
federais entenderam que “a existência exclusiva de depoimentos” de
delatores não era capaz “de subsidiar a condenação”.
“A lei brasileira exige provas que confirmem a palavra do
delator”, disse Luiz Flávio Borges D’Urso, defensor de Vaccari e
ex-presidente da OAB-SP. “A reforma de decisões proferidas pelo juiz da
Lava Jato repousa, exclusivamente, no aspecto técnico. Aliás, é para
isso que servem os recursos: para que as instâncias superiores possam
rever as decisões de primeiro e segundo graus, e corrigi-las”, afirmou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Dos 77 condenados por Moro, TRF-4 só absolveu cinco
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