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quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Londres tem manifestação a favor de Bolsonaro

No 7 de Setembro, brasileiros proferiram críticas ao STF 

Não foi apenas o Brasil que registrou atos a favor de Jair Bolsonaro. Há registros de manifestações em prol do presidente da República em Londres. As pessoas se concentraram em frente à embaixada do Brasil naquele país, além de percorrerem trechos da Trafalgar Square, que fica no centro da cidade.

Manifestantes se reúnem defronte à embaixada do Brasil em Londres, no Dia da Independência
Manifestantes se reúnem defronte à embaixada do Brasil em Londres, no Dia da Independência -  Foto: Reprodução/Twitter 

7 de Setembro: ato a favor de Bolsonaro em Londres

 
 Revista Oeste
 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Os evangélicos e as eleições - Denis Lerrer Rosenfield

 O Estado de S. Paulo

Sua estratégia consiste em captar o maior número de eleitores em diferentes partidos

Os evangélicos estão no centro do debate nacional. Tornaram-se atores políticos, pautando sua ação em valores conservadores, incluindo desde costumes até questões dogmáticas, como a mudança da Embaixada do Brasil em Tel-Aviv para Jerusalém. Ao contrário dos católicos, que não seguem normalmente os dizeres políticos de seus padres, eles tendem a observar as orientações de seus pastores. É bem verdade que os católicos são numericamente superiores aos evangélicos, porém tal diferença não tem relevância eleitoral.

Ademais, por muito tempo os católicos abandonaram posições religiosas em benefício de posições esquerdistas da Teologia da libertação, apoiada pela CNBB. Criou, por sua Pastoral da Terra, o MST e sempre o apoiou desde então. Não mais respeitou o direito de propriedade, afastando a Igreja dos empreendedores rurais. Esses setores da Igreja foram firmes apoiadores dos governos petistas. O eleitorado evangélico considera os costumes sob uma ótica religiosa. Aí não entra em questão uma discussão propriamente racional, pois o seu fundamento se encontra num texto bíblico, que fornece os critérios do juízo e da ação. Assim é o caso do aborto, do casamento homoafetivo, dos textos didáticos sobre gênero e do que o PT considera politicamente correto. Aliás, esse partido começou a perder seu eleitorado evangélico ao contrariar essa pauta de valores. Quando Bolsonaro se manifesta sobre a pauta de costumes, tem em mente precisamente esse eleitorado.

Outro ponto de princípio dos evangélicos diz respeito à mudança da embaixada brasileira para Jerusalém. Trata-se de uma questão dogmática, não sujeita a discussão: Jesus ressuscitará quando Jerusalém se tornar a capital do Estado judeu.[o tempo da Segunda vinda de Jesus  não depende de fatores controlados pelo homem.
“Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho, mas, sim, o Pai só” (Mc 13,32). Passa, então, a correr outro tempo, o do processo de conversão dos judeus, passando ambas as religiões a ser uma, sob os princípios do cristianismo, principalmente o reconhecimento de Jesus Cristo como Messias. Bolsonaro comprometeu-se com esse seu eleitorado a fazer tal mudança. Seu compromisso continua, embora por questões conjunturais tenha sido adiado. Muito provavelmente realizará essa mudança em 2021, um ano antes da eleição presidencial. [será? talvez a mudança se torne inconveniente e/ou inexequìvel.] Ao cumprir sua promessa, terá apoio maciço da comunidade evangélica. Note-se que Trump assim conquistou o apoio do eleitorado evangélico, ganhou as eleições e cumpriu a sua promessa.

O PT está aqui mal colocado, pois optou pelo politicamente correto de forma esquerdizante e se chocou de frente com os evangélicos. As contrariedades e os ressentimentos se traduziram no apoio ao candidato Bolsonaro em 2018. As posições antissemitas/antissionistas do PT igualmente tiveram papel importante no distanciamento. Lula tenta uma reaproximação, porém suas dificuldades são imensas. A visita ao papa tampouco atenua o problema, ao dirigir-se a outro eleitorado, além de seu caráter manifestamente inapropriado ao envolver o santo padre numa questão política, a da corrupção e do roubo em seus governos, sem arrependimento nem confissão.

Tomemos o exemplo da Assembleia de Deus. Essa confissão tem no Brasil em torno de 20 milhões de membros. São pessoas acima de 14 anos de idade, capazes de fazer a escolha de sua religião, quando então se tornam parte integrante dela, em sentido pleno. Considerando a idade eleitoral de 16 anos, quase todos são eleitores, em sentido estrito. Não barganham com questões dogmáticas, como certos preconceitos veiculam contra os evangélicos. Foram missionários suecos que a introduziram no País. São pessoas extremamente sérias e comprometidas com sua religião. A Igreja Universal do Reino de Deus, numericamente menor, tem, por sua vez, enorme importância midiática, por ser proprietária da Rede Record. Trata-se de uma rede de comunicação que abarca principalmente as classes C e D.

Qualquer PEC ou projeto de lei, para ser aprovado na Câmara dos Deputados, necessita passar pelo crivo da bancada evangélica. Após a bancada da agricultura e da pecuária, é a segunda em importância. A Câmara tem 513 deputados federais e a bancada evangélica, 86. Outras estimativas chegam a 106. O Senado tem 81 parlamentares e a bancada evangélica, 9. Outras estimativas chegam a 14. Qualquer articulação parlamentar de governo deve passar por tratativas com essa bancada, que sempre sustentará suas questões de princípio, mesmo quando não forem objeto específico de negociação.

Os evangélicos estão distribuídos em vários partidos, embora votem alinhados entre si. A sua estratégia consiste em captar o maior número possível de eleitores em diferentes configurações partidárias, atendendo a conveniências regionais. Ademais, escolhem candidatos preferenciais em cada Estado, concentrando neles os seus votos. Os candidatos escolhidos são pessoas próximas das lideranças religiosas e delas dependem, agindo organicamente. Muitos são “filhos espirituais”, assessores e discípulos. Bolsonaro extraiu bem essa lição. O PT não a levou em consideração. Os demais candidatos deverão enfrentar essa questão.
Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 23 de julho de 2019

Palavras no ventilador - Merval Pereira

Presidente desmoraliza o Inpe


O Globo

A última semana foi especialmente crítica para o presidente Bolsonaro, que falou muito, geralmente em situações improvisadas, o que dificulta seu desempenho, que já não é dos melhores na oratória. Mas, mesmo quando conversou com jornalistas estrangeiros num café da manhã, se descuidou com as palavras. Deu vazão a sentimentos que o perseguem, como conspirações. Antigamente, os paranóicos procuravam comunistas embaixo da cama. Hoje, procuram conspiradores debaixo da mesa presidencial.  Não sei quem inventou essa parábola do anão debaixo da mesa, responsável por revelar todas as decisões tomadas no gabinete presidencial do Palácio do Planalto. Ela circulava com um tom irônico, que Bolsonaro também usou, mas não revelava nenhuma conspiração.

Esse espírito defensivo está sempre presente nas declarações do presidente e de seus filhos, especialmente o vereador Carlos. Fora do plano de conspiração, Bolsonaro tem obrigação de pesar o que está falando, pois sabe que tudo será publicado. [pior que a publicação é muitas vezes a interpretação que é publicada do que o presidente falou.]  Perdeu a noção da repercussão que a palavra do presidente provoca. Além das declarações infelizes, erradas, Bolsonaro está numa discussão difícil, sobre a indicação do filho para a embaixada do Brasil nos EUA. Defendeu o filho de maneira equivocada, confundindo o país com a família.

E o que vazou de seu comentário a respeito dos nordestinos não é bom. Mesmo que se referir aos nordestinos como “paraíbas” seja uma característica da linguagem informal, há um claro tom pejorativo. O presidente Bolsonaro, naquela sua linguagem popular que pode dar votos, mas não respeita a “liturgia do cargo”, disse, por exemplo, que não pode ser apanhado “de calça curta” com a divulgação de dados tão importantes quanto os do desmatamento da Amazônia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). [ falando sobre 'liturgia do cargo', não estou entre os que gostam do Sarney, mas, não esqueço em 85, quando Tancredo agonizava e os repórteres perguntaram ao então vice,  como estava o presidente, ele formalmente pediu desculpas por 'abandonar' a liturgia do cargo e  fez com o polegar o gesto de positivo.

Se o presidente Bolsonaro seguisse o exemplo de Sarney - nesse aspecto, por favor, outros não devem ser seguidos - evitasse a comunicação excessiva com a imprensa as coisas melhoravam.
Quando ele tomou posse, foi aquele desastre do 'disse me disse', 'não foi isso que quis dizer', e coisas do gênero. Ele reduziu um pouco as entrevistas de improviso, designou um porta-voz, e as coisas melhoraram.
Pena que logo depois voltou a falar e as coisas complicaram novamente.
O presidente Bolsonaro deveria adotar como norma só se manifestar através do porta-voz, não conceder entrevistas de improviso - entrevista do presidente só em situações excepcionais e com perguntas apresentadas por escrito. ]

 Quis dizer que deveria ter sido avisado antes da divulgação,
não para impedi-la, alega, mas para discutir os dados. Tudo bem, se não fosse a resposta destemperada do presidente à pergunta de um correspondente estrangeiro.  O aumento de 88% do desmatamento obviamente seria pergunta de qualquer entrevista que o presidente desse depois da divulgação de um dado tão negativo para o meio-ambiente. Bolsonaro deveria ter reunido seus ministros ligados ao tema – Meio-Ambiente, Agricultura, Ciência, Tecnologia e Inovação e o diretor do INPE para discutir o assunto, que ele mesmo admite ser de extrema importância, o que já é um avanço. Se persistisse a desconfiança de que os dados estão errados, o presidente teria toda razão ao criticá-los, mas seria melhor colocar os ministros para defender a tese. O presidente do INPE, Ricardo Galvão, tem mandato de 4 anos que  começou em 2016, e não pode ser afastado.

Mas pode ser forçado a pedir demissão por uma constante campanha de descrédito, como Bolsonaro vem fazendo, a exemplo de governos anteriores que receberam agências com dirigentes indemissíveis com mandatos. No caso do INPE é mais grave, porque desmoraliza um dos órgãos brasileiros mais respeitados interna e externamente.  Se Bolsonaro acha, com razão, que é uma propaganda negativa para o país anunciar tal grau de desmatamento, deveria se preocupar não com o mensageiro, mas atacar as causas da tragédia ecológica, e anunciar medidas para contê-la. A teoria da conspiração, no entanto, não deixa que o presidente e seus assessores mais xiitas tenham atitudes sensatas.

Um presidente da República que sugere a jornalistas estrangeiros que seu mais importante órgão de pesquisas está a serviço de uma ONG, aumentando os índices de desmatamento propositalmente, é de uma irresponsabilidade tão grande que até mesmo Bolsonaro, que fala o que lhe passa na cabeça sem filtros, admitiu que “exagerou”.
 Mas o estrago estava feito. 


Merval Pereira, jornalista - O Globo

 

sexta-feira, 29 de março de 2019

Trapalhadas do capitão

O dito pelo não dito


Onde se leu: o presidente Jair Bolsonaro ordenou ao Ministério da Defesa que comemore em todos os quartéis do país a passagem de mais um aniversário do golpe militar de 64; Leia-se agora: não foi comemorar. Foi rememorar, rever o que está errado, o que está certo e usar isso para o bem do Brasil no futuro, disse Bolsonaro, corrigindo seu porta-voz.

Onde se leu: Bolsonaro atribui a “problemas pessoais” a irritação com ele do presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia, que respondeu mandando que ele parasse de brincar de presidir o país; Leia-se agora: "o desentendimento entre os dois foi uma passageira chuva de verão” e é “página virada”, como afirmou Bolsonaro.

Onde se leu: Bolsonaro irá transferir de Tel Aviv para Jerusalém a embaixada do Brasil em Israel; Leia-se agora: Bolsonaro admite que o Brasil poderá abrir em Jerusalém um escritório de negócios, mantendo sua embaixada em Tel Aviv.

[comentário: a maior parte dos que fazem o Blog Prontidão Total é formada por BOLSONARISTAS da primeira hora, quando a candidatura do capitação era considerada uma piada.

A condição de BOLSONARISTAS da qual nos orgulhamos - acreditamos que o  governo do nosso presidente Jair Bolsonaro será exitoso, bastando para tanto que ele comece a governar e em 2021, com as bênçãos de DEUS, a reeleição começará a se concretizar.

Por tudo isso, decidimos transcrever o Post 'trapalhadas do capitão', expressar nossa alegria pela última das trapalhadas apresentadas no exemplo,  não ter se concretizado e  nem se concretizará e ao mesmo tempo apresentamos uma outra, que é uma pergunta ao presidente e ao mesmo tempo um protesto: 
- o que tem o presidente do Brasil, com reformas importantes em curso no Congresso,  a fazer em Israel?
- qual a vantagem política e econômica - esse papo de vantagens tecnológicas não convence a ninguém, a tecnologia que talvez seja obtida lá, pode ser obtida facilmente em outros locais e sem necessidade do presidente do Brasil se afastar do governo - que a viagem do presidente Bolsonaro a Israel traz para o Brasil? (ele já fez uma viagem àquele País e não seja uma coisa que possa ser considerada a mais correta: sendo Católico Apostólico Romano, portanto, devidamente batizado, qual o sentido de ir a Israel para ser batizado por um pastor evangélico no rio Jordão? demonstrar o desejo de servir a dois senhores?)
 
O presidente Bolsonaro precisa cair na real e entender que sua presença, na quadra atual, é mais necessária no Brasil do que em qualquer outro ponto do planeta Terra.
Aproveitamos para reiterar nosso protesto com o absurdo que foi a concessão aos EUA, Japão e Austrália, da faculdade de entrar no Brasil sem vista, sem que haja reciprocidade.

É presidente, com um certo abatimento esperamos que quando o senhor assumir de vez o governo do Brasil compense a trapalhada de agora e a da semana passada.]

Por ora, em matéria de retificações, é só. Mas amanhã será outro dia, e sob a pressão de novos acontecimentos, ou dos filhos, ou do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, ou de qualquer comentário que leia no Twitter, Bolsonaro sempre poderá retificar as retificações. A ninguém é dado mais surpreender-se com o estilo errático do capitão, o maior fabricante de crises que o Brasil já teve na presidência da República desde que dali, por vontade própria, saiu Jânio Quadros em agosto de 1961 pensando em logo retornar nos braços do povo e, de preferência, com o Congresso fechado.

Os militares ficaram pendurados na parede sem escada depois de Bolsonaro ter recuado do que havia dito a respeito do aniversário do golpe. Foi distribuída a nota do ministro da Defesa a propósito do movimento militar de 64 que deverá ser lida nos quartéis. Ela exalta como um fato histórico o que ocorreu há 55 anos. A resposta de Maia às provocações que Bolsonaro lhe fez foi a aprovação pela Câmara de uma emenda à Constituição que subtraiu poderes ao governo para remanejar despesas do Orçamento da União. É fato que a decisão da Câmara ainda será submetida ao crivo do Senado que poderá modificá-la, mas o estrago foi feito.

Quanto à transferência ou não da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, o estrago se dará no outro lado do mundo. Mais precisamente na campanha à reeleição do primeiro-ministro daquele país, Benjamin “Bibi” Netanyahu. “Bibi” veio à posse de Bolsonaro certo de que a transferência da embaixada se daria.
De volta a Israel, faturou politicamente a decisão de Bolsonaro, para ver-se agora sem chão. E os evangélicos que se comoveram com o batizado de Bolsonaro nas águas do rio Jordão e lhe deram seus votos? Foi para agradá-los que Bolsonaro prometeu trocar a embaixada de lugar.
Vida que segue. Governo que promete fortes emoções.


Blog do Noblat - Revista VEJA

quarta-feira, 27 de março de 2019

Ivan, o Terrível, e o Mestre de Avis

“Por mais que suas diatribes possam parecer fora de qualquer sentido, a metralhadora giratória de Olavo de Carvalho pauta a narrativa do clã Bolsonaro

 Nem todos no Palácio do Planalto levam a sério o filósofo Olavo de Carvalho, como é o caso do ministro Santos Cruz, general que vem sendo ofendido diariamente pelo guru do clã Bolsonaro, mas o fato é que a sua narrativa já não pode ser ignorada, quando nada pela influência que exerce junto ao próprio presidente da República. Olavo de Carvalho foi uma das estrelas do jantar que Bolsonaro ofereceu na embaixada do Brasil em Washington, quando de sua recente visita aos Estados Unidos, para o encontro com o presidente Donald Trump na Casa Branca.


Por mais que suas diatribes possam parecer fora de qualquer sentido, a metralhadora giratória de Olavo de Carvalho pauta a narrativa do clã Bolsonaro. Na segunda-feira, um post do filósofo no Facebook chamou a atenção pelo significado de suas referências históricas, num momento de grande ativismo de seus partidários nas redes sociais, comandado pelo vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, com a difusão de “memes” contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Disse o filósofo: “O mecanismo político mais eficiente e quase infalível já registrado na História — por exemplo, na origem do reino português ou no triunfo de Ivan, o Terrível — é a aliança do governante com a massa popular para esmagar os poderes intermediários corruptos e aproveitadores. Deus queira que o Bolsonaro entenda ser essa a sua grande oportunidade”. A afirmação de Olavo de Carvalho coincide com a recomendação do presidente da República para que os comandantes militares organizassem as “devidas comemorações” do golpe militar de 1964, em 31 de março próximo, fato que gerou muita polêmica no Congresso. E com um grave desencontro entre o Palácio do Planalto e as principais lideranças da Câmara.

Poder absoluto
A referência a Portugal diz respeito à Revolução do Mestre de Avis, a primeira revolução burguesa do Ocidente, em 1383, na qual se resolveu a crise provocada pela morte de Dom Fernando I, rei de Portugal. A herdeira do trono, a princesa Beatriz, era casada com Dom Juan I de Castela, que reivindicou o trono para o casal, com o apoio da nobreza. A burguesia, a pequena nobreza e o povo não queriam a união com o reino de Castela e decidiram apoiar o irmão bastardo de Dom Fernando I, João, conhecido como o “Mestre de Avis”, que derrotou os castelhanos na Batalha de Aljubarrota. Além de garantir a independência, Dom João, o Mestre de Avis, centralizou o poder, fez uma reforma agrária, implantou uma indústria náutica e iniciou a expansão comercial portuguesa. Foi um dos primeiros regimes absolutistas da Europa, em plena Idade Média.

Ivan, o Terrível, sagrado Ivan IV em 1547, na Catedral da Assunção em Moscou, foi o primeiro czar. Filho de Vassili III e de Helena Glinska, nasceu em 25 de agosto de 1530. Com a morte do pai, sua mãe foi tutelada por uma regência de 20 boiardos, senhores feudais russos, aquém dividiram o poder entre si após envenená-la. Logo após assumir o trono, em 1547, incêndios devastaram Moscou e provocaram milhares de mortos. Ivan se disse abandonado por Deus e decidiu convocar representantes de todas as regiões da Rússia para uma assembleia que só se realizou em 1950, mas mudou a história da Rússia.

Ivan afastou os boiardos, decretou um código civil, reorganizou o clero e criou um Estado centralizado, com uma polícia secreta que perseguiu duramente os seus opositores. Conquistou o Volga e estendeu seu império à Suécia e à Polônia; à frente de um exército de 100 mil homens, ocupou Kazan, a capital dos tártaros. Para celebrar essa vitória, construiu em Moscou a catedral de São Basílio. Em 1558, tentou assegurar uma saída ao Mar Báltico, mas acabou derrotado pela coalizão formada por Polônia, Suécia, Lituânia e os Cavaleiros Teutônicos da Livônia, em 1578. Depois de 25 anos de guerras, com a Rússia assolada por uma epidemia de peste, em 1581, matou seu filho mais velho, Ivan Ivanovich, num acesso de cólera, provavelmente provocado pelo mercúrio usado no tratamento de uma sífilis. Morreu jogando xadrez, em 18 de março de 1584, misteriosamente.

Nas entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

O real peso do Brasil

Atitudes intempestivas, movidas não por uma sólida política de Estado, mas por idiossincrasias dos ocupantes temporários do poder, podem danificar a imagem do Brasil

O multilateralismo está gravado na tradição diplomática brasileira desde o início do século 20, pouco depois da instauração da República. De acordo com o espírito republicano, o Brasil passou a advogar a igualdade entre as nações e o respeito ao Direito Internacional como premissas para o entendimento entre os países. O multilateralismo isola os Estados delinquentes ou belicosos e, no âmbito das organizações internacionais, garante condições para que todos os Estados-membros, em algum momento, se beneficiem desse arranjo, mesmo que haja profundas assimetrias entre eles.

O mesmo não acontece nas relações bilaterais, em que geralmente as assimetrias ditam os termos das negociações. Logo cedo, o Brasil republicano notou que não tinha poder suficiente para impor-se em relação às grandes potências e, em alguma medida, nem mesmo em relação a alguns de seus vizinhos sul-americanos. Pode-se dizer, portanto, que a opção pelo multilateralismo foi natural para o Brasil. "Não somos um País poderoso o bastante a ponto de chutar o balde quando alguma regra internacional não nos beneficia", disse o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, em entrevista ao Estado. Ele se referia especificamente à anunciada intenção do futuro governo de Jair Bolsonaro de mudar a Embaixada do Brasil em Israel da cidade de Tel-Aviv, reconhecida internacionalmente como capital israelense, para Jerusalém, disputada por Israel e pelos palestinos como capital. A mudança serviria para demonstrar alinhamento do Brasil aos Estados Unidos, cujo governo também moveu sua embaixada em Israel para Jerusalém, desafiando a comunidade internacional. [alinhamento do Brasil aos Estados Unidos é aceitável, se e quando apresentar vantagens para o Brasil;
a mudança da embaixada, apenas para atender mero capricho de Trump e de Israel em NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, atende aos interesses do Brasil, só trazendo prejuízos comerciais.
Se tiver de escolher entre Israel ou os parceiros comerciais árabes, Bolsonaro terá uma única alternativa que favorecerá o Brasil: escolher os parceiros árabes.] Para o chanceler Aloysio Nunes, a mudança da Embaixada do Brasil em Israel, se acontecer, nada acrescentará ao interesse nacional, e as consequências negativas irão muito além dos problemas que o País terá com parceiros comerciais árabes. Trata-se de arranhar a imagem de "respeito do Brasil à lei internacional", imagem essa que há mais de um século garante que o País seja ouvido nas grandes questões internacionais.

O chanceler Aloysio Nunes argumenta que, ao contrário do que parecem acreditar seu futuro sucessor, Ernesto Araújo, e o presidente eleito Jair Bolsonaro, "a cooperação (internacional) não contradiz a soberania do País" e que, "em alguns temas, os interesses do País são mais eficientemente tutelados quando há cooperação com outros países”. Ele citou o caso específico do Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular, ao qual o Brasil aderiu, mas que será “denunciado" esse foi o termo usado por Bolsonaro – pelo próximo governo. "A pauta do combate à imigração pode ser dos Estados Unidos, da França, da Itália, da Hungria, mas não é pauta brasileira", disse o chanceler Aloysio Nunes. [não se trata de adotar por adotar a pauta dos Estados Unidos ou qualquer outra nação e, sim, de considerar que um país com mais de 12.000.000 de desempregados não pode adotar uma política de que transfere empregos dos brasileiros para estrangeiros.
E, partindo desse principio adotar as medidas necessários para conter qualquer fluxo migratório, estilo venezuelano, haitiano, para o Brasil - até que nossa Pátria tenha condições de receber  migrantes, sem prejudicar os brasileiros.
Entre receber e privilegiar emigrantes, em prejuízo dos seus naturais, qualquer país optará por não receber estrangeiros.] Ou seja, o Brasil, ao reproduzir o discurso xenofóbico do presidente americano, Donald Trump, e da direita europeia, terá muito mais perdas, do ponto de vista diplomático, do que eventuais ganhos políticos a partir desse alinhamento.

Apesar disso, o chanceler Aloysio Nunes entende que o próximo governo tem total legitimidade para implantar uma política externa condizente com os valores defendidos por Bolsonaro na campanha eleitoral – valores esses que representam "uma cultura política diferente daquela que predominou da redemocratização para cá". "A eleição do presidente Bolsonaro foi triunfal, essa é que é a verdade. É uma vitória incontestável, que não representa apenas uma rejeição ao PT", disse o ministro.

Ainda assim, o chanceler lembrou que o Brasil precisa "ser conduzido com prudência", de acordo "com a Constituição, as leis, o bom senso e a altivez". [as leis são feitas para melhorar para os brasileiros, não o contrário.] Atitudes intempestivas, movidas não por uma sólida política de Estado, mas por idiossincrasias dos ocupantes temporários do poder, podem danificar a imagem do Brasil. Hostilizar organismos multilaterais, abandonar pactos globais, seguir cegamente o governo americano e romper relações com países como Cuba e Venezuela são atitudes que farão o Brasil perder a importância conquistada no concerto internacional, sem nenhum ganho que compense tamanho prejuízo. [qual a importância da manutenção de relações com Cuba? Venezuela? e alguns outros?]

Editorial - O Estado de S. Paulo

 

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Os russos não dão bandeira

A Rússia vai se concentrar no verdadeiro problema de segurança, que é o terrorismo

De repente, chegou por aqui uma notícia: quatro brasileiros foram presos por exibir uma bandeira do país na rua. Era fake news.  Talvez tenha nascido da cartilha da Embaixada do Brasil que aconselhava a não ostentar bandeiras nem carícias entre gente do mesmo sexo nas ruas da Rússia.  A Embaixada não fez mais do que seu dever. Informar as leis do país para defender os brasileiros que o visitam. Num país onde, por exemplo, as mulheres têm de usar véu, a obrigação consular é avisá-las. No entanto, apesar das precauções, é evidente que essa história da bandeira é uma regra que não pega na Copa do Mundo.

Saí pelas ruas e documentei, no domingo, como as imediações do Kremlin estavam cheias de gente com bandeira. Todos sul-americanos, e um russo. Ouvi gente que vive aqui. Um diplomata contou que um dia usou uma bandeira no estádio e muita gente se aproximou, pedindo-a de presente. Já um jornalista que mora aqui alguns anos teve uma experiência diferente. Enrolado na do Brasil, atraiu a hostilidade de alguns transeuntes porque pensavam que era de algum movimento separatista.  Durante o conflito com a Ucrânia, muito possivelmente as pessoas que andassem com a bandeira do país nas ruas de Moscou seriam hostilizadas. Os russos têm uma palavra para isso. Soa mais ou menos assim: “provocacia”. Quer dizer provocação.

É improvável que o governo russo reprima latino-americanos cantando nas ruas com a bandeira de seu país. Num só trecho ao lado do Kremlin, encontrei bandeiras da Colômbia, México e Peru. O interessante é que apareceu um torcedor russo com a bandeira de seu país e se juntou ao alegre grupo mexicano que cantavam “Cielito Lindo”, origem provável do nosso “Está chegando a hora”.  Talvez a mesma tolerância exista para a bandeira do arco-íris, caso apareça nas ruas. Eu não a vi. O problema é que os russos sabem que o mundo está de olho na Copa e, com décadas de experiência de “provocacia”, vão se concentrar no verdadeiro problema de segurança, que é o terrorismo.

Além do terror, outro problema central são os hooligans, nome, por sinal, de origem russa. Eles estão sendo monitorados no país, e nove agentes especiais britânicos vieram para acompanhar os ingleses.  Ao que tudo indica, podem ser neutralizados nesta Copa. Numa entrevista concedida a um youtuber, um hooligan russo afirmou que a polícia estava vigiando de perto, e que a chance de haver conflito na Copa era menor. Isto porque já houve um grande confronto em Marseille, em 2016, entre os hooligans russos e ingleses:
— Estamos satisfeitos com aquilo. Foi o grande momento na nossa história. Daqui para diante, um outro confronto seria uma espécie de anticlímax.

O confronto de Marseille foi considerado o mais grave da história. Mais aguerridos e organizados, os russos deixaram muitos feridos no lado inglês. A polícia francesa, pega um pouco de surpresa, perdeu o controle da situação. Embora não seja um especialista nesse região do mundo, a análise politica mais elementar indica que os russos farão tudo para que a Copa dê certo e a tendência é a de poucos incidentes. Isso não significa um estímulo a sair com as bandeiras pelas ruas porque, como dizia Afonso Arinos, não se deve confiar apenas na cúpula: o problema está quase sempre no guarda da esquina.

Fernando Gabeira - O Globo