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quarta-feira, 2 de maio de 2018

Para salvar vidas



Antes de mais nada, é preciso considerar o momento dramático por que passa a segurança do Rio. De acordo com os dados divulgados recentemente pelo ISP, em março foram roubados no estado 5.358 carros, o maior número já registrado desde o início da série histórica, em 1991. Outros crimes que bateram recorde foram os roubos a pedestres (7.655), em ônibus (1.389), de celular (2.188) e de carga (917). Os homicídios dolosos (intencionais), embora relativamente estabilizados — subiram 1%, de 498 para 503 — estão no maior patamar desde 2009. São números que desafiam a intervenção federal, decretada no dia 16 de fevereiro.

Ao mesmo tempo, não é segredo para ninguém a penúria que aflige as polícias fluminenses. O déficit de policiais tem se refletido nas ruas. A ponto de o interventor, general Braga Netto, ter determinado a volta de mais 3 mil homens — entre policiais, bombeiros e agentes penitenciários — cedidos a órgãos como Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, prefeitura e governo do estado. Decisão, aliás, que causou certo estreasse entre os poderes. Até pouco tempo atrás, metade da frota da Polícia Militar estava parada por falta de manutenção. Novos veículos estão sendo comprados, mas o problema ainda é grave. Repórteres do GLOBO percorreram dez bairros do Rio com grande incidência de assaltos a pedestres e, em 21 horas de ronda, encontraram apenas nove viaturas.

Portanto, nesse contexto, é bem-vindo o anúncio de que o projeto Segurança Presente, que já funciona na Lagoa, no Aterro do Flamengo, no Méier e no Centro, pode chegar também ao Leblon. Trata-se de uma parceria público-privada que reúne o estado, a prefeitura e a Federação de Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio) para reforçar o policiamento em determinadas áreas da cidade. Nada há de ilegal nessa iniciativa, muito pelo contrário. O acordo é feito com a interveniência do Estado, e os agentes em sua maioria são policiais aposentados ou egressos das Forças Armadas. Além disso, as equipes trabalham em sintonia com as polícias Militar e Civil e a Guarda Municipal.

De fato, uma auditoria da própria Fecomércio criticou o convênio, alegando que ele refletia “a criação de um processo de milícia, por tratar-se de parceria entre uma instituição privada e um ente público, oficializando a criação de uma organização paramilitar”. Mas a comparação é descabida. Certamente os auditores que produziram o relatório desconhecem o fato de que milícias agem à margem da lei.  A verdade é que o convênio tem ajudado a melhorar a segurança nas áreas onde foi implantado. Os números são altamente favoráveis. Na Lagoa, de junho a outubro de 2017, não houve assalto a pedestres ou ciclistas. Lembre-se de que, em maio de 2015, o médico Jaime Gold foi morto depois de um assalto a faca na orla da Lagoa, num crime que chocou a cidade. Por isso, se é para salvar vidas, a parceria deve ser estimulada, e não alvejada.

Editorial - O Globo
 

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Magistocracia, a “gran famiglia” judicial brasileira


“Governo de juízes” é expressão hiperbólica que aponta usurpações de poder pelo Judiciário na separação de Poderes. “Ativismo judicial” é equivalente 

A democracia brasileira depositou no Poder Judiciário parte das esperanças de transformação social trazidas pela Constituição de 1988. A aposta aliou um catálogo de direitos a um repertório de ferramentas processuais de efetivação. Essa espetacular missão, contudo, caiu no colo de magistocratas. A magistocracia é mais nociva do que o temido “governo de juízes”. Magistocratas não querem tanto o ônus de governar e responder por seus atos, pois preferem o gozo discreto de seus privilégios materiais e de status. Não ser incomodados em seu condomínio lhes basta: realizam-se no exercício de seus micropoderes privados, fora dos holofotes. Ali está sua concepção de vida boa.

>> Outras colunas de Conrado Hübner

A promessa de 1988 fracassou e a corporação judicial tem sua fração de responsabilidade. Permaneceu refratária à incorporação de princípios de controle e de transparência a sua estrutura e sua prática institucionais e ampliou modestamente o acesso à Justiça e o grau de pluralidade demográfica dos juízes de primeira instância. Resistiu quanto pôde às mais simples formas de abertura e prestação de contas.

Magistocratas vivem num mundo à parte. O processo de assimilação à corporação passa por uma eficiente anestesia ética: 
- poucos têm tamanho contato, desde o andar de cima, com as mazelas do andar de baixo da sociedade brasileira; 
- poucas instituições têm tamanha capilaridade e oportunidade de proteger os mais vulneráveis contra abuso do poder político e econômico; 
- não há quem melhor pratique seu poder corporativo para pleitear gratificações nos métodos da baixa política. 
Pouco importa qualquer valor republicano ou ponderação de justiça desabonadores.

“Governo de juízes” é expressão hiperbólica que aponta usurpações de poder pelo Judiciário na separação de Poderes. “Ativismo judicial” é equivalente.

A magistocracia é distinta: corrói a cultura democrática e sua pretensão igualitária
(...) 

A magistocracia tem cinco atributos: é autoritária, autocrática, autárquica, rentista e dinástica. Autoritária porque viola direitos ...
(...)

autárquica porque repele a prestação de contas (e sequestra o orçamento público a título de “autonomia financeira”);

A batalha pelo aumento salarial fantasiado de auxílio-moradia (com isenção tributária) é exemplo menor de uma patologia profunda. O líder momentâneo da causa é um magistocrata de raiz, o ministro Luiz Fux. Quatro anos e mais de R$ 5 bilhões — depois, retirou o caso da pauta do STF e afirmou que a Câmara de Conciliação do governo federal vai buscar “saída de consenso” entre as partes. 

Pretexto malandro, pois não há partes a ser conciliadas diante de situação ilegal. A desfaçatez é a de sempre. Foi o mesmo ministro que, ao fazer lobby pela nomeação de sua filha de 35 anos de idade a desembargadora do Rio de Janeiro, dizia: “É o sonho dela. É tudo o que posso deixar para ela” (revista Piauí, abril de 2016). Deu certo. A família, claro, agradece. [a filha do ministro Fux, desembargadora Mariana Fux, mora e trabalha no Rio de Janeiro,  e mesmo sendo proprietária de dois apartamentos no Leblon recebe auxílio-moradia.]

MATÉRIA COMPLETA em ÉPOCA

 

quarta-feira, 21 de março de 2018

Fux suspende julgamento de auxílio-moradia no Supremo

O Inciso XI do Artigo 37 da Constituição é claro ao dizer que o salário dos servidores acrescido de seus benefícios não pode ultrapassar o teto de R$ 33.700,00. Quem quer ganhar mais que dispute seu posto na iniciativa privada, nos grandes escritórios. Mas… Leia o que vai na Folha:

O ministro Luiz Fux suspendeu nesta quarta-feira (21) o julgamento das ações sobre o auxílio-moradia que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo a magistratura nacional e o Conselho Nacional de Justiça.  Fux acatou pedido da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) para que o processo no Supremo fosse suspenso e submetido à Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração Federal (CCAF), vinculada à AGU.

[a petição da AMB manobrando os fatos de forma a encontrar supedâneo  para a manutenção do 'penduricalho';
o que causa surpresa é o ministro Fux não se declarar suspeito, haja vista que sua filha desembargadora no Rio de Janeiro, proprietária de dois apartamentos no Leblon recebe aquele auxílio.]

O processo na AGU poderá durar até seis meses dando sobrevida aos benefícios dos magistrados.  Se fosse votado nesta quinta-feira, o STF poderia restringir o alcance do auxílio-moradia pago hoje a magistrados de todo o país. Segundo a Folha apurou, os ministros estabeleceriam algumas condições como priorizar o benefício a juízes que trabalham fora de suas cidades —seria o caso de um magistrado transferido para Brasília para atuar por um período limitado em algum gabinete de um tribunal superior.

IMBRÓGLIO
No pedido, a que a Folha teve acesso, a associação considera que um decreto de 2010 abriu a possibilidade de conciliação para controvérsias de natureza jurídica entre órgãos da administração federal.  Os magistrados disseram ao ministro Fux, em 2000, que o então ministro do STF Nelson Jobim deferiu uma liminar determinando a extensão do auxílio-moradia pago a parlamentares a toda a magistratura federal e, por extensão, à magistratura nacional. O que lastreou a decisão foi a Lei de Equivalência, de 1992.

Ainda segundo a AMB, em 2002, uma nova lei atualizou os valores dos vencimentos da magistratura e determinou a absorção de toda e qualquer verba que estivesse sendo objeto de questionamento administrativo ou judicial.  Por isso, os magistrados acreditam que “se houve uma possibilidade de solução legislativa que resolveu o impasse jurídico à época, com maior razão, há de submeter o presente caso ao órgão de arbitragem”.

Neste ano, a União deverá pagar R$ 831 milhões com o auxílio-moradia na administração pública federal. Em 2017, foram R$ 817 milhões. O pagamento do benefício gerou controvérsias depois de uma série de reportagens da Folha que revelaram magistrados e funcionários públicos que recebiam o auxílio mesmo tendo imóvel no local onde trabalham.

 Blog do Reinaldo Azevedo


sábado, 24 de fevereiro de 2018

O cidadão a sós

'Volta dos militares' para consertar tudo isso? Pode-se achar a pior opção - e tem tudo para dar errado - mas, na verdade, crescem motivos para pensar assim

Baile funk - Seu principal derivado, o estupro coletivo de garotas menores de idade, tornou-se símbolo de orgulho do “morro” (//Reprodução)

A intervenção do Exército no Rio de Janeiro, em mais uma tentativa de combater a ocupação armada da cidade pelos criminosos, recebeu a aprovação de 80% da população — é o que mostram os primeiros levantamentos feitos logo após a chegada das tropas federais a esse pedaço do território brasileiro onde o crime está em guerra aberta contra os cidadãos. Houve, naturalmente, reações preocupadas por parte de muita gente — e não apenas da esquerda. (Com aquele seu instinto que nunca falha na hora de ficar contra a opinião da maioria, o PT e sua periferia, automaticamente, escandalizaram-se com a intervenção. O que fizeram é o que sempre fazem quando se trata de escolher entre a criminalidade, que a seu ver toma parte nas “lutas populares”, e a ordem pública, que consideram coisa de “direita”: ficaram, de olhos fechados, a favor do crime.) Junto com a reação habitual dos nossos revolucionários, veio o espanto apreensivo de uma parte do Brasil “civilizado”. O apoio maciço à intervenção no Rio, segundo dizem, mostraria uma angustiante e apressada inclinação do brasileiro a acreditar que os militares são “a solução” para tudo crime, corrupção, incompetência e todas as demais taras do Estado e da sociedade no Brasil. Seria uma expectativa ruim, mesmo porque é impossível de ser atendida.



Não dá para medir com exatidão se os brasileiros acreditam mesmo em soluções militares. Mas, com certeza, uma população que há muito tempo não tem o mínimo motivo para levar a sério o governo, é insultada abertamente pelas decisões de um Supremo Tribunal Federal que presta vassalagem a condenados por corrupção e é tratada como débil mental pelo pior conjunto de deputados e senadores hoje presentes sobre a face da Terra não poderia mesmo pensar como se estivesse vivendo na Inglaterra. Que raio se pretende, então, que as pessoas achem? Está cada vez mais difícil para o cidadão, e daqui a pouco pode tornar-se impossível, ficar a sós vendo em silêncio os seus direitos mais básicos ser violados pelos criminosos, com a proteção de leis feitas para atender aos interesses de bandidos e seus defensores. Salvo os próprios criminosos à mão armada, as quadrilhas que roubam o Erário e o resto dos marginais em circulação por aí, ninguém pode permanecer calmo enquanto o sistema judiciário, a partir de seu degrau mais alto, solta sistematicamente quem deveria estar preso ou mantém fora da prisão quem foi condenado e deveria estar lá dentro. Para a população brasileira, no fim das contas, a situação criada no país é simplesmente incompreensível. “Volta dos militares” para consertar isso? Todo mundo está no direito de achar que se trata da pior opção, mesmo porque é o tipo da coisa que tem tudo para dar errado. Mas é inútil esconder que todo mundo também está no direito de achar exatamente o contrário. Na verdade, há um número cada vez maior de motivos concretos para pensar assim.

 
“Ninguém pode permanecer calmo enquanto o Judiciário solta quem deveria estar preso ou mantém fora da prisão quem deveria estar lá dentro”

O que querem, sinceramente, que o cidadão pense quando vê uma assassina que ajudou a matar o próprio pai a golpes de barra de ferro ser solta, com o apoio enfurecido do Ministério Público, para passar fora da prisão o Dia dos Pais justamente o Dia dos Pais? É a lei, dizem advogados, promotores e juízes — mas não lhes passa pela cabeça que uma coisa dessas está acima do entendimento de qualquer ser humano deste planeta. O recado que dão é o seguinte: se a lei é demente, problema seu. Obedeça e cale a boca. Como condenar alguém por sonhar com “os militares”, quando uma promotora de Justiça, que é paga (com todos os “adicionais”) para nos defender dos criminosos, diz que “bandido bom é bandido vivo, e com direitos”? [acrescentando uma indagação do Blog Prontidão Total:
O que querem, sinceramente, que o cidadão pense quando vê uma assassina que ajudou a matar sua enteada (Isabella Nardoni, cinco anos) seja liberada para passar fora da prisão exatamente o Dia das Crianças?] 

 MATÉRIA COMPLETA, clique aqui



quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Três acusados na Lava-Jato deixam a prisão para um Natal de luxo

Marcelo Odebrecht, Adriana Ancelmo e Lúcio Funaro vão cumprir pena em mansão no Morumbi, condomínio no Leblon e fazenda 

Pelo menos três presos na Operação Lava-Jato vão passar o Natal bem melhor acomodados do que a grande maioria da população brasileira. Nos últimos dois dias, a ex-primeira-dama do Rio de Janeiro Adriana Ancelmo, o empresário Marcelo Odebrecht e o doleiro Lúcio Funaro ganharam na Justiça o direito de sair da cadeia e ir direto para as suas casas de luxo, duas delas localizadas em bairros com o metro quadrado mais caro do Brasil: Leblon, no Rio de Janeiro, e o Morumbi, em São Paulo. Nos novos endereços, com direito a piscina e hidromassagem, eles serão monitorados e sujeitos a restrições.

Presenteada com pelo menos R$ 1 milhão em joias pelo marido, o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, preso por corrupção – e que ontem sofreu sua quarta condenação, totalizando 87 anos de cadeia –, Adriana Ancelmo deixou a prisão de Benfica, na Zona Norte do Rio, na manhã de ontem rumo ao apartamento luxuoso no Leblon, Zona Sul do Rio. Ela foi liberada por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que concedeu a prisão domiciliar.
Adriana Ancelmo foi condenada a 18 anos e três meses de prisão e foi beneficiada outras vezes com a prisão domiciliar por ter filhos menores de idade. A mulher de Cabral vai para o endereço na esquina da Avenida Delfim Moreira com Rua Aristides Espínola, um dos condomínios mais disputados do Leblon, com vista para o mar. Em março deste ano, em uma das vezes que foi cumprir pena em casa, ela foi alvo de protestos pedindo direitos iguais para as detentas pobres. [a inconveniência de conceder os mesmos direitos para detentas mais pobres é que o risco das  crianças serem usadas para facilitar ações de tráfico de drogas é enorme.

O empresário Marcelo Odebrecht também deixou a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, na manhã de ontem e seguiu para um condomínio residencial de alto luxo no Morumbi, Zona Oeste de São Paulo. O local conta com forte esquema de segurança para as 40 casas de quem pode pagar pelo oásis, o que o manterá distante de curiosos e jornalistas. O condomínio tem áreas de lazer privativas para cada morador, com piscinas, adegas, churrasqueiras e até cinemas. As casas custam entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões. Segundo especulações do mercado imobiliário, a casa de Odebrecht tem 3 mil metros quadrados e custa entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões.

Odebrecht ficou dois anos e meio preso na carceragem da PF por envolvimento na Lava-Jato. Herdeiro de uma das maiores empresas do Brasil, ele foi preso em 2015 e condenado a 31 anos e seis meses em regime fechado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A soltura faz parte de um acordo assinado por ele na delação premiada, pelo qual ele passaria o restante da pena em casa com tornozeleira eletrônica. O acessório vai custar ao condenado R$ 149 por mês.

Tênis 
Já o doleiro Lúcio Funaro teve a prisão domiciliar autorizada ontem pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10 ª Vara Federal. Considerado um dos homens-bomba da Lava-Jato, ele vai para uma fazenda em Vargem Grande do Sul, em São Paulo. Funaro estava preso desde junho de 2016 no Complexo da Papuda, em Brasília. Em agosto deste ano, fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público. Inicialmente, o juiz havia sugerido que Funaro cumprisse a prisão domiciliar em Brasília, mas a defesa propôs instalar câmeras por meio das quais a Justiça poderá monitorá-lo 24 horas. O sítio conta com uma ampla área verde, um heliponto e uma quadra de tênis.

Até que os equipamentos sejam instalados – a previsão é de que isso ocorra até 2 de janeiro – ele ficará em sua casa na capital paulista. Funaro tentou, sem sucesso, aprovar uma lista de visitantes que incluiria um amigo para jogar tênis. O lobista, que implicou figuras como o presidente Michel Temer e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, deve estar disponível para videoconferências sempre que solicitado.
Correio Braziliense 

 

domingo, 17 de dezembro de 2017

Advogado bem-sucedido do Rio é acusado de pertencer a uma das maiores quadrilhas de tráfico de drogas da Zona Sul



Bernardo Russo tem histórico acadêmico exemplar; faturamento mensal foi estimado por policiais em R$ 900 mil



Nos anos 1990, um rapaz de classe média alta, filho de um alto executivo do Banco Nacional, com todas as chances na vida, foi parar na prisão acusado de tráfico internacional de drogas. De principal fornecedor de cocaína das altas-rodas da sociedade carioca, João Guilherme Estrella passou a operador de uma rede de “mulas” para envio de droga para a Europa. Até ser descoberto pela polícia. Uma história revelada pelo jornalista Guilherme Fiuza no livro “Meu nome não é Johnny”, que virou sucesso no cinema.

RI 14/12/2017 - Rio de Janeiro/RJ - Advogado Bernardo Russo. Foto: reprodução - reprodução / Agência O Globo  

Uma década antes, outro abastado morador da Zona Sul ficara famoso ao ser acusado, em 1984, de levar cocaína para a Europa dentro de latas de sardinhas. Seu nome era Lívio Bruni Júnior, filho de um homem que fez fortuna controlando uma rede com mais de 200 salas de cinema no país. Livinho, como era conhecido, cresceu com tudo de bom e de melhor que o dinheiro do pai podia lhe oferecer. Com a prisão decretada, fugiu para o exterior. Em novembro de 1996, foi preso na Espanha em flagrante de estelionato e deportado para o Brasil. Em 1997, foi condenado a 25 anos de prisão.


Uma história semelhante está sendo investigada no Rio e quase passou despercebida em meio às operações policiais de combate ao crime organizado no estado. Como as de Johnny e Lívio Bruni, poderia ganhar roteiro de cinema ou ser contada em livro. No dia 30, Bernardo Russo Menezes Martins Correa foi preso na Zona Sul, acusado de pertencer à quadrilha de tráfico da Rocinha. Ele estaria envolvido, segundo a polícia, com a “maior quadrilha de traficantes que atuava na Zona Sul, na Barra da Tijuca e no Recreio dos Bandeirantes”. A definição foi dada pelos delegados Felipe Curi e Gustavo Castro, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) da Polícia Civil, que comandaram as investigações.

Grampos telefônicos, de acordo com a polícia, revelaram que Bernardo negociava drogas com traficantes da maior favela do Rio e as repassava a consumidores de classe média alta no asfalto. O “delivery” era responsável, de acordo com a investigação, por mais de 800 entregas por semana. O faturamento mensal foi estimado pelos policiais em R$ 900 mil.

A suspeita de que Bernardo Russo era um traficante, ligado à facção da Rocinha, caiu como uma bomba e chocou parentes e amigos. Mais: passou a ser assunto de prestigiadas rodas jurídicas da cidade. Não por acaso. O acusado é um advogado de 39 anos que cresceu no Leblon. Em cinco anos, ele teve ascensão meteórica nos corredores da Justiça, passando de simples estagiário a advogado de um dos maiores escritórios de advocacia do país. Com histórico acadêmico exemplar, sempre teve boas notas e destaque nas salas de aulas. Um perfil esperado para quem, afinal, havia frequentado as melhores escolas do Rio. Passou pelo Colégio Santo Inácio no ensino médio, formou-se em Direito na PUC e fez especialização em Direito de Estado na Fundação Getulio Vargas (FGV).

INQUÉRITO EM SIGILO
Preso, acabou na Cadeia Pública José Frederico Marques, ao lado de boa parte dos políticos que dominaram o cenário do poder nas duas últimas décadas, mas foram parar em Benfica por corrupção. Bernardo Russo foi levado para lá no dia 1º de dezembro. Dois dias depois, no dia 3, comemorou o aniversário na prisão. Na última quarta-feira, a juíza Ana Luiza Coimbra Nogueira, da 21ª Vara Criminal, a mesma que autorizou os policiais a grampearem o advogado e decretou sua prisão, mandou soltá-lo. Procurada pelo GLOBO, a magistrada informou que não poderia comentar o caso porque o inquérito estava sob sigilo.

A defesa do advogado alega que ele é inocente. O advogado Marcelo Camara Py de Mello e Silva, que representa Bernardo, informou ao GLOBO que ele apresentará à Justiça “todos os elementos de convicção a demonstrar sua inocência, uma vez que o inquérito em andamento é protegido por segredo de Justiça”. Também sustentou que “Bernardo nunca traficou drogas, muito menos fez parte de qualquer associação criminosa destinada a traficância de drogas”. No inquérito entregue à 21ª Vara Criminal, Mello e Silva anexou um histórico do que seria o passado ilibado do advogado, filho de um tradicional médico do Leblon.
— Foi um choque para todo mundo que conviveu com ele. Ninguém até agora conseguiu entender — disse um conhecido da família, pedindo para não ser identificado.
Advogados que atuaram com Bernardo dizem que ele sempre foi uma pessoa agradável.


— Parece estar sempre feliz. É brincalhão e gosta de contar piadas — contou um deles.
O envolvimento com uma quadrilha de tráfico de drogas não condiz com a vida de Bernardo Russo. O advogado tem dois filhos.  — No trabalho, nas festas de fim de ano ou mesmo nas horas de lazer, nunca soubemos que ele estivesse ligado a tráfico. Sequer que ele fosse usuário de drogas — afirmou outro advogado, um dos que ficaram surpresos ao saber das denúncias.

A única coisa estranha no comportamento do advogado que alguém arrisca apontar é uma espécie de fobia de elevador.
— Ele não gosta, sobe quantos andares forem necessários de escada. Acho que tem medo — contou um ex-colega de escritório, que fica no sétimo andar de um prédio no Centro.
As razões que levam jovens bem-sucedidos a se envolver com o crime organizado intrigam especialistas. Falando em tese, já que não conhece o caso, o psiquiatra Fábio Barbirato, membro da Academia de Psiquiatria Infantil dos EUA e chefe da Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia, explica que é preciso investigar a personalidade para entender melhor o fenômeno:
— Pode ser uma questão de estrutura familiar, uma oscilação financeira ou mesmo um transtorno psiquiátrico.

O principal alvo da operação da Dcod era Jorge Alves de Souza, conhecido como Goi, que já vinha tendo seus passos monitorados na Rocinha. Ao todo, os policiais foram às ruas no dia 30 para cumprir 14 mandados, dez de prisão e quatro de busca e apreensão. Bernardo atuaria junto a Goi, também preso, que era seu fornecedor de droga. As investigações mostram contatos por telefone e aplicativos de mensagem. O “delivery” mantido pelos acusados fazia chegar aos clientes, em casa ou em qualquer outro lugar, drogas como Skank, maconha e cocaína. O serviço tinha grande procura entre usuários de alto poder aquisitivo não só pela comodidade, mas também pelo fato de os entorpecentes serem de qualidade.

DE USUÁRIO A ´ESTICA’
O promotor Alexandre Murilo Graça, da 1ª Central de Inquéritos do Ministério Público estadual, que atua no caso, disse que a quadrilha era monitorada desde o início do ano e que ficou constatada a prática reiterada de crime. Segundo ele, ao todo, dez pessoas foram identificadas. O promotor afirmou ainda que a denúncia está pronta desde novembro deste ano e será enviada à Justiça em breve.
— Não só pelas investigações, mas também pelo que o delegado me relatou no inquérito, o negócio do advogado era dinheiro. O acusado buscou este caminho, embora tenha tido todas as oportunidades na vida — observou.
Alexandre Murilo Graça lembrou que Bernardo Russo é suspeito de negociar drogas diretamente com os traficantes da Rocinha. O que ele fazia? Ele era o “estica”, conhecia o traficante. E deve ter começado como todo mundo: comprando droga para dividir com os amigos. Depois, percebeu que podia ganhar dinheiro e, conforme os policiais descobriram, buscou um patamar maior, um nível acima, tornando-se o “estica” da boca de fumo. A movimentação de dinheiro, segundo o delegado, era grande. Nos autos, parece estar evidenciado que ele fez disso sua profissão — disse o promotor.

O delegado Gustavo Castro, da Dcod, confirmou que o alvo principal era o traficante Goi e que o advogado, embora não fosse a prioridade, foi flagrado comprando e repassando drogas:  — Ele comprava e fazia vendas. Nos áudios, aparece fazendo revenda e calculando quanto iria ganhar. Não era nosso alvo principal, mas comprou e repassou. E tinha lucro.

O Globo