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sábado, 28 de janeiro de 2023

Um Senado ou uma quitanda? - Percival Puggina

         No próximo dia 1º, os olhos esperançosos do país se voltarão para o Senado da República. Do que acontecer lá, da decisão que a maioria dos senadores tomar, dependerá o futuro da nossa democracia, das nossas liberdades e garantias constitucionais.

Não é pouca coisa. É o equivalente moderno entre ser cidadão romano ou bárbaro, ou entre a reforma e a revolução, entre a civilização e a selvageria. 
Não é raro nos confundirmos ao estabelecer relações entre causa e efeito. No caso brasileiro, porém, conceitos civilizatórios rudimentares derrapam para a valeta a partir da infeliz conjugação do ativismo dos tribunais superiores com a omissão institucional do Senado da República, sob aclamatórios aplausos do petismo delirante. 
 
Concordo com que a representação popular não seja, em todas as decisões colegiadas, necessariamente submissa à vox populi
Há, porém, limites para essa dissintonia. Há omissões que criam revoluções; há silêncios que causam alaridos de revolta; há negociações que rescendem a velhacaria. 
Nenhum dos males que vitimaram a tradicional tolerância da parcela conservadora da sociedade brasileira teria ocorrido se o Senado Federal, sob o comando dos senadores Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco houvesse cumprido seu inequívoco papel institucional.  
    
Entre 2009 e 2022 o Senado brasileiro foi presidido por José Sarney, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco! Pense num desastre! Qual legislativo resistiria a tamanha sequência de opções sinistras? 
Gente bem intencionada não comete erros tão continuados. 
Todas as instituições da República foram, assim, negativamente impactadas. 
 
Eu, você, o Brasil e o mundo ficamos chocados com os atos de vandalismo do dia 8, mas não podemos permitir que esses atos de selvageria ocultem, tornem opaco, um outro tipo de “vandalismo” ocorrente dentro dos próprios poderes quando se desvirtuam suas obrigações. Quando isso?  
Quando quem julga tem lado. Quando a Constituição vira cardápio. Quando quem é freio fecha os olhos. Quando quem é contrapeso flutua. Quando quem tem que negociar para o interesse público mercadeja o próprio interesse. E o parlamento vira uma quitanda de transações obscuras.

Os poderes da República vêm sendo submetidos a um processo corrosivo de causas internas com consequências sociais, políticas e econômicas muito maiores. Muito maiores!

No próximo dia 1º, pensem bem os senhores senadores sobre a quem querem servir. A sociedade os vê com os olhos da esperança!

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A mentira da fome no Brasil - Revista Oeste

Loriane Comeli

Relatório do Banco Mundial mostra que a extrema pobreza no país, em 2020, caiu ao nível mais baixo desde 1980. Cadê os 33 milhões de famintos? 

 Em junho deste ano, a imprensa divulgou uma pesquisa mostrando que havia pouco mais de 33 milhões de famintos no Brasil
Seria como se a população de Portugal multiplicada por três estivesse sem ter o que comer por aqui. 
levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), em parceria com seis entidades e ONGs de esquerda.

Foto: Shutterstock

Foto: Shutterstock  

Como a chamada grande mídia vive (pelo menos até agora) de comemorar notícia ruim e escantear as boas-novas, o número passou a ser repetido à exaustão, como verdade absoluta. Na campanha do PT à presidência, a pesquisa foi usada como arma político-eleitoral. Ganhou ares de um atestado incontestável de que praticamente um sexto da população brasileira passa fome em 2022.

Na última semana, o Banco Mundial divulgou os dados referentes à pobreza no país em 2020. Para desespero da turma que parece sempre torcer pelo pior (pelo menos até agora) a extrema pobreza no Brasil caiu ao nível mais baixo desde 1980. 
Eram 4 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 2,15 (cerca de R$ 11) por dia no primeiro ano da pandemia. O valor do Auxílio Brasil de R$ 600, dividido pelos dias do mês, corresponde ao dobro do valor diário estabelecido pelo Banco Mundial.

Então, como surgiu essa multidão de 28 milhões de pessoas subnutridas de uma hora para outra?  
Tudo indica que o alardeado 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (da Rede Penssan, formada por entidades como Ação da Cidadania, Actionaid, Ford Fundation e Oxfam, além do Vox Populi) não era tão verdadeiro quanto pretendia ser. “Não é possível que em tão pouco tempo tenha havido um crescimento tão significativo da condição de pobreza para levar à fome grave nesse patamar anunciado”, analisou o economista Alan Ghani.

Lula confessa a mentira
Espalhar notícias falsas sobre o Brasil no exterior, inventar dados e tratá-los como verdadeiros não é uma novidade para o presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele próprio admitiu que inventava números sobre miséria e caos para impressionar plateias estrangeiras.“Eu cansei de viajar o mundo falando mal do Brasil, gente. A gente ia citando números. Se o cara perguntasse a fonte, a gente não tinha”, gabou-se Lula, numa entrevista coletiva de 2014. Ele contou que um de seus companheiros de viagem, o já falecido Jaime Lerner, arquiteto e ex-governador do Paraná, percebeu o exagero do número inventado de crianças de rua no Brasil.“Eu era aplaudido calorosamente pelos franceses. Quando eu terminei de falar, o Jaime Lerner disse assim para mim: ‘Ô, Lula, não pode ter 25 milhões de crianças de rua, porque senão a gente não conseguiria andar da rua. É muita criança!’”

O exagero denunciado por Lerner naquela mentira de Lula também se observa agora na pesquisa divulgada pela Penssan. É como pensa o economista e professor Igor Lucena sobre os supostos 33 milhões de famintos. “É, no mínimo, um exagero”, disse Lucena. Ele lembrou que o auxílio emergencial continuou em 2021. Ainda, em 2022, a taxa de desemprego está em 8,9%. É um índice muito menor, por exemplo, do que em 2015, quando a taxa de desemprego era de 14% e a taxa de pobreza extrema estava em 3,9%, segundo o Banco Mundial. “É incongruente que com o desemprego no patamar de 8,9% agora em 2022 haja um sexto da população passando fome”, considerou Lucena. “Não parece nada crível que em pouco mais de um ano o país tenha saído de 4 milhões de pessoas em pobreza extrema e passado a 33 milhões de pessoas com fome.”

O economista Alan Ghani também concorda que se trata de uma pesquisa que não condiz com a realidade, considerando, além da taxa de desemprego, o crescimento da economia em 2021. “Não faz sentido, porque, em 2021, o país cresceu e os auxílios continuaram a ser pagos”, afirmou Ghani. “O número é muito discrepante.” Em 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 4,6%.

Além disso, o próprio número da Penssan relativo a 2020, o chamado 1º Inquérito de Insegurança Alimentar, destoa — e muito desse divulgado agora pelo Banco Mundial. Naquele ano, segundo a ONG, a insegurança alimentar grave era de 9% (19 milhões), contra 1,9% (4 milhões) de pessoas vivendo na extrema pobreza. Ou seja, o número da ONG é quase cinco vezes maior do que o do Banco Mundial.

O que é fome?
Lucena lembra, contudo, que são metodologias diferentes e, por isso, comprometem comparações. “Os dados das ONGs foram obtidos por meio de critérios subjetivos, e o dado do Banco Mundial é um relatório com base na renda”, afirmou. “Não dá para comparar o Banco Mundial, que faz uma série de relatórios muito bem-feitos e tem credibilidade reconhecida, inclusive em estudos acadêmicos, com a pesquisa dessas ONGs”, declarou Ghani.
A pesquisa da Penssan/Vox Populi se baseia em respostas dadas por 12,7 mil entrevistados a oito perguntas em que o morador da residência deveria dizer “sim” ou “não”.  
Todas as perguntas se referiam aos três meses anteriores à entrevista. A primeira pergunta, por exemplo, quer saber da preocupação do morador sobre a falta de alimentos. “Nos últimos três meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que os alimentos acabassem antes de poder comprar ou receber mais comida?” A questão seis era: “Nos últimos três meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade, alguma vez, comeu menos do que achou que devia, porque não havia dinheiro para comprar comida?”. Para considerar um entrevistado em situação de fome grave, eram necessárias pelo menos seis respostas positivas.

Reportagem publicada por Oeste revelou algumas controvérsias em torno da pesquisa da Rede Penssan. Por exemplo: na falta de clareza do conceito de fome. Os 33 milhões se referem ao que está definido no termo técnico “insegurança alimentar grave”, na Escala Brasileira de Insegurança Alimentar, usada desde 2004 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e aplicada ao estudo. No entanto, ao contrário da conotação usada pela Penssan, não é comum o IBGE usar a classificação de “insegurança alimentar grave” como sinônimo de fome.

O antropólogo Flávio Gordon, colunista da Revista Oeste, afirma que o documento tem viés político. “O relatório, ‘coautorado’ por ONGs nitidamente de esquerda, como Oxfam Brasil e Actionaid, tenta culpar o atual governo pela fome, mas, curiosamente, não faz menção alguma às políticas restritivas durante a pandemia”, observou Gordon.

Já o critério do Banco Mundial é bem objetivo: pessoas que vivem com menos de US$ 2,15 são consideradas extremamente pobres. 
 Em 2020, apenas o Paraguai, além do Brasil, conseguiu reduzir a taxa de extrema pobreza, passando de 1%, em 2019, para 0,8%, uma queda de 0,2 ponto porcentual. 
No Brasil, que registrou a maior redução da pobreza na América Latina, a queda foi de 3,5 pontos porcentuais. Passou de 5,4%, em 2019, para 1,9%, em 2020. Na Argentina, na Bolívia, no Peru e na Colômbia, que são os países que tiveram os dados disponibilizados, houve aumento da extrema pobreza.

Só daqui um ano

No Brasil, a queda significativa na taxa em 2020 se deu em razão do auxílio emergencial. Com a pandemia, o fechamento de postos de trabalho e principalmente dos trabalhos informais, o governo destinou cerca de R$ 290 bilhões em benefícios para cerca de 68 milhões de pessoas. Foram cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300, e o valor era em dobro para mães solteiras. 
Em abril de 2021, com a segunda onda da pandemia, o benefício foi retomado. 
Em 2022, o Auxílio Brasil, de R$ 600, é pago a cerca de 22 milhões de pessoas.

O próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, havia desmentido a informação de que havia 33 milhões de brasileiros passando fome, citando um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “O Ipea fez um trabalho mostrando que o teto disso [da extrema pobreza] seria de 7 milhões”, afirmou o ministro ao programa Pânico, da Jovem Pan, em 28 de setembro.No mundo em que a guerra empobreceu os mais frágeis, o Brasil está reduzindo a pobreza. Ou é narrativa política ou é um trabalho malfeito. Se tivéssemos 33 milhões de brasileiros passando fome [seria quando] nós estávamos na pandemia. O dado de 33 milhões passando fome é um número completamente despropositado”, completou Guedes.

Em agosto, o presidente do Ipea, Erik Figueiredo, divulgou um estudo em que concluía que a projeção de extrema pobreza no Brasil cairia 24% em 2022, na comparação com a projeção para 2021. 
Para o ano passado, a projeção de pobreza extrema era de 6%. 
E, para 2022, de 4,1%, segundo o estudo. Isso significa dizer que, neste ano, serão 8,8 milhões de pessoas na extrema pobreza — número maior do que o de 2020. Mas, ainda assim, muito menor do que os supostos 33 milhões passando fome.

O economista Igor Lucena acredita que, de fato, como mostra o Ipea, houve aumento da extrema pobreza em 2021 e 2022, justamente porque não há mais o auxílio emergencial, apenas o Auxílio Brasil. Embora em valor maior, ele já era pago anteriormente na forma do Bolsa Família. “Esse índice de 1,9% de 2020 deve crescer em 2021, porque houve corte do auxílio emergencial, mas não será nesse patamar (da Penssan/Vox Populi)”, comentou. “O número exato somente vamos saber quando o Banco Mundial divulgar o relatório, daqui a um ano”, afirmou.

Leia também “É proibido ser de direita nas universidades”

Loriane Comeli, colunista - Revista Oeste 


sábado, 22 de janeiro de 2022

Fábrica de pesquisas - Revista Oeste

Em maio do ano passado, a edição 62 de Oeste chamou a atenção para um fenômeno em curso no Brasil: a multiplicação de pesquisas eleitorais, algumas com disparidades gritantes, replicadas à exaustão pela imprensa. Nos meses seguintes, o volume de levantamentos aumentou. E o brasileiro acostumou-se a acordar ao menos uma vez por semana com uma manchete indicando quem deverá ser o próximo presidente da República. Mas qual é a explicação para essa usina de sondagens eleitorais?

Há algumas respostas. A primeira é que, cada vez mais, instituições financeiras, empresas e veículos de comunicação querem se sentir parte do jogo político. Como a mídia repercute qualquer notícia contra o governo Jair Bolsonaro, por exemplo, visibilidade já é negócio garantido. Contudo, não há — nem são exigidos — registros em jornais, sites, revistas ou emissoras expondo detalhadamente o questionário nem a metodologia aplicada. Eles publicam e ponto.

Outro dado importante é que a pandemia barateou um processo que já fora trabalhoso e caro. 
Muitos desses levantamentos nem sequer são feitos em campo — mas, sim, por um computador, por meio de ligação telefônica, ao custo de, no máximo, R$ 0,10 — ou nem isso, conforme o pacote de dados. Isso, convém frisar, não é uma “jabuticaba”. Nos Estados Unidos, hoje em dia também funciona assim, como ocorreu na disputa entre Donald Trump e Joe Biden.

O processo é similar ao usado pelas operadoras de TV por assinatura, por exemplo, para atender um cliente que liga para reclamar da oscilação do sinal. Só que nas pesquisas é o robô que faz a ligação e pergunta: “Se você acha que o governo é bom, disque 1; se acha que é regular, disque 2; péssimo, 3”.  Há menos de uma década, uma pesquisa encomendada a um instituto tradicional não custava menos de R$ 200 mil — valor repartido entre uma emissora de TV e um jornal ou revista.

É natural questionar se, de fato, as empresas de pesquisa sabem a veracidade das informações de quem está do outro lado da linha — e se alguém atendeu, de fato, à chamada. Mas elas parecem ter descoberto uma fórmula infalível: quanto pior o resultado para Jair Bolsonaro, maior a exposição na mídia e nas redes sociais. É um tiro certeiro.[certeiro no pé dos 'pesquisadores', visto que a cada dia a credibilidade das tais pesquisas cai.]

Quem financia?
As instituições financeiras, especialmente os bancos de investimentos,
também enxergaram nas pesquisas que levam a própria assinatura um bom negócio para atrair e fidelizar clientes. Tornaram-se produtos oferecidos aos interessados em descobrir qual será o desfecho do instável cenário político brasileiro. Seguramente, muitos leitores já receberam em algum grupo de WhatsApp a mensagem de um amigo dizendo que iria compartilhar dados de uma pesquisa do banco X ou Y. Ou seja, não é preciso mais ler o jornal para saber o resultado: o cliente tem ou recebeu em primeira mão.

Em dezembro, um levantamento do site Poder360 revelou que, desde outubro de 2020, instituições financeiras e empresas pagaram por 22 pesquisas sobre as eleições deste ano. Nenhuma delas feita por institutos que os brasileiros já estavam acostumados a ver no noticiário, como o Datafolha ou o Vox Populi. São novos “cientistas” de dados, que encontraram um nicho de mercado.

Como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) só impõe regras para a realização de sondagens dentro do ano eleitoral, até o último dia de 2021 essa foi uma verdadeira terra sem lei. Esse cenário mudou neste mês, quando todas as entidades passam a ser obrigadas a fazer registro prévio do material — o cadastro precisa ser protocolado até cinco dias antes da divulgação, conforme o artigo 33 da Lei 9.504/1997, a Lei das Eleições. Com certeza, o volume de pesquisas vai refluir, porque os critérios são rígidos, e a divulgação sem o aval do TSE — o que inclui plano amostral, quem financiou e onde foi feita, por exemplo — constitui crime.

Provavelmente, as próximas sondagens não vão ter no questionário perguntas como as feitas pelo Vox Populli em maio do ano passado: “Pelo que você viu ou ficou sabendo, você acha que Lula e o PT foram perseguidos nos últimos anos, com o impeachment da Dilma e a prisão de Lula, ou não houve uma perseguição contra eles, foram tratados da mesma maneira que outras lideranças políticas e partidos?”. E ainda: “Quanto Bolsonaro é responsável pelas mortes por coronavírus no Brasil?”.

JOGO DOS SETE ERROS

Por que erram tanto?

Se as pesquisas eleitorais fossem uma ciência 100% séria e não servissem de ferramenta de campanha nem máquina de “cliques” na internet —, as páginas dos jornais no dia seguinte às urnas não seriam povoadas por analistas tentando justificar erros crassos. Isso já ocorre no Brasil há pelo menos uma década. 
As teorias são as mais estapafúrdias possíveis: o instituto tal conseguiu flagrar uma onda de crescimento de última hora, a abstenção recorde foi decisiva por causa das chuvas — ou do sol, se o domingo for propício para praia. A manchete favorita na manhã de votação é quase sempre igual: os candidatos chegam em empate técnico no dia “D”.

Os principais institutos não cogitavam os eleitos Romeu Zema e Wilson Witzel sequer no segundo turno

No último pleito municipal, por exemplo, o Ibope informou, na véspera, que a comunista Manuela D’Ávila tinha vantagem numérica de 2 pontos porcentuais sobre Sebastião Mello (MDB). Até ela acreditou. Deu entrevistas em êxtase e por pouco não anunciou um futuro secretariado. Mello foi eleito com quase 55% dos votos. Em Vitória (ES), não foi diferente. O mesmo instituto afirmou ter captado um crescimento vertiginoso do ex-prefeito petista João Coser, que estava empatado com Delegado Pazolini. Sites e perfis de esquerda comemoraram a virada contra o “bolsonarista”. Pazolini ganhou com mais de 58% dos votos.

Há quatro anos, ocorreu o mesmo nas disputas pelos governos de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Os principais institutos não cogitavam os eleitos Romeu Zema (MG) e Wilson Witzel (RJ) sequer no segundo turno. Em solo mineiro, só estavam no páreo o então tucano Antonio Anastasia e o petista Fernando Pimentel. O desconhecido Zema foi eleito no segundo turno com 72% dos votos. Witzel também ganhou, mas acabou deixando o governo pela porta dos fundos por excesso de bandalheiras.

Na corrida presidencial, ninguém errou mais feio do que o Datafolha, quando publicou, dez dias antes do pleito, que o petista Fernando Haddad venceria Jair Bolsonaro “em qualquer cenário”. O Vox Populli foi além, a ponto de sites como o da própria CUT (Central Única dos Trabalhadores) e outros satélites celebrarem a virada nas últimas horas. “A virada de Haddad foi em cima dos indecisos, que estão optando pelo petista, quando entendem o que está em risco”, disse na época Vagner Freitas, presidente da central.

TESTE DE POPULARIDADE
João Doria acena para vitrines em shopping center vazio durante a pandemia

Leia também “Eles estão de volta”

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste 


segunda-feira, 31 de maio de 2021

Por que as pesquisas erram tanto - Revista Oeste

Entenda as razões pelas quais o trabalho dos institutos que aferem tendências da opinião pública exibe cada vez mais inconsistências 

De tempos em tempos, e com intervalos cada vez mais curtos à medida que o calendário eleitoral se aproxima, a história se repete: os institutos de pesquisa colocam na praça levantamentos que, mais tarde, não conferem com o resultado das urnas. Nas últimas semanas, um novo fenômeno saltou aos olhos do brasileiro, seja ele o ainda adepto do #fiqueemcasa ou aquele que perdeu o medo de voltar às ruas. Em 30 dias, ao menos cinco levantamentos sobre a corrida presidencial do próximo ano apresentaram números diferentes — em alguns casos, com disparidade gritante.

Foto: Shutterstock

Antes de mais nada, é importante pontuar que o xadrez político para 2022 embaraça os institutos de pesquisa já na largada: como elaborar um cenário que agrade às redações do consórcio da mídia mainstream, no qual a tão desejada “terceira via” tenha musculatura para enfrentar o ex-presidente Lula e o atual, Jair Bolsonaro? E como achar esse nome sem que ele exista somente na prancheta do entrevistador — ou seja, muito além da cabeça do eleitor? É ali que começa a confusão. Nessa hora, alguém cita um governador que dá sinais de não ter votos sequer para buscar a reeleição, aparecem apresentadores de televisão, youtubers e políticos que só o editor da própria manchete conhece — como o “Joe Biden brasileiro” ou o onipresente ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, que não quer nada com isso. Ao final, o que sobra é Ciro Gomes (PDT), sempre com menos porcentual de intenções de voto do que “os que não sabiam ou não responderam” ao questionário.

Recentemente, o instituto Paraná Pesquisas fez um comparativo entre os resultados de cinco sondagens para a eleição presidencial — uma delas, feita por eles. O resultado está abaixo. Colocadas numa régua, as intenções de voto de Lula nas cinco empresas variam de 29 a 41 pontos, e as de Bolsonaro, de 23 a 37 pontos.

Não por acaso, foi justamente a mais barulhenta delas a que rende manchetes até agora para a turma “meio intelectual, meio de esquerda”. Segundo o Datafolha, Lula teria hoje 41% das intenções de voto, ante 23% de Bolsonaro. No segundo turno, seria uma “barbada”: 55% a 32%. O leitor mais cético poderia se lembrar que na noite de 28 de setembro de 2018, dez dias antes da eleição, o mesmo instituto informou, em pesquisa encomendada pelo jornal Folha de S.Paulo e pela TV Globo, que Bolsonaro perderia para o petista Fernando Haddad em eventual segundo turno (45% a 39%). No mesmo dia, o portal UOL estampou a seguinte manchete: “Datafolha: Bolsonaro perde em todos os cenários de 2º turno; Ciro vence Haddad”.

Segundo o Datafolha, neste 2021, depois de passar muito tempo procurando pessoas pelo telefone na pandemia, seu time foi a campo nos dias 11 e 12 de maio. Fizeram-se 2.071 entrevistas com potenciais eleitores (acima de 16 anos) em 146 cidades. O que se sabe sobre quem respondeu é o seguinte: “As entrevistas foram realizadas mediante aplicação de questionário estruturado, com cerca de 25 minutos de duração. A checagem cobriu, no mínimo, 20% do material de cada entrevistador”.

Linha de produção
O questionário dessas sondagens, principalmente as telefônicas, é intrigante por si só porque, antes do ano eleitoral, ninguém tem acesso à estratificação dos dados. A legislação só reza sobre os levantamentos realizados dentro do calendário eleitoral — conforme o artigo 33 da Lei nº 9.504/1997 e as resoluções sempre atualizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na véspera do pleito. Questionar o estrato de uma pesquisa, portanto, torna-se tarefa hercúlea: quem foram os 2.000 eleitores ouvidos durante a pandemia, aliás, por telefone ou on-line —, onde e como eles foram localizados? 
Quantas perguntas foram feitas e em que ordem elas foram respondidas? Qual era o enunciado da questão? Se há algo possível de afirmar para além da ciência estatística, é que nessas dúvidas podem estar muitas respostas.
Na última terça-feira, 25, a reportagem de Oeste testou (fora de qualquer campo oficial de pesquisa) uma dessas abordagens telefônicas robotizadas feitas em maio para entender como elas funcionam. O diretor da empresa pediu sigilo da fonte. Não é nada muito diferente, leitor, de uma tentativa de conversar com o atendente virtual de uma TV por assinatura ou da bandeira do seu cartão de crédito: “Se você aprova o governo Bolsonaro, disque 1”; “Se você é do sexo masculino, disque 1; feminino, disque 2; se não quer declarar seu sexo, disque 3”; e por aí vai, com perguntas que misturam cenários eleitorais com avaliações sobre a gestão pública na área de saúde, o nível de satisfação com o atual presidente e o desempenho da CPI da Covid no Senado. Ao término, resta uma dúvida: quem é o cidadão que fica 25 minutos teclando no aparelho celular para responder a uma pesquisa dessas
Mais: qual o grau de confiabilidade que se tem sobre quem está do outro lado da linha respondendo à enquete?

Outro detalhe deve ser destacado: a guerra de preços das pesquisas in loco durante a pandemia foi voraz. Para levar uma equipe de profissionais confiável a campo, um instituto tradicional cobrava, antes da crise do coronavírus, até R$ 200 mil de uma emissora ou editora, valor muitas vezes compartilhado entre elas — como sempre fazem as TVs e os jornais/portais de notícia. Mas uma sondagem telefônica como a citada acima custa, em média, R$ 0,10 para cada ligação, no máximo, conforme a operadora. Ficou mais barato pesquisar na pandemia.

O questionário do Vox Populi, feito de 12 a 16 de maio em 116 municípios, com 40 telas em PowerPoint, também é autoexplicativo. Oeste apresenta parte das perguntas formuladas:

1) Como você se sente hoje em relação ao Brasil? Está satisfeito ou não?
2) Qual é o melhor presidente que o Brasil já teve?
3) Qual é o pior presidente que o Brasil já teve?
4) Embora as eleições para presidente ainda estejam longe… Se a eleição fosse hoje, em quem você votaria?

Esse roteiro já bastaria, mas piora ao longo do percurso. Seguem outras perguntas:

•   “Quando Bolsonaro foi eleito, muitas pessoas achavam que ele era um cara diferente, que ia mudar a política e fazer um governo mais próximo das pessoas comuns. Hoje, dois anos e meio depois, você acha que Bolsonaro é o que ele dizia ser, ou não?”

• “O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes pelo coronavírus. Na sua opinião, quanto Bolsonaro é responsável pelas mortes por coronavírus no Brasil?”

Outra:
•  “Pelo que você viu ou ficou sabendo, você acha que Lula e o PT foram perseguidos nos últimos anos, com o impeachment da Dilma e a prisão de Lula, ou não houve uma perseguição contra eles, foram tratados da mesma maneira que outras lideranças políticas e partidos?”

Em setembro do ano passado, uma reportagem intitulada “Alerta: Pesquisas à vista”, da jornalista Selma Santa Cruz, publicada na Edição 24 da Revista Oeste, dizia: “Apesar de todo o vigor exibido em campanhas contra as chamadas fake news, a ponto de se aplaudirem medidas de censura, infelizmente ainda não se vê por aqui nenhuma mobilização para combater as fake polls. Caberá aos eleitores ficar alertas para não serem manipulados inadvertidamente”.

Na era da patrulha das agências checadoras de informações alheias a serviço das redações, fica uma sugestão: as pesquisas deveriam ser verificadas com lupa e, se os números não batessem com os fatos (mobilizações nas ruas em plena pandemia, por exemplo), poderiam ser devidamente rotuladas com a tarja que elas tanto gostam de colar: fake.

Silvio Navarro - Revista Oeste


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Lições para Maduro: o fim de dois ditadores comunistas

O desfecho foi amargo para o homem do Muro de Berlim e o Gênio dos Cárpatos, mas o tirano da Romênia teve menos tempo para refletir


Nenhum deles teve um fim tranquilo, mas um morreu na cama e o outro foi metralhado. Ambos viraram símbolos do fim da era comunista na Europa Oriental.
Derrubado pelo próprio partido único quando já era tarde demais, Erich Honecker se refugiou na casa de um pastor – uma ironia, considerando-se o tratamento reservado à religião na Alemanha Oriental. Depois, em outra ironia, pediu ajuda a Mikhail Gorbachev, o homem que havia recusado seus apelos para que descesse a tropa soviética e salvasse o comunista agonizante.

A fuga secreta para Moscou não resolveu seus problemas. Devido aos pedidos de extradição da Alemanha reunificada, Honecker e a mulher, Margot, pediram asilo na embaixada do Chile.  Um pedido irrecusável: o embaixador era Clodomiro Almeyda, o líder do Partido Socialista chileno recém-reabilitado, ele próprio asilado na Alemanha Oriental durante o regime militar.

Nem assim Honecker se livrou da extradição. Recebido em Berlim aos gritos de “Assassino”, Honecker foi submetido a um confuso julgamento, encerrado a pretexto de que ele estava muito doente. Viajou para o Chile e morreu um ano depois, de câncer no rim. Evitou-se, assim, que fosse revirado a fundo o envolvimento de muitos convertidos às virtudes da democracia. E a Alemanha pode celebrar até hoje o milagre do Muro de Berlim, o fim pacífico de um regime que parecia inexpugnável.

O Muro, cuja construção foi comandada por Honecker e duraria “mais cem anos”, simbolizou a derrocada em série dos regimes vassalos na Polônia, Checoslováquia, Hungria e demais satélites soviéticos, culminando com o fim da própria União Soviética.  A única exceção no dominó do extraordinário ano de 1989 foi a Romênia, onde Nicolae

VAIAS, VAIAS
Ceausescu acreditava que poderia reprimir à bala a onda de manifestações de protesto que havia começado pela cidade de Timisoara.  O mundo construído por Ceausescu e sua mulher, a implacável Elena, secretária-geral do Partido Comunista Romeno e vice-primeira-ministra, parecia tão invulnerável que ele vivia à parte até da União Soviética.

Para reafirmar a própria autonomia, Ceausescu, que se brindou com o título de Gênio dos Cárpatos e Condutor, queria zerar a dívida do país. Praticamente toda a produção agrícola e industrial da Romênia era exportada.  Os romenos viviam em privação, passavam fome, a eletricidade e a calefação eram cruelmente racionadas em pleno inverno. Um diplomata americano conta ter chegado ao país em 1988 e verificado que nas prateleiras dos mercados havia “pouco mais que latas de sardinha da China e repolho”.

Crente no próprio poder, na doutrinação incessante do povo e no regime ultrarrepressivo onde a Securitate, a polícia política, controlava tudo, Ceausescu ignorou o vento de mudança e apareceu na sacada do hediondo palácio no centro de Bucareste.  Achava que tinha um público seguro, transportado em massa numa armada de ônibus, e habituado às arengas autoelogiosas. De repente, começaram as vaias. E mais vaias. E gritos deTimisoara! Timisoara!”.

Comparado a Nicolás Maduro, o motivo dessas rememorações todas, Ceausescu era de uma austeridade sepulcral. A expressão de incredulidade no rosto severo do déspota, tentando bater palmas para controlar a massa que o vaiava, entrou para a história. Os mais espertos perceberam que a coisa tinha acabado ali e trataram de mudar rapidamente de lado. A onda de deserções começou pela base e chegou rapidamente aos generais.
O ministro da Defesa apareceu com um tiro na cabeça – suicidou-se ou foi suicidado, supostamente por se recusar a mandar massacrar os rebelados. Um mar de velas surgia nos lugares onde agentes da polícia política matavam cidadãos desarmados. Num deles, a elegante pichação “Vox Populi, Vox Dei!”.

Protegidos pelos leais até o fim, os Ceausescu estavam na casa de campo quando viram que tinham que fugir. Elena fez uma mala incongruente, cheia de joias e roupões de banho. Pegaram um helicóptero e depois um carro. Acabaram, inevitavelmente, presos numa base militar. Era fim de dezembro e fazia muito frio. Elena usava um tailleur de lã bege, casaco igual com uma grande gola de pele e lenço estampado. Ceausescu ia de sobretudo preto, cachecol e gorro de astracã.
Submetidos a julgamento sumário por um tribunal militar, saíram revoltados. Até hoje são impressionantes as cenas de Elena retorcendo-se e tentando morder o soldado encarregado de amarrar suas mãos.

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sexta-feira, 8 de julho de 2016

ANÁLISE: Primeiro a presidência, depois o mandato

A pressão da opinião pública e da tensão parlamentar diminuem com a renúncia do deputado Eduardo Cunha da presidência da Câmara. Mas a turbulência não foi totalmente dissipada porque ainda haverá o embate em torno da perda ou não do mandato. Essa nova batalha vai interferir na escolha do novo presidente da Casa. Cunha, que ainda tem força política entre os deputados, tentará estabelecer uma relação direta entre a escolha de seu sucessor e a salvação de seu mandato. Além disso, a queda de Cunha não amenizará a rejeição crescente aos políticos e à política na sociedade.

Mesmo tendo sido um aliado fiel do presidente interino, Michel Temer, no impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, o Planalto ganha com a saída de Cunha do palco principal. Não é conveniente a constante suspeita de que o governo estaria, de forma furtiva, tentando salvar o aliado. O governo também ganha porque o futuro presidente da Casa não terá a mesma audácia de Cunha ao pressionar Dilma. Qualquer um que seja eleito não terá o mesmo poder de fogo nem a mesma determinação.

A escolha do sucessor de Cunha é como uma pré-temporada, na qual os times se preparam jogando amistosos. Todas as forças políticas, incluindo-se partidos, governos e bancadas temáticas, vão dar a largada nas costuras para eleger, em fevereiro, aquele que comandará a Casa, no biênio de 2017/2018. Há duas forças que não devem ter candidato em fevereiro. O PMDB, que segundo orientação do Planalto, não vai criar marola. A outra é o PT. A esquerda está isolada e conta apenas com uma centena de votos para barganhar.

Passadas as eleições municipais, em novembro, as forças políticas da Câmara, se jogarão com sofreguidão até fevereiro chegar, quando será eleito um presidente com mandato de dois anos. Cargos na mesa serão oferecidas, vagas na chapa serão negociadas, haverá troca de apoio e ofertas para presidir Comissões da Casa e até cota de relatorias de projetos importantes vão entrar na roda. É assim que são as coisas. Será um verdadeiro desfile, no qual todas as misses e pseudos puritanos farão o que for possível pelo poder. E, ao final, o vencedor será acusado pelos perdedores de ter usado métodos "heterodoxos".

Michel Temer quer ser candidato a presidente em 2018
O presidente interino, Michel Temer, nega. Os ministros mais próximos -- Eliseu Padilha e Geddel Vieira Lima -- também negam de pés juntos. Mas cientistas e analistas políticos não só garantem que Temer será candidato, como asseguram que ele não terá outra alternativa se seu governo der certo. Para isso, a economia deve melhorar ou a população ter uma sensação de que ela melhorou. A pesquisa IBOPE/CNI, divulgada na sexta-feira, mostra que a avaliação de Temer e de seu governo ainda é ruim, mas que já esteve pior.

-- O Temer não é candidato hoje. Mas se ele chegar com 30% de ótimo e bom e 50% de aprovação, ele terá condições de concorrer. Temer vai ser convocado pelo PMDB e aliados - afirma Antônio Lavareda, que trabalhou nas campanhas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A pesquisa mostra que o ótimo e bom de Temer evoluiu de 10% a 13%. E que a aprovação evoluiu de 14% para 31%. Se Temer constar da cédula eleitoral, o PMDB graças à crise política -- governo Dilma e a Lava-Jato -- será reintroduzido como um ator político nacional. Isso não ocorria desde 1994, quando o ex-governador paulista Orestes Quércia disputou o Palácio do Planalto.
-- A Lava-Jato colocou o PMDB no poder. Temer será competitivo mesmo que a investigação atinja quadros do partido, desde que não seja ele. O atual governo não tem outro nome. Se não der certo para o Temer, não dará para ninguém (de sua aliança) -- João Francisco Meira, do Instituto Vox Populi, que coordenou um projeto de pesquisas do PFL até 2001.

Além da melhora do ótimo e bom e da aprovação, há cientistas políticos que avaliam que também será preciso que a economia tenha um crescimento de cerca de 3% no ano eleitoral. Estes são os índices que Temer persegue, ao apostar em Henrique Meirelles no comando do Ministério da Fazenda, e, por isso, analistas políticos não têm dúvidas de assegurar que ele é "super candidato".

Todos os partidos anunciam que terão candidato à Presidência. O PDT vai de Ciro Gomes. O PPS de Cristovam Buarque. O PT pode ir de Lula ou adotar Ciro ou lançar Fernando Haddad, se ele for reeleito prefeito de São Paulo. [Lula dificilmente será candidato, já que estará encarcerado – reclusão mesmo, nada de tornozeleira.]  O PSC aposta em Jair Bolsonaro. Ronaldo Caiado tenta se viabilizar no DEM. A Rede terá Marina Silva. O PSDB pode repetir Aécio Neves ou apostar em sangue novo, como o governador de Goiás, Marconi Perillo. O PSB garante que terá candidato, e dirigentes do partido têm conversado com o governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. O PMDB também proclama que disputará o Planalto
-- Se o PMDB tiver um candidato a presidente, como é que esse candidato não será o presidente Temer? -- pergunta um cientista político.

Diante do quadro criado, há quem aposte no final da polarização PT x PSDB. Avaliam que, com o sucesso do PMDB e de Temer, os maiores prejudicados seriam os tucanos. Consideram que o sucesso do governo do PMDB seria o sucesso do PMDB, enquanto o fracasso do governo Temer seria o fracasso de todo o governismo, o que inclui o PSDB. Mal comparando, argumentam que 'o craque ganha e o time perde'. Um dos sintomas de que os tucanos estão preocupados com a possibilidade de serem substituídos por uma nova polarização (PMDB x PT) é a sofreguidão com que eles almejam assumir a Presidência da Câmara em 2017. 
-- A esquerda terá um candidato. O Temer não é o Itamar Franco (que concluiu o mandato de Fernando Collor). O Itamar não podia concorrer em 1994, o Temer pode -- lembra um analista político.

Fonte: Blog Panorama Político – Ilimar Franco – O Globo