Rodrigo Constantino
No último final de semana, assisti ao filme Dois Papas, “baseado em fatos reais”.
À direita da tela, é apresentado um alemão desconectado do mundo, sisudo, relutante a mudanças e com um passado ligado ao nazismo. À esquerda, um anjo latino americano, popular, leitor de Marx e de Paulo Freire, empenhado em reformar a igreja, inconformado com a desigualdade social e que – coitadinho − foi obrigado a se distanciar dos movimentos comunistas durante a ditadura militar na Argentina. Durante todo o filme, mensagens socialistas são levadas ao público, culminando na eleição do Papa moderninho que tolera ditadores comunistas, mas não presidentes cristãos, que tentam reconstruir o papel da igreja e da família em seus países.
O filme termina com ele indo visitar o ex-Papa atrasado. Veem juntos a final da Copa no Brasil. A seleção da Argentina perde para a da Alemanha, mas o Papa moderninho dá mais uma lição ao mundo: abraça o representante do país vencedor, demonstrando o quanto os socialistas são tolerantes. Que lindo! A principal mensagem do filme visto por milhões de pessoas: o marxismo é a modernização do cristianismo.
Ah, já ia me esquecendo: o filme foi dirigido por Fernando Meirelles, da família que controla o Itaú, de onde saiu o fundador de um partido que se diz liberal, mas que se mostra cada dia mais alinhado com a esquerda em defesa do maior programa de cerceamento da liberdade econômica da história do Brasil. Por todo o tempo em que assisti ao filme, fiquei me lembrando das declarações de Jair Bolsonaro na reunião ministerial do último dia 22 de abril, registradas em vídeo. Dei-me conta de que eu havia sido infectado pelo purismo ideológico que tanto favorece a esquerda.
Na ocasião da demissão de Sérgio Moro, publiquei no meu perfil pessoal no Facebook e no site do Instituto Liberal textos registrando minha indignação com Jair Bolsonaro, retirando meu apoio a ele. Por quê? Porque ele tentou interferir na Polícia Federal. Uau! Palmas para o trouxa que vos escreve! Mencionei o filme apenas para ilustrar o mundo em que vivemos. Um mundo em que praticamente toda a produção cultural, toda a grande imprensa, igreja, universidades, organizações civis, movimentos disso e daquilo, partidos vistos como de “centro” e até grandes empresas promovem o socialismo. Há décadas, a população é bombardeada por uma propaganda extremamente bem-feita, pela qual as pessoas são convencidas a confiar ao estado seu bem-estar.
As liberdades individuais mais importantes estão sendo destruídas. Neste momento, metade da população brasileira encontra-se quieta em casa, esperando políticos decidirem sobre seu futuro. Uma minoria não concorda, mas não tem meios para reagir. Estamos numa situação muito pior do que nos anos em que o PT estava no poder, porque hoje o inimigo está invisível. Nunca estivemos tão perto de nos tornarmos uma ditadura socialista, porque agora não temos um alvo para apontar. Apenas sentimos uma rede se levantando sobre nossos pés.
Quais armas temos para lutar contra isso? Meia dúzia de parlamentares sem voz na imprensa, textos na internet e mais nada. Opa! Temos sim! Temos um presidente da república que vem tentando dar mais liberdade para as pessoas trabalharem, criarem seus filhos e se defenderem.
Quando tivemos isso de um presidente da república? Nunca! Não podemos cair nas arapucas da esquerda. A melhor arma que temos contra o avanço do socialismo é Jair Bolsonaro. Muitos liberais precisam entender que política é uma guerra; e essa guerra está quase sendo vencida definitivamente pelo outro lado. Nós, daqui de baixo, não temos condições de escolher armas e soldados. Temos apenas que apoiar quem está enfrentando nossos inimigos. Precisamos ser pragmáticos, avaliar friamente os acontecimentos.
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O fato é que nossas liberdades fundamentais estão sendo absurdamente reprimidas com apoio da imprensa e de toda a classe política e que Jair Bolsonaro vem há meses lutando contra isso, o que mereceria o apoio de qualquer liberal que se preze. Jair Bolsonaro deve ser avaliado pelas pautas liberais que defende, não pelas que ele deixa de lado. Não são suas frases grosseiras que devem ser consideradas, mas seu esforço em promover avanços em áreas realmente importantes. Como um cidadão comum que destina voluntariamente parte do meu tempo à militância liberal, não me vejo em condição de rejeitá-lo por ele não ser o liberal dos meus sonhos.
No tal vídeo da reunião ministerial, tivemos ainda o prazer de ver Weintraub xingando de vagabundos os membros do STF e Damares dizendo que prefeitos e governadores que estão destruindo a economia deveriam ser presos. Eles manifestaram os sentimentos de milhões de cidadãos comuns. Manifestaram o que eu mesmo gostaria de dizer na TV. As pessoas precisam ouvir coisas assim, para se encorajarem a reagir às agressões que vêm sofrendo.
Portanto, volto à minha posição de meses atrás em apoio a Jair Bolsonaro. Farei as críticas que precisar, mas não me desgastarei com suas imperfeições. Não me pendurarei no muro da covardia, com medo de ser chamado de “bolsonarista”. Enquanto o vir defendendo as liberdades mais fundamentais, relevarei quaisquer outros desvios.
Rodrigo Constantino, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo
O presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia militar em Brasília Fernando Souza/AFP
[Não foi ditadura,nem golpe - confira aqui.]
Mas no governo Bolsonaro o período é louvado não só pelo presidente, mas por outros integrantes do primeiro escalão, a começar do vice-presidente, o general Hamilton Mourão – ele publicou no Twitter um texto enaltecendo a ditadura. Segundo ele, “as Forças Armadas intervieram na política nacional para enfrentar a desordem, subversão e corrupção que abalavam as instituições e assustavam a população”. Disse, ainda, que “com a eleição do general Castelo Branco, iniciaram-se as reformas que desenvolveram o Brasil”.
Castelo Branco foi um dos articuladores do golpe militar. Ao assumir o poder, decretou, entre outras coisas, o Ato Institucional número 2, que proibiu a maioria dos partidos políticos – manteve apenas a Arena e o MDB – e o investiu de poder para cassar deputados e convocar eleições indiretas.
Outro integrante da cúpula do governo a elogiar a ditadura militar [sic] foi o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, general da reserva do Exército. Na ordem do dia alusiva à data, distribuída em todos os quartéis, ele afirma que a tomada de poder pelos militares foi um “marco para a democracia brasileira”. “O Brasil reagiu com determinação às ameaças que se formavam àquela época”, diz o início da nota. “A sociedade brasileira, os empresários e a imprensa entenderam as ameaças daquele momento, se aliaram e reagiram. As Forças Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previsíveis”, acrescenta a publicação.
No fim, contemporiza ao afirmar que “o Brasil evoluiu, tornou-se mais complexo, mais diversificado e com outros desafios”. “As instituições foram regeneradas e fortalecidas e assim estabeleceram limites apropriados à prática da democracia. A convergência foi adotada como método para construir a convivência coletiva civilizada. Hoje, os brasileiros vivem o pleno exercício da liberdade e podem continuar a fazer suas escolhas”.
Idades
Nenhum dos militares que integram a cúpula do governo estava à frente do golpe ou participaram dos atos para a implantação do regime. Em março de 1964, Bolsonaro tinha apenas nove anos de idade – ele se formaria na Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio de Janeiro, em 1977. Seu vice, Hamilton Mourão, tinha 11 anos e se formaria 11 anos depois, em 1975. O ministro da Defesa, que assina a ordem do dia, tinha 10 anos de idade quando os militares tomaram o poder.
Os chefes atuais das Forças Armadas também não tinham idade para participar do golpe. O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, tinha 9 anos, mesma idade do seu correspondente na Marinha, o almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior. O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro-do-ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, tinha 8 anos. Já o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, tenente-brigadeiro-do-ar, Raul Botelho, era um menino de 6 anos de idade.
Também militares, os ministros Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), ambos generais, tinham 7 e 8 anos, respectivamente.
Heleno e a conspiração
O único que chegou a ter uma atuação no regime foi o mais velho dos generais de Bolsonaro, o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), hoje com 72 anos. Ele tinha 17 anos em 1964, quando veio o golpe, mas durante a ditadura, capitão recém-promovido, assumiu o cargo de ajudante de ordens do então ministro do Exército, general Sylvio Frota.
No cargo, foi testemunha do movimento de Frota para tentar emparedar o governo e impedir que o então presidente, general Ernesto Geisel, levasse a cabo a abertura política lenta e gradual do regime rumo à democracia. Sob a suspeita de tentar uma espécie de “golpe dentro do golpe” – ele aspirava tomar o lugar de Geisel -, Frota foi demitido em 1977 após três anos no cargo, com mais de uma centena de militares, entre eles o general Augusto Heleno.
O auxiliar de Heleno hoje no GSI, general Eduardo Villas Bôas, também um entusiasta da ditadura militar, tinha 12 anos quando houve o golpe.
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