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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

As lições de 1940 para 2023 - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Muitos passaram por eventos muito piores e a vitória veio em algum momento, porque estavam do lado certo da história. Como nós estamos 

Gary Oldman, como Winston Churchill, no filme <i>Darkest Hour</i> | Foto: Divulgação

Gary Oldman, como Winston Churchill, no filme Darkest Hour | Foto: Divulgação 
 
Não foi apenas todo o ano de 2022 do brasileiro que foi conturbado, o final do ano foi um caos.  
Eleições nada transparentes, sistema eleitoral comprometido com juízes ativistas que, claramente, favoreceram um candidato corrupto, inconstitucionalidades sendo chanceladas por ministros com o “novo normal jurídico”…  
A lista de absurdos no Xandaquistão aumenta em uma velocidade alarmante. Sem contar as semanas de “Sobe a rampa. Não sobe a rampa”.
 
Mas e aí? Como entraremos em 2023? Sento-me para escrever o último artigo de 2022 e penso: esta edição sairá no dia 30 de dezembro de 2022, mas o que será do dia 31? O ex-presidiário vai subir a rampa?  
O presidente Bolsonaro acionará algum artigo constitucional para restabelecer as leis e a ordem no país, destruídas por militantes da Suprema Vergonha?

Ninguém sabe. Ok, mas então o que podemos levar para o ano que está para nascer já com medo de nascer velho, se não sabemos o que esperar desse parto? Creio que entraremos em rota de inúmeros medos e também certezas que são de arrepiar. Aquelas que, se concretizadas, trarão o período mais nefasto da nossa história. A pior gangue política que o Brasil, quiçá o mundo, já viu e agora de volta à cena do crime com requintes de crueldade e vingança.

Saio do computador. Faço um café e volto. Não posso encerrar o ano escrevendo um texto “para baixo”, apesar do cenário devastador sendo pintado — com ou sem rampa para o ex-presidiário. Mesmo nesse tabuleiro do medo sendo formado, precisamos arrancar as lições de tudo o que passamos até aqui, de tudo o que foi dito e feito desde 2018. Um ciclo presidencial se fecha automaticamente, e as lições agora se abrem para o aprendizado. E elas não são poucas.

Seria impossível desenrolar todas as nuances dos eventos dos últimos quatro anos e tocar em suas cicatrizes, para o bem ou para o mal. Nesta semana, a conexão do que passamos no Brasil foi me apresentada através de uma obra do cinema que retratou páginas inesquecíveis da história da humanidade. É impressionante como exemplos de líderes em certos eventos, até cronologicamente distantes do mundo atual, podem ressoar de maneira profunda até hoje.

O espírito divino
O filme O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017) é uma daquelas obras a que você pode assistir três, quatro, cinco vezes. Toda vez que sentarmos diante dessa obra, vamos notar alguma coisa que pode ter passado de maneira tímida ou até despercebida, mas que, por alguma razão, vai saltar aos olhos no último repeteco como se você nunca tivesse visto o filme antes.

Recentemente, escrevi sobre a histórica operação em Dunquerque, batizada oficialmente de “Operação Dynamo”, quando 200 mil soldados britânicos e 140 mil soldados franceses e belgas foram salvos numa evacuação maciça das praias e do Porto de Dunquerque, na França, com a ajuda de centenas de embarcações navais e civis. O filme Dunkirk, um sucesso do cinema que nasceu com etiqueta de clássico, retrata com maestria as aflições humanas em meio a uma guerra, e a beleza do espírito divino que pode se manifestar em todos nós diante do medo e do horror.

Às vezes, esse espírito se manifesta organicamente, sem uma liderança específica, como uma ferramenta de sobrevivência das massas. Às vezes, ele é despertado por almas pinçadas a dedo no espectro especial na humanidade para que lições de liderança se eternizem — e os bons prosperem. Dunkirk é espetacular, assim como Darkest Hour, ou como poderíamos chamar, “Os bastidores de Dunkirk”. A performance de Gary Oldman como Winston Churchill foi agraciada com inúmeras premiações e sua atuação foi também coroada com o Oscar de melhor ator em 2018.

Darkest Hour oferece o lado diplomático do que vemos em Dunkirk. A história se desenrola com o drama da ascensão do primeiro-ministro britânico Winston Churchill ao poder durante a invasão nazista da França, em maio de 1940. O antecessor de Churchill, Neville Chamberlain, havia perdido a confiança do povo inglês e do governo britânico. Sua fracassada tentativa de uma conciliação com Adolf Hitler e os desastrosos primeiros nove meses da Segunda Guerra Mundial pareciam ter feito a Grã-Bretanha perder todas as possibilidades de vitória no conflito.

“Você não pode argumentar com um tigre quando sua cabeça está na boca dele”

Churchill, mesmo não sendo o nome preferido dentro do Partido Conservador, foi convidado a se tornar primeiro-ministro no mesmo dia em que Hitler invadiu a França, a Bélgica e a Holanda. Os exércitos das três democracias, que juntos eram maiores do que as forças militares da Alemanha, entraram em colapso em poucas semanas. Cerca de 200 mil soldados britânicos foram milagrosamente salvos pela ousada decisão de Churchill de arriscar evacuá-los pelo Mar de Dunquerque, para onde a maior parte do que restava da Força Expedicionária Britânica havia recuado. Mas o maior problema de Churchill não era apenas salvar o Exército britânico, mas enfrentar a realidade de que, com a conquista alemã da Europa, o Império Britânico não teria aliados. A União Soviética quase se juntou à Alemanha de Hitler sob o infame “Pacto de Não Agressão” de agosto de 1939, e os Estados Unidos estavam determinados a permanecer neutros a todo custo. O triste telefonema de Churchill com o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, retrata a sinuca entre os líderes: FDR garante a Churchill que, em teoria, ele queria ajudar, embora na verdade não havia nada que ele pudesse fazer, já que o Congresso Americano havia votado pela neutralidade.

Com Hitler espalhando o terror pela Europa com suas violentas conquistas territoriais, um paralisante temor se espalhou por todo o governo britânico. Membros do novo gabinete de guerra de Churchill queriam pedir a paz. Chamberlain e Edward Wood (conhecido como Lord Halifax) acreditavam que Churchill estava desordenado por acreditar que a Grã-Bretanha poderia sobreviver à barbárie de Hitler. Ambos os apaziguadores acreditavam que o ditador italiano Benito Mussolini poderia ser persuadido a implorar a Hitler que cancelasse sua planejada invasão da Grã-Bretanha. Eles queriam acreditar que Mussolini poderia salvar um fragmento da dignidade inglesa por meio de uma rendição britânica arranjada. Mas Churchill, não.

Diferentemente de Dunkirk, com cenas apenas ao ar livre, Darkest Hour ocorre quase exclusivamente em ambientes fechados durante as sessões do Parlamento, reuniões privadas e cenas entre Churchill e sua igualmente brilhante esposa, Clementine. Os diálogos são fascinantes, e as atuações soberbas. E foi em uma cena de uma reunião com seu gabinete de guerra no bunker britânico que um diálogo saltou aos meus olhos nessa quarta ou quinta vez assistindo ao filme.

Perigo mortal
Naquele dia, havia apenas um tópico a ser discutido entre os presentes: a abordagem sugerida para que a Itália fosse uma intermediária de um acordo de paz. Lord Halifax, que demonstrava veemente oposição aos planos de Churchill de continuar lutando na guerra, precisava mostrar força a um gabinete acuado, sugerindo que o papel da Itália como mediadora entre o Reino Unido e a Alemanha em um acordo de paz com Hitler seria a melhor opção para os britânicos. A troca entre Halifax e Churchill em 1940 nunca foi tão útil e preciosa em 2022. Empenhado em desafiar Churchill e mostrá-lo como um arrogante e irresponsável, Halifax inicia o discussão:

Primeiro-ministro, a questão das conversações de paz.

— Devemos segurar nossos nervos. Sinalizar apenas que pretendemos lutar até o fim. Uma oferta de paz telegrafa nossa fraqueza.  — Churchill responde.

E continua de maneira mais enfática:

— E, mesmo que fôssemos derrotados, não estaríamos em situação pior do que estaríamos se abandonássemos a luta. Se o pior acontecer, não seria uma coisa ruim para este país cair lutando por outros países que foram vencidos pela tirania nazista. Evitemos, portanto, ser arrastados pela ladeira escorregadia com conversas sobre paz negociada!

“Ladeira escorregadia”? A única ladeira escorregadia é…

Churchill, esbravejando, então interrompe Hallifax:

— Lord Halifax, a abordagem que você propõe não é apenas fútil, mas nos envolve em um perigo mortal.

Halifax mostra que não está disposto a desistir de sua estratégia:

O perigo mortal aqui é essa fantasia romântica de lutar até o fim. Qual é o fim? Se não a destruição de todas as coisas! Não há nada de heroico em cair lutando se isso puder ser evitado! Nada remotamente patriótico em morte ou glória, se as probabilidades estiverem firmes no primeiro. Nada inglório em tentar abreviar uma guerra que estamos claramente perdendo!

Churchill tenta argumentar que não estão perdendo e que a Europa… Quando é interrompido por Halifax que grita:

— A Europa está perdida!! E antes que nossa força seja completamente aniquilada, agora é a hora de negociar, a fim de obtermos as melhores condições possíveis! Hitler não insistirá em termos ultrajantes. Ele conhecerá sua fraqueza. Ele será razoável.

Churchill permanece em silêncio, se ajeita na cadeira depois de uma breve pausa e, enfurecido, explode diante de todos:

— Quando a lição será aprendida?!

E com um murro na mesa, repete:

— Quando a lição será aprendida?! Quantos ditadores mais deverão ser cortejados, saciados, com imensos privilégios concedidos antes de aprendermos?!

E em uma brilhante frase, resume o que devemos levar para inúmeras situações da vida:

— Você não pode argumentar com um tigre quando sua cabeça está na boca dele!!

Sozinho, Churchill viu um caminho para a vitória contra todas as adversidades. Como observa o filme, Hitler poderia ter tido o maior Exército do mundo na primavera de 1940, mas ainda não tinha como transportá-lo através do Canal da Mancha, devido ao domínio naval britânico esmagador. Churchill assumiu que, se a Grã-Bretanha e seu império ultramarino pudessem resistir, um Hitler frustrado poderia se voltar para outro lugar — e assim ganhar novos inimigos, e os britânicos, novos aliados.

E foi exatamente isso o que aconteceu em junho de 1941, um Hitler frustrado invadiu a União Soviética. Mais tarde, ele declararia guerra aos Estados Unidos e, em dezembro de 1941, a Alemanha estava em guerra contra a maior economia do mundo (americana), a maior marinha (britânica) e o maior Exército (soviético) ao mesmo tempo.

Neste final de semana, quero convidá-los a preparar um futuro além de 2023. Peguem as crianças já em idade escolar capazes de entender a história mundial, tirem os adolescentes do TikTok, comprem pipoca, limonada e sentem para ver Dunkirk e Darkest Hour juntos. Além da especial maratona cinematográfica juntos, nada substitui um tempo com a família e amigos. Podemos — e devemos! — colocar sementes importantes nesses jovens corações para que eles entendam o sacrifício a que homens e mulheres se submeteram para que a atual liberdade pudesse ser desfrutada.

O magistral Churchill do ator Gary Oldman lembra a uma geração de jovens globais amnésicos que, há mais de 80 anos, o desafio obstinado de um inglês resmungão de 66 anos e com pouco mais de 1,50 metro salvou a civilização ocidental da barbárie nazista. E que tudo, absolutamente tudo sobre aquela geração, pode — e deve! — ser aproveitado em 2023.

Para nós, adultos, exauridos com tudo a que fomos submetidos neste ano, eu sei, estamos cansados. Foi uma pancada atrás de pancada e a sensação de derrota é acachapante e dolorida demais. Mas vamos olhar a história: no final da batalha de Dunquerque, 235 navios foram perdidos, com pelo menos 5 mil soldados. Os alemães conseguiram capturar 40 mil soldados. Embora a operação milagrosa tenha sido considerada uma “derrota” militar, a retirada com pesadas baixas e o resgate de quase meio milhão de soldados de Dunquerque passaram a ser uma das vitórias mais importantes e inspiradoras da guerra — e podem muito bem ter mudado seu resultado de tudo. Dunquerque foi o começo do fim do Terceiro Reich.

Esperança! Muitos passaram por eventos muito piores e a vitória veio em algum momento, porque estavam do lado certo da história. Como nós estamos.

Obrigada pela preciosa companhia de todos toda semana aqui em nossa Revista Oeste durante mais um ano de parceria e confiança. Vamos seguir mais firmes do que jamais estivemos.

Leia também “Um Natal na cozinha, e não nas redes sociais”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 


segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Chegou a hora de dizer adeus a Bolsonaro. E fazer a oposição dura que Lula e o PT merecem - Gazeta do Povo

Vozes - Paulo Polzonoff Jr

"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

Virando a página

 Chegou a hora de dizer já vai?, tá cedo ainda, toma mais um cafezinho, Deus que ajude, desculpe qualquer coisa, etc.-  Foto: Reprodução/ Twitter

Passei quatro anos defendendo pateticamente o caráter humano (e, portanto, falho) do agora ex-presidente Jair Bolsonaro. Aos que me diziam que ele era um monstro fascista e genocida, respondia que não, que era apenas um homem tentando fazer o seu melhor – e, aqui e ali, fracassando miseravelmente, como todos nós. Aos que me diziam que ele era o mito, o líder perfeito, o Presidentaço, respondia que não. Que era apenas um homem tentando fazer o seu melhor. E, aqui e ali, fracassando miseravelmente. Como todos nós.

Nesse tempo, não foram poucas as vezes em que tentei me colocar no lugar de Bolsonaro. Para tentar – tentar! – entender o que o levou a agir assim ou assado. Dessas muitas reflexões, concluí que (i) nem todo mundo é talhado para a vida pública e eu definitivamente não sou; (ii) se me dessem o poder ilusório da caneta presidencial, é bem possível que eu agisse como um tirano pior do que Alexandre de Moraes; e (iii) nossos melhores e maiores feitos serão sempre rejeitados ou diminuídos por quem de antemão nos odeia.

Mas confesso que os últimos sessenta dias abalaram essa minha semiconvicção de que Jair Bolsonaro é apenas um homem simples que, por vias tortas, ocupou o cargo máximo dessa confusão a que damos o nome de Brasil. Primeiro o silêncio pós-eleições, depois as fotos enigmáticas e a manutenção de um clima revolucionário, culminando com a ausência de um pronunciamento digno no Natal e, mais recentemente, o desprezo pelos “aquartelados capslock” e a viagem para Miami. Tudo isso me levou a crer que, embora aparentemente honesto e bem-intencionado, Bolsonaro foi um homem pequeno. Ou ao menos menor do que eu supunha.

Não pequeno em relação a Lula (que é minúsculo). Quem pressupõe em minhas palavras comparação com o ex-presidiário talvez o tenha como um referencial – o que não é o meu caso. Aliás, se neste texto constato tardiamente que Bolsonaro não esteve à altura da empreitada a que se propôs quando se candidatou à Presidência, isso diz mais sobre minhas (nossas?) expectativas do que sobre quem vestiu e vestirá a faixa.

Quando reconheço algo constrangido que Bolsonaro se revelou pequeno, estou pensando em tudo o que ele poderia ter sido se tivesse usado os poderes mundanos e constitucionais do seu cargo para promover as virtudes que estão ao alcance de todo mundo: prudência, justiça, temperança e coragem. Se tivesse almejado a excelência. Se bem que aqui cabe uma crítica rápida à tão endeusada democracia, que tende a favorecer líderes que exalam soberba e todos os vícios dela derivados.

Tudo ficará mais claro quando os ânimos se acalmarem e for chegada a hora (não agora) de avaliarmos os erros e acertos de Jair Bolsonaro à frente do Executivo. Livres da paixão política – essa sanguessuga do espírito talvez consigamos avaliar melhor tanto a evidente má vontade da imprensa quanto os muitos movimentos equivocados no tal do xadrez 4D.  Gosto de pensar que, com o devido distanciamento temporal, seremos capazes de, um dia, dar a Bolsonaro a dimensão pessoal e institucional que ele merece
E que não é nem a de um anão e nem a de um gigante.

Chegou a hora, porém, de dar adeus a Jair Bolsonaro. Que a esta altura (enquanto espumamos de raiva por vermos um ex-presidiário subir a rampa e enquanto você vocifera contra o autor deste texto) deve estar curtindo a privilegiada aposentadoria na Flórida. Chegou a hora de dizer já vai?, tá cedo ainda, toma mais um cafezinho, Deus que ajude, desculpe qualquer coisa, etc. Chegou a hora de dizer tchau, Bolsonaro.

Uma despedida rápida e discreta. Sem lágrimas nem acenos com o lencinho para o trem que desaparece na curva à esquerda. Afinal, a partir de amanhã um novo futuro político começa de fato. Um futuro nada auspicioso. Por isso, e também por causa de Jair Bolsonaro, agora nos caberá fazer oposição a Lula e a tudo o que ele e o PT representam. Pela terceira (e, espero, última) vez.

Paulo Polzonoff Jr. é jornalista, tradutor e escritor. - Gazeta do Povo - VOZES


sábado, 24 de dezembro de 2022

O erro repetido - Carlos Alberto Sardenberg

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O erro repetido - Autores de artigo com erro foram nomeados para governo Lula 

[o que não nos surpreende, visto que o ERRO MAIOR, o PAI DE TODOS OS ERROS, é um ex-presidiário pretender presidir o Brasil e ter um governo que chamam de seu.]

Grosso modo, o leitor encontra nos jornais reportagens (de autoria dos repórteres do veículo) e colunas e/ou artigos de opinião.  
Reportagens são de dupla responsabilidade: do repórter e do veículo, pois se supõe que a editoria tem um sistema de checagem e verificação do noticiário publicado. 
Já colunas e artigos são de responsabilidade do autor. Por isso, frequentemente se encontra a informação: o texto do colunista não reflete necessariamente a opinião deste veículo.

Os jornais erram. Mas, tempos atrás, mais presunçosos, nós, jornalistas, gostávamos de citar como nosso guia o slogan do New York Times: “All the news that`s fit to print”. Algo com o “todas as notícias que estão prontas para serem impressas” ou, mais presunçoso ainda, “todas as notícias que merecem ser impressas”.

Quando um leitor reclamava, por carta, os jornais publicavam na seção adequada, frequentemente com uma resposta do jornal refutando.   Com o tempo e com as redes sociais, os editores tiveram que admitir que, sim, erravam e, pior, mais do que se esperava. Quantas reportagens não se mostraram equívocos monumentais. E quantas informações enviesadas ou simplesmente descuidadas.

Eu mesmo, quando diretor da sucursal do JB em São Paulo, deixei passar uma matéria na qual se dizia que um economista estava “envolvido” no escândalo de desvio de verbas para prefeituras. Estava mesmo “envolvido”: era o cara que havia denunciado a roubalheira.

Assim, os jornais tornaram-se mais cuidadosos. Introduziram sistemas mais rigorosos de checagem, aqui incluídos os “ombdsman” Nesse processo, surgiram as seções nas quais os editores se antecipam a críticas e publicam os famosos “erramos”. Texto da própria editoria dizendo que havia um erro em tal ou qual reportagem.

Claro que os articulistas e/ou colunistas estão livres desse processo. As opiniões, os dados levantados, as análises são de responsabilidade do autor, não do veículo. Claro que se o articulista/colunista comete um crime injúria, calúnia, difamação ou ameaçaso veículo é solidariamente responsável.

Mas tirante esses casos – raros – fica tudo por conta do articulista/colunista. Por isso, foi inédito quando a Folha de  São Paulo publicou um “Erramos” em 15 de setembro de 2019, apontando erros em artigo de macroeconomia. O artigo teve o título “Por que cortar gastos não é a solução para o Brasil ter crescimento vigoroso?

O “Erramos” apontava cálculos errados sobre variáveis chaves. Por exemplo, dizia que o resultado primário de 2007 a 14 provocou uma redução expressiva da dívida bruta (de 2,18pontos percentuais do PIB em média) e não um impacto zero, com o sustentavam os autores.

Inversamente, o “Erramos” apontava que os déficits primários de 2015 a 18 (Governo Dilma) provocaram um aumento médio de 1,9 ponto percentual na dívida, em vez de apenas 0,5 ponto, como sustentavam os autores.

Claro, por trás dos erros numéricos, havia equívocos conceituais. Mas por que estamos tratando isso?

Porque dois autores do citado artigo, Guilherme Mello e Esther Dweck, foram nomeados para o futuro governo Lula. O primeiro como secretário de Política Econômica da Fazenda e a segunda como ministra da Gestão e Inovação.

Nenhum deles admitiu o erro ou mudou de ideia. Trata-se de questão chave de macroeconomia. Os articulistas estavam dizendo que o aumento do déficit público não provoca impactos significativos na dívida. O “Erramos” mostrava que provoca.

Com a PEC da transição, [mais conhecida como A PEC do PRECIPÍCIO] o déficit esperado para o 2022 é de R$ 231,5 bilhões (Valor Econômico de ontem). Para os petistas, tudo normal. Já outros analistas, de retrospecto mais confiável, calculam que a dívida pública vai aumentar de 4 a 5 pontos percentuais do PIB.

Consequência: juros mais altos que o governo terá de pagar para financiar sua dívida
menos investimentos e menos crescimento; e,
rendimento maior para os brasileiros bem de vida que aplicam em títulos do Tesouro. A NTN-B está pagando inflação mais 6,5% ao ano![o assustador, complicador, é que após a posse do apedeuta eleito - prevista pra 1º jan 2023 - quem garante o vantajoso rendimento é o governo do atual presidente eleito.]
 
 
Coluna publicada em O Globo - Opinião- 24 de dezembro de 2022
 

domingo, 11 de dezembro de 2022

Como me tornei um melancia por acreditar que o ex-presidiário subirá a rampa - Paulo Polzonoff Jr.


Vozes - Gazeta do Povo


"Ensina-me, Senhor, a ser ninguém./ Que minha pequenez nem seja minha". João Filho.

A Grande Decepção

Compreendamos, aqui, mais essa fragilidade humana: sempre foi, é e será grande, enorme, gigantesca a tentação de falar aquilo que o público quer ouvir. - Foto: Pixabay

Fui chamado de “melancia”. O insulto é novidade para mim, acostumado a ser chamado de gado, isentão ou comunista. Tanto é assim que tenho que perguntar ao ofensor o que significa o xingamento. Estupidez suprema, a minha! “Melancia é verde e amarela por fora e vermelha por dentro”, me explica o agressor. "Aaaaaaaaaaah!", respondo, rindo amarelo. Por um instante, me lembro de certa vez em que achei que “salta-pocinhas” era elogio. Para você ver.

Está curioso para saber por que fui chamado de melancia? Eu também. Parece que tem a ver com a minha percepção da realidade política, que para um verdadeiro patriota é insuportavelmente falha, para não dizer "burra". Sou, pois, “vermelho por dentro” porque não acredito na força político-militar de Jair Bolsonaro para dar um golpe/contragolpe ou para usar o já mítico Artigo 142. Ao que tudo indica, essa minha postura incrédula, derrotista e pessimista é prejudicial ao movimento. O que me torna imediatamente um infiltrado que tem por objetivo enfraquecer a revolução. Desculpe?

Imagino do que me chamaria o ofensor se soubesse que, ao longo desta semana, várias vezes ensaiei escrever com todas as letras: não haverá um golpe de Estado no Brasil. Ou contragolpe, como queiram. Ao menos não por parte de Bolsonaro e seus apoiadores. Digo, haverá alguma balbúrdia. Na segunda-feira (12), data da diplomação do ex-presidiário eleito, é bem capaz de haver gritos e ranger de dentes
Mas um golpe? Gê, ó, ele, pê, é? Consulto um e outro, leio isso e aquilo, observo com atenção todos os sinais. Não consigo enxergar nenhum indício dessa revolução aí e me sinto obrigado a perguntar mais uma vez: desculpe?
 
Mas repare você que estou confessando ter desistido da empreitada de dizer taxativamente que não, não haverá um golpe, não. Porque lá bem no fundinho da mente sempre resta uma nanoduvidazinha. Afinal, vivemos no Brasil, terra de samba, pandeiro e dramas. 
Vai que o Exército está mesmo convocando revolucionários por meio do Twitter, como “provam” vários prints compartilhados nos grupos patriotas, né? Vai que os índios invadem o STF
Vai que o Sol atualmente em Sagitário forma algum aspecto sinistro com Plutão e Netuno. 
Vai quê.

O melancia que ousasse escrever uma insanidade dessas e fosse pego de calças curtas pelo improvável passaria uma vergonha maior do que um jornalista que, em 1939, no Volksanzeiger, anunciasse com todas as letras e aquelas palavras quilométricas do alemão que a Europa estava prestes a entrar num longo ciclo de paz. “Eu te disse, seu melancia!”, imagino o agressor falando, rindo e babando Schadenfreude. Não sem um tiquinho de razão.

Cisne verde-oliva
É esse temor diante da possibilidade (ainda que ínfima) de concretização do improvável que me faz segurar a língua até o dia 1º de janeiro.
Mas chegue mais perto e dê só uma olhadinha aqui.
Veja como o ser humano é interessante.
Enquanto uns receiam, outros fomentam o clima de incerteza política, atiçando o espírito revolucionário dos brasileiros que, compreensivamente, não aceitam a dura realidade de que seremos governados por Lula e seus cúmplices pelos próximos quatro anos. E espero que fique só nisso.

Alguns sopram essa brasa por pura perversidade, mas esses não me interessam. Prefiro me ater aos que agem como animadores de torcida porque morrem de medo que a pecha de “melancia” pegue. 
Ou porque temem perder o respeito de uma audiência que ainda nutre esperanças legítimas por uma solução mágica. 
Compreendamos, aqui, mais essa fragilidade humana: sempre foi, é e será grande, enorme, gigantesca a tentação de falar aquilo que o público quer ouvir. Ou vocês não se lembram dos intermináveis “Lula preso amanhã” do tempo em que a prisão de um corrupto ainda era apenas uma esperança mais ou menos palpável?
 
Mais do que seduzir um público ávido por emocionantes reviravoltas que selariam a vitória do bem contra o mal ou da liberdade contra a escravidão, o importante é ser fiel à realidade observável. Por mais tenebrosa que ela pareça. O importante é ser honesto. 
Mesmo correndo o risco de desagradar quem se apega a qualquer videozinho de um jipe militar cruzando a rua como um sinal claro & inequívoco de que o candidato preferido do TSE não subirá a rampa. Mesmo sendo xingado de "melancia". 
E mesmo correndo o risco de, amanhã ou depois, levar uma rasteira do cisne negro. Ou seria verde-oliva esse cisne?
 
Melancia ou não, o que tira meu sono no momento tem a ver com o que chamo grandiloquentemente de A Grande Decepção: o que essas pessoas todas farão ao terem de se deparar não só com a porção humana dos seus heróis e mitos, mas sobretudo com a derrota – tenha sido ela fraudulenta ou não. E mais: o que eu farei com todo esse meu cinismo se alguma coisa, qualquer coisa, acontecer mesmo para impedir a coroação de Lula III. [pedimos vênia para discordar do ilustre Polzonoff quando coloca na mesma frase, como alternativo golpe/contragolpe e usar o artigo 142 da CF. 
Quero apenas registrar nosso PENSAMENTO de que usar um artigo da Constituição Federal, e na forma devidamente regulamentada por uma Lei Complementar, não pode ser considerado golpe. 
Encarecidamente, pedimos que não confundam o PENSAMENTO acima exposto com CONCLUSÃO,  visto que uma CONCLUSÃO se considerada ERRADA,  resulta em CONCLUSÃO ERRADA, que se tornou crime no Brasil.]


Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Fora, Lula! - Revista Oeste

Augusto Nunes

O PT sonha com a união de todos os brasileiros em torno do ex-presidiário que dividiu o Brasil 

 Fruto do acasalamento de dirigentes sindicais que achavam leitura pior que exercício em esteira, intelectuais que só viam pobres de perto nas fotos de Sebastião Salgado e veteranos da luta armada que caíram fora do país antes que aprendessem a diferença entre coronha e gatilho, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980 já fantasiado de detentor do monopólio da virtude. A chegada ao governo federal em 2002 apressou o fim da farsa. E o Brasil decente não demorou a espantar-se com a multidão de messalinas aglomeradas no templo das vestais que o PT fingira existir por mais de 20 anos.

 

Em Brasília, manifestantes contra o governo FHC pedem a saída do presidente | Foto: Roberto Stuckert Filho/26-08-1999

Em Brasília, manifestantes contra o governo FHC pedem a saída do presidente | Foto: Roberto Stuckert Filho/26-08-1999

Fora do partido ninguém prestava, recitaram as virgens de bordel nas duas últimas décadas do século 20. Em 1985, por exemplo, o já morubixaba Lula ordenou à bancada no PT que se abstivesse de votar no Colégio Eleitoral formado para escolher o civil que ocuparia a Presidência da Repúblicaatribuição privativa de generais desde 1968. Para o chefe, não havia diferenças entre um Paulo Maluf — ele mesmo — e Tancredo Neves. Três deputados federais entenderam que Tancredo era infinitamente melhor. Foram expulsos do partido.

Impedido de assumir o cargo pela doença que ocultara para garantir uma transição sem traumas, Tancredo foi substituído pelo vice José Sarney. “Fora, Sarney!”, gritaria a companheirada nos cinco anos seguintes. (“Sarney é o maior ladrão do Brasil”, afirmou Lula em 1988, num comício em Vitória. Hoje os dois casos de polícia são amigos.) No mesmo ano, o então deputado Luiz Inácio Lula da Silva, líder do PT na Assembleia Constituinte, determinou que a bancada inteira assinasse o texto aprovado por ampla maioria, com uma ressalva: todos rejeitavam “uma Constituição que ignora os direitos da classe trabalhadora”. Que direitos seriam esses? Ninguém sabe.

Na eleição presidencial de 1989, o segundo colocado no primeiro turno vencido por Fernando Collor negou-se a pedir apoio aos demais candidatos afastados da etapa final. Sempre avesso a demonstrações de altivez, líderes do PSDB e do PMDB decidiram comparecer a um comício nas imediações do Estádio do Pacaembu. Hostilizados na chegada pela plateia restrita a militantes do PT, figuras como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Ulysses Guimarães se enfurnaram por duas horas no fundo do palanque. Nenhum deles foi convidado a discursar. Se houvesse o convite, é improvável que algum topasse.

Até 1992, quando o adversário vitorioso foi afastado da Presidência, a companheirada berrou “Fora, Collor!”. Consumado o impeachment, bucaneiros incansáveis colocaram na alça de mira o vice que acabara de assumir. Disposto a cauterizar ao menos algumas feridas abertas pela polarização feroz, Itamar Franco convenceu a petista Luiza Erundina a aceitar uma vaga no ministério. Erundina foi suspensa pelo PT. E os gritos de “Fora, Itamar!” só cessaram quando o substituto de Collor repassou o gabinete no Palácio do Planalto.

“Fora, Fernando Henrique!”, atualizou-se o coro dos descontentes profissionais depois da derrota de Lula no primeiro turno da eleição de 1994. Ignorante em economia, o chefão não consultou ninguém do ramo para qualificar de embuste o conjunto de medidas que domaria a inflação selvagem. 
Político presunçoso, acreditou na conversa fiada dos áulicos: um intuitivo genial era mais sabido que gente com doutorado em jogadas eleitorais capazes de virar qualquer jogo.
Continuou desdenhando do plano econômico mesmo quando plateias eufóricas já brandiam cédulas do novo dinheiro nos comícios do adversário. 
 
Lula não acordou nem mesmo quando o prenome composto foi aposentado por três iniciais e Fernando Henrique Cardoso virou FHC.
Entre 1994 e 1998, os deputados federais do PT tentaram sepultar todos os projetos, propostas e ideias que tivessem o endosso do presidente da República. Isso mesmo; TODOS. Sempre por unanimidade, a bancada do partido na Câmara votou contra para ficar em três assombros — o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a privatização de mastodontes que sangravam com perversidade os cofres da nação
Em outubro de 1998, Fernando Henrique reelegeu-se de novo no primeiro turno. 
O segundo mandato mal começara quando, em janeiro de 1999, a direção do PT resumiu em duas palavras e um ponto de exclamação o programa eleitoral do partido para os quatro anos seguintes: “Fora, FHC!”.

A face escura começou a exibir suas dimensões siderais antes mesmo do triunfo de Lula na eleição de 2002: seis meses antes, o PL recebeu do PT R$ 4 milhões em troca da cessão do candidato a vice, José Alencar, e da promessa de apoio parlamentar. A expansão da “base governista no Congresso” custaria uma bolada multimilionária em espécie — e um prejuízo político astronômico

Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal enfim promoveu o Julgamento do Mensalão. 
A compra de apoio no Legislativo resultaria no primeiro dos escândalos da Era PT. 
Ao longo de 13 anos, a roubalheira seria institucionalizada por gente que jurava só pensar na pobreza. Pensava tanto que tratou de enriquecer primeiro, e muito.

Como o janismo, o getulismo, o ademarismo, o brizolismo, o lulismo morrerá com a morte física do único deus da seita

Só poderia dar no que deu: o Petrolão. A roubalheira banalizada pelos governos de Lula e Dilma fez do Brasil o berço do maior esquema de corrupção desde o Dia da Criação.  
E transformou a Lava Jato na maior e mais bem-sucedida operação anticorrupção de todos os tempos. 
O que parecia ser um partido se tornara um bando de larápios compulsivos, viciados em parcerias com políticos à venda e empreiteiras insaciáveis. O povo espantou-se com a novidade: a lei agora valia para todos, e sobravam celas à espera de bandidos da primeira classe. Antes que Lula fosse para a cadeia, o impeachment mandou Dilma para casa.
São Paulo – Manifestação na Avenida Paulista, 
região central da capital, contra a corrupção e 
pela saída da presidente Dilma Rousseff  - 
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Nem assim faltaram gargantas para ressuscitar a barulheira. “Fora, Temer!”, esgoelaram-se os corais de picadeiro até o fim do governo do vice de Dilma. Em 1º de janeiro de 2019, começou o “Fora, Bolsonaro!”, com o patrocínio do consórcio de imprensa, das lojinhas de porcentagens, das bestas quadradas de distintos setores, de banqueiros sensíveis e, sobretudo, dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A conspiração dos democratas que odeiam a liberdade ainda não chegou ao desfecho. Mas é possível enxergar o Brasil redesenhado pelo rebaixamento do STF a partido político.

 Como em todas as ramificações do populismo, o chefe não tem programa administrativo, ideário político, opção ideológica — nada disso. E por isso mesmo não tem herdeiros. Sem Lula, o PT logo será apenas uma má lembrança.  
Em contrapartida, o partido liberal-conservador que vai tomando forma tem o que falta aos devotos de um ex-presidiário. As urnas identificaram vários líderes da direita democrática qualificados para garantir a sobrevivência das ideias libertárias defendidas por milhões de eleitores de Bolsonaro.
 
Apesar de tais e tantas evidências, seguem zanzando por aí sabujos de Lula que reincidem na exigência desvairada: o país deve engolir sem engasgos um demagogo que mistura vulgaridade, insolência, estupidez e presunção, fora o resto.  
Que esperem sentados esses surdos à voz das ruas. As palavras de ordem enunciadas por multidões inconformadas podem ser condensadas em poucas vogais e consoantes: “Fora, Lula!”

Leia também “Os manés estragaram a suprema boca-livre”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A novilíngua da transição - Revista Oeste

Augusto Nunes

Fake news de bom tamanho é a história da Folha contada pelo próprio jornal 

A velocidade com que foi servida avisa que a metamorfose estava no forno faz tempo —provavelmente, desde o fim do primeiro turno. E as mudanças foram produzidas para que tudo ficasse essencialmente igual, informaram as edições da Folha de S.Paulo já na primeira semana de novembro. 
Até 30 de outubro, o jornal fez o diabo para que Luiz Inácio Lula da Silva vencesse o duelo travado com Jair Bolsonaro. 
Agora, faz o que pode e o que é proibido para garantir ao ex-presidiário que promoveu a gênio da raça uma posse de monarca e um majestoso início de mandato — o terceiro e certamente o último. Para facilitar as coisas, o jornal luta para varrer da face do país Jair Bolsonaro e seus mais de 58,2 milhões de  eleitores.

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

Aos olhos de quem preza o convívio dos contrários, essa imensidão de gente equivale à metade dos brasileiros habilitados a escolher diretamente qualquer dos candidatos à Presidência da República (e tem todo o direito de fazer o que lhe der na telha).  
Na cabeça despótica da seita que se lixa para o Mensalão e o Petrolão, fora o resto, os inimigos encarnam o que há de mais tenebroso no planeta: o bolsonarismo, que seria o fascismo em sua versão mais medonha. 
Pertencem a uma subespécie que apoia o vírus chinês, o negacionismo científico, o negacionismo eleitoral, o golpismo, a distribuição de armas entre bebês de colo, a misoginia, a homofobia, o machismo, a canonização dos milicianos homicidas, a proclamação da escravatura
Um bolsonarista merece prisão perpétua. E Jair Bolsonaro não merece menos que a morte.[já tentaram e se houver chance tentarão de novo]
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
É com isso que sonham publicamente dois colunistas da Folha. Os demais torcem para que o sonho se concretize
Não existe no bunker do jornal alguém que se atreva a digitar um único e escasso circunflexo que pareça favorável a Bolsonaro. 
Se algum distraído de nascença entrar nesse campo minado, e sussurrar algo semelhante às falas do contraponto imposto pelo PT e pelo TSE à Jovem Pan, não escapará do linchamento ao som do Lula Lá.  
Os militantes acampados nas páginas do jornal defendem sem disfarces a censura à imprensa. 
Liberdade de expressão não se aplica à desinformação, miam os democratas de picadeiro.

Sem explicações aos leitores, o jornal substituiu “Orçamento secreto” por “emendas do relator” no dia em que Lula topou manter a gastança intocada

Há semanas, um editorialista desavisado pediu a Lula que revelasse logo o nome de quem será seu ministro da Economia. 
Foi repreendido pelo ombudsman
 Incomodar com tal cobrança a reencarnação de Nelson Mandela, comparou um colunista, é como exigir do técnico espanhol Pep Guardiola que divulgue antes do jogo a escalação do time. 
Guardiola, que aliás costuma antecipar os nomes de quem jogará, jamais promoveria a capitão da equipe um José Dirceu, como fez Lula no primeiro mandato. 
Só jornalistas de baixíssimo calibre poderiam parir as mudanças que aperfeiçoaram a novilíngua da  transição.

Até o fim de outubro, por exemplo, o atual presidente foi chicoteado por um aluvião de vogais e consoantes que lhe atribuíam a paternidade do crime de lesa-pátria: o “Orçamento secreto”, como a Folha sempre denominou o bilionário balaio de verbas distribuídas entre parlamentares pelo relator do Orçamento da União. Sem explicações aos leitores, sem sequer uma nota na seção Erramos, o jornal substituiu “Orçamento secreto” por “emendas do relator” no dia em que Lula topou manter a gastança intocada em troca da ampliação do bando de parceiros na Câmara Federal. 

Também subitamente a “PEC Kamicaze” virou “PEC da Transição”. O conteúdo é o mesmo: trata-se de um conjunto de medidas destinadas a bancar despesas adicionais sem que o governo se exponha a punições reservadas a quem ultrapassa o teto de gastos. O nome mudou depois que os dribles nas restrições legais ganharam a benção do presidente eleito. Lula é um estadista. Quem rima com kamicaze é Bolsonaro.

Tanto assim que nunca inspira manifestações de rua promovidas por seus eleitores. Na visão estrábica da Folha, ocorrem invariavelmente “atos antidemocráticos”, ou “mobilizações de viés golpista”. 
Também por isso, teve o mandato encurtado por outra invencionice dos linguistas de galinheiro que abundam na turma pautada por Alexandre de Moraes. Bolsonaro deixou de ser um presidente no exercício do cargo. Foi rebaixado a “incumbente”. Aprendi no dicionário que o palavrão quer dizer “titular de um cargo político”. Há um outro significado: “Algo que se inclina para baixo”. Foi decerto a segunda acepção que apressou sua anexação ao repertório vocabular do matutino cuja tiragem diária agoniza pouco acima de 60 mil  exemplares.

“Combater fake news não é censura”, recitam de meia em meia hora os reinventores da imprensa. E só é considerado jornalista quem milita na Folha ou em redações controladas por esquerdistas que confundem O Capital com Brasília. Os outros são blogueiros bolsonaristas, apresentadores bolsonaristas ou difusores de mentiras a serviço do Gabinete do Ódio.  

Merecem o silêncio ordenado por Alexandre de Moraes e seus Vigilantes da Suprema Verdade. Devem ser banidos das redes sociais, como exige a “agência de checagem” criada pelo jornal em adiantado estado de decomposição. É preciso exterminar a qualquer preço os propagadores de mentiras. Haja cinismo: uma das maiores fake news difundidas desde Gutenberg é a história da Folha contada pela Folha.

Nessa versão de Sessão da Tarde, o jornal nasceu de verdade em março de 1983, no primeiro comício da campanha das Diretas Já, que reivindicava a volta da eleição do presidente da República pelo voto popular.  Essa fantasia conveniente apaga o passado sombrio da empresa surgida há 100 anos. Desaparece, por exemplo, a fortuna extraída do terminal rodoviário instalado ilegalmente numa praça de São Paulo. Somem os veículos cedidos aos órgãos de repressão política pelo diretor de um vespertino pertencente ao mesmo grupo empresarial. E são enterrados em cova rasa fatos que deixariam envergonhado o mais inescrupuloso rufião da Boca do Lixo.

A Folha acaba de noticiar com o distanciamento de quem registra uma queda de temperatura no Alasca a proposta apresentada a Lula por Alexandre de Moraes: o ministro acha indispensável a aprovação, em regime de urgência urgentíssima, de um projeto de lei que submeta à censura o Google e outros espaços da internet. 

O fairplay faz sentido. Entre 1968 e 1975, a revista Veja, o Estadão e o Jornal do Brasil enfrentaram com bravura, altivez e inventividade a censura praticada por censores federais numa sala da redação. A Folha nunca soube o que é isso. Graças à autocensura praticada pelos próprios jornalistas, nunca foi publicada uma única vírgula que aborrecesse os donos do poder.

É o que acontecerá se as algemas que ameaçam a internet se estenderem a toda a imprensa. A Folha não vai precisar de censores externos. Os editores serão mais eficientes.

Leia também “O “Fora Lula!” só começou”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Um disco arranhado até 2026 - Ana Paula Henkel

 Revista Oeste

Vamos repetir que elegemos um condenado e preso por corrupção para presidente do Brasil e que a honestidade deixou de ser uma condição essencial para 60 milhões de cidadãos 

 A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 mexeu nas entranhas do establishment e desordenou toda uma sequência de um teatro que enganou o brasileiro durante décadas.deep state se reorganizou para expurgar aquele que, considerado do baixo clero no Congresso, não apenas apontou o caminho de um projeto de nação com alguns erros e muitos acertos —, mas aterrorizou os monstros do cerrado com a ameaça de um movimento que, ainda um pouco desordenado, desnudou a falsa rivalidade entre PT e PSDB.
 
Apoiadores de Lula, durante campanha eleitoral em São Paulo, setembro de 2022 | Foto: Shutterstock
Apoiadores de Lula, durante campanha eleitoral em São Paulo, setembro de 2022 | Foto: Shutterstock  

Geraldo Alckmin está de volta à cena do crime abraçado ao ex-presidiário Lula. O retrato do cenário político brasileiro começa a ser desenhado com o que parecia ser possível apenas em um pesadelo. Os fantasmas de quem testemunhou o aparelhamento do Estado por militantes cleptomaníacos, feitiçarias econômicas, a pilhagem bilionária dos cofres públicos, verdadeiras fortunas “emprestadas” a ditaduras companheiras, a total incapacidade de viabilizar no país um ambiente favorável ao investimento e à geração de empregos está de volta… O Dia das Bruxas no Brasil que pode durar quatro anos.

Enquanto a bolha de falsos conservadores e liberais, jornalistas militantes e celebridades hedonistas se preocupavam com o pagamento de pedágio ideológico e a proteção de seus próprios vícios e perversões, manobras ativistas e inconstitucionais foram tomadas pelo STF e TSE para que um governo extremamente técnico fosse expurgado de Brasília. A imprensa de necrotério, completamente impregnada com seus agentes políticos torpes, foi mais um tentáculo na volta à cena do crime. O braço usado como assessoria de imprensa de um projeto de poder agora vai, finalmente, sair do “despiora”. Diante do evidente caminho tortuoso que será (re)pavimentado pelo partido mais corrupto da nossa história, e dessa vez com requintes de vingança pessoal, não demorará muito para o brasileiro ler nas manchetes que nosso futuro está “desmelhorando”.

Não houve antiácido suficiente para assistir às cenas das entrevistas de Lula nos últimos dias. Fica a pergunta se os mais jovens que fizeram o “L” durante a campanha política mais suja que este país já viu, e assim marcaram pontos extras nas redes sociais com os colegas das carcomidas universidades brasileiras, sabiam quem estava nas fotos com Lula: o cara do dinheiro na cueca, o cara dos R$ 52 milhões no apartamento, aquele que foi ministro do Esporte e acusado de corrupção na pasta, o que saqueou a Petrobras… Ê, Seu Geraldo, mais de uma década governando o Estado mais rico da República e a semana foi marcada como o ponto alto de sua vida pública — o baixo nível, o mais baixo possível, a que o senhor se submeteu. A volta à cena do crime com toda a gangue petista que o senhor tanto demonizou durante anos. Hoje sabemos que tudo não passou de um teatrinho.

Chapa à Presidência de Lula e Alckmin é aprovada pelo TSE - 
Foto: Divulgação

A volta à cena do crime. Sim, vamos repetir isso durante quatro anos, Geraldo. Na verdade, a partir desta semana, não apenas pressionaremos o Congresso a realizar nossas demandas, assim como pressionaremos o Senado para que um processo de impeachment de Alexandre de Moraes obtenha robustez e vá para o plenário. O Brasil já superou os nefastos caminhos petistas uma vez — por muito pouco, fato! —, e até podemos fazer de novo. Mas o país não sobreviverá à tirania do Judiciário e a vilões como Moraes e Barroso, que, claramente, interferiram nas eleições.

Mas não vamos ficar apenas nisso, não. Vamos repetir sem parar e sem medo de sermos tachados de chatos que o Brasil testemunhou em 2022 uma subversão da realidade e uma relativização de premissas verdadeiras, já que Alexandre de Moraes não queria “conclusões erradas”. Vamos falar durante quatro anos da censura imposta à imprensa.

Vamos repetir que elegemos um condenado e preso por corrupção para presidente do Brasil e que a honestidade deixou de ser uma condição essencial para 60 milhões de cidadãos. Vamos repetir que a nossa Suprema Corte cometeu a vergonha suprema de rasgar a Constituição e coroar a impunidade. Vamos repetir, como um disco arranhado, que, por causa da “desordem informacional”, o mundo vai testemunhar a desordem moral e institucional — e que o crime no Brasil compensa.

Vamos repetir que entre trancos e barrancos, na UTI sobrevivendo por aparelhos, o Brasil deu um suspiro de vida e esperança com a Lava Jato. Que o país viu os roteiros de Hollywood saltarem das telas para a nossa realidade com políticos e cidadãos poderosos e influentes sendo encarcerados e verdadeiras fortunas desviadas dos cofres públicos devolvidas. Ah… o tal império da lei… estávamos quase lá… mas que o Supremo Tribunal Federal soltou um corrupto condenado em três instâncias, com “provas de sobra”.

O país elegeu um ex-condenado, preso por corrupção, que nunca foi inocentado e deu a ele um cheque em branco

Já avisamos ao Geraldo que vamos repetir sem dó nem piedade que ele ESCOLHEU voltar à cena do crime com Lula. Mas vamos repetir também que Simone Tebet, [a descontrolada - ficou histérica durante uma sessão da CPI covid-19 = Circo Parlamentar de Inquérito]  irxcque bradou em inúmeras entrevistas que o PT era o partido do Mensalão e do Petrolão, agora mostra sua face mais oportunista pela esmola de um ministério, uma pastinha qualquer: mesmo ouvindo de sua companheira de chapa presidencial, Mara Gabrilli, que Lula seria o mandante do assassinato de Celso Daniel, Tebet foi parar no escurinho do cinema com Lula. De mãos dadas com o PT, a senadora que diz proteger as mulheres, mas que não protegeu as médicas Nise Yamaguchi e Mayra Pinheiro na CPI da Covid diante dos covardes ataques de figuras como Renan Calheiros e Omar Aziz, agora senta no sofá com quem estuprou o Brasil.

Vamos ser um disco arranhado também — e vamos voltar a fita e apertar o play durante quatro anos — das imagens de Gilmar Mendes chorando emocionado prestando homenagens ao advogado do corrupto de estimação do STF. E que tal “Eleição não se ganha, se toma”, de Barroso? Não, não esqueceremos por mais que eles queiram apagar ou reescrever o passado, no melhor estilo Renata Vasconcellos “fique em casa, SE PUDER”.

O sistema judiciário do Brasil foi desmontado para que Lula pudesse concorrer à Presidência, e seremos um disco arranhado para mostrar isso todo santo dia
A cruzada contra Jair Bolsonaro destruiu por completo a separação, a autonomia e a independência entre os Poderes. 
O Judiciário legislou, abusou, brincou, riu, debochou e governou o país livremente sem qualquer questionamento ou anuência do Parlamento que beijou o anel do monarca Moraes
Um parlamentar foi preso de ofício, sem processo, sem defesa, sem leis. Sim, repetiremos isso durante os próximos quatro anos.
 
Antes que tentem reescrever a história, vamos repetir todo o passado e o manual de operações do PT, como o envio de dinheiro ilegal para paraísos fiscais, a CPI do Banestado, que mostrou os primeiros sinais de corrupção generalizada no governo Lula.  
Vamos repetir sobre o desvio de dinheiro dos transportes envolvendo o ministro petista Anderson Adauto quando, em junho de 2003, veio à tona o esquema de corrupção no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte), com desvio de R$ 32,3 milhões de recursos destinados à construção de estradas.

Vamos falar sem parar também do pedido de propina de Waldomiro Diniz, primeiro grande escândalo de corrupção no governo Lula, quando, em 2004, o então assessor da Casa Civil da Presidência da República foi filmado por Carlinhos Cachoeira cobrando propina para campanhas eleitorais do PT. Correios? Sim, vamos ser um disco arranhando e refrescar a memória dos mais jovens que não sabem que, em 2005, um esquema que rifava o comando das estatais brasileiras ao interesse de políticos e partidos da base do governo Lula no Congresso foi desmascarado. Mais uma vítima de saques durante anos, os Correios também amargaram terríveis prejuízos.

Claro que em nossa coleção de discos arranhados não vão faltar as malas de dinheiro do escândalo do Mensalão. 
Ei, você aí com 18 anos e que fez o “L”! Chega aqui. 
Antes que Alexandre de Moraes mande mudar o verdadeiro roteiro do que foram, de fato, as páginas do Mensalão, vamos registrar: o esquema consistia na compra de parlamentares com dinheiro desviado de estatais e órgãos públicos para que o governo Lula aprovasse projetos que viabilizaram mais desvios de recursos para bolsos e caixas de campanha, favorecendo a perpetuação do PT no poder. 
O escândalo resultou na prisão de grandes figuras do PT, como José Dirceu, então chefe da Casa Civil de Lula, que foi condenado por ser apontado como chefe do esquema criminoso. [e outros bandidos que agora circulam livremente e ávidos para voltar a roubar os cofres público nos corredores  do CCBB, onde preparam a posse do eleito no comando da vítima - o Brasil - prevista para 1º janeiro 2022.]
 
Geraldo, corre aqui que você vai gostar desse disco: lembra dos dossiês forjados dos “Aloprados” do PT? Ô, Alckmin, não lembra? 
Daqueles petistas foram presos em 2006 pela Polícia Federal tentando negociar dossiês forjados contra o senhor e José Serra? 
Não lembra que os dossiês ligavam os tucanos à Máfia dos Sanguessugas, que desviou dinheiro da Saúde durante os governos de FHC? 
Geraldo, eu sei que o senhor agora é vice do Lula, mas temos de repetir para os esquecidos que fizeram um “L” que a fábrica de dossiês falsos do PT era famosa em Brasília e pode até ser reconhecida como a “mãe” das fake news no Brasil.

Vamos repetir também que Antônio Palocci, homem forte de Lula, estampou inúmeras manchetes com escândalos de corrupção por ter chefiado um esquema de corrupção na época em que era prefeito de Ribeirão Preto. Palocci teria cobrado “mesadas” de até R$ 50 mil mensais de empresas que prestavam serviços à prefeitura. O dinheiro seria destinado aos cofres do PT para financiar campanhas eleitorais e fraudar a democracia.

Dirceu, Lula e Palocci
O chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, o presidente Luiz Inácio 
Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, 
na solenidade de lançamento do pacote de medidas de microcrédito, 
em Brasília, 25/6/2003 | Foto: J. Freitas/Agência Brasil

Lista de propinas da Odebrecht? Temos. Segundo um dos operadores da lista, os apelidos eram utilizados para que os funcionários da empresa não soubessem quem eram os beneficiários finais das propinas pagas. Viagra, Barbie, Vampiro, Maçaranduba, Amante e Kibe são alguns dos apelidos encontrados nas planilhas da Odebrecht. As pessoas por trás desses apelidos? Algumas estavam com Lula e Alckmin ontem na TV. Acabou seu antiácido? Compre mais, serão intensos quatro anos. Mas seguiremos com a nossa vitrolinha.

Será que o STF vai deixar a gente relembrar da prisão do senador petista Delcídio do Amaral e a revelação dos planos contra a Lava Jato, quando o político foi preso em flagrante ao tentar comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró? 
Ou as pedaladas fiscais e os crimes de responsabilidade que derrubaram Dilma?

Eu não vou cansar a beleza daqueles que, como eu, têm idade suficiente para lembrar de tantos esquemas de Lula, o novo velho presidente do Brasil. Mas se você tem algum sobrinho ou enteada que acreditou que fazer o “L” era “cool”, peça aos pupilos para fazerem uma pesquisa rápida sobre os anos em que a sociedade brasileira assistiu a um festival de escândalos na gestão do Brasil pelo PT. 

Além dos casos acima, jamais vamos esquecer sobre o escândalo dos bingos; o escândalo dos Fundos de Pensão dos Correios (Postalis), que trouxe um rombo de R$ 5 bilhões para nossos cofres; o escândalo dos Fundos de Pensão da Petrobras, com rombo de R$ 20 bilhões; o escândalo dos Fundos de Pensão do Banco do Brasil, com rombo de R$ 13 bilhões; o escândalo dos Fundos da CEF (Funcef ), com rombo de R$ 12,5 bilhões; a Operação Porto; o caso Erenice Guerra do PT, ministra de Minas e Energia de Dilma; o Caso Fernando Pimentel, do PT de Minas Gerais, que foi ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; e o caso de tráfico de influências; os escândalos envolvendo o Ministério dos Transportes da presidente Dilma Rousseff; e os casos de irregularidades no ministério que envolviam desde pagamentos de propina ao partido da base do governo petista e controlador da pasta; o escândalo do Ministério do Trabalho, em 2011, pasta acusada de cobrar propina de organizações não governamentais que eram obrigadas a pagar “pedágio” para receber recursos.

Ah! E, claro, não poderia faltar o caso do Ministério dos Esportes. Outro ministério da era petista que se envolveu em escândalos. O comunista Orlando Silva foi acusado de estar envolvido em um emaranhado esquema de desvio de dinheiro em programas da pasta, visando a beneficiar seu partido, o PCdoB.

Mas claro que nenhum dos esquemas de corrupção anteriores da era petista se comparou ao Petrolão. As investigações e as delações premiadas mostraram que estavam envolvidos em grandes e complexos esquemas de corrupção membros administrativos da Petrobras, políticos dos maiores partidos do Brasil, incluindo presidentes da Câmara e do Senado, governadores de Estados, empresários de grandes empresas brasileiras e, claro, um presidente do Brasil. Esse mesmo que acabou de ser eleito com as bênçãos e todas — todas! — as proteções da Suprema Corte no Brasil.

Vamos repetir também que até o que o queridinho da esquerda no Brasil e no mundo, Barack Obama, disse sobre Lula: “Escrúpulos de chefão do crime e corrupção bilionária”.

O país elegeu um ex-condenado, preso por corrupção, que nunca foi inocentado e deu a ele um cheque em branco. O que esse cheque compra no lado de cá? Uma vitrola e 58 milhões de discos arranhados.

Leia também “E agora?”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 


sábado, 5 de novembro de 2022

Começou a vingança - Revista Oeste

  Cristyan Costa
 

Pressões do TSE e do PT apressaram demissões que modificaram o rosto da Jovem Pan 

Foto: Montagem Revista Oeste 

 Foto: montagem Revista Oeste

Em 11 de maio deste ano, durante um jantar na casa da senadora Kátia Abreu, que reuniu senadores e ministros do Supremo Tribunal Federal, uma frase acendeu o sinal amarelo: “É preciso calar Os Pingos nos Is“, resumiu um parlamentar, referindo-se ao programa de maior audiência da Jovem Pan. Neste 31 de outubro, horas depois de oficializada a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial, foi aceso pela própria empresa o sinal vermelho: Augusto Nunes e Guilherme Fiuza, 

O encontro no apartamento em Brasília incluiu Renan Calheiros (sete processos no STF),  Randolfe Rodrigues, Marcelo Castro (acusado pelo Ministério Público de ter recebido R$ 1 milhão para votar no então presidente da Câmara Eduardo Cunha), Jaques Wagner (ministro de Lula na época do Mensalão e de Dilma quando foi descoberto o Petrolão), Tasso Jereissati e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado. A esta babel, juntaram-se os ministros Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski.

“Um grupo de senadores teve conversas com vários ministros do STF e com o presidente do Senado, algumas vezes, sobre a necessidade de institucionalmente defendermos a democracia, a Constituição e a separação dos Poderes”, confessou Renan, ao admitir a realização do sarau numa entrevista à Folha de S.Paulo. “Continua o terror institucional e não podemos deixar o STF sozinho”, delirou. O emedebista alagoano acrescentou também que o grupo tivera encontros individuais com Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli, também ministros do Supremo. “O alvo da conversa desse jantar foi o presidente Jair Bolsonaro e o inquérito das milícias digitais que se uniu ao ataque às urnas eletrônicas”, afirmou José Maria Trindade, correspondente da Jovem Pan em Brasília e integrante dos Pingos nos Is. “Dessa conversa saiu o nome da Jovem Pan e a independência dos Pingos nos Is ao falar sobre eleições e urnas eletrônicas. Essa união, que é uma novidade, entre o Supremo Tribunal Federal e a elite do Congresso Nacional é perigosa.” Rodrigo Pacheco considerou Augusto Nunes especialmente perigoso para a solidez das instituições.

A primeira ofensiva
O início dos ataques contra a Jovem Pan ocorrera nove meses antes. Um requerimento de Renan Calheiros, relator da CPI da Covid, pediu a quebra do sigilo bancário da empresa. O documento acusava a rádio de disseminar fake news e integrar um “gabinete do ódio” que nunca existiu. A emissora retrucou com um duro comunicado escrito por Augusto Nunes e lido por Joseval Peixoto. No dia seguinte, os articuladores do requerimento recuaram. “O próprio senador Renan ficou muito chateado, porque não tinha conhecimento, pediu para retirar e vai falar sobre isso hoje”, desculpou-se Omar Aziz, presidente da comissão. “Não cabe a nós quebrar sigilo de emissora de rádio e televisão ou coisa parecida. Não tem nada a ver com a CPI. Nosso comportamento, indiferente de posicionamento editorial, tem de dar liberdade à imprensa para se posicionar.”

A primeira rendição
Na noite do jantar oferecido por Kátia Abreu, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, dono da emissora, estava fora do Brasil, assim como Augusto Nunes. Foi Marcelo Carvalho, irmão de Tutinha e diretor da empresa, quem decidiu que a Jovem Pan não mencionaria o episódio. Até então, Os Pingos nos Is não havia sofrido qualquer restrição.

Idealizado por Tutinha, Os Pingos estreou em 28 de abril de 2014, ancorado pelo jornalista Reinaldo Azevedo, com a participação de Mona Dorf e Patrick Santos. O programa foi um sucesso desde o nascimento, logo alcançando a média de 100 mil ouvintes por minuto na época, não era transmitido pela TV ou internet. Hoje partidário de Lula, Reinaldo era um dos mais ferozes críticos do PT, que atacou fortemente nos livros O País dos Petralhas e O País dos Petralhas II — O Inimigo Agora É o Mesmo.

Em 3 de julho de 2017, o comando dos Pingos foi assumido por Joice Hasselmann. A bancada era formada por Felipe Moura Brasil e Claudio Tognolli, substituído em 10 de outubro por Augusto Nunes, que recebeu de Tutinha a missão de elevar a audiência do programa, então em queda. Joice foi afastada, Felipe tornou-se âncora e José Maria Trindade completou a bancada ao lado de Nunes. 
Um marco na história dos Pingos aconteceu em 24 de setembro de 2018, quando Jair Bolsonaro, hospitalizado no Albert Einstein, concedeu a Nunes a primeira entrevista depois do atentado em Juiz de Fora. A partir daí, a audiência passou a subir expressivamente.

Às vésperas da eleição, a pedido da coligação lulista, o TSE determinou que a Jovem Pan afirmasse que o ex-presidente era inocente

O programa chegou ao auge em 2020, quando se consolidou o time formado por Nunes, Guilherme Fiuza, Ana Paula Henkel, José Maria Trindade e Vitor Brown. Só no YouTube, eram mais de 200 mil visualizações ao vivo, número que ultrapassava 1 milhão de espectadores em poucas horas. Na mesma época, Tutinha pediu a Nunes que montasse um programa de entrevistas campeão de audiência nas noites de segunda-feira.

O pedido foi atendido logo na estreia do Direto ao Ponto, em outubro daquele ano. A entrevista com o vice-presidente, general Hamilton Mourão, teve mais de 1 milhão de visualizações. A marca seria batida diversas vezes nas semanas seguintes, somando mais de 100 milhões de visualizações nas 99 entrevistas realizadas.

A segunda ofensiva
O sucesso crescente também aumentou a ciumeira de outros veículos,
indignados também com o viés direitista da empresa que lançara a TV Jovem Pan News. Em agosto e setembro, a revista Piauí publicou uma série de reportagens acusando-a de ser “o braço mais estridente do bolsonarismo” (como se um braço pudesse ser estridente) e Os Pingos nos Is de “dar eco a ideias extremistas” (como se as paredes de um estúdio tivessem a mesma ressonância das que delimitam as melhores salas de teatro). O surto da Piauí tem origens evidentes. Enquanto a Jovem Pan só tem crescido, a revista que sobrevive graças ao dinheiro do banqueiro João Moreira Salles viu sua tiragem despencar de quase 40 mil exemplares, em 2018, para pouco mais de 20 mil, em 2021.

O alarido foi ampliado por um “braço estridente” — a Folha, que acusou a Jovem Pan de ser beneficiada por verbas do governo federal e receber tratamento privilegiado do YouTube. Segundo o jornal, a big tech estaria sugerindo os vídeos da emissora com frequência para os usuários da plataforma. “O grupo Jovem Pan repele, enfaticamente, as falsidades divulgadas em suspeita parceria pela revista Piauí e pela Folha”, informou a emissora, num editorial escrito e lido por Augusto Nunes. “Ao contrário do que afirmam a publicação semiclandestina que se arrasta em menos de 30 mil exemplares e o jornal decadente, as relações entre a Pan e o YouTube são normais.” A tiragem da Folha caiu de mais de 100 mil exemplares, em 2018, para cerca de 55 mil, em junho deste ano. O YouTube desmentiu o conteúdo das reportagens.


A segunda rendição
A campanha eleitoral mal começara quando a Jovem Pan decidiu anexar a seus programas a figura do “contraponto”. No caso dos Pingos nos Is, Diogo Schelp foi o escalado. Os demais integrantes sempre afirmaram que o contraponto ao programa era feito por todas as emissoras e todos os jornais, que vocalizavam sem exceções o discurso esquerdista. A Rede Globo, por exemplo, não dá espaço a um único jornalista de direita e jamais foi cobrada por isso.

A terceira ofensiva
Com o início da campanha eleitoral, cresceu a ofensiva
agora estimulada pelo Tribunal Superior Eleitoral, em geral e, particularmente, por seu presidente, Alexandre de Moraes. A duas semanas da eleição, o TSE proibiu alusões à situação judicial de Lula. Um dos advogados da empresa interpretou a ordem com extraordinário rigor. Para livrar-se de punições das quais fazia parte uma multa pesadíssima, a Jovem Pan proibiu os comentaristas de associarem ao ex-presidente um punhado de expressões. Exemplos: ladrão, ex-presidiário, descondenado e amigo de ditadores.

Dias depois de oficializar a censura prévia, o TSE sustentou num vídeo que apenas exigira o cumprimento do direito de resposta. Foi apoiado por militantes de esquerda, que atribuíam a censura à própria Jovem Pan. Durante o programa, Nunes não perdeu a oportunidade de driblar o cerco: “Autorizado pelo site oficial do TSE, digo que o Lula é ladrão, amigo de ditadores, ex-presidiário e descondenado”.

A terceira rendição
Às vésperas da eleição, a pedido da coligação lulista, o TSE determinou que a Jovem Pan afirmasse que o ex-presidente era inocente. “Em resposta às declarações dos jornalistas Ana Paula Rodrigues Henkel, Guilherme Fiuza e Roberto Bezerra Motta no programa Os Pingos nos Is, da Jovem Pan News, é necessário restabelecer a verdade”,
dizia o comunicado do PT. “O Supremo Tribunal Federal confirmou a inocência do ex-presidente Lula, derrubando condenações ilegítimas impostas por um juízo incompetente. “A ONU reconheceu que os processos contra Lula desrespeitaram o processo legal e violaram seus direitos políticos. Lula venceu também 26 processos contra ele. Não há dúvida: Lula é inocente.” Guilherme Fiuza e Ana Paula Henkel também ficaram fora dos Pingos naquela semana. Oficialmente, o trio voltaria em 31 de outubro, um dia depois da apuração, e o programa retomaria a antiga fórmula, sem contraponto.

“No momento em que órgãos de imprensa são proibidos de se manifestar no período pré-eleitoral, em que se pode dizer ‘não publique essa notícia’, ainda mais por antecipação, e retirar, inclusive, o aspecto financeiro de alguns veículos, isto é censura”, afirmou o jurista Ives Gandra Martins, em entrevista a Oeste. “O artigo 220 da Constituição Federal fala da liberdade absoluta de comunicação. Sete cidadãos do TSE dizem o que é e o que não é democracia, pessoas que não foram eleitas pelo povo. Tenho a impressão de que vivemos um momento terrível para a democracia brasileira.”

A capitulação
Na manhã de segunda-feira, começaram as demissões, que resultaram no desligamento de Augusto Nunes, Guilherme Fiuza, Caio Coppolla, Cristina Graemel, Fabiana Barroso, Carla Cecato e Guga Noblat.  
O petista Noblat foi afastado por não ter defendido a empresa afetada pela censura imposta pelo TSE. 
Os demais foram punidos por terem defendido a empresa afetada pela censura imposta pelo TSE. 
Talvez por isso, Noblat afirma que não entendeu direito por que perdeu o emprego. Tutinha jura que a orientação ideológica do grupo não vai mudar. Procurado por Oeste, não respondeu às mensagens. Nunes está impedido por contrato de se manifestar sobre o caso.

No cabo de guerra com a Jovem Pan, Alexandre de Moraes venceu.

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Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste