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terça-feira, 2 de agosto de 2022

Milho, na mesa e no tanque de combustível - Revista Oeste

Evaristo de Miranda

O versátil cereal mais plantado do planeta é um caso de sucesso no agronegócio nacional

O milho, o cereal mais plantado no planeta, dá o que falar, aqui e no mundo. Sua cotação na Bolsa de Chicago segue com sucessivas altas, junto com a valorização do trigo, da soja e até do petróleo. 
Com diversos usos, o milho é matéria-prima da alimentação animal à indústria de alta tecnologia. 
Mais de 70% dos grãos são destinados a rações para suínos, aves, gado leiteiro e até à piscicultura. 
E é também matéria-prima para biocombustíveis. 
O milho serve para abastecer os automóveis, graças à produção de etanol combustível. 
Essa novidade do carro movido a milho cresce no Brasil e também ajuda a aumentar a produção de carne, a diversificar a agropecuária e a ampliar o desenvolvimento regional!
Despejando grãos de milho no reboque do trator após a colheita | Foto: Shutterstock

Apenas 5% do milho produzido se destina ao consumo humano direto, sob a forma de farinhas, fubás, angu, mingaus, pamonha, canjica, cuscuz, polenta, cremes, bolos, pipoca ou simplesmente milho cozido e assado. 
Na indústria agroalimentar, ele entra na composição de biscoitos, pães, chocolates, doces, geleias, sorvetes, maioneses, uísques e cervejas. A cerveja brasileira contém 45% de milho, em vez de cevada. 
E o milho não é transformado em álcool apenas na cerveja.
 
 O aumento mundial e generalizado dos preços dos combustíveis suscitou um interesse renovado pela alternativa dos biocombustíveis. Países como Índia, China, Indonésia, França e EUA ampliam o uso do etanol e do biodiesel. 
E desenham novos programas nacionais de produção e utilização dos biocombustíveis. 
No Brasil, o etanol e o biodiesel já são programas consolidados e de sucesso. 
O biodiesel é produzido essencialmente com óleo de soja e sebo de boi. E o etanol, a partir da cana-de-açúcar.

Desde da década de 1920, o álcool já era testado como combustível automobilístico. O grande salto ocorreu na década de 1970, quando havia também uma crise internacional de petróleo. O Brasil criou o Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, em 14 de novembro de 1975, pelo Decreto n° 76.593, com o objetivo de estimular a produção do álcool, atender às necessidades do mercado interno e externo e a política de combustíveis automotivos. O Proálcool abrangeu a produção agrícola, as destilarias, os motores, a frota automobilística, as refinarias e a distribuição.

De 1975 a 2000, foram produzidos cerca de 5,6 milhões de veículos a álcool hidratado. O programa também introduziu uma fração de álcool anidro (entre 1,1% a 25%) na gasolina pura consumida por mais de 10 milhões de veículos. Nesse período, reduziu as emissões de gás carbônico por combustíveis fósseis na ordem de 110 milhões de toneladas de carbono e a importação de aproximadamente 550 milhões de barris de petróleo, e proporcionou uma economia de divisas da ordem de US$ 11,5 bilhões. Por ser menos poluente, a qualidade do ar de grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, melhorou muito graças ao uso do etanol nos veículos ou incorporado na gasolina. Agora, um novo desenvolvimento ocorre nos biocombustíveis brasileiros: a produção de etanol a partir do milho.

A produção de etanol a partir do milho traz diversas vantagens. Com 1 tonelada de milho é possível produzir mais de 400 litros de etanol. Na cana-de-açúcar, são cerca de 85 litros por tonelada.

Há muito tempo, os EUA produzem etanol de milho, em grandes quantidades. Mais da metade do etanol do mundo (55%) é produzida nos EUA. Eles exportam cerca de 5 bilhões de litros anualmente, inclusive para o Brasil, tradicional produtor de etanol a partir de cana-de-açúcar
Aqui, a produção de etanol de milho é recente.
 

A primeira usina para produzir etanol a partir de milho foi instalada em Mato Grosso em 2012. Dez anos depois, 17 usinas de etanol de milho estão em operação: dez em Mato Grosso, cinco em Goiás, uma no Paraná e outra em São Paulo. Desse total de unidades em operação, dez são flex (tanto processam cana-de-açúcar como milho para produzir etanol) e sete são full (processam apenas milho).

A produção de etanol a partir do milho traz diversas vantagens. Com 1 tonelada de milho é possível produzir mais de 400 litros de etanol. 
Na cana-de-açúcar, são cerca de 85 litros por tonelada. 
As usinas de cana-de-açúcar só operam em parte do ano, a maioria entre maio e setembro. 
Quando a colheita da cana-de-açúcar acontece, a matéria-prima precisa ser logo transportada e processada na usina. 
Não há hipótese de armazenar cana-de-açúcar. Isso não ocorre com o milho.
 
O grão pode ser armazenado por longos períodos. Seu processamento fracionado ocorre ao longo do ano, com utilização plena dos equipamentos industriais. Em termos comparativos, uma usina de etanol de milho bem menor em capacidade de processamento produzirá tanto quanto uma maior de cana-de-açúcar por operar o ano todo
E as novas usinas flex, capazes de produzir etanol de milho e de cana-de-açúcar, trarão novas e grandes oportunidades, desenvolvimento e transformações regionais.

Com a cana, a usina tradicional produz ou etanol ou açúcar. Cerca de 140 quilos de açúcar ou 85 litros de etanol por tonelada de cana. Em geral, com exceção das destilarias, as usinas destinam aproximadamente metade de sua produção ao etanol e a outra ao açúcar, com variações em função de preços e mercados.

O processamento do milho para a geração de biocombustível não elimina a produção de coprodutos de interesse alimentar.  
As usinas de etanol de milho também produzem bioeletricidade, óleo de milho e, sobretudo, o DDG (Dried Distillers Grains), composto proteico de grande interesse comercial para uso industrial em rações animais. Esse coproduto é altamente digestível e palatável nas rações animais, e ideal para uso em confinamentos.

Com o expressivo aumento na disponibilidade desse insumo, a tendência é de queda no preço, como aconteceu nos Estados Unidos. O DDG estará cada vez mais presente nos cochos dos animais, como fonte proteica e energética em rações e concentrados.

Por ser a produção do DDG tão relevante, em diversas regiões tradicionais de produção de grãos em Mato Grosso, a implantação dessas usinas de etanol atrai a atividade pecuária, principalmente em confinamentos. 
Eles se beneficiam da proximidade com as unidades processadoras de grãos e algodão. 
Valorizam os resíduos da produção vegetal e da limpeza dos grãos e fibras (restos de vagens, folhas, capulhos de algodão, etc.) e, sobretudo, esse coproduto excepcional da produção de etanol de milho pelas usinas, o DDG. Além de poderem adquirir em excelentes condições o próprio milho e a soja para compor a alimentação do gado.

Segundo estimativas da União Nacional do Etanol de Milho (Unem), a produção de etanol de milho deverá superar 4 bilhões de litros nesta safra. Nos próximos dez anos, o país deverá ter mais nove unidades flex e 24 full. Com os projetos de construção de novas usinas de etanol é possível atingir 10 bilhões de litros por safra em 2030, um processamento da ordem de 22 milhões de toneladas de milho.

Para os agricultores localizados em regiões onde se instalaram as usinas de etanol de milho, estas são mais uma alternativa interessante de mercado. O milho, até então disputado internamente pelas indústrias agroalimentares, de ração animal e pelas traders, a fim de destiná-lo à exportação, passa agora a ser também procurado pelos produtores de etanol. O segmento do etanol de milho é muito organizado. E ampliou sua capacidade de armazenagem para garantir a continuidade na produção de etanol. Muitas usinas já compraram dos produtores a safra de milho ainda a ser plantada em 2023, para garantir a produção de etanol e de seus coprodutos.

Outro fator favorável à sustentabilidade do etanol de milho é sua incorporação ao Programa RenovaBio. Ele busca expandir a produção de biocombustíveis, fundamentada na previsibilidade e na sustentabilidade ambiental, econômica e social. É mais um incentivo à descarbonização da economia por meio do uso de biocombustíveis. O milho colabora na redução das emissões de gases de efeito estufa e o de segunda safra, dita safrinha, ainda ajuda a acumular carbono nos solos e a limitar a degradação das terras com sua cobertura vegetal no outono e no inverno.

               Milho pronto para a colheita | Foto: Shutterstock

O crescimento da produção do etanol de milho e dos coprodutos derivados é mais um caso de sucesso no agronegócio nacional. Isso produz novas oportunidades na economia, na geração e no crescimento da renda no campo e no crescimento mais sustentável em várias regiões do Brasil. Haverá cada vez mais etanol de milho no mercado. Seu carro será movido, também, por etanol de milho, além do da cana-de-açúcar. O milho, além de nos alimentar, agora nos move e dá o que falar.

[Tenham presente que se o descondenado fosse eleito uma das suas primeiras metas seria acabar com o agro negócio =  transformar o Brasil em uma Cuba, com uma passagem pela Venezuela - o péssimo e que seria uma parada de adaptação para Cuba = o horror.]

Leia também “O mundo tem fome e o Brasil, alimentos”

Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste 

 

domingo, 26 de junho de 2022

A fraude da terra - O MST quer, hoje, o que sempre quis: invadir terra para receber verba do governo - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

O MST quer, hoje, o que sempre quis: invadir terra para receber verba do governo

O ex-presidente Lula já garantiu, entre as múltiplas promessas que está fazendo na campanha eleitoral para a Presidência da República, que o MST vai ter uma posição importante no seu governo.  
É um dos seus piores projetos, caso isso seja mesmo um projeto, e não uma peça de conversa fiada para tapear a esquerda mais primitiva que viaja no seu bonde – e para atender as neuroses da porção do público urbano que se assusta com os “pecados mortais” da produção rural brasileira. 
Essa gente tem certeza de que a soja e o milho estão destruindo a Floresta Amazônica
Acha que o agronegócio “envenena a comida” dos brasileiros, com a utilização de “agrotóxicos” e outros horrores da química. 
Está convencida de que os fazendeiros perseguem os índios. 
 
Suas terras são muito grandes, mecanizadas e consumidoras de tecnologia avançada – coisas que o “pequeno proprietário” e a “agricultura familiar” não podem ter. Na verdade, o agronegócio é o oposto do que os padres, os centros acadêmicos e os artistas de novela querem para o Brasil rural: um País de “pequenas propriedades”, dedicado à produção de coisas “orgânicas”, aos métodos naturais de cultivo e capaz de obter a aprovação da menina Greta e do ator Leonardo DiCaprio. O MST finge que está nessa balada.
Ex-presidente Lula discursa durante reunião Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Março de 2022, em Londrina, no Paraná.
Ex-presidente Lula discursa durante reunião Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Março de 2022, em Londrina, no Paraná. Foto: Ricardo Chicarelli/AFP

Tudo isso é uma falsificação completa. O agronegócio é o setor mais bem-sucedido da economia brasileira, e não precisa das ideias de Lula e do PT – chegou aonde está sem eles, e só prospera com eles de longe. Quanto ao MST, pode-se dizer com segurança que a última coisa que passa pela cabeça dos seus proprietários é fazer uma reforma agrária no Brasil.  

O MST quer, hoje, o que sempre quis: invadir terra para receber verba do governo, diretamente ou por meio de ONGs, em nome da solução do “problema social no campo”. Esse problema tem de existir sempre – sem ele, os dirigentes do MST não vivem. 
Eles não querem terra para o pequeno agricultor que não tem dinheiro, nem condições, para comprar um pedaço de chão.  
Querem se entender com o Banco do Brasil. 
Nada poderia provar isso com mais clareza do que a sua posição contrária à distribuição de títulos de propriedade que vem sendo feita pelo governo. Como assim?  
O objetivo do MST não é fornecer aos sem-terra justamente isso – terra para cultivar e legalização da sua propriedade? Não: o MST acha que a terra tem de ser “coletiva”.

No governo Dilma houve 1.000 invasões. No de Lula foram 2.000. No de Fernando Henrique foram 2.500inclusive a fazenda do próprio presidente. Em 2021, foram 11 e, ao todo, de 2018 para cá, apenas 24. Não é preciso dizer mais muita coisa.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 24 de maio de 2022

Fome no mundo - Solução para crise alimentar que se aproxima está no Brasil - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo - VOZES

Anuncia-se entre os bem alimentados da Terra, com grande aflição, uma crise de escala mundial na produção, oferta e distribuição de alimentos. Essa falta ou escassez de comida estaria próxima, ou já chegou; mais e mais, nos próximos meses, populações inteiras estarão passando fome. É o que se prevê por aí.

crise alimentar

Somente 10% do território brasileiro é utilizado para fins de agricultura| Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo

O secretário-geral da ONU, que faz declarações ainda publicadas pela mídia, falou de suas “preocupações” com o assunto. Uma revista de circulação internacional, considerada até alguns anos atrás como uma das principais fontes de sabedoria da humanidade, anunciou a vinda, em breve, de uma “catástrofe”. Os burocratas mais graúdos das entidades internacionais pagas para promover o bem-estar do mundo falam que a situação “é grave”.

Moro vira réu em ação de petistas contra a atuação do ex-juiz na Lava Jato

O sistema eleitoral brasileiro é perverso

 A fome, dessa vez, não vem por causa da seca na África, ou de alguma desgraça natural no terceiro mundo; 
as vítimas, da mesma forma, não são apenas as populações miseráveis de sempre, amontoadas em barracas no meio do nada, com direito à exibição no horário nobre de crianças à beira da inanição e de gente com físico e cara de campo de concentração.

Agora, segundo o consenso geral, o principal detonador da crise é a guerra na Ucrânia e os atingidos, eventualmente, poderiam ser estômagos brancos, globalistas e revoltados com o aquecimento da calota polar. Sua produção, que tem um peso importante no abastecimento de trigo e de óleos vegetais para a Europa, está em colapso; os embarques internacionais estão parados por causa do bloqueio dos principais portos de exportação do país. [bloqueio de portos é um dos muitos ônus de uma guerra.]

A crise alimentar que se anuncia equivale a um curso de pós-graduação na estupidez fundamental com que os países ricos se acostumaram a tratar a questão alimentar “no planeta”, como costumam dizer suas multidões de ambientalistas.

Basicamente
, e de um modo geral, as lideranças do primeiro mundo querem restringir ao máximo a produção agrícola e pecuária, em favor de uma suposta necessidade de “salvar a natureza” e de alimentar a população com “comida orgânica”, virtuosa e nutricionalmente correta. Ao mesmo tempo, querem que não haja nenhum tipo de fome no mundo.

É uma proposição impossível
. Com 8 bilhões de pessoas que precisam comer três vezes por dia, a única saída é fazer o contrário do que as sociedades ricas estão querendo – é produzir muito mais e muito melhor.

O Brasil, nesta equação, é um elemento-chave – e um exemplo notável de como a questão está sendo malversada. O agronegócio brasileiro, hoje, é fundamental para alimentar o mundo, mas é tratado pelos governos e elites da Europa e dos Estados Unidos como um inimigo da humanidade; nossa soja, milho e carnes estariam destruindo a “Amazônia” e ameaçando “o clima mundial”, razões pelas quais a produção nacional tem de ser “contida” imediatamente.

Na calamidade alimentar que se anuncia para breve, o Brasil deveria estar sendo tratado como o principal fator de esperança para sairmos todos vivos ao fim da história. Deveria, mais do que tudo, estar sendo apoiado com o máximo de empenho pelo mundo desenvolvido; somos a possibilidade de solução, não o problema. Mas não é assim que está sendo.

Hoje em dia quem determina a política mundial em relação à produção rural brasileira, e todas as questões ambientais, socioeconômicas e políticas existentes em relação a ela, são o ator Leonardo di Caprio, a índia Guajajara e os militantes de ONGs e facções da esquerda radical
A mídia mundial em peso, com a colaboração integral da brasileira, assina em baixo. 
Governos, entidades e grandes empresas estrangeiras dizem abertamente que o agronegócio brasileiro precisa ser “detido”.

O presidente da França propõe, publicamente, a amputação de 5 milhões de quilômetros quadrados de território do Brasil – quer “internacionalizar” a Amazônia, que na sua opinião está em chamas e impede o resto do mundo de respirar. Não recebeu sequer uma carta de protesto pelo que disse.[esse presidente francês é desorientado, um sem noção - já chegou a propor plantar alimentos, especialmente soja, em jardins suspensos. Tal proposta diz tudo sobre ele. A proposta de 'internacionalizar' a Amazônia - tornar terra de ninguém - é mais uma estultice das que ele expele regularmente. ]

Os países ricos, as multinacionais e as milícias ambientais “do planeta” têm diante de si uma realidade chocante: 
o Brasil, hoje, é um dos dois ou três maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo e, para conseguir isso, ocupa menos de 10% dos seus 850 milhões de hectares. 
O que aconteceria – ou melhor, o que acontecerá – com a sua posição mundial se passar a ocupar apenas 20% do território nacional, por exemplo?
 
É perfeitamente sabido, da mesma forma, que o Brasil não precisará tocar em uma única árvore da Amazônia para dobrar, ou triplicar, sua produção rural
o cultivo de soja e milho, os principais produtos da agricultura brasileira, não tem absolutamente nada a ver com a floresta amazônica, e continuará não tendo. Até quando, então, será possível sustentar a mentira que o agronegócio brasileiro está “queimando árvores” e cometendo outros crimes ambientais?
 
A crise alimentar está aí, pelas razões que se sabe – entre elas, a limitação das áreas que podem ser aproveitadas para a agricultura nos cinco continentes. 
O Brasil é um dos poucos países do mundo que não tem esses limites. Pode, portanto, ajudar a si e a todos – se obedecer a lógica, não se dobrar a manifestos de artistas e fizer as coisas certas.
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

terça-feira, 10 de maio de 2022

Zelensky pede fim de bloqueio portuário para evitar crise alimentar global

Importante fonte de trigo e milho, Ucrânia é conhecida como 'celeiro da Europa' e exporta para países do Oriente Médio e Norte da África

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, fez um apelo à comunidade internacional por medidas imediatas para acabar com o bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia, um dos maiores produtores de trigo no mundo. O líder ucraniano alertou que os ataques russos à região portuária de Odessa, atingida por mísseis na segunda-feira, 9, afetam as exportações de grãos e podem gerar uma crise alimentar global. “Pela primeira vez em décadas não há movimento normal da frota mercante, nenhum porto está funcionando normalmente em Odessa”, disse Zelensky nesta terça-feira, afirmando que a crise na região portuária da Ucrânia é a pior desde a Segunda Guerra Mundial.

As declarações do presidente ocorrem um dia após mísseis russos atingirem um shopping center e um depósito nos arredores do porto do Mar Negro, uma das principais portas de entrada da Ucrânia para o mundo. De acordo com as Forças Armadas ucranianas, uma pessoa morreu e cinco ficaram feridas durante o ataque.

O incidente interrompeu uma reunião entre Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e o primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, forçando-os a entrar em um abrigo antiaéreo. Michel disse ao The Guardian que viu armazéns cheios de grãos, trigo e milho impossibilitados de exportar. “Este alimento tão necessário está retido por causa da guerra russa e do bloqueio dos portos do Mar Negro, causando consequências dramáticas para os países vulneráveis”, disse ele. A autoridade da União Europeia acrescentou que é necessária uma “resposta global” aos ataques. [comentando: a leitura da presente matéria deixa a impressão que o ex-comediante que o povo ucraniano escolheu para presidir seu país, considera uma guerra uma comédia, uma brincadeira de faz de conta.
É necessário que aquele senhor entenda que GUERRA é GUERRA. 
Óbvio que por razões humanitárias algumas práticas são terminantemente proibidasensejando sérias punições aos que a praticam; destacamos, sem intenção de limitar:  - ataques a mulheres, crianças, idosos, asilos e orfanatos, escolas, hospitais, atos cruéis sejam contra a população civil ou militares prisioneiros, uso de determinadas armas.
Fora tais restrições o direito de ataque às instalações militares, aeroportos e portos, pontes, bloqueio naval, aéreo, terrestre, ataques a indústrias, restrições à livre circulação de mercadoria, tudo é válido. 
Esta longa introdução é para mostrar que o senhor Zelenski continua promovendo uma guerra na qual seu objetivo é que outros combatam pela Ucrânia.  
Uma das suas mais recentes artimanhas é apelar à comunidade internacional por medidas imediatas para acabar com o bloqueio da Rússia aos portos da Ucrânia.  Que o senhor Zelenski entende por uma guerra??? O bravo povo da Ucrânia morrendo e o seu presidente fazendo discursos virtuais em parlamentos? ]

Ucrânia é conhecida como o “celeiro da Europa” e é uma importante fonte de trigo e milho especialmente para países do Oriente Médio e Norte da África, que dependem de importações. A provável quebra da colheita neste ano pode ter grandes repercussões, diminuindo a oferta e elevando os preços de produtos agrícolas importantes. Segundo o Banco Mundial, a guerra causará o maior choque das commodities em 50 anos. “Sem nossas exportações agrícolas, dezenas de países em diferentes partes do mundo já estão à beira da escassez de alimentos. E com o tempo, a situação pode se tornar absolutamente terrível”, alertou Zelensky.

O chefe de Estado ucraniano apontou que o risco de uma crise alimentar global é uma consequência direta da agressão russa e, portanto, a situação só poderia ser superada com uma ação conjunta de todos os países europeus. Diversas partes da cidade portuária de Odessa, ponto crucial da economia ucraniana, vem sofrendo a ofensiva da Rússia. No final de abril, mais de quarenta pessoas morreram em um incêndio de uma sede sindical da cidade. Informações do Ministério do Interior da região indicaram que o incidente foi provocado por um confronto entre separatistas pró-Rússia entrincheirados dentro do prédio e grupos pró-Kiev.

O aeroporto de Odessa também foi alvo de mísseis no dia 30 de abril. O ataque gerou estragos na pista de pouso e decolagem.  A cidade de Odessa, localizada no sul do país, é a quarta maior da Ucrânia e era uma das poucas afetadas pela guerra. Contudo, nas últimas semanas, a área no sul do país virou alvo dos russos por ser considerada estratégica para o avanço das tropas para a Transnístria, região separatista pró-Rússia na Moldávia.

Em março, o presidente da Ucrânia apontou planos de Putin para atacar a cidade, que abriga cerca de um milhão de pessoas. “Estão se preparando para bombardear Odessa. Será um crime militar. Será um crime histórico”, especulou Zelensky na ocasião. A tomada de Odessa por Vladimir Putin seria um passo decisivo ao controle total do sul ucraniano por Moscou, inviabilizando o acesso do governo de Kiev ao Mar Negro.

 Mundo - Revista VEJA


quarta-feira, 13 de abril de 2022

O Brasil não precisa importar trigo - Evaristo de Miranda

Revista Oeste

A Embrapa Territorial identificou quase 3 milhões de hectares com condições favoráveis para a triticultura nos cerrados brasileiros

Plantação de trigo | Foto: Shutterstock 

 Plantação de trigo | Foto: Shutterstock

Companheiro! Hoje, essa expressão possui tons políticos. Seu significado literal evoca aquele com quem compartilhamos o pão (cum panis). O pão é um dos maiores símbolos da alimentação humana. É alimento material e espiritual. Como na metonímia, o pão nosso de cada dia. O Cristianismo considera Jesus Cristo o Pão da Vida (Jo 6,48) e associa Pai Nosso (ORAÇÃO) e Pão Nosso (EUCARISTIA). A fabricação do pão é simples: farinha de trigo amassada com água e um pouco de sal. A massa com levedura descansa, cresce e vai a um forno com temperaturas altas. Quando falta trigo, falta pão. E não só. A farinha de trigo é a base de macarrões, bolachas, bolos, pizzas, pastéis, pudins, bolinhos…

O trigo é o segundo cereal mais cultivado e produzido no mundo, depois do milho. E é também o segundo cereal em consumo humano, depois do arroz. Mais de 70% do trigo é destinado à alimentação humana, enquanto boa parte do milho é usada na produção de etanol, ração animal e outras finalidades não alimentares. O trigo é a principal fonte de calorias em mais de 80 países. O Brasil, grande produtor e exportador de alimentos, depende de importações de trigo.

Em 2021, houve uma exportação recorde de mais de 2 milhões de toneladas de trigo brasileiro

O Brasil é o sétimo importador mundial de trigo e compra na ordem de 7 milhões de toneladas por ano, essencialmente da Argentina (85%). Foram quase US$ 3 bilhões, apenas em 2021, enviados ao exterior para não faltar pão nem macarrão. Em 2021, o país plantou 2,74 milhões de hectares de trigo e colheu 7,7 milhões de toneladas. Uma safra recorde. O consumo interno foi de 12,5 milhões. A atual produção brasileira atende mais da metade da demanda interna.

Os cinco principais exportadores de trigo são Rússia, Estados Unidos, União Europeia, Ucrânia e Argentina. A produção mundial em 2020 foi da ordem de 770 milhões de toneladas, cultivados em cerca de 219 milhões de hectares. Rússia e Ucrânia representam juntas cerca de um terço do trigo exportado no mundo e são os grandes fornecedores da África do Norte. A Ucrânia é o quarto exportador de trigo. A guerra elevou o preço internacional do trigo em mais de 30%.

Moinhos, indústria agroalimentar e de rações relutam em pagar por aqui as valorizações refletidas do mercado internacional pela guerra para os cereais. O milho está em patamares próximos das máximas históricas no Brasil. As cotações do trigo atingiram o maior valor em 14 anos. O mercado interno anda devagar, à espera de alguma pouco provável acomodação nos preços.

O Brasil também exporta trigo. Milhões de toneladas. Todo santo ano. Em 2021, por razões logísticas e econômicas, houve uma exportação recorde de mais de 2 milhões de toneladas de trigo brasileiro. E a exportação prossegue em 2022. Razões de mercado não faltam, e a guerra na Ucrânia ajuda.

Com câmbio favorável e um mercado interno em marcha lenta, a exportação de trigo atingiu volumes nunca vistos. A estimativa de exportação de trigo do Brasil no período 2021/22 (de agosto a julho) foi revisada de 2,5 para 2,7 milhões de toneladas. De dezembro de 2021 a fevereiro de 2022, os embarques de trigo somaram cerca de 2 milhões de toneladas, o dobro do volume de todo o ano passado. Em todo o mundo, a guerra ampliou a exportação de trigo em 25%.

Isso comprometeu a disponibilidade interna e as margens dos moinhos. Logo, o Brasil só contará com as importações para atender à demanda interna, até a nova safra, em setembro. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa, o Brasil vive o livre mercado. Isso proporciona exportações na conjuntura atual e estimula a ampliação do plantio na nova safra. Em 2022, o Brasil semeará 3,6 milhões de hectares, a maior área dos últimos 36 anos. Se o clima ajudar e a produtividade média atingir 3 toneladas por hectare, a produção nacional se aproximará de 10 milhões de toneladas.

O trigo pode seguir o caminho da soja e do milho nas últimas décadas. Em 20 anos, o Brasil passou de 35 milhões de toneladas de milho por ano para cerca de 120 milhões. Para a Embrapa Trigo, limitados unicamente ao mercado interno, os triticultores tinham poucos incentivos. Agora, os preços externos elevados dão sustentação aos preços internos. A demanda da indústria brasileira é boa e oferece garantias aos produtores. A Argentina, principal exportador para o Brasil, está diversificando seus mercados. O Brasil tem boas oportunidades para ampliar a exportação ao mercado africano.

Plantação de trigo em Cascavel, Paraná - Foto: Shutterstock

As regiões tradicionais no Paraná enfrentam dificuldades para expandir a área de trigo. Os cultivos de inverno ocupam apenas 20% das áreas cultivadas no verão. Já no Rio Grande do Sul, a área poderá crescer em até 30% em 2022. A Embrapa, junto com o setor privado, lidera a expansão de área e o aumento da produtividade do trigo tropical. Minas Gerais e Goiás expandiram em mais de três vezes a área cultivada entre 2012 e 2020, e ultrapassaram 100 mil hectares.

Experimentos da Embrapa e parceiros comprovam o potencial de produção de trigo tropical de sequeiro no Norte e no Nordeste, como em Roraima, Piauí, Maranhão, Alagoas e Ceará. Algo inimaginável tempos atrás. É a capacidade científica de adaptar o trigo às condições tropicais, como foi feito para a soja, com variedades adaptadas até ao clima equatorial. E essa expansão poderá ocorrer sem implicar novos desmatamentos, em áreas já utilizadas nos cerrados com a produção de grãos. A Embrapa Territorial identificou 2,7 milhões de hectares com condições favoráveis para a triticultura nos cerrados brasileiros.

A produtividade do trigo aumenta constantemente. Na década de 1990, a média era de 1,5 tonelada/hectare (ton/ha). Na de 2000, chegou a 2,5 ton/ha, quase 70% a mais. Hoje, as melhores lavouras já superam 5 ton/ha nas regiões produtoras. No Cerrado, sob irrigação, com variedades da Embrapa, como a BRS 264, produtores atingem mais de 9 ton/ha. Paulo Bonato, de Cristalina (GO), colheu 9,63 ton/ha em 2021, um recorde mundial de produtividade. O trigo avança, graças às melhores tecnologias de produção, ao empreendedorismo e à competência dos agricultores.

A conhecida expressão “pão e circo” (panem et circenses) foi usada pelo poeta satírico romano Juvenal (Decimus Iunius Iuvenalis) para denunciar a distribuição de pão e a organização de jogos pelos imperadores romanos para desviar a atenção dos cidadãos de outras preocupações importantes. No circo político atual do Brasil, o pão tem sido usado para desviar a atenção dos legítimos problemas e de suas verdadeiras soluções. A falta de trigo derivada da guerra neste momento é estimada em menos de 1% do cultivo global. E a  produção de trigo no Brasil já é grande e pode avançar mais e rapidamente. Isso é relevante.

Para o presidente da Embrapa, Celso Moretti, tempos de guerra relembram a importância da segurança nacional, e isso inclui a segurança alimentar e a necessária autossuficiência brasileira na produção de trigo. O país deve adotar as políticas e os mecanismos necessários para expandir a produção tritícola. Não há solução mágica. O Ministério da Agricultura aprovou um plano da Embrapa Trigo para expansão da produção da triticultura no Cerrado. Os recursos previstos de R$ 2,9 milhões fomentarão ações por 36 meses. Os objetivos são: aumentar a área cultivada em 40% até 2025, de 252.000 hectares, em 2021, para 353.000 hectares; capacitar 70 assistentes técnicos; produzir 1.760 toneladas de sementes no período; apoiar dias de campo, unidades demonstrativas, lavouras expositivas e visitas técnicas, além de fóruns e reuniões de pesquisa.

As ações de pesquisa e transferência de tecnologia serão em São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, além do Distrito Federal. Deveriam complementar essas ações, melhorias na logística, impostos equilibrados e incentivos aos setores envolvidos, da produção à pós-colheita.

Pão de hoje, carne de ontem e vinho de outro verão fazem o homem são, diz o adágio latino. Carnem hesternam, panem hodiernum, annotina vina, sume libens dicto tempore, sanus eris. A sanidade alimentar está ao alcance de tratores e mãos dos produtores brasileiros. Sus! A Embrapa estima ser possível produzir até 22 milhões de toneladas/ano de trigo no Brasil. Isso triplicará a produção atual e tornará o país um dos dez maiores exportadores de trigo. Sus! O Brasil tem tecnologia e produtores preparados. Precisa subir no barco certo. Já dizia Gil Vicente no Auto da Barca do Inferno: “Companheiro… Sus, sus! Demos à vela!”.

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Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste

 

quinta-feira, 17 de março de 2022

“O Brasil vai alimentar o mundo”

 Revista Oeste

Para Celso Moretti, presidente da Embrapa, está na hora de o país sair do corner e ir para o centro do ringue brigar pela verdade quando o assunto é produção agropecuária e preservação ambiental 


Celso Moretti, presidente da Embrapa | Foto: Jorge Duarte/ EMBRAPA
Celso Moretti, presidente da Embrapa -  Foto: Jorge Duarte/ EMBRAPA
 
“Vivo repetindo para a minha equipe que precisamos fazer três coisas: comunicar, comunicar e comunicar”, explica Celso Moretti, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desde julho de 2019. Engenheiro-agrônomo com mestrado e doutorado em produção vegetal, ele tem uma certeza quando fala sobre meio ambiente e agronegócio brasileiros: “Nós perdemos a batalha da narrativa”, diz. “Não fomos capazes de deixar claro que podemos produzir sem desmatar.”

Mas ele não renuncia à briga. Em Copenhague, passou uma hora tentando explicar a uma dona de casa que a Amazônia não pode ser considerada o pulmão do mundo também porque é uma floresta muito antiga. Ainda na capital da Dinamarca, almoçou com militantes que tentaram impedir sua palestra bloqueando a entrada com cartazes que culpavam o Brasil pelas mudanças climáticas. E, em Bangladesh, não sossegou até provar na conversa com um taxista que a Amazônia estava muito longe da destruição.

Sempre decidido a restabelecer a verdade sobre a agricultura e a pecuária brasileiras
, ele voltou a Dubai nesta semana. Há menos de um mês, durante a Expo Dubai, 114 empresas brasileiras negociaram mais de US$ 1 bilhão em proteína animal. “Estamos há anos no corner, tomando direto no fígado e só nos defendendo”, observa. “Está na hora de ir para o centro do ringue. Fornecemos comida para mais de 800 milhões de pessoas, usando menos de 30% do território. A verdade é que o Brasil vai alimentar o mundo.”

Confira os principais trechos da entrevista.

Como foi o desempenho do Brasil na Expo Dubai?

Além da Expo 2020 Dubai, participei da Gulfood, a maior feira de alimentos e bebidas do Oriente, onde estavam presentes 114 empresas brasileiras. Do ponto de vista dos negócios, foi fantástico para o Brasil, principalmente na área de carne bovina e proteína animal, que para os países árabes são frangos e patos, já que eles não comem suínos. Foram fechados negócios de mais de US$ 1 bilhão nos próximos 12 meses. Estavam presentes a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). Conseguimos também desmistificar muitas coisas durante o evento.

Quais são os principais mitos que envolvem o agronegócio brasileiro?

Destacaria os assuntos ligados à preservação ambiental. O desmatamento ilegal precisa ser tratado como caso de polícia, não no âmbito do agronegócio. Posso garantir que cerca de 99% dos produtores rurais brasileiros respeitam a legislação. Gosto de três frases do William Edwards Deming, cientista de dados norte-americano, que prestou consultoria para a indústria japonesa durante muitos anos. Primeira: “Quem não mede não gerencia”. Ou seja, se você não tem indicadores para medir o seu desempenho, você não consegue gerenciar uma empresa, um negócio, ou a Embrapa, por exemplo. As outras duas são: “Em Deus nós acreditamos. Todos os outros têm que trazer dados”; e “Sem dados, você só é mais uma pessoa com opinião”. O que eu falo é baseado em dados, não há achismo.

O Brasil realmente consegue conciliar produção com preservação do meio ambiente?
Segundo dados tanto da Nasa quanto da Embrapa, o Brasil utiliza menos de 8% do seu território para a produção de grãos e outros cerca de 20% são pastagens, sejam nativas sejam plantadas. Somado tudo, usamos algo em torno de 30% do território para alimentar 800 milhões de pessoas por ano no mundo. 
Ao mesmo tempo, protegemos dois terços do país: mais de 65%. E essas não são só informações nossas. Recentemente, o Mapbiomas, que tem a Google por trás, confirmou esse número. Classifico quem critica o Brasil em três grandes grupos. Os desinformados, que simplesmente não têm acesso à informação; os bobos úteis, que recebem a informação errada e a multiplicam; e existem também os que participam de um jogo comercial pesado. Por exemplo: há três anos, a rede de supermercados Tesco, uma das maiores da Europa, interrompeu a compra de carne brasileira, sob o argumento de que ela, além de não ser rastreada, era produto do desmatamento. Ao almoçar com um diretor deles, mostrei que conseguíamos rastrear do rebanho ao bife que está na gôndola do supermercado. Mas não adianta. É uma propagação de mentiras. Nós perdemos a batalha da narrativa. Não fomos capazes de deixar claro que podemos produzir sem desmatar.

“Hoje, usamos pouco mais de 70 milhões de hectares para a produção de grãos. Mas temos a capacidade de no mínimo dobrar essa área”

Como fomos capazes de perder essa batalha?
Faltou organização do agronegócio. E eu me incluo nisso. Em vez de reagir, de ter uma postura proativa, ainda estamos no corner, tomando direto no fígado, no queixo. Só nos defendendo. Poderíamos estar no meio do ringue distribuindo pancada. Nós alimentamos 800 milhões de pessoas usando menos de 30% do território. Enquanto o mundo está falando em descarbonizar, a agricultura brasileira já é descarbonizada há mais de duas décadas. Faltou as diferentes empresas se juntarem para fazer um branding Brasil.

De tanto levar pancada, o Brasil está cada vez mais acuado?
Não sei se é medo. Parece algo antropológico, essa síndrome de vira-lata. No agro, somos líderes globais. Somos uma potência agroambiental. O Brasil passou muitos anos olhando só para o seu umbigo. Aqui na Embrapa, tenho falado para o meu time que a arena agora é global e é lá que vamos jogar. Nenhum país é mais competente que nós no mundo tropical. Temos de mostrar isso. Ver quem está batendo e conversar. Sentar com representantes dos jornais Le Monde e Le Figaro, por exemplo, e fazer um seminário para eles. Mais do que a qualidade da alimentação, o problema do planeta ainda é a alimentação em si. Quase 1 bilhão de pessoas vivem hoje com menos de US$ 2 por dia. É preciso ofertar comida para essa gente.

Os países europeus sentem medo da potência do agro brasileiro?
A verdade é que o Brasil vai alimentar o mundo.
 
Hoje, usamos pouco mais de 70 milhões de hectares para a produção de grãos. Mas temos a capacidade de no mínimo dobrar essa área. 
E não estou falando da Amazônia, mas de terras localizadas principalmente no Nordeste e Centro-Sul do país.  
Imagina como isso não incomoda um produtor de leite do interior da França, por exemplo. Ele nunca vai conseguir competir com o produtor brasileiro na hora em que decidirmos começar a exportar leite. Existe um jogo comercial pesado. E só conseguiremos vencê-lo com muita comunicação. Falo para a minha equipe que precisamos fazer três coisas: comunicar, comunicar e comunicar.

Como o agronegócio brasileiro será afetado pela invasão da Ucrânia pela Rússia?
Depende muito da duração do conflito. Uma das grandes preocupações diz respeito à dependência que temos dos fertilizantes. Estamos alertando para isso há pelo menos duas décadas. No ano passado, importamos 85% dos fertilizantes para soja, milho e algodão. Não é possível depender totalmente de um insumo tão importante. Cerca de 50% do potássio que utilizamos vem da Rússia e de Belarus.

O Brasil sempre dependeu tanto da importação de fertilizantes? Quando começou essa dependência?
No início dos anos 2000, o governo Fernando Henrique Cardoso tirou todos os impostos para a importação de fertilizantes. Assim, ficou mais barato importar do que produzir. Para mim, isso é falta de visão de futuro. Os Emirados Árabes, por exemplo, pensam o país para os próximos 30, 40 anos, não a curto prazo. Se tivéssemos a mesma capacidade de planejamento, não teríamos deixado isso acontecer. Até pouco tempo atrás, a Petrobras estava trabalhando na produção de adubo nitrogenado, mas por uma série de questões decidiu-se que a estatal não produziria mais amônia. Em Altazes, no Pará, temos uma reserva de potássio gigantesca, mas para explorá-la é preciso destravar as questões ambientais.

O que a Embrapa tem feito para que as consequências da guerra afetem menos possível o agronegócio brasileiro?
A Embrapa começará agora a caravana FertiBrasil. Vamos percorrer 30 polos agrícolas do país para ensinar ao produtor eficiência no uso de fertilizantes. Até setembro, nosso objetivo é aumentar essa eficiência de 60% para 70%. Isso pode significar uma economia na próxima safra de US$ 1 bilhão em custo de produção. Muitos produtores utilizam receitas prontas para aplicar adubos no solo. Uma receita mágica é a fórmula 4, 14, 8 (4 partes de nitrogênio para 14 de fósforo e 8 de potássio). Com ela, você até fornece o que a planta precisa de comida. Mas, em vez de fazer isso, é muito melhor analisar o solo e ver exatamente do que ele precisa, dependendo da cultura plantada ali. Dando esse tipo de informação, o produtor brasileiro pode ser muito mais eficiente no uso de fertilizantes.

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Branca Nunes, jornalista - Revista Oeste



terça-feira, 8 de junho de 2021

O sequestro da bandeira ambiental - Revista Oeste

 Ana Brambilla

A fantasia que apresenta o agronegócio como o grande predador ambiental é fruto de uma miopia estimulada pela desinformação semeada por uma esquerda carente de causas relevantes

A militância de sofá não é um fenômeno recente, mas ganhou força quando a esquerda sequestrou a causa da preservação ambiental. Historicamente marcada pelo idealismo radical, pelo estímulo do conflito e pela terceirização da culpa, a narrativa marxista enxergou nos problemas climáticos o hospedeiro perfeito a parasitar. Além da institucionalização do discurso de gênero e das cotas raciais, salvar o mundo das mãos “predatórias” do capitalismo tem sido objeto de autopromoção de uma esquerda desmoralizada pelo fracasso do regime socialista em todo o mundo.

O tom beligerante dos pregadores da luta de classes persiste nas novas frentes de batalha. Não é diferente com a preservação climática. É mais fácil acusar governos democraticamente eleitos e produtores rurais pelos problemas de escala global do que experimentar a cooperação e fazer algo pelo bairro onde se vive. Ou como escreveu Rodrigo Constantino, colunista da Revista Oeste: “É muito mais fácil ‘salvar o planeta’ do que arrumar o quarto”.

Fantasiado de virtuoso, o estandarte vermelho do clima é erguido por ambientalistas, economistas e bilionários donos de big techs, que exigem da humanidade sacrifícios estruturais enquanto desfilam em Davos a bordo de carros elétricos de US$ 140 mil. A nova esquerda nada tem de proletária. É formada por uma elite intelectual que povoa boa parte do ambiente acadêmico e entidades como ONU, OMS e Unicef.

Acampadas no poder sem a representatividade do voto popular, autoridades à frente de organizações transnacionais buscam reduzir a soberania dos Estados-nação e confiscar o direito de decidir os rumos da economia e do estilo de vida do planeta. Ao exigir o fim da emissão de carbono até 2050 e a eliminação do consumo de proteína animal, a militância tecnocrata desconsidera os bloqueios ao consumo e os riscos à sobrevivência trazidos por medidas como essas.

Embora cereais como o milho e o arroz ajudem as populações mais pobres a manter os índices mínimos de nutrição, jamais poderão ser equiparados aos níveis ideais de caloria fornecida por alimentos de origem animal. Para além do consumo de carnes e laticínios, a participação do gado no cultivo agrícola é fundamental, uma vez que o estrume fertiliza o solo em benefício do homem e do próprio animal.

Caberia questionar se as elites germânicas sobreviveriam sem as salsichas bock e se os franceses renunciariam ao steak tartare, ou, ainda, se os suíços manteriam o padrão dos chocolates sem usar leite de vaca.

Outro obstáculo dificulta a adoção da dieta vegana: a tecnologia necessária para a produção de opções à proteína animal não está presente na maioria dos países mais assolados pela fome. Segundo o Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável, algumas regiões da África manipulam a proteína animal até 20 vezes menos do que em nações desenvolvidas. Em um cenário onde qualquer comida já é escassa, como exigir que a carne disponível seja substituída por sua redentorasintética”, produzida em laboratório sob as bênçãos de Bill Gates, cujo preço chega a 50 dólares por um nugget?

O manual progressista de preservação ambiental nega os princípios de justiça social que seus defensores juram prezar. A um trabalhador, de nada adianta crescer economicamente à custa do próprio esforço, comumente atrelado a políticas liberais: quando ele tiver dinheiro para um churrasco no fim de semana com a família, será impedido de comprar carne. Caberia questionar se as elites germânicas sobreviveriam sem as salsichas bock, ou se os franceses renunciariam ao steak tartare, ou, ainda, se os suíços manteriam o padrão dos chocolates sem usar leite de vaca. Os europeus consomem o dobro de carne e três vezes mais laticínios do que a média mundial.

O engenheiro-agrônomo Xico Graziano, professor da Fundação Getulio Vargas, lembra que um estudo da FAO, organização das Nações Unidas, prevê o aumento no consumo de carne até 2050 — não a estagnação, muito menos a redução. “Adquirir e consumir proteína animal é um direito das populações mais pobres na busca por melhorar sua qualidade de vida”, diz Graziano. “Querer acabar com o consumo de proteína animal é uma coisa retrógrada, que interessa a uma elite.”

A ONU estima que a pecuária responda por cerca de 15% das emissões de carbono na atmosfera, uma fatia que não deve ser menosprezada. A prática também é apontada como uma das principais culpadas pela liberação de outro gás de alto poder de aquecimento da atmosfera: o metano. A substância, diretamente relacionada ao efeito estufa, é produto da ruminação do pasto pelo gado. Especialmente nos últimos 20 anos, porém, sistemas de criação modernos alimentam os animais com pastagens melhoradas e rações suplementares que reduzem 30% do metano eliminado por quilo de carne produzida. Quem explica a transformação tecnológica por trás deste processo é Graziano. Segundo o engenheiro-agrônomo, rações energéticas e ricas em proteína respondem de forma crescente pela alimentação do gado, fazendo com que sobre mais pasto para realizar o “sequestro de carbono” emitido pela criação. O desaparecimento da carne no mercado seria inclusive nocivo à preservação ambiental.

Além disso, a atividade está inserida no agronegócio, um dos mais fortes motores da economia mundial. Criar barreiras para criadores pode gerar um efeito dominó prejudicial a outros setores econômicos. No compromisso militante de apontar culpados, os especialistas da ONU ignoram que o agronegócio é uma das atividades mais comprometidas com a preservação ambiental. No Brasil, o setor agropecuário é responsável pela preservação de mais de 26% das matas nativas

A fantasia que apresenta o agronegócio como o grande predador ambiental é fruto de uma miopia histórica estimulada pela desinformação semeada por uma esquerda carente de causas relevantes. Desde o Brasil imperial, a Coroa portuguesa já se mostrava preocupada e, efetivamente, ocupada com a manutenção da mata nativa. Sob ameaça de pena de morte àqueles que descumprissem a lei de preservação, nossos colonizadores garantiram que a vegetação permanecesse praticamente intacta até o fim do século 19. Apesar de as crianças aprenderem já no ensino infantil que a exploração do pau-brasil devastou as terras brasileiras, foi apenas no fim do século 20 que a Mata Atlântica perdeu cerca de 1 milhão de hectares — mais do que toda a área desmatada durante o período colonial, como mostra Evaristo de Miranda, colunista da Revista Oeste e chefe-geral da Embrapa Territorial.

Não se trata de negar que o meio ambiente exige cuidados e que os recursos naturais precisam ser preservados. Ao contrário: a sobrevivência humana depende da saúde do planeta e somente pessoas inconsequentes não cuidariam da manutenção da própria espécie. O que falta ao debate sobre a “economia verde” é que os atores envolvidos reconheçam que a causa não é nova, tampouco tem raízes nos movimentos de esquerda. A história do Brasil é apenas uma das evidências de que essa é uma pauta conservadora em sua essência.

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Revista Oeste - Ana Brambilla

 

segunda-feira, 1 de março de 2021

Que tal a Europa aplicar as regras que o produtor rural é obrigado a obedecer aqu.? - O Estado de S. Paulo

‘Zona húmida’
Se o agronegócio e o governo brasileiros soubessem se defender um pouco melhor na guerra religiosa, e em geral suja, que há anos se dedica a destruir o sucesso da agricultura e da pecuária do Brasil nos mercados mundiais, bem que poderiam propor aos países europeus, os mais excitados em traficar a crença de que a soja e o boi estão acabando com “a Amazônia”, uma nova abordagem para este negócio todo. 
Que tal, a partir de agora, a França, a Alemanha, a Inglaterra e outros passarem a aplicar em todas as suas propriedades agrícolas as mesmas regras e as leis que o produtor rural brasileiro é obrigado a obedecer aqui dentro – e obedece mesmo, ponto por ponto, sob pena de perder o seu negócio? 

Pelo que dizem lá fora da gente, não deveria haver problema nenhum em se fazer isso, não é mesmo? Afinal, presidentes da República, primeiros-ministros, reis, rainhas, os funcionários que mandam nas organizações públicas, mais as classes intelectuais e a mídia, repetem há anos que o Brasil é uma terra de ninguém em termos de responsabilidade ambiental; aqui vale tudo. Bandos de bilionários andam por aí derrubando uma floresta por dia para socar soja, milho e boi em cima. 
Não há lei nenhuma para controlar essa gente. 
Os governos deixam fazer tudo – o governo atual, então, praticamente organiza incêndios no Pantanal e está mandando derrubar as últimas árvores da Amazônia. Em suma: é nisso que acreditam, ou que fingem acreditar. 

Nesse caso, aplicar a lei brasileira na Europa não iria incomodar ninguém; tudo continuaria, lá, exatamente como é agora, pois leis que não existem não mudam nada. Não é assim? Mas aí é que está: as leis ambientais brasileiras existem, estão entre as mais duras do mundo e, se um dia pudessem ser aplicadas na agricultura e na pecuária dos países europeus, provocariam uma revolução.

Apenas uma exigência, uma só, à qual o produtor rural brasileiro já se acostumou, como está acostumado com o sol e a chuva: 20% da área de todas as propriedades rurais brasileiras (mais que isso, dependendo da região) têm de ser reservadas para matas
O proprietário não pode tirar um galho de árvore nenhuma. Não pode ganhar um tostão com esse quinto da sua propriedade. Mais: se não houver mato na sua terra, tem de plantar, com dinheiro do seu próprio bolso, ou então comprar, também com dinheiro do seu próprio bolso, uma nova área só com árvores para juntar à sua terra. É óbvio que não recebe nenhuma compensação do Estado, nem abatimento de um centavo de imposto, pelo investimento que faz em favor do meio ambiente; ao contrário, a única coisa que recebe são multas a cada vez que a vigilância por satélite ou o fiscal detectam que está faltando alguma árvore que deveria estar lá.

Então: podemos sugerir, por exemplo, que o presidente Macron crie um esquema igual para a França – já que ele vive à beira de um ataque de nervos diante do agro brasileiro. O Brasil pode propor, também, que os agricultores europeus não cheguem a mais de 50 metros dos seus rios, nem toquem nas matas ciliares. 

Melhor ainda: por que não aplicam por lá o novo “zoneamento econômico e ecológico” de Mato Grosso? Essa última criação dos ambientalistas militantes em nosso serviço público considerou 4 milhões de hectares do Vale do Araguaia como “zona úmida” e em “zona húmida”, por decisão dos autores do “zoneamento”, não se pode produzir nada, nem peixes criados em tanques de água.

Seria interessante ver o que aconteceria se os governos ecológicos da Europa declarassem “zonas húmidas” de 4 milhões de hectares nas bacias do Rio Sena, ou do Rio Reno, ou do Rio Póe botassem o povo de lá para fora. 

J R Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo