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domingo, 9 de julho de 2023

Sexo em tempos de inteligência artificial - Revista Oeste

Dagomir Marquezi

O uso de IA em atividades pornográficas levanta questões morais complexas


Foto: Shutterstock
 
Três homens entram num banheiro público. Encontram uma faxineira muito jovem fazendo seu trabalho. Os três dominam sexualmente a garota, ali mesmo. São insaciáveis. E, o mais chocante, a menina gosta daquilo. E pede mais. Quando os rapazes finalmente se dão por satisfeitos, partem do banheiro sem dizer nada. E a jovem funcionária volta a limpar os mictórios.

Qualquer menina que fosse filmada fazendo esse tipo de sexo brutal e pervertido deveria estar protegida pela lei
Mas aquela faxineira de seios fartos não conta com nenhum amparo legal. Isso porque ela não existe. 
Assim como não existem os homens que entraram naquele banheiro.

Esse é um hentai, um vídeo pornô made in Japan – país onde a obsessão dos homens por meninas com uniforme de colegial é uma marca da cultura nacional. Por ser uma animação, nada daquilo aconteceu. Ninguém abusou, ninguém foi abusada.  
Uma personagem feita de pixels não vai procurar uma delegacia. Nenhuma ONG vai se preocupar com ela. 

Essa japonesinha com seu balde e escova é apenas uma das centenas de mulheres e homens praticando sexo bizarro nos meandros da internet. Ninguém liga mais para isso. Mas um novo gênero de pornografia está dando o que falar. E o que pensar.

O jornal Washington Post publicou, na semana passada, uma matéria sobre o aumento do tráfego de imagens envolvendo sexo com crianças. 
São fotos realistas criadas em sites de criação de arte por inteligência artificial, como o Dall-e e o Midjourney

Os fóruns de pedófilos da dark web revelam uma excitação maior que a normal com essas imagens. 
Como no caso do hentai japonês, nenhuma criança foi abusada para que aquelas imagens se tornassem possíveis.

As empresas que disponibilizam aplicativos e programas de criação de imagens digitais declaram que estão fazendo todo o possível para banir a criação que envolve imagens de abuso de crianças

A esta altura, é muito ingênuo imaginar que cenas repugnantes para a maioria de nós não sejam produzidas desde sempre e exibidas para quem se interesse por elas. 
Um programa como a Stable Diffusion, segundo o Washington Post, apenas acelerou o processo: “Aumentaram a velocidade e a escala com que os pedófilos podem criar novas imagens explícitas, porque as ferramentas exigem menos sofisticação técnica do que os métodos anteriores, como sobrepor rostos de crianças em corpos de adultos usando deepfakes, e podem gerar rapidamente muitas imagens de um único comando”.Foto: Olivia Brown/Shutterstock

“Porcentagem muito, muito pequena”

As empresas que disponibilizam aplicativos e programas de criação de imagens digitais declaram que estão fazendo todo o possível para banir a criação que envolve imagens de abuso de crianças. O executivo-chefe da Stability AI (que criou o programa Stable Diffusion, aparentemente usado na produção de algumas dessas imagens) garantiu que a empresa colabora com qualquer investigação legal, além de criar um filtro para imagens explícitas. Segundo a matéria do Washington Post, é relativamente fácil driblar esse filtro, mudando o código de programação.

O executivo declarou ao jornal: “Em última análise, é responsabilidade das pessoas saber se elas são éticas, morais e legais na forma como operam essa tecnologia. As coisas ruins que as pessoas criam (…) serão uma porcentagem muito, muito pequena do uso total”. Parece uma declaração omissa, irresponsável e insensível. Mas o dirigente da Stability AI, em outras palavras, individualizou a responsabilidade por atos criminosos. Mal comparando, é a diferença entre os que defendem a ideia do chamado “racismo estrutural” e os que consideram que o preconceito é uma questão que deve ser tratada como um ato criminoso individual (ou grupal, mas não generalizado).
 
O amparo da lei
A questão é complexa até em termos legais nos Estados Unidos. Ainda segundo o Washington Post, “alguns analistas jurídicos argumentaram que o material cai numa zona legal cinzenta, porque imagens totalmente geradas por IA não retratam uma criança real sendo prejudicada”. 
Já existe uma lei (a nº 2.256) no código penal norte-americano que determina que “‘pornografia infantil’ significa qualquer representação visual, incluindo qualquer fotografia, filme, vídeo, imagem gerada por computador, feita ou produzida por meios eletrônicos, mecânicos ou outros, de conduta sexualmente explícita”.

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente tipifica como crime “produzir, participar e agenciar a produção de pornografia infantil (art. 240); vender, expor à venda (art. 241), trocar, disponibilizar ou transmitir pornografia infantil, assim como assegurar os meios ou serviços para tanto (art. 241-A); adquirir, possuir ou armazenar, em qualquer meio, a pornografia infantil (art. 241-B); simular a participação de crianças e adolescentes em produções pornográficas, por meio de montagens (art. 241-C). Além disso, a atividade de aliciar crianças, pela internet ou qualquer outro meio, com o objetivo de praticar atos sexuais com elas, ou para fazê-las se exibirem de forma pornográfica, também é crime, com pena de reclusão de um a três anos, e multa”.  
Um projeto de lei de autoria do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) está em tramitação visando endurecer essas penas.
 
O crime do deepfake
Outra atividade ligada à inteligência artificial que está provocando reações de revolta é o chamado deepfake. 
Consiste em encaixar o rosto de uma pessoa (quase sempre o de uma mulher) no corpo de uma atriz de filme pornô em plena ação. 
O programa encaixa o rosto de uma mulher qualquer no de outra que esteja praticando sexo explícito. 
O mesmo princípio técnico que fez a falecida Elis Regina “cantar” com sua filha Maria Rita num recente comercial de automóveis.

A funcionária pública norte-americana Nina Jankowicz, que exercia um cargo numa das agências de segurança do governo Joe Biden, escreveu sobre esse drama para a revista The Atlantic. 
Ela ficou sabendo que seu rosto havia sido “encaixado” por alguém no corpo de uma estrela de filmes pornô. 
Sem conhecer o autor do vídeo, não havia muito o que fazer.

No seu artigo, Jankowicz foi honesta o suficiente para não cair no vitimismo político. 
Ela sabe que qualquer mulher famosa pode ser apanhada num deepfake. Cita filmes que usaram os rostos de Hillary Clinton e da ativista Greta Thunberg, além da cantora Taylor Swift e da atriz Emma Watson. Entre outras vítimas da falsificação estavam políticas do Partido Democrata (Kamala Harris e Nancy Pelosi) e do Partido Republicano (Nikki Haley e Elise Stefanik).

O resultado do deepfake geralmente é meio grosseiro. O tom da pele do corpo nem sempre é o mesmo do rosto, as expressões são forçadas e mudam repentinamente. 
De maneira geral, fica claro que aquilo é uma falsificação. 
Mas isso não diminui a violência moral e a covardia de quem o produz.Exemplo de uso de deepfake em rosto humano | Foto: Shutterstock

Produzir ou ser apanhado com material sexualizando crianças é crime pesado. 
Idem a produção, o tráfico e a divulgação de vídeos deepfake. 
Mas quem acha que vai reprimir esse fluxo está dizendo que pode enxugar gelo com uma flanela.

Não existe maneira de eliminar essas atividades criminosas ligadas à inteligência artificial,
provavelmente nem em países extremamente controlados, como a Coreia do Norte ou o Irã. Esse material nasce em computadores anônimos e encontra seus caminhos para chegar aos interessados. Faz parte do lado sombrio da natureza humana.
 
Freud e o pântano pornográfico
Os que acham que combatendo a inteligência artificial vão acabar com imagens de pedofilia ou deepfakes estão querendo desinventar o automóvel para evitar acidentes de trânsito. Voltar no tempo não tem lógica, não tem sentido, é um ato obscurantista e reacionário.

Os mesmos programas que criam imagens de crianças sexualizadas produzem excelentes livros infantis, histórias e fantasias visuais cheias de imaginação, ainda que artificial. Esses aplicativos estão democratizando a capacidade de produzir cultura. Apenas uma pequena minoria chafurda nesse pântano pornográfico. Mas existem questões mais amplas e sutis para reflexão.
 
 
(...)
 
 
 

sábado, 6 de maio de 2023

O que acontecerá com o tal projeto das “Fake News”, após a derrota lulista? [Arquivo ou lixo!]

Vozes  - Cidadania Digital


Redes sociais-censura
Regulação das redes sociais por parte dos Trës Poderes vem sendo apontada por especialistas como “censura”.| Foto: Reprodução Canva/Gazeta do Povo


A condução do projeto de lei apelidado de “Fake News” foi uma das estratégias mais desastradas para esse tipo de matéria. Na coluna anterior falei com profundidade sobre o projeto em si, a minha opinião sobre ele.

Hoje falo sobre outro tema, o que esperar após o fiasco do governo. Como tudo na nossa política, essa história virou um Fla-Flu. Uma vez que um tema entra nessa espiral, fica muito difícil ter qualquer discussão sobre o mundo real ou que abrigue nuances. As coisas ficam radicais e um lado precisa ser o extremo oposto do outro.

    Todo projeto precisa ser discutido pelo menos dentro do Parlamento e, de preferência, em audiências públicas.


O projeto tem muitos problemas, mas há um estrutural que nem tem  a ver com o texto em si ou com as regulamentações. Estamos falando de algo novo e importante para a sociedade, a regulação das plataformas na internet. Muitos países têm tentado diversos modelos, alguns melhores e outros piores.

Em comum entre todos eles está a coesão social em torno do tema, mesmo quando a política está polarizada. Isso foi possível na União Europeia, no Reino Unido e na Austrália, por exemplo. Um projeto estrutural não tem chance de receber apoio popular no esquema “nós contra eles”. É precisamente o que foi feito aqui. E também por isso o apoio inicial foi se esfarelando.

    Estamos diante de um projeto que sequer foi debatido. Esse é um ponto delicado e que precisamos compreender em profundidade.

A forma como o projeto foi feito é um entrave adicional para que seja aprovado no Congresso, já que ela apequena o Poder Legislativo. Projetos como o Marco Civil da Internet e a LGPD foram discutidos no Parlamento durante anos, com diversos especialistas. 
O texto foi alterado diversas vezes e houve debates técnicos acalorados. Mas, seguramente, você não se lembra desse clima de Fla x Flu que vemos agora. Isso ocorre porque a divergência era sobre a melhor forma de regulamentar um setor. Agora, existe uma demonização de parte a parte e diminuição dos debates.

O projeto original, que começa no Senado, não teve tanta discussão quanto outras legislações. Chegando na Câmara, ele foi modificado sem ter passado por uma única audiência pública. Quase metade do texto foi mudado. Ou seja, estamos diante de um projeto que sequer foi debatido. Esse é um ponto delicado e que precisamos compreender em profundidade. Já não estamos mais falando do teor do projeto em si, o que você pensa dele e se ele é bom ou ruim. O tema é outro. Estamos falando que todo projeto precisa ser discutido pelo menos dentro do Parlamento e, de preferência, em audiências públicas.

    Éramos acusados de compactuar com pedófilos e neonazistas ou de defender os interesses escusos das Big Techs.

Temos a ilusão de que dar ministérios ou liberar emendas muda qualquer jogo no Congresso. Não muda. O benefício imediato tem de vir com outro, o da manutenção do eleitorado e longevidade do poder parlamentar. Precisa ser uma situação muito específica, urgente e importante para que os parlamentares aceitem um tipo de tramitação que apequena a casa.

Se você viveu a época do governo FHC, deve lembrar de uma reação brutal do Parlamento às Medidas Provisórias. Como elas são instrumentos que dão mais poder ao Executivo, deputados e senadores se inflamaram diversas vezes até que a articulação acertasse o passo. Não queriam votar mais nada se tivesse outra MP na praça, ameaçavam derrubar vetos ou derrubar as próprias MPs.

Ao mesmo tempo em que a falta de discussão é uma fraqueza do projeto, pode ser o ponto de partida para fazer com que ele fique em pé de novo. Caso se tope mudar o texto por meio de audiências públicas, fazendo as discussões e concessões necessárias, ele pode voltar à vida. Mas também pode ser que exista uma nova tentativa de fazer a mesma coisa tentando obter resultado diferente. Talvez o governo coloque em pauta de novo. A última vez foi um fiasco enorme, que não precisava ter acontecido. Raramente se leva uma matéria do gênero a votação num clima divisionista e apostando em militância alarmista e mentirosa de influencer.

Regulação do mundo digital é o tipo de matéria que se aprova com jeito,
não com força. Isso ocorre com todo tipo de regulação estrutural que afeta toda a sociedade e por um período considerável de tempo. Resta saber se será possível amadurecer esse projeto e transformar em uma regulação real do mercado – não apenas de conteúdo – ou se ele já foi triturado no Fla x Flu.

    O projeto foi defendido pelo movimento luloafetivo demonizando qualquer um que ousasse questionar.


Fiz esse teste com algumas pessoas tão contrárias que chamam a peça de “PL da Censura”, a maioria sem ter lido o projeto em si. [oportuno lembrar que se a Constituição proíbe a Censura, qualquer pretensão de instituir tal excrescência NÃO PODE SER DISCUTIDA por projeto de lei.] Ou seja, a sensação emocional que têm sobre ele é muito forte. Quando digo que talvez ele possa ser rediscutido em audiências públicas e modificado, essas pessoas não ficam felizes, ficam bravas.

No início eu não havia entendido direito. Se o projeto é ruim e pode ser modificado para melhor, deveriam estar felizes com a possibilidade. Mas a sensação de que ele é maléfico permanece mesmo quando dizemos que ele muda. Essa sensação existe, pode ser coletiva e com certeza afeta as ações dos parlamentares, que vivem de voto.

    Rodrigo Pacheco já anunciou que pretende dobrar a aposta e colocar em pauta a regulamentação de Inteligência Artificial.

Muitos vão dizer que se pode apelar à racionalidade, explicar as mudanças e tudo mais. Não é assim, no entanto, que as pessoas funcionam. O projeto foi defendido pelo movimento luloafetivo demonizando qualquer um que ousasse questionar. Éramos acusados de compactuar com pedófilos e neonazistas ou de defender os interesses escusos das Big Techs. Ainda que ele seja mudado, esse carimbo permanece, não tem como tirar.

Um exemplo elementar é a responsabilização do autor,
prevista no projeto e patética se levada em conta a vida real. Os códigos são partilhados em sistemas abertos por seus autores e implementados por terceiros para fazer tecnologias. O ChatGPT, por exemplo, é o produto de uma empresa que utiliza códigos abertos e públicos há 6 anos. Suponha que haja algum problema gigantesco causado pelo ChatGPT. Quem deve ser responsabilizado e arcar com o prejuízo. Pelo nosso projeto, é o autor do código publicado há mais de 6 anos em fóruns utilizados para isso. É esse o nível técnico da coisa.

Talvez a melhor forma de regulamentar o setor seja agir como adultos e partir do zero,
dando continuidade ao bom trabalho feito no Marco Civil e na LGPD. A chance de algo assim, no entanto, parece pequena e distante.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 16 de julho de 2022

O Brasil, o mundo e as angústias da Europa - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Ilustração: Gustavo Sanchez/Revista Oeste/Shutterstock 
 
Também não fazem parte do seu mundo e de sua vida as aflições com o “aquecimento global”, visto o calor que faz na Índia há 5.000 anos, nem que um cidadão esteja proibido de dizer que só mulheres podem ficar grávidas e parir um filho. 
O “indiano médio”, como diriam nossos institutos de pesquisa de opinião, acha que um homem é um homem e uma mulher é uma mulher — e, queiram ou não queiram, um em cada cinco habitantes atuais do planeta é um “indiano médio”. Não ocorreu ali a nenhum colégio de gente rica, ou a qualquer colégio, ensinar uma “linguagem neutra” a seus alunos; ficaria complicado, levando-se em conta que na Índia são falados 400 idiomas e dialetos diferentes, e que há 23 línguas oficiais
O nível do mar está subindo na Flórida? 
As pessoas são legalmente autorizadas a roubar até US$ 900 por dia, como acontece na Califórnia? 
A Holanda está proibindo os seus agricultores de produzirem comida? Nada disso faz parte das realidades do 1,4 bilhão de indianos, nem representa para eles a mais remota preocupação. Não fazem, aliás, nenhum nexo dentro do sistema de pensamento hoje em vigor na Índia.
As angústias dos países do Primeiro Mundo não querem dizer nada, também, para o 1,3 bilhão de habitantes da China
Por acaso há algum chinês achando que o Super-Homem é gay, ou que um “transgênero” de 2 metros de altura pode competir numa prova de natação para mulheres? 
E as atrizes que, 20 ou 30 anos atrás, tiveram um caso com o diretor para ganhar um papel no filme, e hoje são consideradas heroínas nacionais? Existe isso na China?  
Há por ali um “Ministério Público”, ou alguma ONG, ou entidade da “sociedade civil”, ou seja lá o que for, proibindo a construção de aeroportos, de pontes ou de estradas de ferro?  
Alguém fala em “dívida histórica” com os negros? 
 
Não há nenhum registro de estátuas postas abaixo na China, nem de planos para proibir a fabricação de automóveis, e nem de movimentos para diminuir as verbas da polícia. 
O chinês está pouco ligando, e não vai ligar nunca, para os direitos dos pedófilos, o respeito aos gordos e gordas ou a porcentagem exata de negros nos filmes, séries de televisão e comerciais de propaganda
Só aí, na Índia e na China, já são 2,7 bilhões de pessoas e um PIB somado de mais de US$ 21 trilhões. 
Mas as mesmas coisas podem ser ditas, em geral, da África, do mundo islâmico e de todo o Oriente, mais a Rússia. Na verdade, a Europa e os Estados Unidos, juntos, somam cerca de 800 milhões de habitantes — ou só 10% da população mundial, nada mais que isso. 
Faz sentido, então, que as neuras, as prioridades e até mesmo os problemas objetivos de europeus e americanos tenham de preocupar os 90% restantes da humanidade?

O ministro do Exterior da Índia, recentemente, disse numa reunião internacional que os europeus fariam bem de ter em mente uma coisa muito simples: os problemas da Europa não são os problemas do mundo. Foram meia dúzia de palavras, em torno de uma ideia sem nenhuma complicação — mas, provavelmente, estão entre as afirmações mais relevantes, realistas e inteligentes feitas há muito tempo por um homem público na cena mundial. É um chamado exemplar à realidade: o mundo, muito simplesmente, não é como eles querem que seja. Vende-se na Europa, nos Estados Unidos e nas suas franjas a noção de que “o planeta” está morto de ansiedade com a proibição das sacolas de plástico, a multiplicação das ciclovias e a promoção das hortas orgânicas. É falso — apenas isso. Mais do que tudo, estão convencidos que as suas “agendas”, ou o que as elites apresentam como “agenda”, são a lista de deveres de casa que os 8 bilhões de habitantes do mundo têm de cumprir, obrigatoriamente. 

É o caso da “agenda 2030”, uma coleção de desejos montada por bilionários que vão à reunião anual de Davos, na Suíça, fundações que torram dinheiro grosso em favor da virtude e um punhado de governozinhos globaloides, controlados por uma casta de funcionários que não foram eleitos por ninguém e têm horror à ideia de que alguém, além deles, queira mais bem-estar nas suas vidas. Segundo eles todos, o mundo não pode mais progredir, nem dar oportunidades aos bilhões que têm pouco ou nada, em termos materiais. O capitalismo, ali, é um crime; só se aplica aos que já têm o capital hoje. Se o sujeito tem US$ 50 bilhões e faz uma doação de 1 bilhão, todos os seres humanos deveriam fazer a mesma coisa, não é? 

Para preservar o meio ambiente e “salvar o clima”, o mundo que está fora da Europa e dos Estados Unidos tem de voltar à Idade da Pedra. 
 As minorias são mais importantes que as maiorias — e por aí vamos. 
É isso, a “agenda” dos ricos. Tudo bem. Querem ser roubados em US$ 900 por dia? Que sejam. Querem morrer de fome para preservar a natureza? À vontade. Mas a agenda da Europa não tem de ser a agenda do mundo, como disse o ministro do Exterior da Índia.
 
Também não deve ser, obviamente, a agenda do Brasil. Mas nossas elites querem que seja, é claro — e acaba sendo, na vida pública, no mundo oficial e na “sociedade”. Como sempre acontece, e está acontecendo de novo agora, a mídia, as classes culturais e os “progressistas” brasileiros engolem com casca e tudo seja lá o que vier de Nova York, de Londres ou de Paris; são, possivelmente, os mais excitados importadores de más ideias do mundo. É bem sabido, desde que a Corte de Dom João VI desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, que o animal mais parecido com os habitantes da elite brasileira é o macaco — nada revela tão bem um brasileiro rico, “culto” ou “influente” quanto a sua ânsia permanente de copiar o que se faz na Europa e nos Estados Unidos. 
 
(Imaginam, ao fazer isso, que são avançados e estão a par dos últimos passos da civilização; não percebem o quanto são subdesenvolvidos típicos.) Continua assim, mais de 200 anos depois. O resultado é que o Brasil assume como sendo suas um monte de preocupações que têm pouco ou nada a ver com as realidades efetivas do país. Poderia ser apenas mais uma palhaçada, como a linguagem neutra ou as campanhas do Uber contra o “racismo”, a “fobia” anti-LGBT+ e tudo o que é visto como politicamente irregular. Mas acaba sendo mais que isso — passa a influir no debate político e nas decisões dos que mandam no país, e por esse motivo começa a afetar a legislação, os atos de governo e o comportamento das empresas.

O Brasil está produzindo alimentos demais, e isso vai contra as noções de virtude das cabeças mais avançadas da Europa

É pior, na verdade: o Brasil não apenas imita os europeus e americanos em sua busca inesgotável por causas cretinas, ou que não têm nada a ver com as necessidades brasileiras, mas tornou-se, ele próprio, um dos maiores alvos da perseguição “globalista”. O Brasil é um horror, talvez o maior horror de hoje, para a “agenda 2030” para os delicados burocratas que comandam os governos do Primeiro Mundo, para os bilionários socialistas de Davos, para os departamentos de marketing de multinacionais que se converteram à prática “do bem”

Sua ideia fixa, acima de qualquer outra, é a Amazônia e a sua floresta. O Brasil, segundo eles, não tem o direito de governar a Amazônia, que deveria ser declarada “área internacional”

De atores de Hollywood a reis da Escandinávia, de governos da Europa às universidades de primeira linha, mais a “comunidade científica” mundial, todos exigem que a vida humana cesse para a Amazônia e os 20 milhões de brasileiros que vivem ali; só devem existir árvores, bichos e peixes. Numa ação paralela, querem parar o agronegócio brasileiro — o Brasil está produzindo alimentos demais, e isso vai contra as noções de virtude das cabeças mais avançadas da Europa, como é o caso da Holanda, onde se acha uma boa ideia proibir as pessoas de cultivarem o solo.

Toda essa gente tem aliados ativos na vida pública e privada do Brasil. Banqueiros de esquerda, por exemplo, escrevem manifestos anunciando “boicotes” fatais contra a economia brasileira por parte dos grandes fundos de investimento internacionais e das múltis mais globalizadas, para punir a nossa pouca atenção à “crise do clima”

Os boicotes nunca aparecem no mundo das realidades; a produção e as exportações do agro brasileiro batem novos recordes a cada ano. Mas fazem grande sucesso nos salões, na mídia e nos meios “bem informados”. 

Também há as ONGs, é claro — essas fazem dia e noite, e frequentemente com dinheiro público, um trabalho de agressão em tempo integral contra tudo o que o país tem de bom, ou tenta construir para se desenvolver. Há as classes intelectuais, a universidade pública e o universo artístico. Há as empresas socialistas. Há as agências de publicidade inclusivas. Há o Ministério Público, a justiça e as “agências reguladoras”. Há, em geral, tudo o que se descreve como “esquerda”.

Querem, todos eles, um Brasil desenhado por funcionários das agências temáticas da Comunidade Europeia, ou por executivos da Disney, ou por professores de Harvard; 
acham que o que é virtude em Bruxelas tem de ser virtude em Piracicaba. Não imaginam, nunca, que o Brasil faça parte dos 90% do mundo que estão fora da Europa e dos Estados Unidos; acham que estamos nos 10%. São um atestado da falência de si próprios.

Leia também “A imprensa é contra a liberdade”

J. R.Guzzo, colunista -  Revista Oeste

 


sexta-feira, 25 de março de 2022

Uma agressão às mulheres - Revista Oeste

Ana Paula Henkel 

Até 2019, Lia era William e competia com os homens. Antes de se tornar a número 1 entre as mulheres, no ranking com os rapazes era o 462º entre 500 nadadores 

Há mais de cinco anos venho escrevendo e falando sobre o que jamais poderíamos imaginar, principalmente nós mulheres: ver homens biológicos competindo no esporte feminino. 
Já escrevi uma carta aberta ao Comitê Olímpico Internacional e uma dúzia de artigos detalhando todos os pontos absurdos dessa política nefasta de identidade de gênero que vem prejudicando meninas e mulheres em todo o mundo e em quase todos os esportes.
 
Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com quase uma piscina de vantagem e se sagrou “campeã” da liga universitária norte-americana | Foto: cortesia Peter H. Brick
Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com quase uma piscina de vantagem e se sagrou “campeã” da liga universitária norte-americana | Foto: cortesia Peter H. Brick  [em outras palavras = quando era homem biológico entre 500 competidores, ele estava entre os 50 piores = ocupava o 462º lugar; ; se transformou e passou a competir com as mulheres e passou a ser o primeiro entre elas. Isso é justo?]

Não é preciso repetir neste artigo todas as informações óbvias das aulas de biologia da 5ª série, basta ter mais de dois neurônios para entender que homens têm corações e pulmões maiores, maior capacidade cardiorrespiratória, maior oxigenação sanguínea devido à maior produção de glóbulos vermelhos, fibras mais rápidas, densidade óssea superior… Homens são biologicamente diferentes de mulheres. E não há nada de controverso ou polêmico nisso. Simples assim. Mas parece que o mundo, depois de passar por duas grandes guerras, decidiu entrar de vez numa guerra contra a ciência. E, nesta semana, mais uma vez aplaudindo um homem biológico batendo recordes e vencendo títulos em uma competição feminina. Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com quase uma piscina de vantagem e sagrou-se “campeã” (com aspas mesmo) da liga universitária norte-americana (NCAA) foi o assunto da semana. Até 2019, Lia era William e competia com os homens. Antes de se tornar a número 1 entre as mulheres, no ranking com os rapazes era o número 462 entre 500 nadadores.

Até 2019, Lia era William e competia com os homens -  Foto: Reprodução

Durante esses anos, venho tentando trazer um pouco de racionalidade para o debate público. Essa invasão de homens biológicos nos esportes femininos não é apenas errada, é um ataque e um desrespeito inaceitável às mulheres que seguem à risca as políticas antidoping pela proteção do esporte limpo. A própria discussão é, em si, ultrajante e humilhante. O debate honesto sobre esse assunto não pode ser embasado na identidade social de um indivíduo, que, obviamente, deve sempre ser respeitada. Como as pessoas decidem viver suas vidas é uma questão de foro privado. Mas decisões sociais e particulares não criam direitos automáticos e imaginários. Esse assunto é sobre a clara exclusão de meninas e mulheres no esporte feminino, é sobre ciência e sobre identidade biológica, pilar sagrado e justo nos esportes. Esse assunto é sobre honestidade.

Hoje, no entanto, não focarei na parte física desse debate que engloba, entre tantas verdades chatas ao politicamente correto, políticas antidoping. Atletas trans, hoje competindo com mulheres, como Lia Thomas, Tiffany Abreu, Fallon Fox ou Alana McLaughlin, um ex-soldado das Forças Especiais do Exército norte-americano, não sabem o que acontece no universo feminino do esporte. Mulheres são muito mais policiadas dentro e fora de competições do que homens

Uma pequena gota a mais de testosterona em um corpo feminino pode significar uma enorme diferença, o caminho que separa o ouro da prata, a classificação da eliminação ou a glória do fracasso. 
As diversas vantagens que as mulheres trans possuem devido aos anos de exposição à testosterona desde a infância não são amenizadas ao manter a quantidade hormonal recomendada pelo Comitê Olímpico Internacional de até 10 nanomols/litro por 12 meses (mulheres têm em média entre 2,8 e 3,2 nanomols/litro). Não existe nenhuma pesquisa que possa comprovar que a supressão hormonal nesse período possa reverter todas as características físicas superiores da genética masculina depois de passar 20 ou 30 anos de exposição a altas doses de testosterona. Ou se é possível, sequer, reverter isso com anos sem o hormônio masculino.

A guerra, no entanto, não foi declarada apenas à ciência ou às mulheres no esporte. O objetivo de toda essa agenda nefasta que inclui revisionismos históricos, derrubada de estátuas e a vida baseada em “construções sociais” não é “proteger” as minorias ou sequer as pessoas trans, mas destruir a própria ideia de conhecimento objetivo. Se até a natureza biológica do ser humano é negada, tudo, e absolutamente tudo pode ser negado. Esse é o maior objetivo desse “movimento revolucionário”. Todo e qualquer processo revolucionário apresenta inicialmente uma fase de desestabilização da sociedade, para em seguida impor uma nova ordem despótica. Se hoje os revolucionários prometem mais “direitos” às “minorias”, na sequência das páginas deste enredo as mesmas minorias serão descartadas, como mostra a própria história. E essa guerra foi declarada de vários frontes.

Nesta semana, aqui nos Estados Unidos, no Comitê Judiciário do Senado norte-americano, aconteceu a sabatina de Ketanji Jackson, a indicada de Joe Biden à Suprema Corte. 
A senadora Marsha Blackburn, do Tennessee, perguntou a Jackson o que deveria ter sido a pergunta mais fácil já feita em uma sabatina para uma das cadeiras da famosa SCOTUS: “Você pode definir o que é uma mulher?”. Nomeada publicamente por Biden por ser negra e mulher, imagine como Jackson deve ter ficado aliviada ao ouvir uma pergunta tão banal. Nada de casos históricos ou jurisprudências obscuras e precedentes do século passado da Corte. Tudo o que os republicanos querem é uma recapitulação de um dos primeiros capítulos de Biologia: O que é uma mulher.

Ketanji Jackson, uma juíza de Cortes inferiores famosa por aplicar penas bem menores a criminosos, inclusive pedófilos, poderia ter dito com incredulidade: “Senadora, essa é uma pergunta simples que qualquer estudante do ensino médio pode responder. Uma mulher é um ser humano com dois cromossomos X e isso é facilmente detectável em um exame de sangue. As mulheres têm pélvis mais largas, estruturas ósseas diferentes das dos homens e genitália muito diferente. Geralmente, é bastante óbvio que são mulheres, só de olhar para elas. As mulheres têm genética diferente porque somos projetadas para fazer coisas diferentes. A natureza é real. As mulheres menstruam, engravidam, dão à luz e depois amamentam. Os homens não fazem essas coisas porque eles não podem. Joe Biden me nomeou para a Suprema Corte porque sou mulher. O presidente sabe exatamente o que é uma mulher. Se ele não soubesse, não teria me escolhido.”

Teria sido fantástico se ela tivesse dito isso. No entanto, Ketanji Jackson disse que não poderia fornecer uma definição sobre o que era uma mulher porque “não era bióloga”. Jackson, uma indicada à Corte mais importante dos Estados Unidos da América, respondeu sem o menor constrangimento que, por não ser bióloga, não poderia dizer o que é uma mulher. Mas a verdade é que não faria a menor diferença se ela fosse bióloga (ou qualquer pessoa que queira enfiar em nossa goela abaixo que atletas femininas trans não são homens), porque ninguém no Partido Democrata, no Psol, PT ou na cega militância LGBT se importa de verdade com o que os biólogos pensam sobre sexo biológico. Os biólogos foram banidos junto com os Pais Fundadores da América, com todas as estátuas de heróis do passado e com a liberdade de expressão.

Em 2022, depois de ouvirmos por dois anos “Ciência, ciência, ciência!”, o poder da ciência e da literatura humana desmorona à luz do dia diante do lobby trans. Até uma indicada para a Suprema Corte norte-americana, mesmo com todas as suas credenciais acadêmicas, tem a cara de pau de mostrar seu pedágio lobista e diz, sem o menor constrangimento, que não sabe o que é uma mulher porque não é bióloga. O mais curioso e surreal disso tudo é que, se voltarmos na sabatina de Brett Kavanaugh, uma das nomeações de Donald Trump para a Suprema Corte e acusado de última hora de um suposto assédio sexual quando ainda estava no High School, lembramos que fomos bombardeados com o mantra de que devemos acreditar cegamente em todas as mulheres, independentemente de estarem ou não dizendo a verdade. Elas são mulheres, portanto, em nome da justiça social, devemos simplesmente aceitar o que elas dizem. Como Kamala Harris afirmou certa vez: “A palavra de uma mulher é como uma declaração juramentada”.

O “debate” sobre transgenerismo é definido pela censura, fazendo você calar a boca e não permitindo que você perceba o óbvio

Joe Biden, ainda nas primárias democratas em 2020, rechaçou que há diferenças entre homens e mulheres: “Nós, de fato, temos de mudar fundamentalmente a cultura, a cultura de como as mulheres são tratadas. Nenhum homem tem o direito de levantar a mão para uma mulher com raiva, a não ser em autodefesa, e isso raramente ocorre. Por isso, temos de mudar a cultura”. Até o estranho e inepto Joe Biden sabe que homens e mulheres não são iguais. Não estamos dizendo que um é moralmente melhor que o outro. Somos moralmente iguais, mas somos diferentes nos níveis mais profundos, começando pela biologia. Todos nós crescemos sabendo disso, mas agora a turba alimentada pelos jacobinos LGBTQTVBGRTYWXCFRET+++++ está mandando fingir o contrário, negar a natureza e suprimir seus instintos mais básicos e valiosos de proteção às mulheres. Estão nos dizendo que não temos o direito de ficar chateadas quando um homem biológico apanha de uma mulher trans, seja num bar, seja num ringue ou numa competição desleal na piscina. Estamos prontos para suprimir esses instintos? Estamos prontos para viver em uma sociedade que não reconhecerá as mulheres? Estamos prontos para sermos colocados em mais uma — depois de dois eternos anos na pandemia! — espiral de silêncio? Não fale, não questione, não pergunte — ou terá a cabeça degolada pela turma “love is love”.

O esporte feminino está sendo desfigurado a passos largos. Por mais que eu tenha me impressionado com tamanha repercussão positiva por parte do público nesta semana com o caso de Lia Thomas, a lei do silêncio continua imperando entre jogadoras, nadadoras e atletas femininas. Mas o perigo dessa agenda vai além das fraudes no esporte feminino: o que acontecerá com os sistemas judiciários se fingirmos que homens e mulheres são exatamente iguais, que são meras “construções sociais”? A afirmação da indicada de Biden à Suprema Corte de que não podemos dizer quem é homem e quem é mulher é um sintoma da transformação da sociedade pela perigosa agenda identitária. Em um futuro não muito distante, a maneira como administramos a Justiça também será transformada, começando com as leis antidiscriminação. Se não podemos dizer com certeza quem é uma mulher, como vamos aplicar a Lei Maria da Penha ou todas as medidas de proteção contra violência doméstica, estupros e assédios? Nos Estados Unidos, o Título IX, uma lei dos anos 1970 que proíbe a discriminação sexual em escolas e universidades, está sendo usado hoje por meninos biológicos que “se sentem” como meninas. Se não usamos o sexo biológico como um aferidor justo, como podemos evitar a discriminação com base no sexo biológico?

O objetivo do movimento trans não é convencer ninguém de que a biologia não é real. Isso seria impossível de ser realizado. Qualquer um soaria ridículo se tentasse articular isso, muito menos explicar. O objetivo desse movimento é muito diferente. A questão central é fazer com que todos nós repitamos uma mentira, algo que sabemos perfeitamente que não é verdade, fitando assustados a guilhotina acima de nossos pescoços. “Sim, Lia Thomas é uma mulher que ganhou a competição de natação porque treinou mais do que as outras garotas. Lia Thomas mereceu vencer. Lia Thomas é incrível e sua vitória não foi trapaça. Não notamos também que seu corpo de homem continua com todas as características intactas.” Pronto. Ufa… Dessa vez não perdemos o pescoço.

E é esse mantra que exigem que repitamos, não porque eles se importam com Lia Thomas, com Tiffany, Fallon Fox ou qualquer outra pessoa trans. Eles não se importam, porque, se importassem, pensariam duas vezes antes de expor essas mulheres trans e a própria comunidade ao ridículo. Fazer com que todos nós finjamos acreditar em algo que não acreditamos é o único objetivo, porque, se eles podem fazer com que acreditemos em algo que sabemos que é falso, eles venceram. Eles controlam o seu e o meu cérebro.

Então, toda essa insanidade negacionista não é sobre pessoas trans. É sobre todos nós, e eles apostaram alto. E é exatamente por isso que a censura é tão intensa. O “debate” sobre transgenerismo é definido pela censura, fazendo você calar a boca e não permitindo que você perceba o óbvio. Quando você menos perceber, você já entrou na espiral de silêncio imposta por eles. Não há nenhuma tentativa de persuadir nenhum de nós por argumentos válidos em uma discussão com o mínimo de honestidade. Não há nenhuma ideia baseada em fatos. Você não pode responder: “Mas então os homens podem se tornar mulheres apenas desejando ser mulheres?”. Isso não é permitido e, se fosse, jamais responderiam. Só nosso silêncio e as boquinhas fechadas importam. O primeiro movimento sempre é a censura e o segundo movimento, inevitavelmente, é a punição. Resolveu falar? Cabeças no chão, contas de redes sociais suspensas, perseguição virtual, cancelamentos…

Mas ainda há enorme esperança nesse novo mundo orwelliano em pessoas como Caitlyn Jenner, ex-atleta e campeão olímpico de decatlo masculino como Bruce Jenner. Jenner se identificou como mulher trans em 2015 e é veementemente contra homens biológicos competindo com mulheres no esporte feminino. Recentemente, ela disse em um vídeo que esse assunto é apenas uma questão de justiça: “Sou contra meninos biológicos que são trans poderem competir com garotas. Simplesmente não é justo e nós temos de proteger o esporte feminino nas escolas”. Essa semana, Caitlyn declarou que a vitória de Lia Thomas não é justa, que o corpo da nadadora é claramente o corpo de um homem que passou por toda a puberdade envolto em testosterona. Claro que Jenner foi devorada pelo tal feminismo que jura por todos os santos proteger e lutar pelas mulheres.

Há uma frase atribuída a Voltaire que diz que quem pode fazer você acreditar em absurdos pode fazer você cometer atrocidades. Um homem não pode se tornar uma mulher diminuindo sua testosterona. Nossos direitos não devem — e não vão — terminar onde os sentimentos de alguns começam.

Leia também “A hipocrisia da cultura do cancelamento”

 Saber mais, leia: o que é uma mulher

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


domingo, 17 de outubro de 2021

CNBB pede medidas "eficazes, legais e regimentais" após discurso de deputado

Deputado estadual por São Paulo, Frederico d'Avila ofendeu o papa Francisco e o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes. Em carta, CNBB repudia ataques

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de carta, repudiou os ataques sofridos pela instituição, pelo arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes e pelo papa Francisco em discurso do deputado estadual Frederico d'Ávila (PSL). Na última quinta-feira (14/10), o parlamentar chamou os religiosos de “safados”, “vagabundos” e “pedófilos” em discurso na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). [A CNBB tem o DEVER e o DIREITO de exigir providências enérgicas contra o parlamentar que covardemente agrediu o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes e o papa Francisco e o DIREITO se ser atendida.
Se o desconhecido parlamentar pretendia  se tornar conhecido, sair do anonimato e do ostracismo que o acompanham desde sempre, que usasse outros meios, sem envolver a Santa IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA, Sua Santidade o Papa Francisco e o Arcebispo Dom Orlando Brandes. 
Nosso mais veemente repúdio ao parlamentar e a sua desprezível e repugnante conduta.
Se aquele individuo tem alguma coisa contra a instituição CNBB que se valha dos caminhos indicados para dar vazão aos seus sentimentos RESPEITANDO Sua Santidade o Papa Francisco e o Arcebispo Dom Orlando Brandes e demais sacerdotes  da Santa IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA.]
 
(..............)
 
 

Leia a íntegra da carta enviada pela CNBB

"A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes. Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade - sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar - protagonista desse lastimável espetáculo - serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem - de modo exigente nos termos da Lei. Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência - postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres."

 Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA
 

sábado, 14 de novembro de 2020

O alerta da Holanda contra os 'caçadores de pedófilos'


O que aconteceu em Arnhem?
Segundo a imprensa holandesa, o grupo de adolescentes teve a ideia de caçar um pedófilo depois de ler histórias semelhantes em outras partes da Holanda. O ex-professor chegou ao local combinado para o encontro no dia 28 de outubro e foi seguido quando retornou à sua casa. Ele foi espancado por um grupo de meninos e mais tarde morreu no hospital.

O prefeito, Ahmed Marcouch, descreveu o crime como "horrível" com um impacto "tremendo" na comunidade. Dezenas de vizinhos, amigos e ex-alunos participaram de uma cerimônia em homenagem à vítima na semana passada. Jamil Roethof, advogado de um menino de 15 anos implicado no ataque, disse ao site de notícias local De Gelderlander que a ideia de caçar pedófilos veio do "tédio do coronavírus". O jovem não fez parte do ataque.

 
BBC News - MATÉRIA COMPLETA


sábado, 24 de outubro de 2020

Mito da conspiração mundial sempre andou junto com a extrema direita - Demétrio Magnoli

 Folha de S. Paulo

Estrutura gramatical do QAnon recupera e atualiza a narrativa dos Protocolos dos Sábios do Sião

Na sua reta final, a campanha de Donald Trump à reeleição entrelaça-se ao culto online QAnon. O fenômeno inscreve-se numa longa história e descortina as tendências evolutivas do discurso da extrema direta, nos EUA e mundo afora. O QAnon nasceu como narrativa conspiratória singular. Segundo ela, o Partido Democrata americano é o núcleo de um complô de líderes pedófilos que organiza o sequestro de crianças para escravizá-las a redes de exploração sexual. Sob o comando de figuras como Joe Biden, Hillary Clinton e Barack Obama, operam Angela Merkel, Emmanuel Macron, Xi Jinping e outros “globalistas” engajados no negócio diabólico da pedofilia. Nessa moldura, Trump ocuparia o papel de salvador providencial das famílias, o derradeiro escudo protetor da cristandade ameaçada.

O mito da conspiração mundial sempre andou junto com a extrema direita. A estrutura gramatical do QAnon recupera e atualiza a narrativa dos Protocolos dos Sábios do Sião, fabricada pela polícia secreta da Rússia czarista para impulsionar o antissemitismo. Os Protocolos contam a história de um complô multissecular dos judeus destinado a assumir o controle dos bancos, das escolas e dos veículos de comunicação, o que propiciaria a conquista dos poderes estatais. A lenda, inventada em 1903, fez seu caminho até o movimento nazista e, mais tarde, foi adotada pelos negacionistas do Holocausto.

Nos Protocolos, os judeus encarnam o cosmopolitismo, o liberalismo, o agnosticismo e a depravação. O QAnon simplesmente substitui os judeus pelos “globalistas”. Os judeus dos Protocolos imolariam crianças para extrair o sangue usado no cozimento do matzá da Páscoa; os “globalistas” sacrificariam crianças puras nas engrenagens da luxúria.

A novidade está na plasticidade do QAnon —isto é, na sua natureza agregadora. Ao longo de poucos anos, o mito original foi incorporando outras lendas difundidas no ciberespaço. Obama não nasceu nos EUA e é um muçulmano disfarçado como cristão. Osama Bin Laden não morreu, mas foi escondido pelo governo americano. A Terra esférica é uma mentira carimbada pela Nasa. O coronavírus foi produzido num laboratório chinês e exportado ao Ocidente com a cumplicidade dos “globalistas”, que querem destruir as economias e submeter as nações a perversas instituições multilaterais. A “vacina chinesa” é um vetor de controle biológico dos indivíduos.

Acostumados a um universo extremo de fantasias, os seguidores do QAnon tendem a assimilar as sub-teorias conspirativas adventícias. Já os crentes dessas sub-teorias nem sempre compram o complô dos pedófilos, mas não se importam em consumir seletivamente as teses delirantes que circulam nas mesmas praças discursivas. A lenda mais recente está adaptada à hipótese realista do fracasso de Trump na disputa pela Casa Branca —e é proclamada pelo próprio presidente americano. O resultado adverso decorreria de vasta fraude eleitoral e anunciaria uma ofensiva avassaladora do “Estado profundo”, por meio de uma “revolução colorida” que confiscaria as armas e as liberdades dos cidadãos.

Como qualquer discurso conspiratório que se preze, o QAnon triunfa nos dois cenários. Se Trump perder, a profecia cataclísmica realizou-se, impondo uma resistência ilimitada contra o governo dos pedófilos. Se, no fim das contas, Trump vencer, a exposição do maligno complô evitou o pior, provando a necessidade de uma guerra inclemente diante do ardiloso inimigo.

Há outra distinção relevante. No tempo dos Protocolos, a narrativa da conspiração movia-se exclusivamente de cima para baixo, ou seja, das lideranças políticas rumo ao grande público. Hoje, na era das redes sociais, ela transita nas duas direções, que se retroalimentam. Engana-se quem pensa que a guerra da vacina é, apenas, uma expressão da rivalidade eleitoral de Jair Bolsonaro com João Doria.​

Demétrio Magnoli, sociólogo - Folha de S. Paulo