Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador negra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador negra. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Lula dobrou a aposta - Revista Oeste

Silvio Navarro

O petista indicou Flávio Dino para o STF poucos dias depois de assessores do ministro da Justiça terem sido flagrados com mulher de chefe do tráfico e de manifestações de rua contra a atuação do Supremo


Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública | Foto: Wallace Martins/Futura Press

O artigo 2º da Constituição Federal diz: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 
 Nesta semana, o consórcio que administra o país, formado por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo presidente Lula, deu mais um passo para rasgar o que foi escrito para ser lei. 
O atual ministro da Justiça, Flávio Dino, que largou a magistratura no passado justamente para virar político e tem mandato de senador, foi indicado para a Corte. 
Não há mais resquício de independência na Praça dos Três Poderes.
 
Para chegar ao Supremo, Dino precisa do aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e do Plenário do Senado. 
Nos dois casos, depende de maioria simples dos presentes em votações secretas. As sessões foram agendadas para o dia 13 de dezembro.Flávio Dino e Lula | Foto: Ricardo Stuckert/PR 
 
A escolha do comunista para a cadeira de Rosa Weber, aposentada desde setembro, foi decidida na última sexta-feira, 24, num jantar no Palácio da Alvorada, por três pessoas: Lula e os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. 
O recém-chegado ao tribunal Cristiano Zanin, ex-advogado do petista, estava presente. O encontro do trio, aliás, foi idêntico ao que precedeu a indicação de Zanin, em junho, além da seleção dos novos integrantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
 
Desde a saída de Rosa Weber, Lula dava sinais de que não tinha nenhuma pressa em definir seu sucessor. O principal motivo é que não achava uma saída para agradar a militância de esquerda — ou seja, uma mulher deveria ocupar a vaga, preferencialmente negra.  
O anúncio de Dino, contudo, precisou ser acelerado porque uma onda surgiu para incomodar esse consórcio do poder. 
 
O primeiro fator foi a constatação de que houve uma mudança de cenário no Senado neste semestre, a única instituição com poder regulatório do STF, segundo a Constituição. 
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e consequentemente do Congresso Nacional, desistiu de barrar as pautas que desagradam tanto ao STF quanto ao PT — aprovação do marco temporal para terras indígenas, veto ao porte de drogas e fim de decisões monocráticas do tribunal. 
Esta última foi o verdadeiro gatilho para a agitação dos togados.
 
Depois da aprovação da emenda constitucional que barra as canetadas individuais dos ministros, o Supremo alvoroçou-se. 
Num discurso duro e regado a bile, o decano da Corte, Gilmar Mendes, chamou os senadores de “pigmeus morais”.

“Esta Casa não é composta por covardes, por medrosos e não admite intimidações”, disse Gilmar Mendes. “Os senadores estão travestidos de estadistas presuntivos e a encerraram melancolicamente como inequívocos pigmeus morais.”

Pela primeira vez, Rodrigo Pacheco não recuou e defendeu a Casa que preside do ataque disparado do outro lado da praça. Num grupo de WhatsApp com 20 senadores, por exemplo, foram compartilhadas mensagens como: “Até que enfim ele assumiu a presidência do Senado”.

Em entrevista logo em seguida ao jornal Folha de S.Paulo, Pacheco disse que o Legislativo deveria determinar um tempo de mandato fixo para os togados — provavelmente de oito anos, como o dos senadores. Argumentos não faltam: caso passe pelo crivo do Senado, Flávio Dino ficará no STF até 2043. 
Gilmar Mendes chegou em 2002 e pode seguir na Corte até 2030. 
Como os próprios ministros admitem que o STF tomou gosto pela política, nada mais justo do que limitar o período de mandato, como ocorre no Legislativo.

Paralelamente, no último fim de semana, outro fator entrou na equação. Uma multidão lotou a Avenida Paulista para defender o impeachment de Alexandre de Moraes, num prenúncio de superação do trauma do dia 8 de janeiro

Parte da artéria central da cidade de São Paulo foi coberta de camisas verde-amarelas, como não se via desde 7 de setembro de 2022, e discursos inflamados nos caminhões de som causaram calafrios em Brasília — o principal foi: “A próxima manifestação será maior e, depois, maior ainda”.

O terceiro fator nessa trama é uma mudança de tom em algumas instituições democráticas contra os abusos do Supremo.  
O estopim foi a morte de Cleriston Pereira da Cunha, esquecido por Alexandre de Moraes no presídio da Papuda por causa dos atos do dia 8 de janeiro. Ele tinha problemas graves de saúde.  
O Ministério Público, que solicitara sua libertação, protestou abertamente. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também passou a demonstrar descontentamento com os abusos da Corte — advogados seguem proibidos de efetuar a sustentação oral no plenário e estão sendo humilhados por Moraes em sessões pela internet. 
Também parte da imprensa tradicional, timidamente, está perdendo o medo de criticar os togados e de mostrar em editoriais as digitais autoritárias do PT.
 
O resultado dessa onda que se ergue contra o ativismo político do Judiciário foi o anúncio, na segunda-feira 27, do nome de Flávio Dino para o Supremo. Lula imediatamente tomou um avião para a Arábia Saudita e o Catar. O petista espera que, quando desembarcar para uma escala em Brasília, Dino já tenha conseguido o número mínimo de votos no Senado. “Ao apelar para interpretações heterodoxas da lei e da Constituição e atropelar o papel institucional do Ministério da Justiça, o senhor Dino deveria ter sido desconsiderado como candidato ao Supremo. No entanto, como o critério para a escolha não é jurídico, isso pouco importa.”

(Editorial do jornal O Estado de S. Paulo)
 

Aposta dobrada
Em Brasília, tanto a oposição quanto o PT ou qualquer político que não tenha lado nessa história afirmam que a opção por Dino foi um gesto particular de Lula para Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes
No mês passado, quando a fervura contra o STF começou a aumentar, Mendes disse em Paris: “Se hoje nós temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do Supremo Tribunal Federal”. Foi um recado, sem rodeios, para que o petista não se esqueça de como foi o percurso desde a prisão até o Palácio do Planalto.
 
(...)
É importante frisar que o PT tinha outro nome para a cadeira no Supremo: Jorge Messias, o “Bessias”, atual advogado-geral da União. 
Até hoje a revelação de que assessores de Dino receberam duas vezes a “Dama do Tráfico”, alcunha da mulher de um dos líderes do Comando Vermelho, é atribuída a um vazamento da bancada petista. O mal-estar foi tão grande que auxiliares do ministro fizeram postagens sobre traição nas redes sociais.



Dino elegeu-se senador pelo Maranhão, mas não passou nem um dia no gabinete porque já havia sido nomeado para a pasta da Justiça e Segurança Pública. Em 11 meses, a segurança se deteriorou em todas as regiões: Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte foram palco de ataques de facções criminosas em série. A operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio e no Porto de Santos não conseguiu um único resultado até agora — pelo contrário, abriu uma crise com os funcionários da Receita Federal nas alfândegas.

No Maranhão, sua atuação como governador por oito anos tampouco pode ser usada como vitrine: o Estado tem o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. Há dois beneficiários do Bolsa Família para cada trabalhador com carteira assinada. A situação do sistema prisional é caótica.
(...)

Dino ainda transformou a Polícia Federal numa guarda política a serviço do regime
Não à toa, os agentes passaram o ano cumprindo operações relacionadas aos inquéritos de Moraes. 
Dino e o colega se aproximaram a tal ponto que o magistrado chegou a interromper o voto de André Mendonça, durante um julgamento do 8 de janeiro, para defendê-lo.  
Na ocasião, Mendonça questionou o fato de Dino ter assistido ao tumulto em Brasília “de camarote”, como ele mesmo disse ao Fantástico, da Rede Globo. E lembrou que ele já ocupou o Ministério da Justiça no passado.“Eu queria, o Brasil quer ver esses vídeos do Ministério da Justiça”, disse Mendonça. Ao que Moraes retrucou: “Vossa excelência vem no plenário do Supremo Tribunal Federal, que foi destruído, para dizer que houve uma conspiração do governo contra o próprio governo? Tenha dó.”

(...)

A ciranda se completa com Gilmar Mendes. Flávio Dino foi diretor da Escola de Direito de Brasília (EDB), do grupo empresarial de Mendes. 
Na época, o sócio do magistrado era Paulo Gustavo Gonet. No mesmo dia em que Dino foi indicado para o Supremo, Gonet foi escolhido para a Procuradoria-Geral da República. Pela primeira vez, o responsável pela acusação no tribunal seria “amigo de longa data” — como Gilmar fez questão de frisar nas redes sociais — do juiz da causa. O consórcio resolveu chutar o balde.

(2/2) Da mesma forma, quero felicitar Paulo Gonet, amigo de longa data, pela indicação para a PGR. Posso testemunhar o brilhantismo do indicado, que sempre atuou na defesa da democracia e da Constituição Federal.— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) November 27, 2023

Clique aqui, MATÉRIA COMPLETA


Leia também
“Um país que respira”

 

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 26 de setembro de 2023

A ministra flamenguista curtiu bastante o voo de jatinho da FAB que você paga - Alexandre Garcia

Vozes - Alexandre Garcia

 A ministra flamenguista curtiu bastante o voo de jatinho da FAB que você paga

Foto: Ten. Enilton/FAB/divulgação

[essa ministra me envergonhou e a milhões de brasileiros - envergonhar o Brasil e aos brasileiros é o que ela mais faz - PORÉM, considerando que o MENGÃO é milhões de vezes maior que  a ministra caroneira, continuarei FLAMENGUISTA; 

Considerando que  o governo que a caronista está amontoada, é bem menor que  que a atual administração do MENGÃO, continuarei FLAMENGUISTA.

Considerando que tanto a ministra, quanto o DESgoverno petista e a administração do MENGÃO,  logo passarão,  continuarei FLAMENGUISTA - mas, as minhas custas e quando de moto usando capacete, seja em favela ou em áreas nobres.

Foi péssimo perder o título, mas serviu para compensar a covardia que a direção do MENGÃO fez com o Dorival Júnior. E, pior seria, se o campeão tivesse sido o 'curintians'.]

Muito irônico que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, tenha tomado um avião da FAB para ver o jogo São Paulo e Flamengo. 
Ela ainda teve talvez ingenuidade ou empolgação, de agir como autoridade, de gravar e pôr na rede social: “olha, não é como flamenguista, mas eu estou indo aqui porque lá vai ter evento, que futebol não é racismo e tal, então eu vou embarcando no jatinho”
Gravou de dentro do jatinho, toda feliz que estava usando o jatinho de ministra
Por sua vez, seu colega de ministério, o ministro dos Direitos Humanos, que faz parte da igualdade racial, tomou avião de carreira que custa aí, sei lá, R$ 2 mil, sendo que o jatinho custa uns R$ 70 mil para fazer esse voo. Do contribuinte, é claro.
 
Isso está fazendo barulho nas redes sociais. E é muito bom que a gente cobre, porque se o ministro pode, perfeitamente, pegar voo mais barato, por que ele vai cobrar mais do contribuinte que já paga seu salário, já lhe dá apartamento grátis, já lhe dá a mordomia, o motorista, tudo isso? A partir disso, aproveitando, a gente fala de cor da pele aqui.  
A Anielle e o ministro têm a mesma cor de pele, o que é absolutamente irrelevante, porque o que vale é o caráter das pessoas.
 
Próxima ministra do STF?
Perguntaram para o presidente Lula hoje, se vai ser uma negra a nova ministra do Supremo, em substituição à Rosa Weber, que sai dia 2 de outubro. 
Ela sai da presidência nesta semana, assume Barroso, pois ela completa 75 anos, que é a idade limite. 
E Lula respondeu muito racionalmente. Disse que o critério não é esse. E está muito certo.  
Seria absurdo se o critério fosse sexo ou cor da pele, sendo que o critério previsto na Constituição, para Ministro de Supremo, é notável saber jurídico
Não fala nem de ser formado em Direito, é notável saber jurídico. 
E para Procuradoria Geral da República é alguém da carreira do Ministério Público Federal que tenha mais de 35 anos. 
É esse o critério, e está certo
(...) 
Eu acho que deveria ser o mais brilhante juiz de carreira, mas não é o que diz a Constituição.
 
Aquecimento global
Tem coisas incríveis por aí. Agora, por exemplo, eu vi estudo de uma Universidade do Canadá, Universidade de Waterloo, mostrando que leito de UTI lança na atmosfera mais gases nocivos ao buraco de ozônio que cinco famílias canadenses.  
Só faltou dizer: “mata logo o sujeito que tá na UTI para não afetar o buraco do ozônio”, meu Deus do céu, a que loucura estão chegando. 
Aliás, a propósito disso, eu vi que o Instituto Nacional de Meteorologia disse que há 62 anos não fazia tanto calor. 
Isso significa que 62 anos atrás fazia mais calor do que hoje. 
Só que ninguém chamava de aquecimento global. 
Era apenas ciclo de explosões solares e de aquecimento dos oceanos. 
E aí não tinha essa celeuma toda. Eu passei por isso quando tinha 20 anos. E pronto.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


sexta-feira, 28 de julho de 2023

Ministras afirmam que foram barradas ao tentarem entrar no Palácio do Planalto - O Globo

[cabe ao contribuinte, que paga os salários dos 'ministros', apenas imaginar o pouco valor que tem os que aceitam integrar um governo com quase quarenta figurantes - ops... ministros - ministros, destacando que  além dos que são barrados na entrada do Palácio do Planalto, tem os que nunca foram recebidos pelo apedeuta que os nomeou.] 
 
Presidente Lula ao lado da ministra Cida Gonçalves (Mulheres) e da primeira-dama, Janja
 
 Presidente Lula ao lado da ministra Cida Gonçalves (Mulheres) e da primeira-dama, Janja Evarista Sá/AFP
 
As ministras Cida Gonçalves (Mulheres) e Esther Dweck (Gestão) afirmaram nesta quinta-feira terem sido barradas ao tentarem entrar no Palácio do Planalto. Segundo os relatos, funcionários da segurança não identificaram que as duas faziam parte da esplanada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As ministras deram as declarações durante cerimônia de abertura dos trabalhos do grupo interministerial criado para combater o assédio no serviço público.

Sem dar muitos detalhes do episódio, Cida Gonçalves afirmou durante sua fala que foi barrada por funcionários da segurança ao tentar entrar no Palácio do Planalto possivelmente em mais de uma ocasião. Os ministros conseguem acessar o prédio por entradas privativas, mas, segundo o relato, Cida teria sido encaminhada para outra entrada e liberada posteriormente por outros funcionários.

Presidente Lula com a ministra da Gestão, Esther Dweck — Foto: Ton Molina/Fotoarena 

Presidente Lula com a ministra da Gestão, Esther Dweck — Foto: Ton Molina/Fotoarena

A discriminação passa pelo o que Anielle (Franco, ministra da Igualdade Racial) falou das roupas que a gente usa, da forma como você está. Eu sempre brinco que tem dia que eu chego no Palácio (do Planalto) e os seguranças não me deixam entrar. Eles falam 'não, a senhora entra por aquela porta'. Ai eu falo 'eu não tenho cara de ministra, não tenho tamanho de ministra, nem me visto como ministra, mas eu sou ministra'. [convenhamos que ser ministra no desgoverno do presidente ignorante e NADA são a mesma coisa.] Ai a Tatiane ou as meninas do corredor saem correndo falando 'ela é ministra' – afirmou, completando: – Eu coloquei o exemplo do Palácio, mas o que acontece no Palácio acontece em todos os lugares, inclusive no meu ministério.

Cida continuou falando que Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, deve ter mais dificuldade em "convencer todo mundo que ela é uma ministra" por ser negra. – Eu sempre brinco porque imagina a Anielle, negra, como deve ser difícil convencer todo mundo que ela é uma ministra. Ou o Silvio Almeida.

Esther Dweck (Gestão) também afirmou que, assim como Cida, ela e Anielle foram barradas no Palácio do Planalto pelo mesmo motivo. A ministra da Gestão afirmou que não é culpa do funcionário da segurança, mas sim de uma "cultura da sociedade brasileira de não imaginar determinadas pessoas em determinados espaços".

Quando a Cida falou que ela é barrada no Palácio, eu sou barrada no Palácio, Anielle é barrada no Palácio, e muitas vezes é um terceirizado que fica ali na segurança e isso está na cabeça dele. Isso é que é triste, a sociedade brasileira traz isso para dentro. A pessoa que está ali não tem nenhuma responsabilidade por estar tendo aquela reação, claro, porque isso é fruto de uma cultura da sociedade brasileira de não imaginar determinadas pessoas em determinados espaços.[se percebe que a ministra boquirrota em seu acesso de falar bobagens, demonstra preconceito contra trabalhadores terceirizados.]

O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança dos palácios presidenciais (Alvorada e Planalto), foi procurado, mas não retornou até a publicação desta matéria.

Política - O Globo


sexta-feira, 25 de março de 2022

Uma agressão às mulheres - Revista Oeste

Ana Paula Henkel 

Até 2019, Lia era William e competia com os homens. Antes de se tornar a número 1 entre as mulheres, no ranking com os rapazes era o 462º entre 500 nadadores 

Há mais de cinco anos venho escrevendo e falando sobre o que jamais poderíamos imaginar, principalmente nós mulheres: ver homens biológicos competindo no esporte feminino. 
Já escrevi uma carta aberta ao Comitê Olímpico Internacional e uma dúzia de artigos detalhando todos os pontos absurdos dessa política nefasta de identidade de gênero que vem prejudicando meninas e mulheres em todo o mundo e em quase todos os esportes.
 
Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com quase uma piscina de vantagem e se sagrou “campeã” da liga universitária norte-americana | Foto: cortesia Peter H. Brick
Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com quase uma piscina de vantagem e se sagrou “campeã” da liga universitária norte-americana | Foto: cortesia Peter H. Brick  [em outras palavras = quando era homem biológico entre 500 competidores, ele estava entre os 50 piores = ocupava o 462º lugar; ; se transformou e passou a competir com as mulheres e passou a ser o primeiro entre elas. Isso é justo?]

Não é preciso repetir neste artigo todas as informações óbvias das aulas de biologia da 5ª série, basta ter mais de dois neurônios para entender que homens têm corações e pulmões maiores, maior capacidade cardiorrespiratória, maior oxigenação sanguínea devido à maior produção de glóbulos vermelhos, fibras mais rápidas, densidade óssea superior… Homens são biologicamente diferentes de mulheres. E não há nada de controverso ou polêmico nisso. Simples assim. Mas parece que o mundo, depois de passar por duas grandes guerras, decidiu entrar de vez numa guerra contra a ciência. E, nesta semana, mais uma vez aplaudindo um homem biológico batendo recordes e vencendo títulos em uma competição feminina. Lia Thomas, a nadadora transexual que venceu mulheres com quase uma piscina de vantagem e sagrou-se “campeã” (com aspas mesmo) da liga universitária norte-americana (NCAA) foi o assunto da semana. Até 2019, Lia era William e competia com os homens. Antes de se tornar a número 1 entre as mulheres, no ranking com os rapazes era o número 462 entre 500 nadadores.

Até 2019, Lia era William e competia com os homens -  Foto: Reprodução

Durante esses anos, venho tentando trazer um pouco de racionalidade para o debate público. Essa invasão de homens biológicos nos esportes femininos não é apenas errada, é um ataque e um desrespeito inaceitável às mulheres que seguem à risca as políticas antidoping pela proteção do esporte limpo. A própria discussão é, em si, ultrajante e humilhante. O debate honesto sobre esse assunto não pode ser embasado na identidade social de um indivíduo, que, obviamente, deve sempre ser respeitada. Como as pessoas decidem viver suas vidas é uma questão de foro privado. Mas decisões sociais e particulares não criam direitos automáticos e imaginários. Esse assunto é sobre a clara exclusão de meninas e mulheres no esporte feminino, é sobre ciência e sobre identidade biológica, pilar sagrado e justo nos esportes. Esse assunto é sobre honestidade.

Hoje, no entanto, não focarei na parte física desse debate que engloba, entre tantas verdades chatas ao politicamente correto, políticas antidoping. Atletas trans, hoje competindo com mulheres, como Lia Thomas, Tiffany Abreu, Fallon Fox ou Alana McLaughlin, um ex-soldado das Forças Especiais do Exército norte-americano, não sabem o que acontece no universo feminino do esporte. Mulheres são muito mais policiadas dentro e fora de competições do que homens

Uma pequena gota a mais de testosterona em um corpo feminino pode significar uma enorme diferença, o caminho que separa o ouro da prata, a classificação da eliminação ou a glória do fracasso. 
As diversas vantagens que as mulheres trans possuem devido aos anos de exposição à testosterona desde a infância não são amenizadas ao manter a quantidade hormonal recomendada pelo Comitê Olímpico Internacional de até 10 nanomols/litro por 12 meses (mulheres têm em média entre 2,8 e 3,2 nanomols/litro). Não existe nenhuma pesquisa que possa comprovar que a supressão hormonal nesse período possa reverter todas as características físicas superiores da genética masculina depois de passar 20 ou 30 anos de exposição a altas doses de testosterona. Ou se é possível, sequer, reverter isso com anos sem o hormônio masculino.

A guerra, no entanto, não foi declarada apenas à ciência ou às mulheres no esporte. O objetivo de toda essa agenda nefasta que inclui revisionismos históricos, derrubada de estátuas e a vida baseada em “construções sociais” não é “proteger” as minorias ou sequer as pessoas trans, mas destruir a própria ideia de conhecimento objetivo. Se até a natureza biológica do ser humano é negada, tudo, e absolutamente tudo pode ser negado. Esse é o maior objetivo desse “movimento revolucionário”. Todo e qualquer processo revolucionário apresenta inicialmente uma fase de desestabilização da sociedade, para em seguida impor uma nova ordem despótica. Se hoje os revolucionários prometem mais “direitos” às “minorias”, na sequência das páginas deste enredo as mesmas minorias serão descartadas, como mostra a própria história. E essa guerra foi declarada de vários frontes.

Nesta semana, aqui nos Estados Unidos, no Comitê Judiciário do Senado norte-americano, aconteceu a sabatina de Ketanji Jackson, a indicada de Joe Biden à Suprema Corte. 
A senadora Marsha Blackburn, do Tennessee, perguntou a Jackson o que deveria ter sido a pergunta mais fácil já feita em uma sabatina para uma das cadeiras da famosa SCOTUS: “Você pode definir o que é uma mulher?”. Nomeada publicamente por Biden por ser negra e mulher, imagine como Jackson deve ter ficado aliviada ao ouvir uma pergunta tão banal. Nada de casos históricos ou jurisprudências obscuras e precedentes do século passado da Corte. Tudo o que os republicanos querem é uma recapitulação de um dos primeiros capítulos de Biologia: O que é uma mulher.

Ketanji Jackson, uma juíza de Cortes inferiores famosa por aplicar penas bem menores a criminosos, inclusive pedófilos, poderia ter dito com incredulidade: “Senadora, essa é uma pergunta simples que qualquer estudante do ensino médio pode responder. Uma mulher é um ser humano com dois cromossomos X e isso é facilmente detectável em um exame de sangue. As mulheres têm pélvis mais largas, estruturas ósseas diferentes das dos homens e genitália muito diferente. Geralmente, é bastante óbvio que são mulheres, só de olhar para elas. As mulheres têm genética diferente porque somos projetadas para fazer coisas diferentes. A natureza é real. As mulheres menstruam, engravidam, dão à luz e depois amamentam. Os homens não fazem essas coisas porque eles não podem. Joe Biden me nomeou para a Suprema Corte porque sou mulher. O presidente sabe exatamente o que é uma mulher. Se ele não soubesse, não teria me escolhido.”

Teria sido fantástico se ela tivesse dito isso. No entanto, Ketanji Jackson disse que não poderia fornecer uma definição sobre o que era uma mulher porque “não era bióloga”. Jackson, uma indicada à Corte mais importante dos Estados Unidos da América, respondeu sem o menor constrangimento que, por não ser bióloga, não poderia dizer o que é uma mulher. Mas a verdade é que não faria a menor diferença se ela fosse bióloga (ou qualquer pessoa que queira enfiar em nossa goela abaixo que atletas femininas trans não são homens), porque ninguém no Partido Democrata, no Psol, PT ou na cega militância LGBT se importa de verdade com o que os biólogos pensam sobre sexo biológico. Os biólogos foram banidos junto com os Pais Fundadores da América, com todas as estátuas de heróis do passado e com a liberdade de expressão.

Em 2022, depois de ouvirmos por dois anos “Ciência, ciência, ciência!”, o poder da ciência e da literatura humana desmorona à luz do dia diante do lobby trans. Até uma indicada para a Suprema Corte norte-americana, mesmo com todas as suas credenciais acadêmicas, tem a cara de pau de mostrar seu pedágio lobista e diz, sem o menor constrangimento, que não sabe o que é uma mulher porque não é bióloga. O mais curioso e surreal disso tudo é que, se voltarmos na sabatina de Brett Kavanaugh, uma das nomeações de Donald Trump para a Suprema Corte e acusado de última hora de um suposto assédio sexual quando ainda estava no High School, lembramos que fomos bombardeados com o mantra de que devemos acreditar cegamente em todas as mulheres, independentemente de estarem ou não dizendo a verdade. Elas são mulheres, portanto, em nome da justiça social, devemos simplesmente aceitar o que elas dizem. Como Kamala Harris afirmou certa vez: “A palavra de uma mulher é como uma declaração juramentada”.

O “debate” sobre transgenerismo é definido pela censura, fazendo você calar a boca e não permitindo que você perceba o óbvio

Joe Biden, ainda nas primárias democratas em 2020, rechaçou que há diferenças entre homens e mulheres: “Nós, de fato, temos de mudar fundamentalmente a cultura, a cultura de como as mulheres são tratadas. Nenhum homem tem o direito de levantar a mão para uma mulher com raiva, a não ser em autodefesa, e isso raramente ocorre. Por isso, temos de mudar a cultura”. Até o estranho e inepto Joe Biden sabe que homens e mulheres não são iguais. Não estamos dizendo que um é moralmente melhor que o outro. Somos moralmente iguais, mas somos diferentes nos níveis mais profundos, começando pela biologia. Todos nós crescemos sabendo disso, mas agora a turba alimentada pelos jacobinos LGBTQTVBGRTYWXCFRET+++++ está mandando fingir o contrário, negar a natureza e suprimir seus instintos mais básicos e valiosos de proteção às mulheres. Estão nos dizendo que não temos o direito de ficar chateadas quando um homem biológico apanha de uma mulher trans, seja num bar, seja num ringue ou numa competição desleal na piscina. Estamos prontos para suprimir esses instintos? Estamos prontos para viver em uma sociedade que não reconhecerá as mulheres? Estamos prontos para sermos colocados em mais uma — depois de dois eternos anos na pandemia! — espiral de silêncio? Não fale, não questione, não pergunte — ou terá a cabeça degolada pela turma “love is love”.

O esporte feminino está sendo desfigurado a passos largos. Por mais que eu tenha me impressionado com tamanha repercussão positiva por parte do público nesta semana com o caso de Lia Thomas, a lei do silêncio continua imperando entre jogadoras, nadadoras e atletas femininas. Mas o perigo dessa agenda vai além das fraudes no esporte feminino: o que acontecerá com os sistemas judiciários se fingirmos que homens e mulheres são exatamente iguais, que são meras “construções sociais”? A afirmação da indicada de Biden à Suprema Corte de que não podemos dizer quem é homem e quem é mulher é um sintoma da transformação da sociedade pela perigosa agenda identitária. Em um futuro não muito distante, a maneira como administramos a Justiça também será transformada, começando com as leis antidiscriminação. Se não podemos dizer com certeza quem é uma mulher, como vamos aplicar a Lei Maria da Penha ou todas as medidas de proteção contra violência doméstica, estupros e assédios? Nos Estados Unidos, o Título IX, uma lei dos anos 1970 que proíbe a discriminação sexual em escolas e universidades, está sendo usado hoje por meninos biológicos que “se sentem” como meninas. Se não usamos o sexo biológico como um aferidor justo, como podemos evitar a discriminação com base no sexo biológico?

O objetivo do movimento trans não é convencer ninguém de que a biologia não é real. Isso seria impossível de ser realizado. Qualquer um soaria ridículo se tentasse articular isso, muito menos explicar. O objetivo desse movimento é muito diferente. A questão central é fazer com que todos nós repitamos uma mentira, algo que sabemos perfeitamente que não é verdade, fitando assustados a guilhotina acima de nossos pescoços. “Sim, Lia Thomas é uma mulher que ganhou a competição de natação porque treinou mais do que as outras garotas. Lia Thomas mereceu vencer. Lia Thomas é incrível e sua vitória não foi trapaça. Não notamos também que seu corpo de homem continua com todas as características intactas.” Pronto. Ufa… Dessa vez não perdemos o pescoço.

E é esse mantra que exigem que repitamos, não porque eles se importam com Lia Thomas, com Tiffany, Fallon Fox ou qualquer outra pessoa trans. Eles não se importam, porque, se importassem, pensariam duas vezes antes de expor essas mulheres trans e a própria comunidade ao ridículo. Fazer com que todos nós finjamos acreditar em algo que não acreditamos é o único objetivo, porque, se eles podem fazer com que acreditemos em algo que sabemos que é falso, eles venceram. Eles controlam o seu e o meu cérebro.

Então, toda essa insanidade negacionista não é sobre pessoas trans. É sobre todos nós, e eles apostaram alto. E é exatamente por isso que a censura é tão intensa. O “debate” sobre transgenerismo é definido pela censura, fazendo você calar a boca e não permitindo que você perceba o óbvio. Quando você menos perceber, você já entrou na espiral de silêncio imposta por eles. Não há nenhuma tentativa de persuadir nenhum de nós por argumentos válidos em uma discussão com o mínimo de honestidade. Não há nenhuma ideia baseada em fatos. Você não pode responder: “Mas então os homens podem se tornar mulheres apenas desejando ser mulheres?”. Isso não é permitido e, se fosse, jamais responderiam. Só nosso silêncio e as boquinhas fechadas importam. O primeiro movimento sempre é a censura e o segundo movimento, inevitavelmente, é a punição. Resolveu falar? Cabeças no chão, contas de redes sociais suspensas, perseguição virtual, cancelamentos…

Mas ainda há enorme esperança nesse novo mundo orwelliano em pessoas como Caitlyn Jenner, ex-atleta e campeão olímpico de decatlo masculino como Bruce Jenner. Jenner se identificou como mulher trans em 2015 e é veementemente contra homens biológicos competindo com mulheres no esporte feminino. Recentemente, ela disse em um vídeo que esse assunto é apenas uma questão de justiça: “Sou contra meninos biológicos que são trans poderem competir com garotas. Simplesmente não é justo e nós temos de proteger o esporte feminino nas escolas”. Essa semana, Caitlyn declarou que a vitória de Lia Thomas não é justa, que o corpo da nadadora é claramente o corpo de um homem que passou por toda a puberdade envolto em testosterona. Claro que Jenner foi devorada pelo tal feminismo que jura por todos os santos proteger e lutar pelas mulheres.

Há uma frase atribuída a Voltaire que diz que quem pode fazer você acreditar em absurdos pode fazer você cometer atrocidades. Um homem não pode se tornar uma mulher diminuindo sua testosterona. Nossos direitos não devem — e não vão — terminar onde os sentimentos de alguns começam.

Leia também “A hipocrisia da cultura do cancelamento”

 Saber mais, leia: o que é uma mulher

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sábado, 12 de junho de 2021

Fatos são coisas teimosas - Ana Paula Henkel (@AnaPaulaVolei)

Revista Oeste

Em seu primeiro discurso como vice-presidente, Kamala Harris disse ao povo da Guatemala o que estava inserido nas políticas tão criticadas de Trump: 'Não venham para os EUA'

Em novembro do ano passado, logo após as eleições presidenciais norte-americanas, publiquei um artigo aqui na Oeste mostrando quem era, de fato, a vice de Joe Biden. Kamala Harris, uma velha conhecida dos californianos, foi procuradora-geral da Califórnia e, mais tarde, senadora pelo Estado.

No caminho da histórica eleição de 2020, um pleito confuso e ainda com muitas perguntas sem resposta, ficou nítido que o único objetivo dos democratas era o poder da Casa Branca. Sem políticas nem propostas, o jeito foi esconder o candidato no porão e maquiar, de forma hollywoodiana, a vazia candidata a vice, que pelo menos atendia ao politicamente correto: mulher, negra, asiática, filha de imigrantes…, mas que carregava também um defeito difícil de ser escondido por muito tempo, a incompetência.

Diante de um crescimento significativo de votos de latinos no Partido Republicano desde a eleição de Donald Trump, em 2016, a mensagem da campanha presidencial dos democratas aos imigrantes ilegais, seguida logo após por uma ordem executiva do presidente eleito Joe Biden, sempre foi clara: as políticas de fronteira do ex-presidente Donald Trump seriam suspensas, a construção do muro entre o México e os Estados Unidos interrompida e a concessão de green cards a imigrantes ilegais expandida. Esse movimento gerou uma enxurrada desenfreada de imigrantes ilegais da América Central na fronteira e o país enfrenta hoje uma das maiores crises humanitárias e sanitárias de sua história.

Depois de passar a campanha presidencial escondido e ainda sem dar uma única entrevista coletiva aberta, Joe Biden decidiu colocar sua vice, Kamala Harris, à frente da crise migratória na fronteira sul. E o que era óbvio para milhões de californianos tornou-se evidente até para eleitores democratas. A cor de sua pele, sua etnia ou sua condição como mulher não lhe dão automaticamente a capacidade de liderar ou governar.

Há dois anos, ainda durante as primárias presidenciais democratas, Kamala Harris fez uma aparição no canal CNN para explicar sua posição na disputa. Naquele momento, ela havia acabado de ser humilhada em um debate por Tulsi Gabbard, outra candidata nas primárias, que expôs toda a incompetência da concorrente em sua vida pública na Califórnia. Harris tentava explicar o que havia acontecido, dizendo que era normal o embate porque ela era uma candidata de “primeira linha”.

Para quem acompanhou todo o processo eleitoral desde as primárias democratas, não foi difícil perceber que Kamala Harris nunca foi isso. Nem mesmo no dia em que realmente anunciou sua candidatura. No papel, ela parecia uma concorrente séria, era senadora pelo maior Estado do país, ex-procuradora com apoio quase universal entre os repórteres militantes de uma mídia que se tornou uma espécie de assessoria de imprensa do Partido Democrata. Por algum tempo, a receita enganou muita gente e parecia que o plano daria certo. O problema nunca foi a mídia de pompom, mas os eleitores reais que sempre a consideraram detestável e inepta. Quanto mais Kamala eles viam, mais enojados ficavam.

A incapacidade política e diplomática de Harris gerou críticas até dentro do próprio partido

Para se ter ideia da repulsa que Harris despertava, em dezembro de 2019 ela estava perdendo em seu próprio Estado nas primárias democratas para o quase desconhecido Andrew Yang. Numa pesquisa do partido, a maioria dos democratas da Califórnia disse que queria que ela desistisse da corrida. Harris estava sendo esmagada até mesmo no pequeno Estado de Iowa, onde ela gastou praticamente todo o dinheiro arrecadado para a campanha. É surpreendente que, mesmo para a política, um meio famoso por recompensar a falsidade, Kamala Harris seja falsa demais para vencer.

Sua sorte é que, no atual raso e árido cenário político, pouco se discute sobre propostas, ideias ou soluções. No culto à cor da pele, ao gênero, à etnia, à sexualidade, e a toda a parafernália do politicamente correto, o que menos conta é a capacidade de governar. E Kamala, por preencher o checklist dos sinalizadores de virtude, foi a escolhida para ser o poste do poste da China. Sua primeira tarefa? A histórica crise migratória na fronteira sul. O que poderia dar errado? Tudo.

Harris fez sua primeira visita estrangeira à Guatemala e ao México nesta semana para abordar as “causas profundas” da migração da América Central para os Estados Unidos. Em seu primeiro discurso como vice-presidente, ela disse ao povo da Guatemala, sem rodeios, o que estava inserido nas políticas tão criticadas de Donald Trump: “Não venham para os EUA”, afirmou, antes da reiteração. “Não venham para os Estados Unidos. Os Estados Unidos continuarão a fazer cumprir nossas leis e a proteger nossa fronteira. Se vier para a nossa fronteira, você será mandado de volta.” Harris nazista, fascista, taxista, sambista, eletricista.

Biden, aparentemente, enviou Harris para “liderar esforços com o México e o Triângulo Norte com os países que vão precisar de ajuda para conter o movimento de tantas pessoas, impedindo a migração para nossa fronteira sul”. Ele também disse que ela era “a pessoa mais qualificada para isso”. Porém, depois dessa viagem, o óbvio ficou mais claro que a luz do dia. A incapacidade política e diplomática de Harris gerou críticas até dentro do próprio partido. Harris chamou a linguagem usada em seu discurso de imigração de “nova era” — o que vai contra a lei de asilo defendida pelo presidente Joe Biden em campanha, e a promessa de restaurar o sistema de processamento de asilo na fronteira, trazendo uma reforma de imigração há muito esperada.

Mas o desastre da vice não parou por aí. Em uma entrevista ao NBC Nightly News, Harris exibiu alguns de seus muitos talentos, que incluem uma inacreditável superficialidade e obstinada incapacidade de processar os relatórios que o Departamento de Estado envia a ela. Um dos momentos mais significativos deixaria nossa “presidenta” Dilma orgulhosa. Quando Lester Holt, da NBC, fez a Harris a pergunta mais óbvia que ela receberia sobre a crise da fronteira, a vice-presidente tentou desviar e rir da pergunta“Por que não visitar a fronteira? Por que não ver o que os norte-americanos estão vendo nesta crise?”, Holt perguntou.

Harris, demonstrando absoluto descontrole, responde agitando os braços: “Em algum momento, você sabe, nós vamos para a fronteira. Estivemos na fronteira. Então, toda essa coisa… essa coisa… sobre a fronteira… Estivemos na fronteira. Estivemos na fronteira”.  O repórter é incisivo: “VOCÊ não foi à fronteira”. Harris então responde com uma gargalhada nervosa: “E eu não fui para a Europa! Quer dizer… eu não estou entendendo o seu ponto”.

Kamala Harris está no comando de um dos problemas atuais mais graves nos Estados Unidos. E ri de uma pergunta sobre o motivo pelo qual ela não foi até a fronteira para entender melhor o que está acontecendo. O nervosismo, o aceno da mão, a risada inapropriada, as repetições semelhantes às de um robô danificado são humilhantes. O fato é que Harris não foi à fronteira. Nem Biden.

O ex-presidente Donald Trump e sua administração se opuseram veementemente à imigração ilegal e às caravanas de requerentes de asilo. Trump se concentrou na construção do muro na fronteira e impôs uma política de “Permanecer no México”, que obrigava a maioria dos requerentes de asilo da América Central a esperar no país vizinho enquanto os tribunais dos EUA revisavam suas reivindicações de perseguição. Em contraste, o governo Joe Biden encerrou a construção do muro e desmantelou a política de Trump. Em abril, entretanto, as detenções na fronteira sul atingiram mais de 178.000 migrantes ilegais — o maior número mensal em 21 anos, com milhares de menores desacompanhados.

Tommy Pigott, um dos diretores do Comitê Nacional Republicano, atesta que muitos norte-americanos que vivem em comunidades fronteiriças estão com medo de deixar sua casa e que contrabandistas vêm abandonando crianças de até 5 anos de idade na fronteira. Em comunicado à imprensa, Pigott disse que as apreensões de Fentanyl, um analgésico que se tornou uma das drogas que mais matam por overdose nos EUA, estão aumentando em todo o país. “Mesmo assim, Biden e Harris continuam decepcionando o povo norte-americano”, afirmou.

Há uma razão pela qual Kamala Harris nem mesmo chegou a Iowa no processo das primárias democratas, apesar de um lançamento espalhafatoso e do ímpeto baseado em identidade de gênero, etnia e cor da pele. Ela simplesmente não é boa em política. É inautêntica, tem instintos ruins, falta-lhe seriedade e irrita muita gente.

Mas não é apenas sua incapacidade que chama atenção. Diante da implacável realidade dos fatos, fora das supermaquiagens hollywoodianas para travestir farsantes em políticos, não há outra maneira de finalizar esse artigo a não ser com as palavras de um dos mais importantes personagens da história norte-americana. Em março de 1770, John Adams, um dos Pais Fundadores dos EUA, disse durante o julgamento dos soldados britânicos envolvidos no chamado Massacre de Boston: Fatos são coisas teimosas. E, quaisquer que sejam nossos desejos, nossas inclinações ou os ditames de nossas paixões, eles não podem alterar o estado dos fatos e as evidências”.

Leia também “A fraqueza explícita diante dos adversários”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Com todas as desconfianças, creio que temos mais segurança nos resultados que os americanos

Alexandre Garcia

"Com todas as desconfianças, creio que temos mais segurança nos resultados que os americanos. Com toda a confiança que temos nos carteiros, preferimos nós mesmos digitar o nosso voto, sem intermediários"

[Defendendo os carteiros: além da sempre possível desonestidade de alguns funcionários dos correios, cabe lembrar que  carteiros sofrem investidas de bandidos, traficantes, etc. Além da ECT não possuir o poder investigatório do Serviço Postal dos EUA, existe no Brasil, por suprema decisão do STF, áreas que estão fora do alcance da atuação das forças policiais - o ingresso da polícia em favelas do Rio, está sujeito a rígidos protocolos que quando atendidos o sigilo da operação já era.]
 
Quem se impacienta com a demora de uma decisão definitiva na eleição americana não deve ter acompanhado a eleição de George W. Bush, em 7 de novembro de 2000. No dia seguinte pela manhã, a apuração já mostrava que o democrata Al Gore tinha 255 delegados e o republicano Bush, apenas 246. Imagino se o presidente do Brasil, Fernando Henrique, tivesse se adiantado e já cumprimentasse Gore, que estava mais perto dos 270 delegados que significam vitória. Mas ainda faltavam os 25 votos da Flórida. 
 
Dias depois, Bush estava ganhando por 300 votos na Flórida. No dia 26 de novembro, o conselho eleitoral da Flórida proclamou o resultado pró-Bush, numa diferença de 537 votos. Aí, o democrata Gore entrou na Justiça e pediu recontagem de 70 mil votos, cancelando a declaração do resultado. Em 12 de dezembro, a Suprema Corte, por um apertado 5 a 4, convalidou a decisão do conselho eleitoral, e Bush estava eleito presidente. Demorou 35 dias, e se discutia apenas um estado. O eleito teve 50 milhões 460 mil votos; o perdedor, 51 milhões e três mil. É isso mesmo. O perdedor teve 543 mil votos acima do vencedor.
 
 Agora, Trump denuncia fraude e se declara vitorioso. De 160 milhões de votos facultativos, mais de 100 milhões vieram pelo correio. O provável eleito, Biden, argumenta que foi uma vitória clara e convincente. Já fez discurso como eleito, falando em erradicar a covid e o racismo. Para erradicar a covid, a Pfizer, talvez, tenha esperado o momento certo para anunciar o resultado de sua vacina. Para erradicar o racismo, vai ser difícil. Está impregnado até no noticiário. Das características da vice Kamala Harris, a mídia americana destaca que ela é negra e sul-asiática. A mente brilhante da procuradora e senadora ficou secundária. Depois.

Enquanto eles, por lá, se dividem quase ao meio, nós, por aqui, vamos às urnas eletrônicas no próximo domingo, Dia da República. Voto obrigatório, com resultados nas horas seguintes ao encerramento das urnas, e segundo turno nos municípios mais populosos, onde não ficar clara uma maioria. Com todas as desconfianças, creio que temos mais segurança nos resultados que os americanos. Com toda a confiança que temos nos carteiros, preferimos nós mesmos digitar o nosso voto, sem intermediários. Se eles acompanhassem o nosso processo eleitoral, assim como nós acompanhamos os deles, nunca mais se refeririam ao Brasil como um exótico país tropical. Yes, nós temos banana; mas (graças ao Havaí) eles têm muito abacaxi, que pode levar tempo para descascar.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense

 

 

 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Marielle, Juliane e as balas no meio do caminho



Em 2017, morreram 367 policiais civis e militares no Brasil, dois terços deles em períodos de folga



Na última quarta-feira, 1º de agosto, Juliane dos Santos Duarte, de 27 anos, aproveitou a folga para ir a um churrasco na casa de amigos em Paraisópolis, favela da Zona Sul de São Paulo. Na madrugada do dia seguinte, foi ao bar com uma amiga em busca de um engradado de cerveja. Ao voltar do banheiro, soube que um celular acabara de ser furtado. Juliane identificou-se como policial militar e exigiu, em vão, a devolução do aparelho. Continuou no local, dançando, bebendo e conversando. Cerca de 40 minutos mais tarde, quatro homens encapuzados entraram, levaram-na para fora e atingiram duas vezes em seu ventre. Quatro dias depois, o corpo foi encontrado no porta-malas de um carro em Jurubatuba. O laudo da perícia constatou que ela morreu com um tiro na cabeça. Antes da execução, ficou pelo menos 24 horas em poder dos algozes, submetida a um “tribunal” formado pelos bandidos.


 A policial militar Juliane dos Santos Duarte, que estava desaparecida desde a última quinta-feira (2) (Divulgação/Divulgação)
O crime tem semelhanças com a morte de Marielle Franco, a hoje célebre vereadora do Psol do Rio de Janeiro, assassinada em março deste ano. Como Marielle, Juliane era negra, lésbica e integrava o aparelho do Estado. Ambas tinham um histórico de luta contra a criminalidade e estavam de folga no momento em que foram alvejadas. As similaridades acabam aí. Enquanto a morte de Marielle gerou comoção nacional, passeatas e manifestações indignadas de partidos políticos, movimentos sociais e entidades que se proclamam defensoras dos direitos humanos, a de Juliane não mereceu sequer meia dúzia de notas de protesto.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta quinta-feira informa que São Paulo ocupa o segundo lugar no ranking de mortes de policiais civis e militares. Foram 60 em 2015, 80 em 2016 e 60 no ano passado. Desde 2001, de acordo com a corregedoria da PM de SP, houve 1.147 óbitos. Nos últimos 16 anos, portanto, um policial militar ou civil foi assassinado a cada cinco dias no estado. O Rio de Janeiro é o campeão com, respectivamente, 98, 87 e 104 mortes, e o Pará ocupa o terceiro lugar: 21 mortes em 2015, 21 em 2016 e 37 em 2017.

Para José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM e ex-secretário nacional de Segurança Pública, um dos principais motivos desses índices perturbadores é a baixa remuneração da categoria (o salário de um soldado em São Paulo, por exemplo, gira em torno de R$ 3 mil por mês). “Para complementar a renda, o policial procura empregos alternativos e de maior risco”, argumenta José Vicente. “Ainda que ele seja bem treinado, pode vir à óbito ao reagir em condições desfavoráveis”.

Embora tão inaceitável quanto a morte de policiais, a de políticos é infinitamente menor. Entre 2016 e 2018, 40 vereadores foram assassinados em 17 estados brasileiros. Só em 2017, morreram 367 policiais no Brasil, 70% em períodos de folga. Mais de 150 dias depois, tanto o poder público quanto os movimentos sociais e as entidades de defesa dos direitos humanos continuam empenhados em desvendar o homicídio de Marielle Franco. Em menos de uma semana, o de Juliane já virou estatística.