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sábado, 23 de abril de 2016

Troca de baralho

Uma das perguntas preferidas, entre tantas que são feitas em momentos de desastre, é: “Por que, no fim de todas as contas, deu nisso?”.  

Há pelo menos umas boas 25 opções de resposta para explicar a liquidação da presidente Dilma Rousseff e seu governo, colocados agora na reta final com a decisão da Câmara dos Deputados. De todas as respostas possíveis, uma das mais acertadas está provavelmente entre as mais simples: ao longo de toda a sua agonia, Dilma jamais conseguiu se defender com coerência das acusações que recebeu. Em vez de buscar ajuda nos fatos para fazer sua defesa, foi procurar salvação numa frase de palanque:Impeachment é golpe”. 

 O resultado concreto desse esforço foi a derrota que acaba de sofrer no plenário da Câmara. Seu grito de combate convenceu os que não precisavam ser convencidos de nada, e que são os mesmos de sempre ─ intelectuais etc., mais os “movimentos sociais” que vivem de dinheiro público e movimentam basicamente a si próprios. Mas não convenceu a única plateia que interessava, por ser a única capaz de resolver o seu problema: os deputados federais brasileiros. Fim da conversa.

Parece claro, em todo caso, que nunca existiu dentro dos limites da força humana nenhuma possibilidade de fornecer a Dilma uma defesa minimamente razoável. A presidente está sendo deposta, do ponto de vista técnico, por fraude nas contas públicas, e por nada mais. É rigorosamente fora de propósito, ao mesmo tempo, esperar que na hora do julgamento alguém consiga esquecer o monumento histórico à corrupção, à incompetência e à insensatez que foram os seus cinco anos e tanto de governo. Dilma não praticou todos os erros, é claroaliás, ninguém tem tempo para errar tanto, e além do mais a desgraceira geral começou nos governo do seu antecessor. Mas ela é a responsável, sim, pelos erros cometidos. Quem esteve no comando do barco durante todo esse tempo? Foi ela, e mais ninguém. Não dá para dizer, agora, “eu não sabia”, ou “não era isso que eu queria”, ou “não fui eu” quem roubou, quem arruinou a Petrobras, quem criou 10 milhões de desempregados, quem levou a indústria brasileira a seu estágio de setenta anos atrás, quem transformou os fundos de pensão das estatais em atividade criminosa, e por aí afora. Defender-se como, desse jeito?

O que lhe ocorreu, a ela e sua tropa, foi ficar dizendo “não vai ter golpe”. Fora isso, o governo limitou-se a praticar truques. Mandou ministros se licenciarem para votar contra o impeachment na Câmara. Tentou-se colocar Lula na Casa Civil. A um certo momento pensaram em baixar o preço da gasolina. Cargos públicos foram postos em venda aberta em troca de votos. Quiseram jogar a culpa de tudo em Michel Temer e Eduardo Cunha, esquecidos de que o vice, ainda faz pouco tempo, era o grande “coordenador político” do governo ─ chegou-se a garantir que ele ia “liquidar a fatura” em favor de Dilma. E Cunha? 

Jamais se menciona que foi nos governo do PT, e não durante o reinado de dom Pedro II, que o deputado praticou todos os delitos de que é acusado. A cada dois ou três desses espasmos, anunciavam que a situação estava “virando”. Virava, virava ─ e voltava ao ponto de partida. Também não funcionou, pelo jeito, a genialidade política que se atribui a Lula, e que iria “mudar tudo” no fim do jogo. O ex-presidente bem que tentou. Deu, e deu, e deu na chave de partida ─ só que o motor não pegou. Lula já foi capaz de eleger postes como Dilma Rousseff, mas não é curandeiro de pacientes desenganados. Dizem que consegue dar nó em pingo de água poder ser, mas precisa de água. Além disso está ocupado, acima de tudo, em salvar a si próprio.

Hora de trocar o baralho.

Fonte: J. R. Guzzo -Publicado na versão impressa de VEJA


Sítio de Atibaia será 1ª acusação a Lula na Lava Jato

A força-tarefa da operação considera ter elementos para levar o ex-presidente ao banco dos réus

A força-tarefa da Operação Lava Jato considera ter elementos para levar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao banco dos réus, acusado de envolvimento com a organização criminosa que corrompeu e lavou dinheiro desviado da Petrobras - independente de qual instância ele será processado. O inquérito sobre a compra e reforma do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), será a primeira acusação formal entregue à Justiça.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá ainda se Lula pode assumir o cargo de ministro da Casa Civil e se ele será denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR), considerando o direito ao foro especial por prerrogativa de função, ou se as acusações poderão ser apresentadas pela Procuradoria, em Curitiba, diretamente ao juiz federal Sérgio Moro - dos processos em primeiro grau da Lava Jato.

Alvo em Curitiba de três frentes de apuração na Lava Jato - as outras duas envolvem o tríplex 164 A, da OAS, no Guarujá, e os pagamentos e repasses para o ex-presidente via sua empresa de palestras, a LILS, e para o Instituto Lula -, a que envolve o sítio de Atibaia é a mais robusta, na avaliação dos investigadores. Os inquéritos estão suspensos depois que ele foi nomeado ministro da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff, no dia 17, e o tema foi levado ao Supremo.

A peça apontará a família do ex-prefeito de Campinas (SP) e amigo de Lula Jacó Bittar (PT) como "laranjas" na ocultação da propriedade, adquirida em 2010 pelo valor declarado de 1,5 milhão de reais. Os registros de escritura em nome dos donos oficiais, um "contrato de gaveta" em nome do ex-presidente e da mulher, Marisa Letícia, encontrado nas buscas e depoimentos dos investigados farão parte da acusação.

O compadre e defensor jurídico do ex-presidente Roberto Teixeira também será citado como parte da operação de formalização do negócio. Oficialmente a propriedade está registrada em nome de um dos filhos de Bittar, Fernando Bittar, e do empresário Jonas Suassuna - ambos sócios do filho de Lula. O registro de compra do imóvel foi realizado pelo escritório de Teixeira.

Com base nas notas fiscais localizadas nas buscas e apreensões, depoimentos colhidos e movimentações bancárias analisadas, a Lava Jato também vinculará os desvios de recursos na Petrobras à reforma executada no sítio e a manutenção de bens referentes a Lula. OAS, Odebrecht e o pecuarista José Carlos Bumlai serão vinculados aos serviços executados, como compensação por obras loteadas pelo cartel. Em documento enviado ao STF, a defesa de Lula sustenta que o sítio foi comprado pelo amigo Jacó Bittar para convívio das duas famílias, após ele deixar a presidência, em 2011.

O defensor de Lula Cristiano Zanin Martins informou que o "MPF tem conhecimento, em virtude de provas documentais, de que (i) o sítio foi comprado com recursos provenientes de Jacó Bittar e de seu sócio Jonas Suassuna; (ii) que Fernando Bittar e Jonas Suassuna custearam, com seu próprio patrimônio, reformas e melhorias no imóvel; (iii) que Fernando Bittar e sua família frequentaram o sítio com a mesma intensidade dos membros da família do ex-presidente Lula, estes últimos na condição de convidados".

Fonte: Estadão Conteúdo


 

MERCOSUL: é o que mesmo? para que serve?

Contra impeachment, Dilma cogita apelar ao Mercosul

Após discurso comedido na ONU, presidente voltou a martelar a tese de que está sofrendo um processo sem base legal que tem "todas as características de golpe"

Após um discurso ponderado na ONU, a presidente Dilma Rousseff elevou o tom em entrevista coletiva em Nova York e disse que é vítima de um processo de impeachment "absolutamente infundado" que "tem todas as características de golpe". A presidente afirmou também que pode até invocar a cláusula democrática do Mercosul.

"Eu alegarei a cláusula, inexoravelmente, se caracterizar de fato, a partir de agora, uma ruptura do que eu considero um processo democrático", disse a presidente. "Agora, quando isso ocorrerá, depende de fatos que eu não controlo", completou. A cláusula democrática do Mercosul é uma ferramenta que, ao ser acionada, pode resultar na expulsão do país do bloco comercial, como aconteceu recentemente com o Paraguai.

"Aí falam que não é golpe. Não tem arma. Essa é uma visão incorreta do que é um golpe. Golpe é um mecanismo pelo qual você tira as pessoas do poder por razões que não estão expressas nem na lei nem no acordo institucional em que o país vive. No meu caso, tem um jeito de dar o golpe. Basta a mão. Você rasga a Carta Constitucional, e está dado o golpe", disse a presidente, citando por pelo menos cinco vezes a palavra "golpe".

Pela manhã, em discurso na ONU, a presidente Dilma adotou tom mais ameno e limitou-se a dizer que a sociedade brasileira preza pela liberdade e saberá impedir retrocessos. Na ocasião, ela participava de um evento da ONU para assinatura do acordo sobre mudanças climáticas do Pacto de Paris. "Quero dizer que o Brasil é um grande país, com uma sociedade que soube vencer o autoritarismo e construir uma pujante democracia. Nosso povo é um povo trabalhador e com grande apreço pela liberdade. Saberá, não tenho dúvidas, impedir quaisquer retrocessos", disse ela, na cerimônia.

Fonte: VEJA  
 

O Brasil de 17 de abril,

O Brasil de 17 de abril


Não vou falar dos milhares de brasileiros que foram às ruas mostrar a sua cidadania e brasilidade, lutando  por um Brasil melhor, mais justo, mais democrático, com mais esperança e menos ladroagens. Esse dia já é parte da nossa história.
Quero me reportar aos seus representantes, pelo espetáculo único que promoveram na Câmara dos Deputados, ao expressarem os seus votos, ainda que  alvo de críticas acerbas nas  mídias sociais.
Goste-se ou não de Eduardo Cunha, réu e na iminência de ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal, não há  como desconhecer a sua capacidade de decisão, competência política, energia e equilíbrio na condução da  histórica sessão  legislativa  que culminou pela  admissibilidade do impedimento da Presidente da Republica, levando-a a bom termo, com absoluto  êxito, até o seu final, indiferente às pesadas  críticas que pessoalmente recebeu. Poucos teriam as qualidades exigidas  e demonstradas por Cunha  para evitar  que aquele plenário, tão heterogêneo e tomado por violentas paixões, se transformasse numa balbúrdia,  comprometendo a colimação  dos seus fins.
Destaque-se, também, as palavras introdutórias dos líderes Pauderney Avelino, Antônio Imbassay e Alfredo Nascimento, moderadas, equilibradas, que realçaram  a gravidade do momento vivido pelo país. Mas o verdadeiro espetáculo foi dado pelos deputados presentes, com os seus emocionados votos, exaltando não apenas os motivos  maiores  do julgamento, mas ao citar, quase que unanimemente, as suas famílias, estavam deixando bem claro as suas origens, as suas insatisfações de como a chefe do governo vem gerindo o país, com posturas absolutistas,  na tentativa de implantação de um ultrapassado socialismo bolivariano que agride as origens do povo brasileiro.
Ao lado da degradação econômica e social,  realçaram a ameaça sempre presente à célula mater da sociedadea Família, com iniciativas que insistentemente pugnam pela sua desagregação. Não importa se do baixo, médio  ou alto cleros, os deputados votaram com os olhos nas  famílias, nas gentes simples que representam por todos os rincões desse imenso país e que veem os seus costumes e as suas tradições mais caras ameaçados por projetos e leis da autoria do executivo. Raramente, essa relação biunívoca de representatividade foi tão presente. No seu voto, manifestaram  a  imensa contrariedade com as constantes ingerências do governo nos aspectos mais íntimos da vida familiar, na educação dos filhos, procurando até mesmo definir as suas tendências sexuais.  Supremo absurdo, a tentativa de impor a irresponsável teoria da indefinição do gênero  da criança na infância, situações que veem  sendo defendidas pelo Ministério  da Educação .
O governo pareceu desconhecer as suas demandas, afrontou-as, ignorando que o nosso povo é por natureza conservador, amante das suas tradições e  profundamente religioso, não importa  a denominação que professe. O plenário da Câmara, com toda aquela aparente algazarra , pelo  voto dos seus membros ,parece ter sido atendido nas suas preces  deixando transbordar a presença de Deus.
O orgulho nacional, representando as ruas, esteve muito bem definido nos laços e cores verde-oliva ostentados por todos os que votaram pelo SIM, em vergonhoso contraste aos votantes do NÃO,  que com exagerada manifestação de ódio, trajavam cores vermelhas, como que envergonhados,  desdenhando da nação que os viu nascer  e acolhe. Alguns, como máxima tolerância, misturavam laços amarelo-vermelho, como a dizer muito claramente que a cor do Brasil é a vermelha, há muito introduzida nos folhetins e  na  propaganda oficial do governo.
Também, chamava a atenção   o orgulho com que a imensa  maioria dos deputados ostentava a bandeira do Brasil, nela envoltos, muitos declarando  com emoção que ela jamais seria vermelha.  Por tudo o que  representou foi de fato uma  sessão histórica, transbordante de patriotismo, emoção e brasilidade. 
Com profunda emoção, o povo brasileiro viu chegar ao tão esperado voto 342, que admitiu a  admissibilidade do impedimento de Dilma, não apenas pelas pedaladas fiscais que cometeu , mas pelo conjunto da sua  nefasta obra, que combinando  traição política e o comprometimento com roubalheiras sem fim, levou o nosso país a esse estado desesperador, com infindáveis problemas por resolver nas esferas da segurança pública, educação, saúde, previdência social e trabalho, com a economia praticamente paralisada e destruída e, como consequência, o demolidor saldo de 10 milhões de desempregados que atormenta e massacra as famílias brasileiras.
A única saída digna de Dilma, para o bem da sociedade brasileira que ela e Lula ajudaram a dividir, é se demitir. Mas, a ela, falta espírito cívico para tanto.

Luiz Gonzaga Schroeder Lessa é General de Exército, na reserva.
Blog Alerta Total - Jorge Serrão

 

 

Quanto custa um encontro com o ex-marido de Dilma

Em acordo de delação premiada, o executivo da Engevix José Antunes Sobrinho revela ter pago R$ 239 mil a um intermediário para que o apresentasse a Carlos Araújo, que foi casado com a presidente 

ENCONTROS
Carlos Araújo se reuniu com Antunes e prometeu ajudá-lo a solucionar problemas com a Engevix (Foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A Press)
 
Em janeiro deste ano, ÉPOCA revelou como o empreiteiro José Antunes Sobrinho, da Engevix, articulou encontros com o advogado Carlos Franklin Paixão Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, com o objetivo de solucionar problemas em sua empresa entre os anos de 2013 e 2014. ÉPOCA conversara com dois intermediadores que confirmaram os arranjos para o contato com Araújo: o diretor da Desenvix e ex-vice-presidente da Engevix, Paulo Roberto Zuch, e um amigo de longa data do ex-casal, Nilton Belsarena. Ou Nilton ‘Negão’, para os mais íntimos. A reportagem revelou ainda que, logo após os encontros, Zuch realizou uma transferência de R$ 200 mil para a Ribas & Ribas, empresa controlada Nilton Belsarena e sua esposa, Eunice Ribas. Um mês depois da transação financeira, Zuch recebeu o mesmo valor da Enerbio, fornecedora da Engevix. À época, ambos negaram que o dinheiro havia sido uma espécie de bonificação pelos encontros promovidos pela dupla entre Antunes e Araújo. A delação de Antunes, obtida com exclusividade por ÉPOCA, e que está com os integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, esclarece a origem e o destino dos valores.

>> “O objetivo era conseguir agenda com a presidente”, diz ex-vice-presidente da Engevix
Em sua delação, Antunes revela ter, sim, repassado R$ 239 mil a Nilton, por meio de Zuch. Segundo o documento entregue aos procuradores, o empreiteiro diz que Araújo jamais cobrou valores diretamente do delator. Antunes também levantou uma dúvida: disse não saber se Nilton se utilizava de Araújo para enriquecer ou se trabalhava como um operador do ex-marido de Dilma.

Os encontros aconteceram, conforme revelou ÉPOCA, em períodos em que a Engevix enfrentava dificuldades. Na primeira vez, em 2013, o assunto tratado eram os Aeroportos de Brasília e São Gonçalo do Amarante, concedidos a um consórcio liderado pela empreiteira, em parceria com a argentina Corporación América. Antunes confirmou, no documento, que recebeu recados do Palácio do Planalto que denotavam a insatisfação da presidente com as obras. Pensou que isso pudesse fazê-lo perder as concessões e recorreu a Araújo por ajuda. Ainda segundo o delator, os prazos para a entrega das obras terminaram sendo cumpridos e as tensões com o Planalto recuaram. Antunes assim descreve: “Sendo que não houve mais recados do Palácio do Planalto, e o colaborador entende que esta confiança se deu pelo apoio e interferência de Carlos Araújo”.

>> Um dos empreiteiros do petrolão recorreu a ex-marido de Dilma para tentar salvar negócios

Em outro encontro, ocorrido em 2014, Antunes pediu o auxílio de Araújo para destravar a liberação de uma tranche de R$ 62 milhões de um financiamento do Fundo da Marinha Mercante para sua empresa, por meio da Caixa Econômica Federal. Ao ouvi-lo, Araújo se mostrou sensibilizado, disse Antunes.Dizia que iria tomar providências para ajudar”, afirmou o delator. A mesma disposição de Araújo em ajudar a Engevix foi confirmada por ÉPOCA em janeiro, com base em relatos de Zuch. Contudo, até o momento, não há sinais de resultado sobre o dinheiro. A liberação continua travada e Antunes não pode sequer voltar ao amigo Araújo, pois está preso em Curitiba.

Quando esteve em Brasília para ser ouvido na CPI dos Fundos de Pensão, em fevereiro, Antunes conversou brevemente com ÉPOCA. O discurso, contudo, era diferente do que consta do termo de colaboração. O empreiteiro confirmou os encontros com Antunes, mas negou que tivesse pagado qualquer valor a Zuch ou Belsarena. Quando questionado sobre a razão de ter recorrido a Araújo, o empreiteiro não hesitou. “Eu tinha um estaleiro quebrando e ele conhecia todo mundo. Políticos, sindicatos, além de ser ex-marido da presidente. Tinha muita gente sendo demitida e é lógico que eu ia fazer de tudo para impedir isso”, disse o empreiteiro.

Fonte: ÉPOCA 

 

 

O homem que sabia demais


Dono da Engevix delata Temer, Renan, Erenice e propina para campanha de Dilma


José Antunes Sobrinho, preso desde setembro, resolveu entregar à Lava Jato tudo – ou grande parte – do que sabe 


O engenheiro José Antunes Sobrinho, de 63 anos, prosperou nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele é um dos donos da Engevix, empreiteira que ascendeu a partir de 2003, por meio de contratos, financiamentos e empréstimos obtidos com estatais e bancos públicos. A empresa valia R$ 141 milhões em 2004. Dez anos depois, faturava R$ 3,3 bilhões. O modelo de negócios de Antunes era simples e eficiente, adaptado ao capitalismo de Estado promovido pelos governos petistas. Consistia em corromper quem detivesse a caneta capaz de liberar dinheiro público à empresa dele. Ou, se esse estratagema não fosse suficiente, corromper os chefes políticos e amigos influentes daqueles que detivessem as canetas. Antunes e seus sócios pagavam propina, portanto, para conseguir o acesso ao dinheiro público barato que, por sua vez, permitiria à Engevix conseguir, mediante mais propina, os grandes contratos públicos de serviços e obras, em estatais como Petrobras, Eletronuclear, Furnas, Infraero e Belo Monte.

Antunes era bom no que fazia, conforme atestam os números da Engevix. Talvez bom demais. A exemplo de outros empreiteiros que seguiam o mesmo modelo de negócios, foi preso na Operação Lava Jato. Tornou-se acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e, entre outros crimes, de participar do cartel de empreiteiras que, associado em especial aos políticos do PT e do PMDB, destruiu a Petrobras e devastou outras estatais durante os governos Lula e Dilma. Preso desde setembro em Curitiba, Antunes resolveu entregar aos procuradores da Lava Jato tudo – ou grande parte – do que sabe. As negociações, que estão em estágio avançado, passaram a envolver recentemente a equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Muitos dos crimes admitidos por Antunes envolvem, direta ou indiretamente, políticos com foro privilegiado – aqueles que, muitas vezes, são os donos de fato de quem move as canetas nas estatais.

ÉPOCA obteve acesso, na íntegra e com exclusividade, à última proposta de delação entregue pelos advogados de Antunes aos procuradores. São 30 anexos, cada um deles com fatos, pessoas e crimes distintos.


No documento e em conversas com procuradores da República, Antunes disse ter pago propina a operadores que falavam em nome do vice-presidente da República, Michel Temer, e do presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB. Segundo ele, nos governos petistas, os dois patrocinaram a nomeação de afilhados políticos em estatais como Petrobras e Eletronuclear. Antunes também afirmou ter pago milhões em propina ao caixa clandestino do PT, em razão de vantagens indevidas obtidas pela Engevix na Caixa, no fundo de pensão do banco, a Funcef, em Belo Monte, na Petrobras e no Banco do Nordeste. Ainda de acordo com Antunes, o PT, em especial por meio de José Dirceu e João Vaccari, ambos presos na Lava Jato, também patrocinava afilhados políticos nesses órgãos públicos. Antunes disse que foi pressionado por Edinho Silva, então arrecadador de Dilma e hoje ministro no Planalto, a financiar a campanha da presidente em 2014. 


Antunes e boa parte dos principais delatores da Lava Jato afirmam que esse modelo de negócios só era possível graças à maior das canetas: a do presidente da República. Sem ela, seja com Lula, seja com Dilma, nenhum desses afilhados políticos estariam nos postos para os quais foram despachados por PT e PMDB, os dois principais partidos da coalizão governista. Para manter boas relações com o Planalto, Antunes diz que pagou para ter a influência do advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma, conforme revelou ÉPOCA. Afirma que pagou, também, para a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que foi, até 2010, a principal assessora de Dilma. A seguir, alguns dos principais episódios narrados por Antunes. Se sua proposta de delação for aceita, o depoimento, somado a provas que Antunes promete apresentar, pode ser valioso para as investigações da Lava Jato. 
 >> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/04/dono-da-engevix-delata-temer-renan-erenice-e-propina-para-campanha-de-dilma.html 
 

"AS FALAÇÕES DE DILMA"


Nos últimos dias, com o avanço de seu impeachment, a presidente Dilma deitou falação contra tudo e todos. Perdeu a compostura. Propagandeou inverdades para quem quisesse ouvir. Na falta de argumentos sérios e convincentes, tratou de afrontar de maneira aberta o estado democrático de direito. Atacou instituições com uma virulência poucas vezes vista entre chefes de nações. Classificou o processo de afastamento como uma “fraude jurídica e política”. 

A ofensa aos poderes constituídos não encontra respaldo nos fatos e jamais poderia ter sido lançada através das palavras da mandatária. Não é isso que se espera de quem representa o poder. Tivesse Dilma qualquer respeito pelo País não macularia sua imagem com tamanho desacato, inclusive em entrevistas a veículos estrangeiros e em eventos internacionais. Sabe a presidente que Legislativo e Judiciário estão funcionando plenamente dentro das atribuições que lhe cabem, em obediência rigorosa à lei. Ela, ao contrário, é quem incorre em erros com declarações distorcidas e potencialmente danosas à democracia. Seria por demais absurdo imaginar o Supremo Tribunal participando de um conluio com o Parlamento para derrubar a presidente, sem crime de responsabilidade tipificado e improbidade administrativa visível. Mas é isso que Dilma tenta, inadvertidamente, passar à sociedade e ao mundo. A Constituição não foi ferida, sequer no rito. Cerca de 70% da Câmara dos deputados votou pelo processo de afastamento. Não há regras violadas. O direito de defesa não esteve cerceado em nenhuma etapa. Apelações receberam espaço. 

Em suma, os trâmites processuais e políticos transcorreram dentro da normalidade e deixaram evidentes que as fraudes cometidas pelo Executivo aconteceram, seja através de créditos suplementares não autorizados, seja nas pedaladas fiscais – que, ao contrário do que alega Dilma e aliados, não se limitaram a meros atrasos. A presidente tenta daqui para frente legitimar a mentira como arma de resistência. Difama opositores sem base. 

Fala que eles vão cortar programas sociais. Difunde, de maneira temerária, riscos de instabilidade da ordem pública. Incita a agitação de grupos radicais. Cria um roteiro do início ao fim falacioso, inventivo, que desconsidera os próprios erros. O decano do STF, ministro Celso de Mello, alertou na quarta, 20, que Dilma comete “gravíssimo equívoco” ao tratar impeachment como golpe. E essa tem sido decerto a alegação mais repetida pela presidente em várias ocasiões. A apelação rasteira faz parte de uma estratégia de regimes bolivarianos que deitaram raízes em países de penúria econômica como Bolívia e Venezuela, cujos líderes se converteram em autênticos ditadores chauvinistas. Escorada por um projeto de perpetuação no poder do Partido dos Trabalhadores, Dilma insiste na farsa. 

Abre as portas do Planalto a comícios partidários e reclama de injustiças, enquanto tenta apagar da memória geral seus atos para obstruir a Justiça – como quando nomeou o ex-presidente Lula para o ministério com o objetivo de blindá-lo de investidas da polícia. A presidente bate na tecla de que não há contra sua pessoa qualquer acusação ou denúncia, embora elas transbordem para todos os lados. A Revista ISTOÉ traz nesta edição mais uma, grave, na qual o seu braço direito, o assessor Giles Azevedo, é acusado de montar uma engenharia financeira para abastecer as campanhas de 2010 e 2014 com recursos de caixa dois. Dilma entra assim diretamente no foco das denúncias da Lava-Jato. E terá de falar muito para explicar mais essa acusação. 

Fonte: Revista Isto é - Editorial  

http://www.istoe.com.br/assuntos/editorial/detalhe/451687_AS+FALACOES+DE+DILMA
 
 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Marcela Temer: bela, recatada e “do lar”

Marcela Temer é uma mulher de sorte. Michel Temer, seu marido há treze anos, continua a lhe dar provas de que a paixão não arrefeceu com o tempo nem com a convulsão política que vive o país - e em cujo epicentro ele mesmo se encontra. Há cerca de oito meses, por exemplo, o vice-presidente, de 75 anos, levou Marcela, de 32, para jantar na sala especial do sofisticado, caro e badalado restaurante Antiquarius, em São Paulo. Blindada nas paredes, no teto e no chão para ser à prova de som e garantir os segredos dos muitos políticos que costumam reunir-se no local, a sala tem capacidade para acomodar trinta pessoas, mas foi esvaziada para receber apenas "Mar" e "Mi", como são chamados em família. Lá, protegido por quatro seguranças (um na cozinha, um no toalete, um na entrada da sala e outro no salão principal do restaurante), o casal desfrutou algumas horas de jantar romântico sob um céu estrelado, graças ao teto retrátil do ambiente. Marcela se casou com Temer quando tinha 20 anos. O vice, então com 62, estava no quinto mandato como deputado federal e foi seu primeiro namorado.


Marcela, mulher do vice, Michel Temer: jantares românticos e apelidos carinhosos(Bruno Poletti/Folhapress)

Michelzinho, de 7 anos, cabelo tigelinha e uma bela janela no lugar que abrigará seus incisivos centrais, é o único filho do casal (Temer tem outros quatro de relacionamentos anteriores). No fim do ano passado, Marcela pensou que esperava o segundo filho, mas foi um alarme falso. "No final, eles acharam que não teria sido mesmo um bom momento para ela engravidar, dada a confusão no país", conta tia Nina, irmã da mãe de Marcela. Ela se refez do sobressalto, mas não se resignou - ainda quer ter uma menininha. No Carnaval, Marcela planejou uns dias de sol e praia só com o marido e o filho e foi para a Riviera de São Lourenço, no Litoral Norte de São Paulo. Temer iria depois, mas, nos dias seguintes, o plano foi a pique: o vice ligou, dizendo que estava receoso de expor a família, devido aos ânimos acirrados no país. Pegou Marcela, Michelzinho, e todo mundo voltou para casa.

Bacharel em direito sem nunca ter exercido a profissão, Marcela comporta em seu curriculum vitae um curto período de trabalho como recepcionista e dois concursos de miss no interior de São Paulo (representando Campinas e Paulínia, esta sua cidade natal). Em ambos, ficou em segundo lugar. Marcela é uma vice-primeira-dama do lar. Seus dias consistem em levar e trazer Michelzinho da escola, cuidar da casa, em São Paulo, e um pouco dela mesma também (nas últimas três semanas, foi duas vezes à dermatologista tratar da pele).

Por algum tempo, frequentou o salão de beleza do cabeleireiro Marco Antonio de Biaggi, famoso pela clientela estrelada. Pedia luzes bem fininhas e era "educadíssima", lembra o cabeleireiro. "Assim como faz a Athina Onassis quando vem ao meu salão, ela deixava os seguranças do lado de fora", informa Biaggi. Na opinião do cabeleireiro, Marcela "tem tudo para se tornar a nossa Grace Kelly". Para isso, falta só "deixar o cabelo preso". Em todos esses anos de atuação política do marido, ela apareceu em público pouquíssimas vezes. "Marcela sempre chamou atenção pela beleza, mas sempre foi recatada", diz sua irmã mais nova, Fernanda Tedeschi. "Ela gosta de vestidos até os joelhos e cores claras", conta a estilista Martha Medeiros.

Marcela é o braço digital do vice. Está constantemente de olho nas redes sociais e mantém o marido informado sobre a temperatura ambiente. Um fica longe do outro a maior parte da semana, uma vez que Temer mora de segunda a quinta-feira no Palácio do Jaburu, em Brasília, e Marcela permanece em São Paulo, quase sempre na companhia da mãe. Sacudida, loiríssima e de olhos azuis, Norma Tedeschi acompanhou a filha adolescente em seu primeiro encontro com Temer. Amigos do vice contam que, ao fim de um dia extenuante de trabalho, é comum vê-lo tomar um vinho, fumar um charuto e "mergulhar num outro mundo" - o que ocorre, por exemplo, quando telefona para Marcela ou assiste a vídeos de Michelzinho, que ela manda pelo celular. Três anos atrás, Temer lançou o livro de poemas intitulado Anônima Intimidade. Um deles, na página 135, diz: "De vermelho / Flamejante / Labaredas de fogo / Olhos brilhantes / Que sorriem / Com lábios rubros / Incêndios / Tomam conta de mim / Minha mente / Minha alma / Tudo meu / Em brasas / Meu corpo / Incendiado / Consumido / Dissolvido / Finalmente / Restam cinzas / Que espalho na cama / Para dormir".
Michel Temer é um homem de sorte.

Fonte: Revista VEJA
 

Lula: O mito estraçalhado

A trajetória de Lula o levou da posição de “sindicalista combativo”, por meio da qual se projetou no país, a lobista das grandes empreiteiras.  

[Lula nunca foi um sindicalista combativo, jogava para a plateia, para os babacas dos metalúrgicos que acreditavam nele - quando ia para votação em uma assembleia,  Lula já tinha fechado um acordo com os patrões.
Sem contar que Lula, o famoso 'boi', era informante do Tuma, chefe do DOPS na época.]

Um fim melancólico para quem, no passado, representou uma esperança de grande parte do povo brasileiro

Luiz Inácio Lula da Silva vai chegando ao fim do caminho. Mesmo ele é capaz de perceber que está acabando o terreno à sua frente. Antes do petista, tivemos casos semelhantes desses meteoros da política que vêm não se sabe de onde, passam por grandes êxitos, alcançam rapidamente o topo e depois caem miseravelmente. Já nos esquecemos de Jânio Quadros? Lula é diferente de Jânio em um ponto: veio de mais baixo na escala social e conseguiu uma influência mais organizada e duradoura na política do país. Dilma Rousseff, embora pareça um meteoro, não é propriamente um caso político. O fato de ela ter chegado à Presidência da República foi apenas um enorme erro de Lula cometido em um dos seus acessos de personalismo. Erro, aliás, que o empurra com mais rapidez para o fim. "O cara", de que falou Barack Obama quando Lula tinha 85% de aprovação, não é mais aquele...

Há algum tempo, muitos gostavam de ver em Lula um "filho do Brasil". Era o seu primeiro mandato, quando se pensava que surgia no país uma "nova classe média". Com a crise dos dias atuais, essa "nova classe" provavelmente desapareceu. Outra das veleidades grandiosas do petista, já no fim do seu governo, foi um suposto plano para terminar com a fome no mundo. Também naqueles tempos, alguns imaginavam que o Brasil avançava para uma posição internacional de grande prestígio.

Muitos desses sonhos deram em nada, mas, para o bem e para o mal, Lula foi um filho do Brasil. Aliás, também o foram os milhares, milhões de jovens fruto do "milagre econômico" dos anos Médici, assim como, antes deles, os filhos da democracia e do crescimento dos anos JK, ou, se quiserem, algumas décadas mais atrás, da expansão aluvional das cidades que assinala o nosso desenvolvimento social desde os anos 1930. No Brasil, temos a obsessão permanente do progresso, assim como uma certa vacilação, também permanente em nosso imaginário, entre a ditadura e a democracia. Lula foi uma variante desse estilo brasileiro de vida. Queria resolver as coisas, sempre que possível, com "jeitinho", ao mesmo tempo que sonhava com as benesses do "Primeiro Mundo" e da modernidade.

Na política brasileira, porque vinha de baixo, o petista tinha traços peculiares que se revelam em sua busca de reconhecimento como indivíduo. Nesse aspecto está o seu compromisso com a democracia, aliás muito aplaudido no início de sua vida como político. O sindicato foi seu primeiro degrau e, mais adiante, uma das raízes de seus problemas. É que, a partir desse ponto, Lula passou a buscar seu lugar como cidadão numa instituição aninhada nos amplos regaços do Estado. Ele começou em uma estrutura às vezes repressiva e muitas vezes permissiva, que dependia, sobretudo, como continua dependendo, dos recursos criados pelo Estado por meio do "imposto sindical". A permissividade maior vinha do fato de que tais recursos não passavam, e ainda não passam, pelo controle dos tribunais de contas.

O maior talento pessoal de Lula foi sair do anonimato, diferenciando-se dos parceiros de sua geração. No sindicalismo, falou sempre contra o "imposto". E talvez por isso mesmo tenha logrado tanto prestígio como sindicalista combativo e independente que não precisou fazer nada de concreto a respeito. Na época das lutas pelas eleições diretas e pelo fim do autoritarismo reinante sob o Ato Institucional nº 5, dizia que "o AI-5 dos trabalhadores é a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT". Mas em seu governo não só manteve o imposto e as leis sindicais corporativistas como foi além, generalizando para a CUT e demais centrais sindicais os benefícios do imposto.

O que tem sido chamado, em certos meios, de "carisma" de Lula foi sua habilidade de sentir o seu público. Chamar essa "empatia", uma qualidade que qualquer político tem, em grau maior ou menor - e que, aliás, sempre faltou a Dilma -, de "carisma" é uma impropriedade terminológica. Em sociologia, o fenômeno do "carisma" pertence ao universo das grandes religiões, raríssimo no mundo político, e, quando ocorre, é sempre muito desastroso. Os fascistas de Mussolini diziam que "il Duce non può errare" ("o Duce não pode errar"), para exaltar uma suposta sabedoria intrínseca ao ditador. Não era muito diferente das fórmulas típicas do "culto da personalidade" de raiz stalinista. Embora tais fórmulas estejam superadas na esquerda há tempos, os mais ingênuos entre os militantes do PT ainda se deixam levar por coisas parecidas. Consta que, no mundo de desilusões e confusões do "mensalão", um intelectual petista teria dito: "Quando Lula fala, tudo se esclarece". Não ajudou muito...

Luiz Inácio Lula da Silva foi uma das expressões da complexa integração das massas populares à democracia moderna no Brasil. É da natureza da democracia moderna que incorpore, integre a classe trabalhadora. No Brasil, como em muitos países, isso sempre se fez por meio de caminhos acidentados, entre os quais o corporativismo criado em 1943, no fim da ditadura getuliana, e mantido pela democracia de 1946, como por todos os interregnos democráticos que tivemos desde então. O corporativismo se estende também às camadas empresariais, assim como a diversos órgãos de atividade administrativa do Estado brasileiro. Favoreceu a promiscuidade entre interesses privados e interesses públicos e certa medida de corrupção que, de origem muito antiga, mudou de escala nos tempos mais recentes com o crescimento industrial e a internacionalização da economia brasileira. Nessa mudança dos tempos, Lula passou de "sindicalista combativo" a lobista das grandes empreiteiras. Um fim melancólico para quem foi no passado uma esperança de grande parte do povo brasileiro.

Por: Francisco Weffort Professor emérito do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo e ex-ministro da Cultura (de 1995 a 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso). Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT)

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Dilma se acovarda e a perspectiva de um processo por 'crime de responsabilidade' faz com que não fale as bobagens que pretendia vomitar em discurso cometido na ONU

Dilma recua de discurso sobre golpe e impeachment na ONU, com medo de cometer crime de responsabilidade 

[A ideia era Dilma falar de improviso; só que Lula proibiu dizendo com todas as letras para Jaques Wagner que junto com Dilma defendiam o improviso: Olha aqui cupanhêro Wagner. Decida logo o que ela vai ler, porque se for no improviso vai ser uma merda.]
A Presidanta Dilma Rousseff foi advertida que poderia terminar enquadrada em crime de responsabilidade, previsto no artigo 85 da Constituição Federal, caso cometesse o suicídio político de usar seus minutinhos de discurso na assinatura da Convenção do Clima, nas Nações Unidas, em Nova York, para denunciar um falso golpe contra seu desgoverno. O recuo forçado de Dilma foi mais um patético capítulo na articulação de adversários e inimigos para conseguir afastá-la do cargo, no máximo, até o final do mês de maio.

Apesar do recuo, a teimosa Dilma insistiu em terminar os quase oito minutos de discurso (estourou o tempo, para variar) com seu recadinho sobre a tensa conjuntura brasileira. Escaldada, Dilma fugiu das palavras golpe ou impeachment: "A despeito disso quero dizer que o Brasil é um grande país, que soube superar o autoritarismo e construiu uma pujante democracia. O nosso povo é trabalhador e com grande apreço pela liberdade, e saberá impedir quaisquer retrocessos. Sou grata a todos os líderes que expressaram a mim sua solidariedade".

Se Dilma insistisse no "golpe retórico" sobre o "golpe do impeachment", contrariando posição pública manifestada por ministros do Supremo Tribunal Federal, ela ficaria enquadrável em crime de responsabilidade, por atentar contra o livre exercício do poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos poderes constitucionais das unidades da Federação. Aliás, Dilma já cometera tal crime com o golpe que deu para nomear Lula ministro da Casa Civil, apenas para lhe conceder foro privilegiado, em clara obstrução ao trabalho normal do Judiciário...

O impeachment no Senado começa a andar depressa, contra a vontade do presidente Renan Calheiros. Nesta sexta-feira, sem enforcar feriado (o que é um enorme sacrifício para os senadores), os líderes dos blocos partidários fecharam indicações dos 42 integrantes da Comissão Especial do impeachment. O plenário do Senado se reunirá na segunda-feira, dia 25, para aprovar em votação a escolha dos indicados. Em seguida, pelo regimento, o senador mais velho do colegiado, o suplente José Maranhão (PMDB-PB), terá de convocar a primeira reunião da comissão para eleger o presidente e o vice. Maior bancada, o PMDB indicou para a presidência o senador Raimundo Lira (PMDB-PB). O PSDB, que tem o segundo maior bloco partidário, quer emplacar o tucano Antonio Anastasia (MG) para relatoria. O PT fará de tudo para que isso não aconteça. O relator pode terminar sendo Ronaldo Caiado...[com Ronaldo Caiado sendo relator,  fica a garantia que a Relatoria estará em boas mãos.]

Contrariando a primeira lei de Tiririca, o que está ruim para o PT pode ficar pior ainda...

É brincadeira, não...
Comentário do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, durante palestra em Cambridge, nos Estados Unidos, em evento organizado por estudantes brasileiros da Universidade Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT) sobre o tema corrupção: "No mensalão, houve 40 denunciados e 25 réus condenados. Se vocês fizerem a comparação do que é hoje a Lava Jato e o que foi o mensalão, o mensalão foi brincadeira".

Janot citou os números da Lava Jato: 1.177 procedimentos investigatórios instaurados em primeira instância, 574 mandados de busca e apreensão, 93 condenações e 5 prisões.

No STF, o Procurador-Geral enumerou que houve 47 inquéritos judiciais, 118 mandados de busca e apreensão –sendo que um deles atingiu o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)–, 5 prisões preventivas –incluindo a do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), então líder do governo no Senado–, e 9 denúncias contra 2 pessoas.

Fonte: Blog Alerta Total - Jorge Serrão

 

Depois do dia seguinte

Michel Temer não dispõe de muito tempo para mostrar serviço e mesmo com base parlamentar confortável terá dificuldades para manter a confiança inicial


O vice-presidente Michel Temer está a todo vapor na missão de formar o Ministério de seu governo. Parece ter isolado a área econômica dos acordos partidários que teve de fechar para garantir a abertura do processo de impeachment na Câmara dos Deputados. Faz sentido concentrar esforços na área econômica. Sem uma reorganização mínima da economia, o resto não ficará de pé e a confiança em dias melhores, que, de saída, acompanha novos governantes sucessores de outros mal avaliados, não se sustenta.
Todos sabem — e Temer sabe antes de todos — que não disporá de muito tempo para mostrar serviço. O relógio que vai marcar o período de graça, no qual ele terá de encontrar saídas para manter as expectativas positivas iniciais, se tudo correr como previsto, começa a rodar logo ali em 20 dias e o espaço de manobra vai até setembro, quando está previsto o julgamento no Senado Federal. 

Mesmo supondo que as sombras da Lava-Jato e dos processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não se projetem sobre Temer e seus aliados, produzindo instabilidades adicionais no ambiente político, a missão a que o vice se propôs é, como se diz no mundo corporativo, desafiadora. O desafio inclui lidar com a parcela das ruas que se colocou contra o impeachment e que promete manter pressão, lembrando a Temer que, se as pesquisas de opinião rejeitam a presidente Dilma Rousseff para chefiar o governo, não o aprovam para a mesma função. A recusa de Armínio Fraga, “ministro da Fazenda” do PSDB, a aceitar convite para pegar o osso da economia é um bom indicativo das dificuldades pela frente.

Sinais e ações concretas terão, portanto, de ser oferecidos logo na partida. O foco natural é o ataque aos desajustes das contas públicas e é nessa direção que se pode esperar o anúncio de uma reforma administrativa. Enxugar ministérios e reduzir o número de cargos de confiança só depende da caneta presidencial e, embora não tenham efeito excepcional no corte de gastos, são atos capazes de exercer forte impacto positivo nas expectativas.

Daí em diante, porém, nada se vislumbra tão fácil. Antes da reforma da Previdência, de alterações de cunho liberal na legislação trabalhista e de revisões em programas sociais, uma longa lista de medidas, previstas no documento “Ponte para o futuro”, programa da “campanha eleitoral” de Temer, terá de passar pelo crivo do Congresso. A renegociação das dívidas dos estados será o primeiro de uma série de duros testes.

Faz parte dessa lista a adoção de revisões anuais do Orçamento, dentro dos princípios do “Orçamento Base Zero”, entre outras medidas polêmicas desindexar benefícios atrelados ao salário mínimo e rever sua fórmula de cálculo são algumas delas. Isso exigirá eliminar a vinculação obrigatória de gastos orçamentários, alguns constitucionais, como no caso da Saúde e da Educação. A base parlamentar de apoio ao governo Temer promete ser confortável, mas nem é preciso invocar o espetáculo da votação do impeachment na Câmara para lembrar que se trata de uma maioria instável, sujeita a interesses variados e flutuantes. Há coisa de um mês, por exemplo, com o apoio de 400 deputados, foi aprovado, em primeira votação, um aumento da vinculação de gastos para a Saúde.

Interessante também será observar a reação, dentro e fora do Congresso, a propostas de aumento de tributos, que apoiadores de Temer e do impeachment antes repeliam, mas passaram agora a considerar como inevitáveis, diante da urgência de estancar a sangria fiscal. Essa, sem dúvida, é uma manobra quase incontornável para apoiar, sem renovar pressões inflacionárias, a possibilidade de baixar as taxas de juros, aberta pela trajetória de queda da inflação. Sem taxa de juros mais baixas, a retórica da confiança empresarial no novo governo não se transformará em decisão de investimento, dificultando qualquer esforço de retomada do crescimento.

Fonte: José Paulo Kupfer é jornalista

Foi ruim? Pode piorar

Quem se chocou com as cenas da votação na Câmara, pode ter certeza de que só viu as cenas mais suaves. Governo e Congresso são prisioneiros de uma crise de legitimidade

Ganharam os historiadores. Terminaram a semana com fartura de material sobre o anacronismo dos métodos de se fazer política no Brasil. Quem se chocou com a votação da Câmara, pode guardar a certeza de que só assistiu às cenas mais suaves. São duas as razões para as sucessivas evocações a Deus, na votação que deflagrou a destituição do governo Dilma. Primeiro, Ele nunca reclama. Segundo, todos sabem que é o único sem qualquer culpa nessa história. 

A retórica chula, às vezes ressentida, predominante no microfone da Câmara, continha uma mensagem objetiva sobre o estado de decomposição das relações entre as forças políticas dominantes. Governo e Congresso estão enjaulados numa grave crise de legitimidade.  O Judiciário contribuiu, de forma decisiva, na última década. O Supremo Tribunal Federal estimulou quando abriu uma janela para o florescente negócio da criação de partidos. Eliminou a exigência de desempenho eleitoral mínimo (cláusula de barreira) e mudou a “propriedade” do mandato. Subtraiu-a do eleitor e entregou à burocracia partidária.
 
Já são 35 partidos com registro oficial. Na vida real, são pessoas jurídicas de direito privado, com acesso privilegiado aos cofres públicos. Têm garantido o usufruto de propaganda no rádio e na televisão, sustentada por isenções fiscais. E, também, a garantia de uma fatia do orçamento federal, via Fundo Partidário, estimada em R$ 900 milhões neste ano. 

Os governos Lula e Dilma metabolizaram essa fragmentação no delírio da montagem da “maior base parlamentar do Ocidente”, como definia José Dirceu. Ampliaram para quatro dezenas os ministérios e aumentaram para 23 mil os cargos-chave na administração utilizáveis segundo a conveniência política, além da partilha do comando das empresas estatais. Deu no mensalão e nos inquéritos sobre corrupção na Petrobras e outras empresas estatais.

Quem ficou chocado com as cenas do início do impeachment, talvez se apavorasse com o mercado livre que antecedeu a votação em Brasília. Lula, principal negociador das salvaguardas ao mandato de Dilma, descreveu como uma “Bolsa de Valores”. Deputados comentavam as “cotações” do relativismo ético: R$ 1 milhão por ausência, R$ 2 milhões pelo voto no plenário. 

O pacote incluía adicionais em cargos, créditos e mimos diversos para prefeitos e governadores aliados — da desapropriação de terras à doação de áreas cultiváveis na floresta amazônica, parte em terras indígenas. No caos, o PT de Lula e Dilma passou a disputar espaço com novos aliados, como o Partido Trabalhista Nacional. Chapadinha, deputado pelo PTN, levou uma diretoria do Incra no Pará. Os petistas locais souberam da negociação e promoveram uma greve no Incra de Santarém. 

No sábado, véspera da votação, imprimiu-se uma edição extra do Diário Oficial. Ficaram visíveis 63 nomeações emergenciais para 22 órgãos federais. Dilma perdeu por 72%. É com essa lógica anacrônica que os generais de Dilma preparam a batalha final no Senado. O governo acha que tem 22 votos. Precisa garantir mais seis e somar 28 para evitar o “Tchau, querida!” dos senadores.
Deus, é claro, não tem nada com isso. 

Fonte: O Globo - José Casado, jornalista

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Renan, o Cunha do Senado - a comparação ofende ao Cunha; Renan é muitas vezes pior que o deputado

Pelo apego ao poder e o currículo cheio de acusações, o homem que comandará o novo ato do impeachment possui incrível semelhança com o que liderou o seu encaminhamento na Câmara

Começa o segundo ato do mais espetacular embate político das últimas décadas. Muda-se o cenário e o mestre de cerimônias. Um deixa os holofotes – a contragosto, é verdade – e abre espaço para o outro brilhar. Um espectador desavisado – que perdeu a cena em que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entregou ao seu par do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o comando do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira 18 – pode, no entanto, achar que continua preso na mesma novela de dias atrás, mas que parte da plateia começou a achar que o vilão virou mocinho. É uma confusão compreensível, justificada pela incrível semelhança entre os dois protagonistas do Congresso. Pelo apego ao poder, a disposição de manipular o Legislativo e a capacidade de acumular acusações de corrupção e outras ilegalidades sem serem punidos, pode-se dizer que Renan é o Cunha do Senado. Ou, sob outra ótica, que Cunha é o Renan da Câmara.


Seja pelos estilos políticos, seja pelos currículos manchados, tanto o homem que sai de cena como aquele que entra no foco principal do julgamento de Dilma são, da mesma forma, nocivos ao País. Deveriam ser apeados dos cargos que ocupam e já teriam sido não fossem as infindáveis manobras que comandam nas casas que dirigem e a lentidão com que o Judiciário analisa os processos que correm contra ambos. Os interesses políticos que os cercam, porém, é os que os distingue. Até domingo 17, data da votação que aprovou na Câmara o encaminhamento do impeachment para o Senado, o governo e seus aliados apontavam que, em função das acusações que sofria na esfera da Operação Lava Jato, Cunha não tinha legitimidade para conduzir o processo. Agora que o caso está nas mãos de Renan, também alvo dos investigadores da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República, não fazem ressalvas e até lhe servem de claque.

O show de Renan tem andamento diferente do de Cunha
. Na terça-feira 19, o presidente do Senado anunciou em plenário o rito do processo de impeachment na Casa. Enquanto o fluminense adotou o modelo de decisão autocrática, a fala do alagoano foi precedida por reuniões com os líderes partidários, com Dilma e até com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski. Respaldado pelo Regimento Interno da Casa, o senador optou por um roteiro mais demorado. A instalação da comissão especial que analisará a admissibilidade do pedido está prevista somente para a segunda-feira 25

A oposição protestou, usando o mesmo regimento para reivindicar um rito mais abreviado é o que a sociedade brasileira espera em momento tão delicado do país. Além de não ceder aos apelos dos adversários, Renan comunicou ainda sua decisão de transferir ao ministro Lewandowski toda a condução do processo caso ele seja admitido, e não só o julgamento do mérito. “O Senado não está fazendo noticiário do dia-a-dia, está fazendo a história do Brasil. Então, nós temos de agir com toda a responsabilidade”, disse Renan. “Meu compromisso com a história não permitirá que eu seja chamado de canalha, por ter atropelado o prazo da defesa ou por ter dado mais um dia para o prazo da denúncia. Eu não vou escrever esse papel na história do Brasil”. Os governistas aplaudiram.

A tese da falta de legitimidade de Cunha foi reproduzida à exaustão pelos aliados de Dilma durante a votação na Câmara. O deputado fluminense é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e alvo de um pedido de afastamento do cargo de autoria do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. No segundo ato, porém, a Lava Jato que servia ao governo como argumento para contestar Cunha já não vale, pelo menos para o elenco da situação, em relação a Renan. A decência legitimamente exigida por governistas de Cunha simplesmente se torna desimportante quando o condutor do processo de impeachment é notadamente um “contemplador” de interesses do governo. Isso porque a esperança de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de barrar o inevitável andamento do processo de impeachment está depositada no presidente do Senado. O alagoano é hoje o integrante do PMDB que melhor conversa com o Palácio do Planalto, além de ter uma relação atritada com o vice-presidente, Michel Temer. Mas, a exemplo, de Cunha tem sérios problemas com a Justiça. O senador é alvo de nada menos que nove inquéritos no STF, suspeito de ser um dos beneficiários do Petrolão. Assim, a indignação que vale para Cunha deveria valer para Renan.

Mas não é apenas o protagonismo no processo de impeachment que coloca o presidente do Senado sob os holofotes. Na segunda-feira 18, enquanto Renan recebia das mãos de Cunha a decisão da Câmara pela admissibilidade do processo de impeachment contra Dilma, o ex-diretor internacional da Petrobras Néstor Cerveró prestava depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato no Paraná. Cerveró acrescentou mais suspeitas contra o presidente do Senado no escândalo. Delator da Lava-Jato, o ex-diretor disse que Jorge Luz, um lobista ligado ao PMDB acusado de ser um operador de propina que agia na Petrobras, repassou dinheiro desviado da estatal para Renan. “(O Jorge Luz)Eu conheci o Jorge Luz, (...), também faz parte de uma propina que eu recebi, que faz parte da minha colaboração na Argentina. E foi o operador que pagou os US$ 6 milhões da comissão. Da propina da sonda Petrobras 10.000, foi o Jorge Luz encarregado de pagar ao senador Renan Calheiros...”, disse Cerveró, interrompido logo em seguida pelo juiz Moro, por não ser o assunto objeto da audiência naquela tarde e por envolver autoridade com direito a foro especial. Nesse caso, também as atuações de Renan e Cunha se confundem. Essa mesma sonda também teria rendido propina ao presidente da Câmara, situação que já está sendo tratada pelo Supremo. Segundo Cerveró, Renan e Cunha teriam participado de operações que renderam cerca de US$ 35 milhões em propinas.

Cunha pode estar agora fora da cena principal, mas é importante que não seja esquecido. Ou melhor, que seja afastado definitivamente do palco político. A procuradoria já apresentou duas denúncias contra ele, uma delas já julgada e transformada em ação penal. Renan deveria segui-lo para fora do palco. Em mais de uma oportunidade Cunha acusou Janot de ser seletivo nas investigações da Lava-Jato. Sem citar nomes, o deputado chamou a atenção de não haver até o momento denúncias contra políticos próximos do Planalto. Entre outros, o presidente da Câmara inclui nesse pacote o colega de partido que preside o Senado. Cunha e Renan começaram a ser investigados em março do ano passado, na leva de inquéritos abertos contra dezenas de políticos. Um exemplo citado sobre o ritmo das investigações contra Renan no Supremo foi o caso dos bois de Alagoas. Em janeiro de 2013, às vésperas de ser escolhido para presidir o Senado, Renan foi acusado de apresentar à Casa notas frias e documentos falsificados para justificar a origem do dinheiro em espécie que um lobista ligado à Mendes Júnior, empresa investigada no Petrolão, entregava à mãe de sua filha, a título de pensão. O escândalo ocorreu em 2007. A procuradoria imputou ao presidente do Senado crimes de peculato (desvio de dinheiro público), falsidade ideológica e uso de documento falso. Decorridos três anos, o Supremo ainda decidirá se processa Calheiros pela acusação de ter tido despesas pessoais bancadas por uma empreiteira – e parte desta denúncia acabou prescrevendo.

No caso da Lava-Jato, Renan é investigado no inquérito conhecido como “quadrilhão”, aberto para apurar a participação de políticos em desvios na Petrobras. São dezenas de deputados e senadores relacionadas nessa apuração. Existem mais oito frentes de apuração. Há suspeitas contra ele de receber propina relacionada a um acordo entre a Petrobras e o Sindicato dos Práticos, profissionais que atuam na orientação naval. Os pagamentos estariam relacionados a reajuste na tabela da categoria. O presidente do Senado foi também relacionado a suspeitas de desvios envolvendo a Transpetro, braço de logística da Petrobras. Apadrinhado político de Renan, Sérgio Machado comandou a subsidiária de 2003 a 2015. Machado é investigado por suspeitas de receber propina. 

Delator da Lava-Jato, Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará e entregador de valores de Alberto Youssef, afirmou que ouviu o doleiro dizer que daria R$ 2 milhões a Renan para evitar a instalação de uma CPI no Congresso para investigar corrupção na Petrobras. Segundo Ceará, Youssef pediu a ele para entregar R$ 1 milhão a Renan em Maceió, o que teria sido feito. Renan foi acusado ainda pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa de tráfico de influência em prol da empresa Serveng-Civilsan, interessada em prestar serviços à estatal. As tratativas foram intermediadas pelo deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), aliado do presidente do Senado. Questionado sobre essas acusações, Renan negou seu envolvimento em irregularidades. Para o Planalto, as negativas são convincentes.

Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS, Alan Marques/Folhapress


 

A algema que ameaça o braço direito complica a viagem de Dilma

A algema que ameaça o braço direito complica a viagem tramada por Dilma para denunciar na ONU o golpe que não derruba o golpeado nem confisca seu passaporte

O desembarque de Giles Azevedo no noticiário político-policial informa: a taxa de bandidagem alcançada pelo círculo íntimo de Dilma Rousseff já rivaliza com a de qualquer bando de brothers de um chefão do PCC. O índice tornou a subir na segunda semana de março, quando a melhor amiga (secreta, por imposição do prontuário) Erenice Guerra apareceu boiando no pântano drenado pela delação premiada de Delcídio Amaral. 

Segundo o senador, a mulher que transformou a Casa Civil num esconderijo de parentes larápios andou fazendo o diabo nas catacumbas da usina de Belo Monte. Promovida a operadora do esquema de propinas, irrigou a campanha de 2014 com R$ 45 milhões.  Dias depois, a devassa das bandalheiras protagonizadas pelo governador mineiro Fernando Pimentel revelou que o mais antigo amigo de Dilma pode perder o mandato bem antes do prazo previsto ─ já estará no lucro se mantiver o direito de ir e vir. Na semana passada chegou a vez de Gim Argello, conselheiro, confidente e parceiro de caminhadas de Dilma. A Polícia Federal descobriu que o ex-senador do PTB embolsou mais alguns milhões para excluir empreiteiros assustados da lista de depoentes da CPI da Petrobras. A presidente tentou infiltrá-lo no Tribunal de Contas da União. O protegido acabou instalado na traseira de um camburão.

Nesta quarta-feira, informações fornecidas à Operação Lava Jato pela publicitária Danielle Fonteles, dona da agência Pepper, elevaram a lama que inunda o Planalto à altura do pescoço de Giles Azevedo, assessor especialíssimo e especializado em missões ultrassecretas. Segundo a revista Isto É, trechos da delação premiada de Danielle detalharam o esquema comandado pelo braço direito presidencial (que nada faz sem a expressa concordância do esquerdo e em obediência ao mesmo neurônio). A usina de dinheiro sujo permitiu à agência receber recursos ilegais que vitaminaram com R$ 58 milhões as campanhas de 2010 e 2014. “Quando o Giles fala, ouço a voz da presidenta”, diz um veterano sacerdote do PT.

Na véspera do voo rumo a Nova York, Dilma viu engordar a bagagem de complicações a resolver. Não será fácil explicar aos participantes do encontro na ONU, o que faz por lá a mulher alvejada por um golpe liderado por um vice que, graças à viagem da golpeada, está governando como interino o país representado no exterior pela titular itinerante. Que tipo de golpe é esse que nem sequer derruba o golpeado? Que golpistas são esses que nem se dão ao trabalho de confiscar o passaporte da figura escorraçada pela violência inconstitucional?

Caso algum jornalista pergunte por Giles, também terá de esclarecer como consegue resistir a tantas tentações sem um único amigo honesto a apoiá-la. Deve ser bem  mais difícil que passar a vida inteira num bordel sem pecar contra a castidade.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes - VEJA