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terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Falta um ator no teatro da intervenção: o nariz

Tratada pelo próprio Michel Temer como uma “jogada de mestre”, a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro aproximou o noticiário de polícia da editoria de política. Contudo, o mais adequado talvez fosse acomodar todas as notícias sobre o tema no espaço reservado às manchetes de economia. O que são os traficantes dos morros cariocas senão homens de negócios?

Temer declarou “guerra” ao crime organizado. Braga Netto, o general-interventor, arma estratégias para percorrer a anatomia da criminalidade. Tenta-se equipar o poder público para atingir o cérebro do narcotráfico, sem perder de vista que o empreendimento já tem os pés fincados em franquias espalhadas por todos os Estados, com braços que enfeixam negócios variados —da extorsão ao roubo de cargas.  Falta um personagem nesse enredo: o Grande Nariz. Por que existem traficantes?, eis a pergunta singela que todos evitam fazer. Eles estão por aí porque existe um mercado consumidor, eis a resposta óbvia. Vende-se cocaína no Brasil porque há quem a aspire. Vende-se muita cocaína, porque há quem a sorva em grandes quantidades. Simples assim. [o combate ao tráfico de drogas tem que ser conjunto com o combate ao usuário; penas severas para o usuário, dar ao usuário, ao maconheiro safado e assemelhados a certeza de que ser flagrado com qualquer quantidade de droga, implicará em prisão imediata, sem direito a fiança e condenação a pena jamais inferior a cinco anos - ganhando a pena do traficante um acréscimo, a título de bônus,  de uns cinco anos, sob a pena minima atual, lógico que a máxima também será aumentada.

O viciado é quem alimenta o tráfico e havendo punição severa para os 'consumidores' eles se sentirão desestimulados a aumentar o vício, havendo uma redução do consumo e  novos viciados também terão receio de serem flagrados e punidos com rigor.

Sempre comentamos: apesar de se tratar de equipamentos caros, NUNCA alguém ouviu falar em que hidrômetro da CAESB  e 'relógio de luz' da CEB tenham sido roubados.
Simples. Nenhum marginal tem interesse em roubar tais materiais por não haver quem compre.]

Estudo divulgado há dois anos pelo Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas (UNODC, na sigla em inglês) anotou que o Brasil, além de ser um corredor exportador de cocaína, virou um dos maiores mercados consumidores. O relatório estimou que a taxa de consumo da droga no país (1,7% da população adulta) é quatro vezes maior do que a média mundial (0,4% dos adultos). [tem que ter cadeia, pena severa; o que importa é jogar o condenado, seja usuário ou traficante, na cadeia; 
se ele vai sair de lá andando ou no 'rabecão',  não importa;
foi ele que ao consumir ou traficar fez a opção pelo crime, mesmo ciente dos riscos.]

Para que Temer consiga manter sua pose de “mestre”, será necessário providenciar nos próximos meses um par de prisões espalhafatosas. Não basta anunciar a intenção de higienizar as polícias. A coreografia da guerra exige a captura de prisioneiros vistosos nos morros, que possam ser exibidos à turma do asfalto como troféus das forças interventoras. [prisões de bandidos conhecidos pelos seus crimes, pelo exibicionismo, até mesmo pela audácia, devem ser objeto de ampla divulgação - o efeito didático da prisão de um bandido de projeção ajuda a mostrar aos demais bandidos, admiradores e a população, quem manda - assim, vão percebendo que quem manda é a Polícia, mais as leis e a Ordem.]

O que ninguém diz é que essa modalidade de prisão cenográfica não resolve o problema. Enquanto existir o mercado consumidor sempre haverá um homem de negócios com operadores nos morros para satisfazer a demanda. Prende-se um Beira-Mar, um Ném, um Elias Maluco… E entram no lugar fulano da Rocinha, beltrano da Maré e sicrano do Alemão. Nada muda substancialmente. [se o usuário passar a ser combatido com rigor, sem pena, jogado na cadeia sem dó, a demanda por drogas cai e o tráfico perde força. Óbvio que a curto prazo vale o lema: 'bandido bom é bandido morto' e o traficante é antes de tudo um bandido.
Mais uma vez vale repetir a frase do general Heleno: “Os narcotraficantes precisam saber que, se reagirem, serão eliminados”.  ]

Diz-se que a intervenção federal no Rio é uma providências inédita. Que seja. Mas num ponto ela é idêntica às inúmeras operações de garantia da lei e da ordem que transformam as Forças Armadas em polícia. Novamente, arma-se um escarcéu contra o tráfico e suas ramificações. Mas erguem-se barricadas de silêncio ao redor do consumo —como se um pudesse existir sem o outro.  Por que esculhamba-se o traficante e poupa-se sua clientela? Mais uma resposta simples: os consumidores de cocaína estão situados em pedaços do mapa das cidades onde os mandados coletivos de busca e apreensão são proibidos. Não se fala neles porque, se se falasse, talvez não houvesse intervenção no Rio.

O Grande Nariz não está na favela carioca nem na periferia paulista. Ele trafega em ambientes mais sofisticados: festas no Leblon e nos Jardins, sets de filmagem, coxias de shows, camarins de desfiles de moda, recepções à beira do Lago Paranoá, corredores do Congresso, porões da Esplanada, escritórios da Avenida Paulista, redações de veículos de comunicação… [o usuário tem que ser caçado e preso esteja onde estiver. As ações de confronto se realização mais nas favelas e áreas mais desfavorecidas, já que é nelas que os traficantes se sentem reis.
Mas, a caça aos usuários - e claro que aos traficantes que vão aos clientes - tem que ser realizada em qualquer local, usando dos meios necessários.
A regra tem que ser: o único local em que o traficante e o usuário está fora do alcance da prisão, das leis, será uma embaixada estrangeira.
Fora isso, esteja debaixo da mesa do Temer, da presidente do STF ou dos presidentes da Câmara e do Senado, o traficante ou o usuário serão presos.]
Acionar o Exército para guerrear contra os malvadões incultos de pele escura sempre renderá aplausos fáceis. Mas o desejo de combater o narcotráfico e suas franquias só será genuíno no dia em que a sociedade enxergar o Nariz invisível que financia o fuzil AR-15 distribuído pelos executivos do mal às suas falanges. Impossível derrotar os criminosos sem enfrentar a hipocrisia. [general Braga Netto: o senhor tenha em conta que os usuários podem ser até poderosos, mas na hora do confronto,  na hora em que tiverem a certeza que serão presos e que passarão a ser tratados pelos amigos igual os leprosos eram nos tempos bíblicos, eles se 'borram'.
Sem usuário não tem tráfico.
A propósito, o Lula em depoimento prestado à PF, negou até o parentesco com um irmão.]

Blog Josias de Souza

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