Mortes de duas crianças em menos de 13 horas no Rio de Janeiro se soma a outros dez casos semelhantes em 2017, expõem o descontrole da segurança pública e revela a negligência das autoridades na tarefa de proteger os cidadãos
Emily Sofia Neves Marriel, de 3 anos, morreu após ser baleada em uma tentativa de assalto em Anchieta, Zona Norte do Rio de Janeiro, por volta das 2h30 da terça-feira 6. Ela estava dentro do carro da família, que saía de uma lanchonete em um posto de gasolina quando foi surpreendida por bandidos da comunidade da Pedreira. Segundo a Polícia Civil, o carro foi atingido por doze disparos.
Poucas horas depois, Jeremias Moraes da Silva, 13 anos, jogava bola quando foi baleado no peito durante um confronto entre traficantes e policiais no Complexo da Maré, também na Zona Norte do Rio. Um dia após a comoção pela morte trágica de Emily e Jeremias, João Pedro Soares da Costa, de 4 anos, levou um tiro nas costas quando andava, de mãos dadas com o pai, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. Os dois estavam a caminho da igreja. Traficantes que controlam a área atiraram contra um veículo e uma das balas atingiu o menino, que teve parada cardíaca. Seu estado era grave até o fechamento desta edição.
As mortes de crianças às vésperas do carnaval se somam a outras dez registradas em 2017 nas mesmas circunstâncias – incluindo a do bebê Arthur, morto ainda no útero da mãe. Elas escancaram o descalabro da segurança pública no Rio de Janeiro, refém de uma violência crescente e contra a qual o poder público se mostra incapaz de dar uma resposta minimamente digna. Emily e Jeremias compõem o retrato mais cruel de uma inocência assassinada.
Palco da maior festa popular do planeta, que reúne centenas de milhares de turistas no Sambódromo para assistir aos desfiles das escolas de samba, a Cidade Maravilhosa sucumbe a uma falência que não é apenas financeira, mas moral e política. Em outubro, diante de uma onda de violência incontida que vitima também policiais – foram 137 PMs mortos em 2017 – o secretário do Estado de Segurança, Roberto Sá, anunciou: “Nós vamos virar esse jogo. O Rio de Janeiro, o Brasil, precisam entender que segurança pública é prioridade, que é uma atividade que precisa de investimento, precisa de estratégia. E esses criminosos, verdadeiros inimigos da sociedade, não vão ter descanso”.
O secretário deveria convencer primeiro seu superior imediato, o governador do Estado do Rio, Luiz Fernando Pezão, para quem a segurança pública não parece ser prioridade. Questionado sobre a aplicação do plano do Governo Federal que define ações e responsabilidades para enfrentar a criminalidade, Pezão disse não ter tido tempo de ler o documento elaborado pelo general Sérgio Westphalen Etchegoyen, ministro-Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. “O general Etchegoyen me passou o documento ontem. Mas eu tive uma reunião ontem em Brasília com outros governadores e com o presidente [da Câmara] Rodrigo Maia para tratar de diversos assuntos que beneficiam os estados. Então, eu não pude, ontem, analisar esse documento”, afirmou Pezão. O desinteresse pelo assunto já seria um descaso com os cidadãos. Para piorar, o secretário de segurança afirmou que o plano do Governo Federal não trará nenhuma novidade. “O que vai ser anunciado pelo governador e pelos ministros é a formalização do que já vem sendo feito”, disse Roberto Sá. Uma semana antes, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, tentou minimizar a violência no Rio, afirmando que há “um certo sadismo” da mídia ao noticiar o assunto. Como se as mortes de crianças não falassem por si.
Depois dos confrontos que fecharam avenidas da cidade nas últimas semanas e das mortes de Emily e Jeremias, Pezão decidiu reagir. Ele anunciou que o Regime Adicional de Serviço (RAS), que permite o pagamento de horas extras a policiais militares e civis, seria retomado na sexta-feira 9. O objetivo é colocar entre 1,5 e 2 mil policiais a mais nas ruas durante o carnaval para garantir a segurança. As medidas são paliativas. Servem apenas para arrefecer uma população que em breve irá às urnas. Na prática, a mãe que tiver a sorte de não ter o filho baleado continuará contando apenas com a fé após a quarta-feira de cinzas. “Existe uma associação entre políticos e criminosos com troca de benesses que permite que eles atuem desse modo”, diz o tenente-coronel Adilson Paes de Souza, que trabalhou durante trinta anos na Polícia Militar do Estado de São Paulo. Para o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, “é preciso refazer o planejamento de segurança do estado. Quando há muita força tática, é porque não há planejamento”. Ele entende que a prioridade é controlar a corrupção na polícia, além de um trabalho de inteligência que combata a logística do crime organizado. [o mais simples é acusar a polícia; Lembram dos tempos em que as UPPs eram a panaceia? sumiram com aquele servente, o Amarildo, e a Polícia Militar foi responsabilizada.
Basta um traficante determinar o sumiço de alguém, fazer uma cena envolvendo a PM e os coronéis, ex-isso, ex-aquilo, mais delegados precipitados da Polícia Civil acusam os policiais militares.
Para quem foi, é fácil para a PM efetuar policiamento no Rio desarmada - teve um ex-alguma coisa que propôs retirar os fuzis da Polícia MIlitar.]
MATÉRIA COMPLETA, em IstoÉ
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